É o calendário, estúpido
Maratona do Botafogo no fim de ano repete um problema vivido constantemente pelos clubes brasileiros, atropelados por um calendário bruto
Newsletter Meiocampo #2 - 13 de dezembro de 2024
Salve, salve, amigos e amigas da newsletter Meiocampo! A nossa segunda edição vem recheada com o debate sobre calendário, com mote do Botafogo no Mundial, uma discussão se o futebol está morto (sim, é isso mesmo), a relação entre Bashar al-Assad e o futebol da Síria e um giro pelo mundo. Aproveitem!
Felipe Lobo
APOIE O MEIOCAMPO!
O Meiocampo surgiu como podcast, virou newsletter e o limite para o que vai ser depende de vocês. Quer apoiar o trabalho do Meiocampo? Seja membro no nosso canal de Youtube. Sua contribuição nos ajuda a manter o projeto e seguirmos fazendo cada vez mais (e temos planos para isso). E divulgue o Meiocampo! Precisamos que mais pessoas saibam que estamos de volta!
CLIQUE AQUI E SEJA MEMBRO DO MEIOCAMPO!
Botafogo, Brasileirão e Mundial: é o calendário, estúpido
Por Felipe Lobo
Em 1992, James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton, cunhou a frase “The economy, stupid” como um dos focos para eleger o democrata à Casa Branca. Funcionou e a frase, adaptada para “It’s the economy, stupid” se tornou conhecida para apontar o ponto mais importante quando se fala de política.
No futebol brasileiro, temos algo similar. O Botafogo perdeu do Pachuca no Mundial de Clubes em algo que se tornou comum ao futebol brasileiro. O novo formato do torneio, agora chamado de Intercontinental, fez com que o Botafogo caísse nas quartas de final. A derrota tem um aspecto que é fundamental para olharmos para o futebol brasileiro: o calendário.
Em 12 dias, o Botafogo fez a final da Libertadores, jogou duas partidas do Campeonato Brasileiro e disputou as quartas de final do Intercontinental. Saiu com duas taças, as mais importantes, e uma derrota amarga, que se tornou padrão do futebol sul-americano.
As discussões sobre nível técnico do futebol brasileiro frente a outros campeões continentais é relevante, mas fica pra outro dia. O mais relevante aqui é entender que o time sul-americano chega em frangalhos para o Mundial, o que torna suas chances de sucesso ainda menores.
O desgaste físico e mental não explica sozinho por que o Botafogo tomou um 3 a 0 do Pachuca, mas ajuda a entendermos que a diferença não é tão grande quanto o placar e o segundo tempo da partida fizeram parecer. É indiscutível que o calendário pesa.
É um assunto repetido e irritante, o que é uma característica do futebol brasileiro. De todos os problemas do futebol brasileiro, o calendário é o mais grave. O que vimos no Mundial é parte desse reflexo.
O Botafogo chegou a 75 jogos em 2024 no duelo com o Pachuca, que fez 49 no mesmo período. Não há milagre, ainda mais quando falamos em jogar três dias depois de conquistar o título brasileiro, em outro continente, com uma viagem de 15 horas nas pernas.
Em 2025, o Campeonato Brasileiro vai até o dia 21 de dezembro. O Intercontinental acontecerá em meio às últimas rodadas. Se um clube brasileiro vencer novamente a Libertadores, o que acontece desde 2019, terá que jogar as últimas rodadas da liga nacional com reservas ou um time sub-20. Parece razoável?
Todos nós sabemos onde está o problema do calendário. Dá para mexer na Copa do Brasil, fazer com que seja jogo único e economizar algumas datas. Nada resolveria tanto quanto reduzir drasticamente os estaduais ou mesmo torná-lo o que ele é: um torneio regional para clubes sem divisão que dá acesso a divisões nacionais. Uma Série E.
Para isso, seria preciso mudar toda a lógica que sustenta o presidente da CBF no seu cargo. Só uma liga de clubes seria capaz de romper essa lógica, mas essa chance foi perdida nas discussões que criaram Libra e LFU como dois blocos inúteis para vender direitos de transmissão.
Enquanto esses dois grupos brigam por questões muito mais de poder do que de razoabilidade, o futebol brasileiro segue afogado em um calendário inviável. Sorri o presidente da CBF, que mantém seu poder com as federações e ainda controla o Campeonato Brasileiro, já que os clubes ruíram a chance de uma liga para resolver os problemas para além dos direitos de TV.
Tem gente que adora usar a expressão “o futebol respira”. No caso, o futebol brasileiro respira, mas por aparelhos. É o calendário, estúpido.
O futebol está morto (ou igual demais)?
