As novidades e as histórias do Mundial
O Mundial de Clubes começa neste sábado e a Newsletter Meiocampo fala sobre as contratações que chegam para o torneio, bem como traz um mini-guia além do manjado de Europa e América do Sul
Newsletter Meiocampo - 13 de junho de 2025
O reestruturado Mundial de Clubes é a grande novidade do final de semana. Se o torneio vai emplacar ou não é uma questão, com uma porção de entraves que vão do calendário lotado ao possível domínio dos europeus. O que não se nega são as boas histórias. Na Newsletter Meiocampo desta sexta, falamos das novidades entre técnicos e jogadores que estrearão no torneio, bem como fizemos um mini-guia para você escolher para quem torcer (ou não torcer) fora de América do Sul e Europa. Ainda tem o giro, com pílulas sobretudo do mercado de transferências.
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Caras novas: quem são os técnicos e os jogadores estreantes na Copa do Mundo de Clubes
Com um quarto dos clubes sob nova direção e reforços estreando no torneio, o Mundial de Clubes traz sensação de pré-temporada
Por Felipe Lobo
A Copa do Mundo de Clubes começa neste sábado, 14 de junho, e trará diversas novidades, seja em contratações, seja nas comissões técnicas. Embora oficialmente ainda dentro da mesma temporada europeia, muitos clubes do continente encaram o torneio como uma pré-temporada. Já os sul-americanos aproveitam para reforçar seus elencos visando a reta final da temporada, no segundo semestre.
São oito clubes com técnicos recém-contratados para o Mundial: Xabi Alonso (Real Madrid), Simone Inzaghi (Al Hilal), Cristian Chivu (Inter), Miguel Ángel Russo (Boca Juniors), José Riveiro (Al Ahly), Jaime Lozano (Pachuca), Domènec Torrent (Monterrey) e Mohamed Amine Benhachem (Wydad Casablanca).
Com um quarto dos participantes sob nova direção, é natural que esses clubes utilizem o torneio como laboratório, especialmente os europeus, para encerrar a temporada. Também há um clima de adeus, como no caso de Luka Modrić, que deve disputar seu último torneio com a camisa do Real Madrid, e Estevão, que se despede do Palmeiras.
Técnicos estreiam no Mundial
Xabi Alonso no Real Madrid
O técnico, que brilhou à frente do Bayer Leverkusen desde a conquista inédita do Campeonato Alemão e da dobradinha na Copa da Alemanha na temporada 2023/24, assume o comando do clube mais midiático do mundo – e estreia no Mundial diante do Al Hilal, Pachuca e RB Salzburg.
Cristian Chivu na Inter
A saída de Simone Inzaghi para o Al Hilal pegou o clube de surpresa, nas próprias palavras do CEO Giuseppe Marotta. Aos 44 anos, o ex-zagueiro da Inter (2007–2014) retorna como treinador. Ele comandou a base de 2018 até fevereiro de 2025 e, depois, o Parma, escapando do rebaixamento. Agora, Chivu tem a missão de rejuvenescer o elenco interista e apostar nos novatos contra River Plate, Monterrey e Urawa Reds.
Miguel Ángel Russo no Boca Juniors
Técnico experiente de 69 anos, Russo retorna ao clube onde já foi bicampeão argentino (2019/20 e 2020) e conquistou a Copa da Liga em 2020. Ele comandou o Boca no título da Libertadores de 2007, ainda com Riquelme – hoje presidente do clube. Seu grande desafio é reacender a competitividade diante de Benfica, Bayern de Munique e Auckland City.
José Riveiro no Al Ahly
O espanhol de 49 anos assume o gigante egípcio após a saída do suíço Marcel Koller, demitido em abril após eliminação na Liga dos Campeões Africana. Riveiro chega do Orlando Pirates, pelo qual conquistou cinco copas nacionais na África do Sul e foi semifinalista da última Champions Africana. Agora, terá como missão o sucesso internacional no Mundial diante de Inter Miami, Porto e Palmeiras.
Jaime Lozano no Pachuca
O mexicano assume um clube que teve desempenho mediano – terminou o Apertura na 16ª posição, sem sequer avançar aos playoffs, e foi oitavo no Clausura, eliminado nas quartas de final. Como ex-técnico da seleção mexicana, Lozano entra com a missão de reorganizar o Pachuca, que já mostrou potencial no Mundial Interclubes ao eliminar Botafogo e Al Ahly (antes de perder para o Real Madrid). No novo Mundial, enfrentará Real Madrid, Al Hilal e RB Salzburg.
Domènec Torrent no Monterrey
Conhecido do futebol brasileiro por sua rápida passagem pelo Flamengo, o espanhol assume o Monterrey após a saída de Martín Demichelis. O clube foi vice-campeão do Apertura, mas caiu nas quartas de final do Clausura e nas oitavas da Concachampions, o que provocou a mudança de comando. Domè tentará uma recuperação diante de River Plate, Inter de Milão e Urawa Reds.
Mohamed Amine Benhachem no Wydad Casablanca
Antigo auxiliar e diretor esportivo do clube, Benhachem assume após a saída de Rulani Mokwena, que estava no cargo desde julho de 2024, trazido após se destacar no Mamelodi Sundowns. O Wydad terminou em terceiro na liga marroquina e ficou de fora da próxima Champions Africana. Agora, buscará melhorar sua imagem no Mundial diante de Manchester City, Al Ain e Juventus.
Estreias de jogadores no Mundial
A FIFA autorizou uma janela especial de transferências de 1 a 10 de junho para o torneio, permitindo que clubes estreiem reforços no evento. Confira as principais contratações:
Trent Alexander‑Arnold (lateral‑direito, Real Madrid) – um dos melhores do mundo na posição. Transferência de €10 milhões do Liverpool, exclusivamente para viabilizar sua participação no Mundial.
Dean Huijsen (zagueiro, Real Madrid) – holandês com formação na Juventus e Roma, destacou‑se no Bournemouth e chega para reforçar a defesa.
Ryan Cherki (atacante, Manchester City) – enorme talento do Lyon, foi adquirido pelos Citizens.
Tijjani Reijnders (meia, Manchester City) – destaque no Milan como motor do time, chega por €55 milhões para reforçar o meio de campo.
