Mbappé, de fato, chegou ao Real Madrid
Um hat-trick contra o Manchester City foi a melhor atuação de Mbappé com a camisa do Real Madrid e indica o jogador que todos esperavam que ele fosse
Newsletter Meiocampo #12 - 21 de fevereiro de 2025
A Champions League foi o principal assunto da semana e você encontrará textos aqui que tratam disso. De Mbappé brilhando pelo Real Madrid no momento decisivo passando pela geografia dos classificados, com destaque para o Benelux, além do desempenho de um surpreendente time do norte do Reino Unido. Passe um bom café e aproveite!
Mbappé finalmente parece o craque que o Real Madrid queria
Por Felipe Lobo
O duelo mais badalado da fase de playoffs da Champions League era Real Madrid x Manchester City, por razões óbvias: dois pesos pesados, campeões recentes, times cheios de estrelas. Depois de Vinícius Júnior brilhar na vitória no jogo de ida, no segundo jogo o nome foi um só: Kylian Mbappé, autor de um hat-trick nos 3 a 1 no Santiago Bernabéu. Depois de um início difícil, o francês parece enfim ser o jogador espetacular que se esperava.
A chegada de Mbappé ao Real Madrid foi uma das bolas mais cantadas da história do mercado de transferências. Mbappé é, indiscutivelmente, um dos melhores jogadores do mundo tecnicamente. Só que o seu encaixe no Real Madrid não foi imediato e algumas dificuldades aconteceram ao longo dos primeiros meses.
Vimos vários questionamentos e análises, baseadas em dados, que Mbappé piorou o futebol do Real Madrid. Não era algo infundado e nem sem sentido. Houve uma dificuldade em aproveitar um jogador como Mbappé em um time como o Real Madrid, que tem vários jogadores com a mesma característica.
É onde entra um dos grandes nomes do time espanhol: o técnico Carlo Ancelotti. Poucos técnicos no mundo são tão capazes de encaixar jogadores e formar um time como Ancelotti. Sua flexibilidade tática é um trunfo e ele não se prende a formações, sempre em busca de fazer o time funcionar.
Nem sempre foi assim: ele conta que precisou se adaptar quando viu, como treinador da Juventus, que o seu esquema tático não encaixava o jogador mais talentoso do time, Roberto Baggio. O fracasso dele naquela Juventus fez com que ele repensasse a forma de trabalhar e se tornasse mais flexível, algo que manteve ao longo do tempo e se tornou um trunfo.
Mbappé não gostava de jogador de centroavante, nem no PSG, nem na seleção francesa. Nos dois elencos, ele era o dono do time. No clube parisiense então, ele era quase o dono do clube, tamanho o seu poder. Isso talvez tenha contribuído para que Mbappé tenha se tornado um jogador que contribuía pouco para o coletivo, embora individualmente seguisse como um dos melhores do mundo.
No PSG, Mbappé se sentia maior que o clube – por culpa do próprio clube, que se apequenou diante dos caprichos do seu astro. No Real Madrid, a vida é outra. O clube jamais se dobra a jogadores, nem mesmo aos seus ídolos históricos. É um dos clubes que menos tem apego às suas grandes figuras. A fila em Madri anda rápido.
Talvez por isso Mbappé tenha chegado ao Real Madrid pronto para atuar onde o técnico quisesse. Inclusive de centroavante. Mas Carletto sabe que precisa tentar fazer seus jogadores ficarem satisfeitos e mostrou mais uma vez seu repertório tático para tentar adaptar seus melhores jogadores para atuarem juntos, sem ter que sacrificar nenhum deles, mas com a participação ativa de todos.
A primeira metade da temporada não foi tão boa quanto se imaginava. Muita instabilidade de atuações e resultados tanto em La Liga quanto na Champions League. Os questionamentos foram inevitáveis: o Real Madrid contratou um jogador que não precisava? Vinícius Júnior e Mbappé são incompatíveis? Só um pode jogar pela esquerda?
Aos poucos, porém, essa situação mudou. Mbappé começou a se adaptar. O próprio Ancelotti disse em dezembro que o período de adaptação tinha acabado. E ficou claro que as coisas melhoraram desde então. Não só em números – Mbappé já estava fazendo seus gols até ali –, mas principalmente em desempenho não só individual, mas coletivo.