Por Bruno Bonsanti
Um jornalista do britânico The Times acha que o futebol está homogêneo demais e sente saudades de Ronaldinho Gaúcho. Cita personagens suficientes do futebol - David Moyes, Juanma Lillo, um estudo da Opta, o dono da Union Saint-Gilloise - para sustentar que este é um sentimento relativamente disseminado na indústria.
Ele está certo? Infelizmente, você não pode concluir por conta própria porque o texto está atrás de um paywall. Seus dois argumentos principais são a influência excessiva da análise de dados e a influência ainda mais excessiva de Pep Guardiola.
A primeira, segundo ele, desestimula os jogadores a tentarem lances de baixo índice de sucesso, como chutes de fora da área (ele sente muita falta de gols de fora da área, ingleses têm fetiche por chutes de fora da área, sei lá) e dribles.
Essa discussão, como ele mesmo aponta, não se restringe ao futebol. É bastante presente, por exemplo, na NBA, cada vez mais direcionada aos arremessos mais eficientes - dentro do garrafão ou de três. Os dados estão tirando a agência dos jogadores, ele argumenta. E de mãos dadas com isso, o Guardiolismo – que também tira a agência dos jogadores.
Ficou famosa uma análise de Thierry Henry na Sky Sports em 2015 explicando que Guardiola não apenas pede como exige que seus jogadores guardem posição durante a maior parte da construção ofensiva. Liberdade, apenas no último terço do gramado.
Henry lembra que uma vez que tentou ser espertinho, saiu da ponta esquerda, onde deveria ficar, aproximou-se de Messi e abriu o placar contra o Sporting. No intervalo, levou uma bronca de Guardiola e foi substituído.
Não precisa ser muito engajado em futebol para saber que existem centenas de treinadores tentando emular o estilo de Guardiola, o que às vezes provoca consequências terríveis quando o meio-campo não tem Xavi ou Iniesta ou Toni Kroos ou Xabi Alonso ou Kevin de Bruyne ou Bernardo Silva. É normal. Ele é o melhor e mais bem sucedido treinador da sua geração. Em toda a história do futebol, esses costumam exercer influência sobre os colegas.
Mas essas duas coisas juntas estão gerando uma padronização, segue o texto, tanto em termos de estilo quanto de formação de jogadores. O autor cita um amigo que trabalha com recrutamento na Premier Legue dizendo: “Todos estão buscando dados para ter uma vantagem competitiva, mas acabam encontrando os mesmos números e concluindo as mesmas coisas”.
Uma coluna apocalíptica de Juanma Lillo para o The Athletic analisando a Copa do Mundo de 2022 aparece na matéria. Nela, o assistente do próprio Guardiola diz que o futebol simplesmente acabou e assume responsabilidade por ter sido um dos expoentes do seu colapso. Na matéria do The Times, ele diz que sessões de treinamentos na Noruega e na África do Sul são iguais e que os técnicos estão tendo “influência demais”.
Outros trechos não reproduzidos falam até mais diretamente com a tese de que o Guardiolismo contribuiu para o triste fim do esporte mais popular do mundo. Entre outras coisas, que o foco nessas sessões de treinamento norueguesa-sul-africanas é sempre “passe aqui, passe ali” ou que os “bons dribladores acabaram” ou que tudo agora é “dois toques” e que “não existem mais jogadores ruins, mas também não existem mais excepcionais” porque “na tentativa de matar os ruins, também matamos os bons”.
Eu compartilho do sentimento de que muitos jogos parecem os mesmos. A matéria do The Times recorre a uma situação bastante comum: um time saindo com três jogadores atrás, tentando, sem pressa, escapar da pressão do adversário e levar a bola a uma área pré-determinada, da qual sairão movimentos prescritos, como o passe para trás ou a bola em diagonal.
Isso me fez lembrar um dado citado pelo jornalista Jonathan Wilson no podcast do Guardian de que a quantidade de partidas de Premier League em que um time tem pelo menos 60% de posse de bola se multiplicou do começo do século para agora.
E não é isso que a gente vê? Quantos jogos seguem a mesma lógica? O time mais forte e/ou mais rico assume a posse de bola e tenta encontrar espaços na defesa do adversário. O adversário, se for minimamente organizado e tiver atletas profissionais, consegue negar esses espaços, estacionando suas linhas na frente da área e correndo para burro. De vez em quando, tenta um contra-ataque.
E aí, tudo se resume ao primeiro gol: se o time mais forte e/ou mais rico, conseguir fazê-lo, ótimo, o adversário terá que se abrir aos contra-ataques; se o time mais fraco e/ou mais pobre encaixar um contra-ataque, se fechará ainda mais e o impasse se intensifica. É assim, aliás, que a bola parada ganha uma importância gigantesca, por ser um caminho rápido e eficiente para o primeiro gol.