Rayan Ait‑Nouri (lateral‑esquerdo, Manchester City) – destaque no Wolverhampton, é opção versátil para o time de Guardiola.
Liam Delap (atacante, Chelsea) – jovem promissor que despontou no Ipswich; chega para disputar a camisa 9.
Mahmoud Trezeguet (atacante, Al Ahly) – ex-Aston Villa e seleção egípcia, retorna ao seu clube de origem.
Zizo (atacante, Al Ahly) – vindo do rival Zamalek, num negócio bombástico ao final de seu contrato, após somar 260 jogos e 84 gols pelo antigo clube.
Jobe Bellingham (meia, Borussia Dortmund) – 19 anos, destaque no Sunderland, irmão de Jude Bellingham.
Jonathan Tah (zagueiro, Bayern de Munique) – após 10 anos no Leverkusen, chega como peça forte na defesa bávara.
Tom Bischof (meia, Bayern de Munique) – jovem formado no Hoffenheim, traz rejuvenescimento ao elenco.
Gabri Veiga (meia, Porto) – retorna após passagem pela Arábia Saudita por €15 milhões.
Arthur Cabral (atacante, Botafogo) – volta ao Brasil para jogar no Botafogo, trazendo experiência europeia.
Joaquín Correa (atacante, Botafogo) – logo após ser anunciado pelo Botafogo, deixa a Internazionale para vestir outra camisa no Mundial.
Jorginho (meia, Flamengo) – campeão europeu pela Itália, chega do Arsenal para reforçar o meio‑campo.
Luis Henrique (atacante, Inter de Milão) – ex‑Botafogo, chega do Olympique de Marseille.
Petar Susić (meia, Inter de Milão) – revelação croata de 21 anos, vindo do Dinamo Zagreb.
Yeferson Soteldo (meia‑atacante, Fluminense) – reencontra Renato Gaúcho após passagem discreta no Santos.
Nordin Amrabat (atacante, Wydad Casablanca) – veterano que terá sua primeira experiência no Marrocos, apesar de ser um ícone da seleção local, já que nasceu na Holanda e sempre atuou na Europa ou na Ásia.
Rui Patrício (goleiro, Al Ain) – goleiro de 37 anos com passagens importantes por Wolves e Roma, estava na Atalanta.
Hiiro Komori (atacante, Urawa Reds) - o artilheiro da segunda divisão em 2024 depois de seis meses emprestado ao St. Truiden na Bélgica.
Guilherme Ferreira (zagueiro, Wydad Casablanca) - Um brasileiro no Marrocos, Guilherme chega de Portugal por empréstimo com opção de compra
Kenedy (atacante, Pachuca) - O ex-jogador do Flamengo e Fluminense chega para compor o ataque com… John Kennedy, ex-Flu. Um ataque presidencial.
Franz Kratzig (meio-campista, Red Bull Salzburg) - Cria do Bayern, o jogador estava emprestado ao Heidenheim e agora vai em definitivo para a Áustria.
🎧PODCAST MEIOCAMPO #141
O Mundial de Clubes começa neste sábado e é uma grande incógnita. Problemas na venda de ingressos, dúvidas sobre como os clubes europeus irão tratar o torneio e sobre como os brasileiros chegam. Entre a empolgação e a nebulosidade, falamos sobre o que esperar deste Mundial.
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Giro
- Kevin de Bruyne poderia ter começado a encaminhar a aposentadoria na Arábia Saudita ou na Major League Soccer, aparentemente havia interesse, mas o fim da sua passagem pelo Manchester City não foi ideal. Ele chegou a afirmar que ficou surpreso de não ter recebido proposta para um novo contrato, o que talvez indique que gostaria de continuar. Nem acho que o City tomou a decisão errada: precisava mesmo de uma dramática reformulação e rejuvenescer o seu elenco. Mas a última impressão no alto nível do melhor jogador da Premier Legue na década passada não poderia ser uma temporada em que mal conseguiu ser titular, sofreu com problemas físicos e foi uma sombra de si mesmo. O próprio De Bruyne sabia disso: “Honestamente, acho que ainda consigo jogar neste nível”. Ele foi para o sul da Itália para provar. Uma aventura em diversos sentidos. Não apenas cultural, mas com um técnico que não prega exatamente os mesmos conceitos de Guardiola. Quando Antonio Conte decidiu ficar, era óbvio que grandes reforços viriam em seguida, e se a torcida do Napoli se apaixonou por McTominay…
- É difícil surpreender uma vez na Premier League e, em desafio ao próprio significado da palavra, mais ainda continuar surpreendendo ano após ano. Thomas Frank conseguiu. O 13º lugar com o Brentford em sua primeira temporada na elite inglesa desde 1947 foi superado pelo nono na campanha seguinte e, durante quatro anos, as Abelhas sempre foram um time difícil de ser batido, capaz de lutar de igual para igual com os grandes e por vezes jogando um futebol bastante agradável. Nem sempre porque, para um clube como o Tottenham, que acaba de demitir um técnico que havia garantido que viveria e morreria com seu estilo de jogo - e, curiosamente, conseguiu fazer os dois ao mesmo tempo - a capacidade de adaptação de Frank soa como um poema. Eu achei uma estatística muito ilustrativa: o seu Brentford marcou 84 gols, contando os playoffs, em cada uma das duas temporadas completas na Championship. Em uma, com 28% de posse de bola. Na outra, com 54%. Ele até deu recentemente uma entrevista à Sky Sports explicando como muda o sistema tático do seu time do 4-3-3 para o 3-5-2 quando enfrenta adversários mais difíceis. Pode dar errado, como deu com Nuno Espírito Santo, que também saía de um excelente trabalho no meio da tabela. Mas acho que as chances de Frank são melhores. Para começar, ele parece ter sido a primeira escolha, e não a décima oitava, como Nuno. Ele até tem experiência em clubes estranhos: deixou o seu primeiro trabalho, no Brondby, após descobrir que o presidente o estava criticando em fórum de torcedores usando a conta do filho.