A parte mais sábia do artigo, a que sugere que Lillo talvez tenha exagerado ao assinar o atestado de óbito do futebol, é a opinião do dono da Union Saint-Gilloise, Alex Muzio, dizendo que as táticas são cíclicas no futebol – ou seja, o Guardiolismo não será eterno – e que há mais diferenças de estilo ao redor da Europa do que parece. E realmente, muitos treinadores de sucesso, como Antonio Conte, Zinedine Zidane, Massimiliano Allegri ou Carlo Ancelotti, não podem ser acusados de terem sido “Pepficados”.
A parte mais cômica do artigo é quando ele afirma que muitos jogadores hoje em dia consideram Ronaldinho Gaúcho como seu jogador favorito e “poucos jogam – ou recebem permissão para jogar – como ele”. Como se fosse por falta de vontade.
E tipo, nós acabamos de ter Lionel Messi.
Como Bashar al-Assad se apropriou do futebol na Síria
Por Leandro Stein
Uma das primeiras reações oficiais ao fim da ditadura de Bashar al-Assad na Síria veio do futebol. No domingo, 8 de dezembro, o ditador fugiu para a Rússia diante da tomada de Damasco pelas forças rebeldes. Horas depois, a Associação de Futebol da Síria mudou seu escudo: o vermelho da antiga bandeira foi sucedido pelo verde do novo pavilhão, assim como as duas estrelas se tornaram três. Um ato simbólico da representatividade do futebol diante da política. E também da mudança dos tempos, após Bashar al-Assad se apropriar do esporte e usar a própria federação como ferramenta em seu regime repressivo.
Bashar al-Assad chegou ao poder em 2000, como sucessor de seu pai, que ocupara a cadeira presidencial de 1971 até sua morte. Hafez al-Assad fez uso dos esportes para limpar a imagem de sua ditadura diante da comunidade internacional, a exemplo da organização dos Jogos do Mediterrâneo na cidade de Latakia em 1987 – quando Bassel al-Assad, seu primogênito, ganhou um ouro no hipismo. Entretanto, a exploração do futebol de maneira mais sistemática foi realizada por Bashar, que passou a investir nos clubes sírios e auxiliou a profissionalização da liga local. Assim, transmitia uma imagem mais modernizadora de seu regime opressor.
A década de 2000 já foi marcante para o futebol sírio nas competições continentais. A Síria teve seu grande momento na Champions Asiática em 2006, quando o Al-Karamah se tornou o primeiro representante do país em uma final. Os sírios sucumbiram diante dos sul-coreanos do Jeonbuk Hyundai Motors, com a vitória por 2 a 1 em Homs sendo insuficiente após a derrota por 2 a 0 na ida em Jeonju. Enquanto isso, na Copa AFC (a Copa Sul-Americana do continente asiático), Al-Jaish e Al-Wahda fizeram uma final entre clubes de Damasco em 2004, com o troféu para o primeiro. O Al-Karamah foi vice do mesmo torneio em 2009. Já o Al-Ittihad levou o troféu para Aleppo em 2010.
Apesar do bem-vindo desenvolvimento de clubes em diferentes cidades da Síria e das melhores condições aos futebolistas, nem tudo corria bem no futebol do país. O clientelismo já tomava conta das estruturas da federação, enquanto a repressão se notava quando conveniente à ditadura. Em março de 2004, uma briga entre os torcedores do curdo Al-Jihad e do árabe Al-Fotuwa desencadeou uma reação das forças de segurança. Seis curdos morreram. A partir de então, as tensões escalaram. A população curda, historicamente suprimida também na Síria, tomou as ruas da cidade de Qamishli em protestos por direitos básicos. Uma estátua do ex-presidente Hafez al-Assad foi queimada. O regime apelou à violência: foram pelo menos 30 mortos e 100 feridos, além de milhares de refugiados rumo ao Iraque. Aqueles embates ganharam simbolismo à luta pela soberania curda.
Se por um lado a ascensão do futebol na Síria gerava esperanças de uma seleção mais relevante, com um foco nas categorias de base, do outro estava claro como a mão de ferro da ditadura já pairava sobre a modalidade. Foi o que se notou de maneira mais clara a partir de 2011, quando os reflexos da Primavera Árabe tomaram o país e as manifestações contra o governo iniciaram a sucessão de fatos que levou à guerra civil. O regime interrompeu o Campeonato Sírio 2010/11 sem permitir sequer seu término, sob o temor que as multidões nas arquibancadas se tornassem uma voz mais forte contra o poder – tal qual ocorreu em outros vizinhos árabes.
Nos cinco anos seguintes, o Campeonato Sírio foi realizado de maneira limitada, sob as rédeas da ditadura. Os times se dividiram em dois grupos e as partidas se concentraram em duas cidades ainda sob o poder do governo central: Damasco e Latakia. Principais forças locais na virada da década de 2000, Al-Karamah e Al-Ittihad viram suas bonanças bastante comprometidas ao se afastarem de suas bases. Ainda assim, o futebol não era a principal preocupação diante do muito que acontecia, com Homs e Aleppo, respectivamente, lidando com a barbárie da guerra.