- Dias depois de Robert Lewandowski se recusar a jogar pela seleção polonesa enquanto Michal Probierz estivesse à frente do time, o técnico pediu demissão. Probierz assumiu o comando da seleção polonesa em setembro de 2023, depois de uma passagem desastrosa de Fernando Santos. A confusão aconteceu porque Probierz tirou a faixa da capitão de Lewandowski, que foi informado por telefone poucos minutos antes da divulgação no site da Federação Polonesa de Futebol. O atacante do Barcelona, de 36 anos, se sentiu desrespeitado e anunciou que não voltaria a jogar pela Polônia enquanto Probierz fosse o técnico. A Polônia perdeu da Finlândia na última data Fifa e está ameaçada de não ir à Copa.
- Franco Mastantuono é um dos grandes talentos do futebol argentino e tudo indica que fará sua despedida do River Plate no Mundial de Clubes. O Real Madrid deve contratar o atacante por 45 milhões de euros. Canhoto, ponta direita e muito talentoso, ele estreou pela seleção argentina nesta data Fifa. O jogador já tem passaporte italiano, o que facilita ainda mais a sua ida para a Europa.
- Leroy Sané pode ser visto como um dos maiores desperdícios de talento do futebol alemão, e a transferência para o Galatasaray corrobora essa noção. O ponta vai desfrutar de uma torcida apaixonada e tem totais condições de se tornar ídolo em Istambul, vide a loucura em seu desembarque, mas a mudança para a Süper Lig aos 29 anos parece pouco para o potencial que um dia o alemão indicou. As dificuldades para se firmar no Manchester City já sugeriam como Sané não tinha o maior foco, a despeito de sua habilidade. O Bayern ainda deu um voto de confiança e, mesmo com todas as boas condições na Baviera, o atacante nunca se transformou no craque que um dia prometeu. Foi multicampeão, mas também relapso em campo e pouco confiável em momentos decisivos. Não à toa, perdeu peso na hierarquia do elenco e também espaço entre os titulares nesta temporada. Ao final de seu contrato, apesar de propostas para ficar (com redução salarial, porém), optou por valores mais polpudos na Turquia. Parece uma falta de ambição condizente a quem poderia ser uma das estrelas da seleção alemã, mas sequer foi titular em Copa do Mundo ou Eurocopa. Curiosamente, Sané ainda vai disputar o Mundial de Clubes com o Bayern – mas só até 30 de junho, quando acaba seu contrato. Assim, fica disponível apenas até as eventuais oitavas de final.
-Ninguém se apega a assistentes técnicos, mas Pep Lijnders era um nome bastante conhecido, braço direito de Jürgen Klopp durante grande parte da passagem do alemão por Anfield, creditado por contribuições táticas importantes e pelo desenvolvimento de jovens jogadores, havia dito que não seria auxiliar de mais nenhum treinador e foi justamente para o maior responsável por limitar a quantidade de títulos que o time que ajudou a montar conquistou. E o tema lealdade está especialmente sensível em Liverpool neste momento. Então houve certo estranhamento quando ele foi anunciado no Manchester City, após sua segunda tentativa sem sucesso de ser técnico principal. A decisão faz sentido para os dois lados. Lijnders ainda tem ambições de tentar uma terceira vez, demitido em apenas alguns meses do NEC Nijmegen e do Red Bull Salzburg, e agora terá a oportunidade de ver de perto não apenas como o segundo melhor técnico da sua geração trabalha, mas também o melhor. Era difícil recusar e, com um contrato de curto prazo, não é que ele pretende deixar uma marca no Etihad Stadium. E depois de ter sua pior temporada com a prancheta na mão, pode ser importante para Pep Guardiola ter vozes novas no vestiário, especialmente com estatura suficiente para desafiá-lo. Como era a de Juanma Lillo, por exemplo, um dos seus mentores e que está deixando a comissão técnica.
- O Wolfsburg faz uma aposta pouco usual para seu comando técnico: Paul Simonis, treinador de 40 anos que levou o Go Ahead Eagles ao título da Copa da Holanda. Desde que Oliver Glasner deixou a Volkswagen Arena, em 2021, a dança das cadeiras tem sido intensa nos Lobos. Quatro técnicos passaram pelo clube nas últimas quatro temporadas, com diferentes perfis – de rodados como Niko Kovac e Ralph Hasenhüttl a ascendentes como Mark van Bommel e Florian Kohfeldt. A despeito dos investimentos feitos no elenco, o Wolfsburg deixou de ser um time de Champions para frequentar o meio da tabela. Apesar do feito histórico com o Go Ahead Eagles, Simonis tem apenas uma temporada como treinador principal, já que antes era auxiliar de Kees van Wonderen no Heerenveen e no próprio Go Ahead Eagles. É um tiro no escuro, mas com seu potencial.
- Depois de Levante e Elche retornarem à primeira divisão espanhola, os playoffs de acesso de La Liga prometem uma grande história independentemente de quem subir, com a final entre Mirandés e Real Oviedo. O Mirandés eliminou o Racing de Santander na semifinal e poderá fazer sua estreia na elite. Os Rojillos possuem uma trajetória recente na Copa do Rei que chama atenção: foram semifinalistas em 2011/12 e em 2019/20, capazes de tirar adversários do tamanho de Villarreal e Sevilla. Já o Real Oviedo superou o Almería nos playoffs e busca seu retorno à primeira divisão após 24 anos de ausência. Os asturianos têm um passado respeitável em La Liga, que inclui 38 temporadas na elite e três terceiras colocações. E quem ainda brilha por lá é o meia Santi Cazorla, prata da casa que voltou para seu clube formador em 2023 e segue decisivo aos 40 anos. O gol da classificação para a final veio numa precisa cobrança de falta do capitão. O atacante Alemão, emprestado pelo Internacional, é o artilheiro da campanha.
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Um mini-guia de curiosidades para você escolher a quem torcer (ou não torcer) fora da Europa e da América do Sul no Mundial
Por Leandro Stein
O Mundial de Clubes inicia sua história com uma série de camisas pesadas. Há clubes europeus tradicionalíssimos, cheios de estrelas e em busca de mais dinheiro. As paixões também se movimentam na América do Sul, onde equipes gigantes do Brasil e da Argentina buscam aumentar seu prestígio internacional. Indo além, o novo formato da competição expande as fronteiras e concede mais holofotes a outros continentes.
Em vez de coadjuvantes de europeus e sul-americanos, o “resto do mundo” não ficará restrito às fases preliminares e terá bastante visibilidade nos grupos. Pode até ser que ninguém vá tão longe, mas há condições de conquistarem resultados históricos – como foram alguns no antigo formato do Mundial. E não que sejam menores em tradição. Longe de se dizer isso quando há pesos pesados em seus continentes, como Al Ahly e Urawa Red Diamonds.
Abaixo, fizemos um mini-guia para você conhecer um pouco mais sobre os 14 times dos demais continentes que disputarão o Mundial, com três curiosidades sobre cada um deles. Há um pouco de história e também de atualidade, para apresentar raízes e destaques dos times, além de falar também do peso das torcidas. Por conta do tamanho dos textos, nem todos aparecerão na versão da Newsletter Meiocampo em seu e-mail. Para a experiência completa, acesse a página do Meiocampo no substack.
Al Ahly
- O nome do Al Ahly já é sua principal bandeira: O Nacional. O clube fundado em 1907 surgiu para se contrapor à ocupação britânica no Egito e se tornou o primeiro a agrupar a comunidade árabe. Isso impulsionou a popularidade dos Diabos Vermelhos desde seus primeiros anos de existência, sem que para isso se curvasse à monarquia, vista como condescendente ao imperialismo estrangeiro – e mais ligada ao rival Zamalek, que chegou a ser rebatizado em homenagem ao Rei Farouk. Durante a luta por independência, o Al Ahly nomeou o líder nacionalista Gamal Abdel Nasser como seu presidente honorário. Mas não que os alvirrubros se submetessem ao poder a partir de então. O maior símbolo disso ocorreu durante a Primavera Árabe, em 2011. Os ultras do grupo Ahlawy tiveram papel central nas manifestações ocorridas no Cairo e nos embates com a polícia, que levaram à queda da ditadura de Hosni Mubarak. Durante as revoltas, os torcedores foram essenciais até para evitar saques ao Museu Egípcio, quando a preocupação da polícia era com a repressão. Anos depois, entretanto, o grupo seria banido e dissolvido diante da sistemática perseguição das autoridades.
- A grandeza do Al Ahly se concentra em sua torcida, capaz de cenas arrepiantes nas arquibancadas, mas também se nota na lista de troféus do clube. A marca mais respeitável, sem dúvidas, está nos 12 títulos da Champions Africana, sendo dez deles neste século. E que as vitórias tenham se tornado até mais recorrentes nos últimos anos, nada supera o simbolismo do bicampeonato faturado em 2012 e 2013. Foi um momento de reconstrução do clube, depois que 72 torcedores morreram no Desastre de Port Said meses antes, em massacre facilitado pela própria polícia em vingança à participação dos ultras na Primavera Árabe. Mesmo com o futebol paralisado no Egito e as arquibancadas vazias, os Diabos Vermelhos foram capazes de levar as taças continentais. Contaram com vários jogadores que pensaram em encerrar as carreiras após a tragédia, incluindo o capitão Mohamed Aboutrika, que chegou a ver um torcedor morrer em seus braços. Acabou sendo o craque das campanhas e também a voz por justiça, como figura muito engajada na luta política e nas discussões sociais. Além de maior ídolo da história do Al Ahly, o ex-meia também é formado em filosofia.
- Historicamente, o Al Ahly é a base principal da seleção do Egito. E isso continua se notando no elenco dos Diabos Vermelhos. A lista de jogadores inscritos no Mundial inclui figuras importantes dos Faraós, como o goleiro Mohamed El Shenawy servindo de liderança. Esse contingente até aumentou para o torneio, com a repatriação do ponta Mohamed Trezeguet e do volante Hamdy Fathy, além do “aliciamento” do ponta Zizo, maior ídolo do rival Zamalek nos últimos anos, que assinou ao final de seu contrato. Contudo, o sucesso do Al Ahly também se centra em estrelas de outros países. O tunisiano Ali Maâloul e o malinês Aliou Dieng são figuras recorrentes em suas seleções, enquanto o também tunisiano Mohamed Ali Ben Romdhane foi mais uma ótima contratação recente. A colônia marroquina inclui o lateral Yahia Attiyat Allah, o zagueiro Achraf Dari, o ponta Achraf Bencharki e o ponta Reda Slim, todos com passagens pelos Leões do Atlas. E na frente o destaque é o palestino Wessam Abou Ali, artilheiro do clube desde a temporada passada e de sua seleção nas Eliminatórias para a Copa de 2026. Outro símbolo político.
Wydad Casablanca
- A palavra Wydad, em árabe, significa "amor". A inspiração veio de um filme homônimo, assistido por um dos fundadores do clube às vésperas da reunião inaugural. Entretanto, as origens do WAC também são combativas: os alvirrubros surgiram para lutar pelo uso das piscinas públicas em Casablanca, então restritas aos franceses, pelos nativos. Quando o departamento de futebol surgiu, logo o Wydad passou a atrair grandes massas, por se contrapor aos times da colonização francesa. Ainda levou um tempo para que as primeiras conquistas viessem, mas elas começaram a pipocar pouco antes da independência, num sinal claro do espaço tomado pelos nacionalistas. Depois disso, os alvirrubros passaram a ser tratados como um time mais ligado à monarquia, mas sem perder suas veias populares.
- O Wydad Casablanca possui uma das torcidas mais fantásticas do planeta. Prova disso se vê constantemente nas arquibancadas alvirrubras, com alguns dos mosaicos mais criativos possíveis. As festas são regidas pelo Winners 2005, grupo fundado há 20 anos, com raízes em diversas camadas da sociedade de Casablanca. São ultras engajados politicamente, mas mais vinculados às lutas internas do futebol. Já as festas famosas incluem muitas referências à cultura pop, com coreografias inspiradas em Muhammad Ali, de Leônidas de Esparta, Goku de Dragon Ball Z, o Justiceiro da Marvel ou mesmo Humphrey Bogart e Ingrid Bergman – protagonistas de ‘Casablanca’, clássico dos cinemas.