A ação repressiva da ditadura também se voltou contra os futebolistas sírios. O posicionamento político de ídolos locais passou a ser visto como perigo para o regime. Há dezenas de casos de jogadores que foram presos. Segundo dados de 2017 do jornalista Anas Ammo, pelo menos 38 futebolistas das duas principais divisões do Campeonato Sírio foram assassinados – por tiros, bombas ou métodos de tortura. Pelo menos 13 seguiam desaparecidos à época. Existem ainda dados de pelo menos 30 jogadores das seleções de base mortos. A juventude síria, afinal, estava na linha de frente de alguns movimentos rebeldes.
Além do mais, a ditadura se dispunha dos jogadores de futebol como marionetes. Eles eram ameaçados se não demonstrassem apoio público ao governo. "Assad estava ansioso para mostrar à população que atletas e artistas o apoiavam fortemente, porque essas são as pessoas com mais influência nas ruas. As marchas eram obrigatórias", explicou Ammo, à ESPN Magazine, em 2017. No início da guerra, times inteiros eram forçados a sair em passeata pelo regime, por vezes carregando bandeiras e vestindo até camisetas com o rosto de Assad.
Já os estádios de futebol foram usados como bases militares e centros de detenção, mesmo enquanto as partidas aconteciam. O Estádio Abbasiyyin, em Damasco, é um exemplo. O local abrigava artilharia para suprimir os protestos. Até por isso, os estádios também se tornaram alvo de ataques, o que colocava a vida dos jogadores em risco. Youssef Suleiman, do Al-Wathbah, morreu ao ser atingido por um morteiro enquanto estava no hotel de um complexo esportivo em Damasco.
Nem todos os jogadores se sujeitaram à realidade de medo. Entre os milhões de refugiados da guerra da Síria, centenas de futebolistas deixaram o país. Houve uma debandada maciça de atletas a outras ligas, sobretudo ao Iraque. Também há casos de atletas que sequer continuaram suas trajetórias profissionais. Firas al-Ali, ex-zagueiro da seleção, fugiu do país após o assassinato de seu primo de 13 anos e passou a viver com sua família num campo de refugiados na Turquia. Seus bens e seu dinheiro foram tomados pelo regime.
Abdul Baset al-Sarout igualmente pendurou as chuteiras, mas optou por um caminho bastante diferente. O jovem goleiro do Al-Karamah era visto como uma das grandes promessas da seleção sub-20. Tinha 19 anos quando se iniciou a Primavera Árabe e virou uma das lideranças da resistência em Homs, cidade central aos rebeldes. Sarout foi morto numa ofensiva do exército sírio em junho de 2019. O ex-goleiro é tratado como um mártir, embora também contestado por declarações extremistas, depois refutadas por ele.
Ainda há aqueles que responderam à ditadura com a mesma moeda e decidiram agir politicamente através do futebol. Maior artilheiro da história da seleção, Firas al-Khatib é o maior símbolo. Em 2012, o atacante nascido em Homs renunciou às convocações. Com a bandeira da revolução sobre os ombros, o goleador declarou: “Aqui, diante da imprensa, quero dizer que nunca mais jogarei pela seleção enquanto bombas continuarem caindo sobre a Síria”. Outro a tomar atitude parecida foi o centroavante Omar al-Somah, então considerado uma das maiores promessas do país.
Nem todos tiveram essa coragem ou mesmo essa opção, o que era compreensível. Existem relatos de jogadores que viram familiares ameaçados se não atuassem pela seleção. A ditadura de Assad também impediu alguns destaques da liga local de atuarem fora do país, através da retenção de passaportes ou do serviço militar obrigatório. A seleção da Síria, naturalmente, servia de recurso precioso de propaganda ao regime. Não à toa, o título inédito do Campeonato da Federação de Futebol da Ásia Ocidental em 2012 rendeu uma pomposa recepção aos jogadores na sede do governo. Entre os vencedores estava o goleiro Mosab Balhous, preso em 2011 sob a acusação de abrigar rebeldes em sua casa, mas depois inocentado.
O momento mais significativo do futebol na Síria durante o regime de Bashar al-Assad, de qualquer forma, aconteceu durante as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Os sírios ficaram mais próximos do que nunca da classificação ao Mundial. Terminaram na terceira colocação de sua chave, a dois pontos da vaga direta, e fizeram jogos duríssimos contra a Austrália na repescagem. A classificação australiana em Sydney veio somente com uma virada concretizada na prorrogação. Apesar do amargor derradeiro, a campanha não deixava de ser um orgulho aos sírios, que seguem sem disputar um jogo oficial em seu território desde 2010.