- O Wydad Casablanca se mexeu em busca de reforços para o Mundial. Seis jogadores foram contratados, incluindo o zagueiro brasileiro Guilherme Ferreira – que acompanhará os compatriotas Pedrinho e Arthur, já parte do plantel. Os novos astros, porém, são bem mais conhecidos. Omar Al-Somah é uma lenda da seleção da Síria e possui uma condecorada carreira por clubes árabes, em especial na Arábia Saudita e no Catar. Aos 36 anos, dá uma boa dose de experiência. E há a chegada de Nordin Amrabat, ídolo da seleção de Marrocos, que terá sua primeira experiência no país. Filho de marroquinos, o ponta nasceu na Holanda e sempre atuou em clubes de outros países, mas nunca no norte da África. Poderá demonstrar a dedicação já vista pelos Leões do Atlas até em Copa do Mundo. Reforça os laços da seleção com o clube, que teve como ídolos o goleiro Badou Zaki e o treinador Walid Regragui – que fez sucesso nos alvirrubros pouco antes de alcançar as semifinais da Copa do Mundo de 2022.
Espérance
- O Espérance surgiu ainda num contexto de colonização francesa na Tunísia, mas para ser um clube aberto às demais comunidades. O Café Espérance foi o ponto de partida da equipe, criada com o intuito de aglutinar a população árabe e muçulmana ao seu redor. Todavia, a legislação local impunha que um cidadão francês fosse nomeado como presidente honorário na formação da agremiação, em 1919. Apesar disso, o Espérance não escondia seus objetivos e vestia verde, cor vinculada ao islamismo. Depois, adotou o aurirrubro que rendeu o apelido de "Sang et Or", sangue e ouro, relacionado ao nacionalismo. Com o tempo, o clube reforçou seu caráter como representante dos tunisianos, e serviu como elemento em prol do nacionalismo e da independência. Mais ligado às elites, o Espérance se tornou um trampolim político a Habib Bourguiba, jovem advogado que foi dirigente do time e, após a independência do país em 1956, assumiu como presidente da Tunísia. Ficou no cargo por 30 anos, o que consolidou ao Sang et Or a imagem de clube ligado ao poder, embora confrontos com as autoridades tenham se tornado mais comuns antes mesmo da Primavera Árabe. Nos últimos tempos, a torcida se tornou especialmente vocal sobre o genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza.
- O Espérance sobra como maior vencedor do Campeonato Tunisiano, dono de 34 taças, e também levou a Champions Africana em quatro oportunidades. Apesar de algumas controvérsias em parte dessas conquistas, o Sang et Or possui a fama de revelar alguns dos maiores talentos do país. Tarak Dhiab é considerado o melhor jogador tunisiano da história e liderou a seleção rumo à Copa de 1978. Defendia o Espérance nesta época, eleito o Jogador Africano de 1977. Mais recentemente, o protagonismo ficou com Youssef Msakni, que encabeçou o clube novamente às glórias continentais, virando referência da seleção.
- O Espérance é o representante da Tunísia, mas conta com um elenco bem mais amplo em relação às nacionalidades. O Sang et Or de 2025 reúne também jogadores com passagens pelas seleções de Argélia, Togo, África do Sul e Costa do Marfim, além de outros nascidos no Brasil, na Nigéria e em Mali. Os atacantes Yan Sasse e Rodrigo Rodrigues naturalmente chamam atenção como brasileiros, até por possuírem trajetórias relevantes por clubes do país de origem. Entretanto, os principais figurões são outros. O zagueiro Yassine Meriah foi titular da Tunísia nas duas últimas Copas do Mundo e capitaneia os aurirrubros. Já o ponta Youcef Belaïli pode não ter vingado na Europa, mas é um dos maiores talentos surgidos na Argélia e foi importante na conquista da CAN 2019 pelo país.
Mamelodi Sundowns
- O Mamelodi Sundowns é um clube ligado ao poder nos últimos anos, presidido há duas décadas por Patrice Motsepe, um dos homens mais ricos da África e que se impulsionou também ao comando da Confederação Africana de Futebol. As raízes dos auriverdes, no entanto, são bem mais populares. A equipe foi fundada nos subúrbios de Petrória por um grupo de jovens com diversas origens – negros, mestiços, descendentes de indianos. Em tempos de Apartheid, os Sundowns disputavam uma das ligas que não tinham restrições raciais. Já na década de 1980, antes mesmo da sociedade sul-africana como um todo, o futebol integrou as diferentes cores através de um campeonato nacional aberto e os Bafana ba Style estavam lá também.
- Carisma define o Mamelodi Sundowns, e isso tem muito a ver com a inspiração do Brasil. A partir da metade dos anos 1980, os sul-africanos passaram a usar o uniforme verde e amarelo com calções azuis e meias brancas, claramente copiado da Seleção para tentar trazer bons fluidos. Deu certo não apenas para criar uma identidade ao time, apelidado como “Brazilians”, mas também para inspirar o futebol dentro de campo. Os Sundowns são responsáveis por expandir o “jogo bonito” na África do Sul, por lá chamado de "Shoe Shine and Piano", marcado pelas trocas de passes envolventes e pelos ataques intensos. Os Brazilians também têm sua lista de brasileiros no elenco: os atacantes Lucas Ribeiro e Arthur Sales disputarão o Mundial, enquanto o defensor Ricardo Nascimento jogou por lá durante seis anos, até 2022.
- O Mamelodi Sundowns é o maior vencedor do Campeonato Sul-Africano, numa série de conquistas que se iniciou no fim dos anos 1980, mas se consolidou mesmo desde a última década. São dez títulos desde 2014, os oito últimos consecutivos. Os Brazilians também têm um título da Champions Africana e dois vices, o mais recente em 2025. Naturalmente, alguns dos maiores talentos do sul da África passaram por lá. A lista de ídolos da seleção sul-africana inclui atualmente o goleiro Ronwen Williams e o volante Teboho Mokoena, nomes importantes dos Bafana Bafana. Além disso, destaques de países vizinhos também têm espaço, como o ugandense Denis Onyango e o zambiano Kennedy Mweene, dois ídolos que dividiram o gol desde a última década.
Al-Hilal
- Se o crescimento do Al-Hilal nas temporadas mais recentes foi inflado pelo dinheiro da Arábia Saudita, cabe dizer que sua torcida não é artificial. Pelo contrário, os alviazuis são famosos como uma das maiores massas da Ásia e também uma das mais apaixonadas, com fantásticos mosaicos realizados desde antes do impulso do Campeonato Saudita pelo atual projeto governamental. Ser historicamente ligado à família real ajuda, mas as raízes são bem mais profundas do que isso em Riade. Tanto que a grandeza continental do Hilal vem desde antes: maior campeão da Champions Asiática, levantou a taça em 1991, 2000, 2019 e 2021, além de ter mais cinco vices na competição.
- O sucesso do Al-Hilal passa necessariamente pelo Brasil. A partir da criação do Campeonato Saudita, no final dos anos 1970, os alviazuis passaram a investir em jogadores e treinadores brasileiros para se tornarem dominantes no cenário nacional. Deu muito certo. Rivellino foi o pioneiro e pode ser considerado o maior nome da história do Hilal. Em partes, sua presença representa à Arábia Saudita o que Pelé foi para os EUA. Outros tantos jogadores seguiram seus passos, como Dé Aranha, Roni, Sérgio Soares, Somália, Leandro Ávila, Giovanni, Thiago Neves, Digão, Carlos Eduardo, Michael e Matheus Pereira, além das adições mais recentes de Neymar e seus contemporâneos. Já a relação de treinadores inclui Zagallo, Rubens Minelli, Valdir Espinosa, Candinho, Paulo Amaral, Joel Santana, Sebastião Lazaroni, Oscar, Nelsinho Baptista, Antônio Lopes, Toninho Cerezo, Marcos Paquetá e ainda outros.
- Mesmo em sua história recente, o Al-Hilal já teve elencos mais badalados que o convocado para o Mundial – em especial por Neymar. Não que os nomes tarimbados tenham desaparecido: Bono, Kalidou Koulibaly, João Cancelo, Rúben Neves, Sergej Milinkovic-Savic e Aleksandar Mitrovic compõem a ala internacional, com mais alguns destaques da seleção saudita, em especial Salem Al-Dawsari. Malcom e Renan Lodi são os principais brasileiros, mas com investimento recente em promessas, após as chegadas de Marcos Leonardo e Kaio César para o ataque. As expectativas neste Mundial, de qualquer maneira, giram ao redor do impacto que Simone Inzaghi pode causar no comando, ao substituir Jorge Jesus no cargo.
Al-Ain
- O Al-Ain é um clube de costas quentes. Sua ascensão sempre esteve ligada à realeza. Quem primeiro financiou os violetas foi o Xeique Khalifa bin Zayed Al Nahyan, príncipe-herdeiro dos Emirados Árabes Unidos na época e que posteriormente assumiu a cadeira presidencial de 2004 até sua morte em 2022. Já o atual presidente dos violetas, Mohamed bin Zayed Al Nahyan, também se tornou o sucessor do pai e do irmão na presidência do país. Diante de tamanho poder, não é nada surpreendente que o Al-Ain seja o maior vencedor do Campeonato Emiradense, com 14 títulos.
- O Al-Ain teve a ousadia de se meter nas ambições dos sauditas e conquistar a Champions Asiática em 2024. A campanha memorável dos emiradenses desbancou Al-Nassr e Al-Hilal, antes da goleada no segundo jogo da final contra o Yokohama F. Marinos. E os heróis da façanha seguem no elenco. Sofiane Rahimi e Kaku formaram uma dupla imparável. Ausente nas classificações contra os sauditas naquela campanha, o centroavante togolês Kodjo Laba é outra figura essencial e possui mais de 100 gols pelos violetas.
- O Al-Ain trouxe nada menos que sete reforços visando o Mundial, em lista que mistura jovens apostas e veteranos. O nome mais conhecido é o do goleiro Rui Patrício, que, aos 37 anos, se distancia cada vez mais do auge que o levou ao título da Euro 2016. O português chega para disputar posição com outro medalhão, Khalid Eisa, um dos símbolos do clube. Eisa é um dos principais goleiros do Oriente Médio, titular absoluto e capitão dos Emirados Árabes Unidos. E tem seu passado glorioso em Mundiais de Clubes: fechou o gol contra o River Plate na semifinal em 2018, o que permitiu aos violetas disputarem a final daquela edição diante do Real Madrid.
Ulsan HD
- O Ulsan é um clube que dá estabilidade aos seus treinadores. Desde sua fundação, em 1983, apenas 12 técnicos passaram pela casamata dos Tigres. E vários deles são nomes históricos do futebol sul-coreano. De 1990 a 1994, a prancheta foi de Cha Bum-kun, considerado o maior jogador asiático da história. Já de 2020 a 2024, quem ocupou o cargo foi Hong Myung-bo, presente em cinco Copas do Mundo como zagueiro. A lista de treinadores do Ulsan ainda inclui Kim Ho e Kim Jung-nam, outros dois eleitos para a seleção ideal da história da Coreia do Sul. Mais um dado notável é que 8 desses 12 técnicos dirigiram a seleção principal sul-coreana – quatro deles trabalharam em Copas do Mundo, incluindo Hong Myung-bo, à frente do time em 2014 e que reassumiu a equipe nacional em 2024, após o sucesso que fez em Ulsan. Já o treinador do clube neste Mundial, Kim Pan-go, foi vice-presidente da federação e tocou um projeto de desenvolvimento do futebol local na virada da década.
- Durante seus primeiros anos de existência, o Ulsan foi um clube itinerante. Sequer atuava em Ulsan. Então chamado de Hyundai Horang-i, os Tigres rodaram por Incheon e Gangwon, até fincarem raízes na atual cidade em 1990. Foi a partir desse momento que a agremiação se impulsionou, localizada num dos principais pólos industriais e portuários da Ásia. Até por isso, a conexão com a Hyundai se fortaleceu, com a administração atual do clube ligada à HD Hyundai Heavy Industries.
- O Ulsan HD entrou no Mundial de Clubes via ranking, mas possui dois títulos da Champions League Asiática no currículo, o mais recente em 2020, liderado pelo brasileiro Júnior Negrão. Já a prova de sucesso mais recente se nota na K-League, o Campeonato Sul-Coreano, no qual os Tigres são os atuais tricampeões. O título de 2022 é um dos mais marcantes da história da competição, ao impedir o hexa do Jeonbuk, rival também gerido pela Hyundai. Na reta final, o Ulsan conquistou uma antológica vitória no confronto direto, em virada por 2 a 1 arrancada com gols aos 52 e aos 55 do segundo tempo. Desde então, os auriazuis não encontram concorrência no país.