O desterro era um obstáculo, assim como as limitações para reunir os jogadores do elenco nos treinamentos em meio à guerra. Mas a reta final da campanha contou inclusive com reforços para a seleção da Síria. Artilheiro do Campeonato Saudita, Omar al-Somah retornou às convocações após cinco anos e garantiu gols decisivos, incluindo os dois contra a Austrália. Também aconteceu o retorno de Firas al-Khatib, mesmo dizendo que nunca mais vestiria a camisa síria enquanto as bombas caíssem no país. O veterano usou até a braçadeira de capitão nos jogos em que foi titular.
Khatib nunca falou claramente sobre os motivos que o fizeram mudar de ideia. Porém, as entrelinhas permitem imaginar muita coisa. “O que aconteceu é muito complicado. Não posso falar mais sobre essas coisas. Desculpa, sinto muito. É melhor para mim, para meu país, para minha família, para todo mundo se eu não falar”, comentou em 2017, à ESPN. Contou que ficou seis anos longe do pai, que não podia deixar Homs por questões de saúde: “É o momento mais duro da minha vida. Não quero voltar porque jogo pela seleção, ou porque apoio ou não apoio o governo. Quero voltar para a Síria como um sírio. Quero finalmente ver meus pais, meus irmãos”.
Quando Khatib renunciou à seleção, o regime de Assad parecia realmente ameaçado. Cinco anos depois, a guerra se arrastava e as dúvidas sobre uma mudança política pairavam sobre o país, com diferentes peças no tabuleiro do xadrez geopolítico. Neste sentido, a seleção da Síria era usada como um meio para a ditadura tentar transmitir normalidade. Ajudava também a complacência da Fifa, cujas ações contra uma federação tomada pelos partidários do regime se limitaram a bloqueios de bens, mas nada tão contundente. Como de costume, a entidade internacional lavou as mãos.
O Campeonato Sírio seguiu em frente apesar da guerra civil, inclusive com o retorno de partidas a cidades como Aleppo e Homs, à medida que o governo retomava o controle. Muitos estádios eram adornados por grandes imagens de Bashar al-Assad, isso quando não levavam o próprio nome da família. Emblemático que, de 2013 a 2019, seis dos sete títulos foram conquistados pelo Al-Jaish, clube de Damasco pertencente ao exército e beneficiado pelo regime. Também não surpreende que depois tenha ocorrido um tri do Tishreen, de Latakia, cidade que serviu de base política aos Assad e com forte presença dos alauitas, grupo étnico-religioso ao qual a família pertence. Já o atual bicampeão, Al-Fotuwa, foi recebido no salão presidencial sob a intenção de reforçar os laços políticos com a cidade de Deir ez-Zor – bastião no leste do território e dominada pelo Daesh (o autointitulado Estado Islâmico) até 2017.
A intenção de usar o futebol para passar um senso de normalidade não funcionou totalmente. A própria seleção da Síria não engrenou após as Eliminatórias para a Copa de 2018, ao contrário do que se imaginava – e refletindo rachaduras internas. Alguns jogadores do país se destacavam em ligas vizinhas do Oriente Médio, a ponto de Omar Khribin ser eleito o melhor futebolista em atividade na Ásia em 2017. Contudo, a equipe nacional nunca repetiu a sintonia. Sequer chegou à fase decisiva do qualificatório para o Mundial de 2026 e também não empolgou muito nas últimas edições da Copa da Ásia.
Um caminho adotado pela seleção da Síria nos últimos anos foi o recrutamento de descendentes da diáspora. De forma cada vez mais recorrente, são convocados filhos e netos de sírios estabelecidos em outros países – sobretudo na Argentina e na Suécia. Há movimentos migratórios ocorridos ainda na primeira metade do século passado, mas também aqueles decorridos da perseguição da ditadura dos Assad a minorias étnicas. Já o fim do regime tende a abrir portas àqueles que se mantinham firmes contra o chamado da seleção. Ainda assim, há uma geração de talentos que acabou dizimada pela guerra.
A queda de Bashar al-Assad encerra um período sombrio da Síria, embora não ofereça garantias totais ao futuro. Persistem dúvidas sobre como será a transição do país e alguns dos grupos extremistas envolvidos na longa guerra civil dos últimos anos podem provocar novas ondas de violência. Até o futebol pode continuar na mira, considerando episódios de ataques de fundamentalistas islâmicos contra alvos do esporte.
De qualquer maneira, os tempos de mudança permitem aos sírios criarem esperanças de dias melhores, inclusive no próprio futebol. Já existem esboços de um uniforme todo verde para a seleção, em conformidade com a nova bandeira, restaurada dos movimentos de independência nos anos 1930. A cor, simbólica também aos islâmicos, já era usada por um time dissidente estabelecido no Líbano anos antes. E ela igualmente está presente nas redes sociais de Firas al-Khatib, que permanece como maior artilheiro da seleção, mesmo tendo se despedido dos gramados em 2019. Depois do obrigatório silêncio, o agora técnico expressa a liberdade de enfim se manifestar. De poder traçar um futuro à sua cidade de Homs, onde, mesmo durante a guerra, ele já oferecia um caminho para crianças graças a uma escolinha de futebol.