Urawa Red Diamonds
- O Urawa Reds possui um histórico de conquistas que precede a criação da J-League. A equipe de Saitama era uma potência nacional desde os tempos em que se chamava Mitsubishi Motors, quando o Campeonato Japonês estava atrelado a empresas locais e ainda era amador. Neste período, o futuro Urawa Reds conquistou quatro troféus da Japan Soccer League e quatro da Copa do Imperador. Curiosamente, o sucesso levou um tempo a se repetir na J1, com uma passagem pela segundona até que os troféus voltassem a aparecer após a virada do século.
- O Urawa Red Diamonds é o clube japonês mais bem sucedido na Champions Asiática, com três títulos. A conexão com o Brasil é notável em parte desses sucessos. O time que conquistou o troféu inédito em 2007 reunia Washington "Coração Valente" e Robson Ponte no setor ofensivo, além de Nenê e Marcus Túlio Tanaka na defesa. Dez anos depois, o repeteco do troféu em 2017 contou com os gols decisivos do atacante Rafael Silva, de passagem mais recente pelo Cruzeiro. Alex Santos e Emerson Sheik são outros brasileiros mais antigos idolatrados em Saitama, enquanto Matheus Sávio lidera a atual legião que disputará o Mundial.
- A torcida do Urawa Reds está entre as mais apaixonadas do Japão. O Saitama Stadium 2002 possui uma das melhores atmosferas da J-League, com a maior média de público da competição, batendo os 37 mil de média nas duas últimas temporadas. E a empolgação dos rubro-negros antes do Mundial demonstrou bem seu caráter. Foi fantástico o mosaico que simulava o voo do time rumo aos EUA, enquanto milhares de pessoas se reuniram na despedida dos jogadores ao redor do estádio. Não ficam devendo para as festas de sul-americanos e africanos vistas nos últimos dias.
Monterrey
- O Monterrey surgiu em 1945, com o intuito de introduzir o estado de Nuevo León na elite do futebol mexicano, quando o beisebol era o esporte preferido na região. Todavia, logo em seus primeiros meses, os Rayados precisaram lidar com uma tragédia. Durante uma viagem a Guadalajara, o ônibus que levava a delegação se incendiou no abastecimento. Parte do elenco dormia no veículo e teve ferimentos graves, sobretudo queimaduras. Dois jogadores faleceram posteriormente em decorrência das complicações. Sem que muitos atletas tivessem condições de seguir jogando, o Monterrey recebeu jogadores emprestados de diferentes clubes do país na sequência da temporada. Contudo, após terminar na lanterna do Campeonato Mexicano, o clube se licenciou e passou anos inativo, até retornar à elite em 1957.
- O Monterrey é um clube que tem seu sucesso medido pela Concachampions. Possui cinco títulos continentais, mesmo número de troféus na Liga MX. E todos os sucessos dos Rayados na competição da Concacaf se deram nos últimos 13 anos, com destaque ao tri emendado em 2011, 2012 e 2013. O grande ídolo do Monterrey naqueles tempos era o atacante chileno Humberto Suazo, assessorado pelo mexicano Aldo de Nigris, bem como pelos argentinos Neri Cardozo e César Delgado.
- O nome mais célebre do Monterrey atualmente é Sergio Ramos, vivendo os últimos momentos de sua condecorada carreira. Há um grupo importante de espanhóis, que inclui também o capitão Sergio Canales e o outrora promissor Óliver Torres. Impressiona também a conexão com o Sevilla, cuja lista de ex-jogadores inclui Lucas Ocampos e Jesús Corona. “Tecatito”, aliás, é prata da casa dos Rayados e conquistou o tri da Concachampions no início da década passada. Voltou para Nuevo León em 2023.
Pachuca
- Pachuca é o berço da bola no México. O primeiro clube de futebol fundado no país surgiu na cidade, através de proletários britânicos que trabalhavam nas minas de prata da região. Era o Pachuca Football Club, que passou por fusões e períodos inativos até dar origem à atual versão do clube em 1960. O próprio apelido de “Tuzos” faz uma referência à mineração, adotando a marmota como mascote.
- O Pachuca é um clube importante no Campeonato Mexicano, com sete títulos dos torneios curtos desde 1999. Contudo, os Tuzos se fazem mesmo notáveis pelo sucesso na Concachampions, com seis taças – só uma abaixo de gigantes como América e Cruz Azul. O goleiro Miguel Calero participou de quatro dessas conquistas: 2002, 2007, 2008 e 2010. Falecido em 2012, vítima de uma trombose aos 41 anos, o colombiano é considerado o maior ídolo da história do Pachuca. Já na taça de 2017, a estrela era a jovem revelação Hirving “Chucky” Lozano.
- As principais figuras do Pachuca estão no setor ofensivo. O ponta Oussama Idrissi foi destaque na última edição do Mundial de Clubes versão antiga, atormentando o Botafogo, enquanto o centroavante José Salomón Rondón usa a braçadeira de capitão. Indo além, chama atenção a conexão com o Brasil. John Kennedy tenta reconstruir sua carreira com os Tuzos, depois de todo o impacto no Fluminense campeão da Libertadores. Foi um dos destaques do Clausura, com nove gols. Já uma das novidades para o Mundial é o ponta Kenedy, de longo vínculo com o Chelsea e que vem por empréstimo do Valladolid.
Los Angeles FC
- O surgimento do Los Angeles FC aconteceu na esteira do desaparecimento do Chivas USA, clube que tentava fisgar a comunidade mexicana na Califórnia. A criação da nova equipe construiu uma nova identidade, até mais forte entre os latino-americanos da região de LA, pela forma como os novos donos direcionaram seus símbolos e seus esforços. Isso auxiliou também o LAFC a criar uma atmosfera genuína nas arquibancadas logo de cara, atrelada tanto à latinidade quanto às periferias – em contraposição às estrelas do rival Galaxy. E o engajamento político também se nota entre os aurinegros, como nos últimos dias, quando torcedores protestaram contra o cerco sobre os imigrantes intensificado pelo governo de Donald Trump.