PODCAST MEIOCAMPO
Toda segunda e sexta ao vivo no Youtube e logo depois nos tocadores de áudio! Clique e se inscreva no Youtube e no Spotify (estamos em todas as principais plataformas de áudio)
Giro pelo mundo
O dilema de Levy
O futebol muitas vezes sofre de dissonância cognitiva, uma fenda entre o que diz e o que faz. Lembro de ter dado muita risada quando o presidente Daniel Levy anunciou Nuno Espírito Santo dizendo que ele era “o cara” para fazer o Tottenham voltar “ao nosso DNA de jogar um futebol ofensivo e divertido”. Ele claramente não havia visto um único jogo do Wolverhampton de Nuno.
O curso foi corrigido (dois anos depois) com Ange Postecoglou, um campeão desse tipo de futebol. E após investir em jogadores mais experientes para agradar os medalhões José Mourinho e Antonio Conte - que também não são famosos por montar super potências ofensivas, mas, pelo tanto que conquistaram, foram nomes compreensíveis para um clube em seca -, também houve uma guinada no mercado de transferências na direção de jogadores mais jovens.
Por vias tortíssimas, o Tottenham chegou onde deveria estar e onde, ao que tudo indica, queria estar: tem um técnico que não é jovem em idade, mas moderno em métodos e filosofia, com uma personalidade que não inspira nos funcionários o desejo de bater com a cabeça na parede, e um elenco com potencial que pode se desenvolver junto. Enfim, mais ou menos voltou ao início da Era Pochettino.
E, no momento em que cresce a pressão sobre Postecoglou, Daniel Levy precisa resistir à tentação de executar sua 14ª demissão de treinador. Porque se você quer praticar um futebol ofensivo com jogadores jovens, precisa ter estômago para aguentar derrotas como a do Chelsea e paciência para esperar que eles se tornem adultos.
E a questão não é ser fiel ao discurso, dane-se o discurso, o futebol não é famoso pela sinceridade, mas parece ser o único caminho para o Tottenham voltar a competir na parte de cima da tabela da Premier League.
A redenção de Griezmann
Sonhar em defender o Barcelona pode destruir carreiras, e houve um momento em que isso parecia no horizonte para Antoine Griezmann. As dúvidas eram tão justificáveis sobre seu encaixe em um dos poucos times que tinha um jogador melhor para a sua posição (Lionel Messi) que elas acabaram se confirmando.
Precisou colocar o rabinho entre as pernas e retornar ao Atlético de Madrid em apenas dois anos, ciente de que havia o risco da torcida colchonera nunca perdoá-lo pela maneira como saiu. Mas se a condução da transferência foi desastrosa, a do retorno foi quase perfeita.
Chegou humilde, disse as coisas certas - como um raro pedido de desculpas ou o reconhecimento de que causou danos à relação e, se fosse torcedor, também teria ficado irritado - e principalmente não criou caso quando, em um primeiro momento, foi mais reserva que titular. Baixou a cabeça e trabalhou.
A recompensa, tanto para ele quanto para o clube, foram duas excelentes temporadas e uma terceira que também começa muito bem, com um ponto alto no último fim de semana ao marcar dois importantes gols na incrível virada contra o Sevilla.
Há coisas pouco comuns na carreira de Griezmann: era ponta insinuante na Real Sociedad, tornou-se talvez o mais próximo que temos de um camisa 10 clássico no momento e é perfeitamente possível que a primeira linha do seu obituário seja as atuações pela seleção francesa, uma raridade hoje em dia. Receber uma segunda chance do futebol e aproveitá-la tão bem é mais uma delas.
O adeus a Kath Phipps, coração e alma do United
Jogadores e treinadores tantas vezes personificam a relação de um clube com o mundo exterior. O futebol, porém, possui muito mais gente fazendo sua engrenagem girar – e o caráter social do esporte reforça a importância desse pessoal que se dedica além das quatro linhas. O sucesso de uma equipe está atrelado também à competência em cada setor da instituição. A grandeza do Manchester United no futebol inglês tem a ver com o trabalho de Kath Phipps, e foi bonito como Old Trafford reconheceu a funcionária.
Kath faleceu no último dia 5, aos 85 anos de idade. Por 55 anos, a britânica foi onipresente nos corredores do United, trabalhando em diversas funções – sobretudo como recepcionista no CT de Carrington, onde distribuía sorrisos. Era a face que representava o dia a dia do clube, afável com os jogadores e solícita com os visitantes. A identidade dos Red Devils está ligada à contribuição de Kath, algo reconhecido por torcedores e astros que cruzaram seu caminho.
Quando Kath chegou ao Manchester United, em setembro de 1968, Matt Busby tinha acabado de levar o clube ao seu primeiro título da Copa dos Campeões. A recepcionista resistiu às mudanças de eras em Old Trafford. Conseguiu a proeza de ser mais longeva que Sir Alex Ferguson, com o dobro de tempo de casa. Seguiu querida independentemente da passagem do tempo.
O United apoiou Kath em diferentes momentos de sua vida. Ferguson e todo o elenco estiveram presentes no funeral de seu marido. Já durante a pandemia, a idosa recebeu visitas de jogadores e membros da comissão técnica. Mas ainda mais decisiva foi a diferença que Kath fez na vida dos demais.
Foi assim com David Beckham que, em sua chegada para morar no CT, aos 15 anos, viu Kath prometer aos seus pais que "não precisavam se preocupar porque ela cuidaria do menino". Também com Peter Schmeichel, quando, ainda jovem, visitou Old Trafford. Pediu para conhecer o gramado e foi conduzido por Kath ao local em que se consagraria anos depois. Foi assim até com Bobby Charlton, Denis Law e George Best, a Santíssima Trindade, apoiada por Kath na hora de atender aos fãs e distribuir autógrafos.
“Gentil”, “amável” e “calorosa” são palavras comuns para descrever Kath Phipps. Não são poucos os antigos membros do clube que a chamam de “coração e alma” do Manchester United. Natural, então, que Old Trafford pulsasse mais forte no último final de semana, antes que a bola rolasse para o duelo contra o Nottingham Forest. O time entrou em campo com uma bandeira em tributo, agradecendo e chamando a saudosa Kath de “lenda”. Nada mais preciso.
Central Córdoba e a taça inédita do norte da Argentina
O mapa do futebol argentino se expandiu durante os últimos anos, seja pela pertinente recriação da Copa Argentina ou pelo problemático inchaço do Campeonato Argentino. Por ambas as vias, o Central Córdoba passou a protagonizar o momento mais relevante de sua história. E, nesta semana, ofereceu a maior glória já vivida pelo futebol de Santiago del Estero: a conquista da Copa Argentina, sobre o Vélez Sarsfield.
Fundado em 1919, por funcionários da ferrovia que ligava o norte da Argentina à cidade de Córdoba (por isso seu nome), o Central Córdoba sempre foi uma potência regional. Graças a isso, teve aparições pontuais na elite do Campeonato Argentino, a partir de sua nacionalização, com participações em 1967 e 1971. Contudo, após a integração da liga, o Ferro perambulou por décadas entre a terceira e a quarta divisão. A conquista do acesso à elite em 2019 marcou o fim de um hiato de 48 anos longe da primeira prateleira.
Desde então, o Central Córdoba não deixou mais a primeira divisão e fez barulho na Copa Argentina. Já tinha sido finalista em 2019, derrotado pelo River Plate na decisão. A glória inédita se consumou nesta quarta-feira, em campanha que deixou pelo caminho camisas do peso de Estudiantes, Newell’s e Huracán. Na final, o cruzamento de Matías Godoy pegou efeito e tomou o rumo do ângulo, transformando-se num golaço. O suficiente para derrotar o Vélez por 1 a 0 e permitir que um feito memorável se concretizasse aos alvinegros.
O grande nome do Central Córdoba na conquista é o técnico Omar De Felippe. Assumiu uma equipe em crise e emendando derrotas. Virou a realidade do avesso em quatro meses. Don Omar também chega ao ápice da carreira, após ter levado à elite clubes como Olimpo, Quilmes e Independiente, além de ter sido campeão equatoriano com o Emelec. Veterano da Guerra das Malvinas, “El Soldado” dedicou o título aos companheiros de front. Bonita foi também a volta por cima do lateral Rafael Barrios, que perdeu o filho recém-nascido há um ano e pensou em abandonar a carreira, mas seguiu em frente e prestou tributo ao seu “anjinho”.
Nunca um clube do norte da Argentina havia conquistado um título nacional. Santiago del Estero, por sua vez, volta ao topo do país 96 anos depois de ter faturado o antigo campeonato de seleções regionais. O Central Córdoba atual não escapa do uso político de sua camisa, com apoio provincial inclusive em patrocínios. Contudo, há também um simbolismo e uma representatividade a uma parcela da população interiorana tantas vezes marginalizada. O orgulho é evidente e estará presente, pela primeira vez, na Libertadores.