- O Los Angeles FC pode não existir há tanto tempo, mas se deu muito bem com as estrelas estrangeiras que desembarcaram no clube. A lista de ídolos dos aurinegros inclui Gareth Bale, Carlos Vela e Giorgio Chiellini, todos parte da formação campeã em 2022. O atual elenco possui conexões mais fortes com a França, através de Hugo Lloris e Olivier Giroud. Cabe dizer que o grande destaque do time nos últimos anos é outro estrangeiro, o gabonês Denis Bouanga, antiga referência do Saint-Étienne que virou o homem decisivo do LAFC.
- As partidas do LAFC por vezes ganham ares hollywoodianos, graças aos seus proprietários. A relação de acionistas dos aurinegros inclui uma série de celebridades, que marcam presença nas arquibancadas. O comediante Will Ferrell costuma ser o mais espalhafatoso deles, mas a lista vai além com diversos astros aposentados do esporte - em especial, Magic Johnson, Mia Hamm e Nomar Garciaparra. Já nas arquibancadas, a torcida também faz referências pop nos mosaicos: rolaram tributos a Freddie Mercury e Kobe Bryant, além de menções a Freddy Krueger e Mortal Kombat.
Seattle Sounders
- O Seattle Sounders é um dos clubes mais antigos da MLS. Tão antigo que existe antes mesmo da liga: embora refundado em 2007, o Rave Green participou da antiga NASL, o velho campeonato estrelado por Pelé. Os Sounders originais disputaram a competição de 1974 a 1983, com duas presenças no Soccer Bowl – vice-campeões em ambas ocasiões diante do New York Cosmos. Destaques do futebol inglês como Mike England e Alan Hudson passaram por Seattle naqueles tempos.
- Depois do fim da NASL, o Seattle Sounders deu outros jeitos de sobreviver. Ficou mais de 20 anos zanzando em ligas amadoras dos Estados Unidos e militou inclusive no futebol indoor, até a admissão na MLS acontecer em 2009. E o mais importante nesta volta aos holofotes é que o Rave Green já contava com uma torcida maciça. Seattle é conhecida pelo ambiente vibrante em seus estádios independentemente da modalidade, enquanto o noroeste dos EUA está entre as regiões do país mais apaixonadas pela bola. A soma dos fatores garante uma das melhores atmosferas do país, com uma média de público sempre acima dos 30 mil.
- O técnico Brian Schmetzer é praticamente uma encarnação do futebol em Seattle. Nascido na cidade, ele começou no esporte treinado pelo próprio pai, com quem ganhou diversas competições estudantis. Depois de se profissionalizar, o atacante atuou pelos Sounders na antiga NASL e teve outras passagens pelo clube após o fim da liga. Já como treinador, Schmetzer dirigiu o Rave Green de 2002 a 2008, em ligas periféricas, antes de se tornar assistente de Sigi Schmid durante a entrada da franquia na MLS. Assumiu o cargo principal em 2016 e conquistou a MLS Cup logo na primeira temporada, repetindo o feito em 2019. Já em 2022, quebrou a hegemonia mexicana na Concachampions. Somando suas diferentes passagens, são mais de 25 anos dedicados ao clube.
Inter Miami
- Se ver Lionel Messi não é motivo suficiente para simpatizar com o Inter Miami, ainda há Luis Suárez. Se precisar de mais, Sergio Busquets e Jordi Alba completam o “Barcelona Masters”. E o elenco cheio de jovens valores tem outros nomes a se prestar atenção, como os meio-campistas Benjamin Cremaschi e Federico Redondo – filho de Fernando Redondo. Em termos de elenco, atrativos não faltam.
- O Inter Miami está diretamente ligado a David Beckham, que ganhou carta branca para desenvolver uma franquia na MLS após seus serviços prestados ao LA Galaxy. O futebol em Miami, entretanto, evoca outra lenda do futebol: Carlos Valderrama. O Pibe foi o grande craque do Miami Fusion, primeiro time da cidade na MLS, mas que faliu em 2001. Foram duas temporadas por lá, antes de Valderrama defender o também extinto Tampa Bay Mutiny. Outros latinos foram importantes no Fusion, como Diego Serna e Pablo Mastroeni. Já o Brasil foi representado por Ivo Wortmann, treinador por duas temporadas.
- A torcida do Inter Miami está fincada principalmente na comunidade latina da cidade. E as inspirações das hinchadas mais ao sul do continente se notam nos principais grupos de torcedores organizados, com cânticos em espanhol e outras referências. Uma das comunidades se chama inclusive "Nación Rosa y Negro", enquanto o apelido de Miami está presente na “Vice City 1896”.
Auckland City
- O Auckland City pode ser o mais fraco participante do Mundial 2025, mas nenhum outro clube possui mais presenças nas competições organizadas pela Fifa. Fruto de sua hegemonia na Champions da Oceania, o City contabiliza 11 participações no antigo formato do Mundial. E poderia ser mais, já que o clube desistiu de sua presença em 2020, por conta da pandemia. Um dado curioso é que o Auckland City soma mais títulos continentais (13 ao todo) do que na liga nacional (10).
- Tanto na Austrália quanto na Nova Zelândia, o desenvolvimento do futebol ocorreu ligado a comunidades imigrantes. E se a colônia croata é mais expressiva na Austrália, bastante representada nos gramados através de jogadores como Mark Viduka e Mile Jedinak, o Auckland City é exatamente um reflexo dos croatas presentes na Nova Zelândia, já que eles ajudaram a fundar o clube. O quadriculado da bandeira da Croácia está no escudo dos Navy Blues, enquanto seu grande ídolo (e atual assistente) é o ex-zagueiro Ivan Vicelich, um dos tantos descendentes.
- A participação do Auckland City no Mundial de Clubes acontece em um momento no qual as atenções na cidade se voltam a outro time de futebol: o Auckland FC, que ingressou no Campeonato Australiano durante a última temporada e foi o melhor time da fase de classificação, com média de 18 mil torcedores nas arquibancadas. A nova equipe impulsiona o futebol profissional na cidade e auxilia até mesmo na base da seleção da Nova Zelândia que disputará a Copa do Mundo. Já os milhões de dólares do Mundial ficarão nos cofres do Auckland City, que continua como um clube semi-profissional. Não à toa, os jogadores conciliam a carreira em campo com outras profissões – de treinadores infantis a corretores de imóveis. O elenco ainda reúne futebolistas de outras nacionalidades: um espanhol, um uruguaio, um chinês e um irlandês.