E se a história dos vencedores é marcante, a dos vencidos pode ser catastrófica. O Vélez partiu para o final da temporada com chances de faturar a dobradinha, mas perdeu a Copa Argentina e corre sérios riscos no Campeonato Argentino, com o derretimento nas últimas semanas. A rodada final terá um confronto direto com o Huracán, dois pontos atrás, enquanto o Talleres, com os mesmos 48 pontos dos velezanos, também pode levar a taça. A pancadaria entre torcedores e jogadores nas arquibancadas, logo após a derrota para o Central Córdoba, é bastante sintomática.
Dez anos depois, um novo Galaxy campeão
A final da Major League Soccer desta temporada pareceu remeter a outros tempos da competição. Los Angeles Galaxy e New York Red Bulls estão entre os fundadores da liga, em 1996. Nos últimos tempos, o passado na MLS não vinha querendo dizer tanta coisa assim, com a ascensão rápida de equipes recém-integradas. Desta vez, até pelo embate entre representantes de Los Angeles e Nova York, a decisão teve ares de clássico.
O Galaxy remonta a uma MLS que quis construir sua força a partir de franquias e estrelas consagradas. Não se nega que, durante algum tempo, os californianos entenderam a fórmula melhor do que qualquer outro: ganharam cinco títulos até 2014, viraram uma marca global com David Beckham e Landon Donovan. Nestes últimos dez anos, contudo, a MLS se transformou graças a outro caminho, até mais importante para a sustentabilidade interna: se construiu a partir de comunidades e torcedores.
Ao longo da última década, o Galaxy lidou com uma realidade mais modesta. Nem Steven Gerrard ou Zlatan Ibrahimovic foram suficientes para um time que deixou de frequentar as finais e tantas vezes ficou fora dos playoffs. A conquista do sexto título em 2024 parece corresponder às mudanças da liga. Se a MLS hoje é um campeonato que garimpa talentos, o impacto de Gabriel Pec, Dejan Joveljic e Joseph Paintsil compreende isso. Deu até para pinçar um Riqui Puig, com selo de La Masia, embora sem tamanho para o Barcelona.
E há um grande astro, como no Galaxy de outrora, ainda que apenas coadjuvante desta vez: Marco Reus. Depois de tanto perseguir sua Bundesliga com o Borussia Dortmund, a conquista veio logo nos primeiros meses em que respirou novos ares. O lado midiático de Beckham ou de Ibra, todavia, passa longe do alemão: parece ele mesmo corresponder a esses novos tempos de MLS, como um ídolo que se engrandeceu por talento e também por pertencimento à comunidade. Mais do que o glamour, o Galaxy conta histórias.
Vissel Kobe revalida seu outro caminho para o sucesso
O Vissel Kobe bicampeão do Campeonato Japonês é mais um time que mudou conceitos para garantir conquistas. Durante algumas temporadas, o clube tentou resgatar a tradição dos primórdios da J-League, quando veteranos famosos desfilavam pelos gramados do país. O Vissel Kobe campeão da Copa do Imperador em 2019, no primeiro troféu de elite da agremiação, tinha Andrés Iniesta e Lukas Podolski entre os titulares, além de David Villa vindo do banco. Na liga, porém, as oscilações eram custosas e faltava consistência. Brigaram até contra o rebaixamento.
Ainda que os mesmos donos sigam à frente do Vissel Kobe (a Rakuten, que já patrocinou até o Barcelona), a gestão do elenco mudou nas temporadas mais recentes. Os medalhões estrangeiros saíram. O protagonismo ficou com ex-jogadores da seleção japonesa ainda com lenha para queimar em bom nível. A despedida de Iniesta em 2023, insatisfeito pela falta de minutos em campo, era um sinal mais do que concreto. Por mais que não apagasse a idolatria de Don Andrés em Kobe, as prioridades se tornaram outras.
O título inédito da J-League em 2023 já foi um grande feito do técnico Takayuki Toshida, que assumiu o comando em 2022, mas tinha longa ligação com o Vissel Kobe desde os tempos de jogador. O passo além veio com a reconquista da Copa do Imperador, após cinco anos de hiato, e agora a dobradinha na J-League 2024. Foi uma campanha apertada, em que Machida Zelvia e Sanfrecce Hiroshima também ocuparam a liderança em períodos longos. Na hora da decisão, entretanto, preponderou a força dos bicampeões.
O ataque do Vissel Kobe conta com duas figurinhas carimbadas da seleção em outros tempos: Yoshinori Muto e Yuya Osako, ambos com Copa do Mundo no currículo. Muto foi o MVP da temporada. O lateral Gotoku Sakai e o volante Hotaru Yamaguchi são outros que já disputaram Mundiais. A base atual do elenco é japonesa, embora só o goleiro Daiya Maekawa tenha frequentado as convocações em 2024. Apenas dois estrangeiros participaram desta conquista, ambos brasileiros: o zagueiro Matheus Thuler, essencial titular, e o ponta Jean Patric. Outros caminhos também resultam no sucesso.
Ficamos por aqui. Até a semana que vem!