Ancelotti adaptou o time para jogar com um quarteto de peso: Jude Bellingham, Rodrygo, Vinícius Júnior e Mbappé. Para equilibrar o time sem a bola, Bellingham volta fechando o lado esquerdo e Rodrygo faz o mesmo do lado direito. Vinícius e Mbappé ficam como dois atacantes. Na prática, o time se defende em um 4-4-2. Mas isso, claro, depende também do adversário.
Se por um lado o time tomou outra paulada do Real Madrid na Supercopa do Rei, o time parece cada vez melhor e mais perigoso. O Manchester City pagou essa conta na Champions League. Este segundo jogo, no Santiago Bernabéu, foi um baile. O placar de 3 a 1 saiu até barato diante do que vimos em campo.
Mbappé teve um jogo perfeito e atuando como gosta: com liberdade para se movimentar e com um entrosamento cada vez melhor com Rodrygo e Vinícius, especialmente. Mbappé é um jogador perigoso seja sendo lançado em velocidade, onde é quase imparável, seja recebendo a bola no meio dos marcadores.
Por mais que não goste de ser centroavante e jogar de costas para o gol, o que seria mesmo um desperdício para um jogador como Mbappé, ele tem atuado centralizado e é uma referência no ataque. A diferença é que os companheiros não o procuram com bolas pelo alto ou para que ele faça o pivô, segurando a bola de costas. O procuram para fazer jogadas trabalhadas e para que ele tenha condições de finalizar com a qualidade que nos acostumamos a ver.
É justamente a finalização o ponto que mais chama a atenção de Mbappé. Mesmo não sendo um camisa 9 clássico, ele tem a finalização melhor que a maioria dos centroavantes no mundo. Seu repertório ficou evidente nesse jogo contra o Manchester City. Gol por cobertura, gol fintando o adversário, gol criando a jogada para abrir o espaço para finalização.
Mbappé tem qualidades técnicas raras, que unem velocidade, visão de jogo e uma finalização do mais alto nível. Tecnicamente, provavelmente é hoje o melhor jogador do mundo, ainda que o seu desempenho não tenha sido assim nas últimas temporadas.
A rigor, nem mesmo nessa temporada dá para dizer que ele tem desempenho de melhor do mundo, mesmo com a clara melhora que vemos, a temporada como um todo não foi a ideal. Até porque ninguém está jogando mais que Salah no momento.
Mesmo assim, seus números são excelentes. São 36 jogos até aqui na temporada e 24 gols. Tem tudo para ultrapassar a marca de 30 gols com tranquilidade na temporada, como se tornou habitual pelo PSG.
Isso até agora. Mbappé pode ter um papel crucial e o Real Madrid terminar a temporada levantando a taça da Champions League com ele sendo um nome chave. Isso o tornaria um candidato natural a um prêmio individual. E isso nem é o mais importante: o que ele, Vinícius, Rodrygo e Bellingham podem fazer é algo histórico. E é justamente isso que Mbappé tem falado: quer fazer história.
O que vimos nesse jogo contra o Manchester City são as características que o tornam um dos melhores do mundo. Os indícios que sabemos que ele pode assumir esse papel. Ele quer conquistar o título mais importante que falta à sua coleção, o da Champions League, e não há lugar melhor que o Real Madrid para isso. Conquistar os prêmios individuais será uma consequência se ele atingir os objetivos que ele e o clube desejam.
Para Mbappé, porém, não basta conquistar: ele quer ser um dos protagonistas, como já vimos acontecer em outros dos títulos, como a Copa do Mundo, por exemplo. Hoje o maior destaque do Real Madrid ainda é Vinícius Júnior, por tudo que ele tem feito ao longo dos últimos dois anos e pelo que faz nesta temporada. Mas está claro que Mbappé está alcançando o nível esperado e está se tornando o jogador que todo torcedor do Real Madrid sonhava em ter.
O Real Madrid tem o atual melhor do mundo com Vinícius Júnior, mas pode ter mais do que isso. Mbappé tem potencial para chegar lá e talvez estar entre esses melhores muito em breve. Talvez o Real Madrid consiga o feito que o Barcelona conseguiu em 2010, quando teve os três melhores do mundo naquele ano no seu elenco: Lionel Messi, Andrés Iniesta e Xavi.
O que vemos de Mbappé é algo de outro mundo. E parece cada vez mais letal e pronto a destruir defesas adversárias vestido de branco. Como um certo português fazia anos atrás.
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Países Baixos, Bélgica e a brecha à euforia na Champions
Por Leandro Stein
O novo formato da Champions League culminou em diversas mudanças na competição, descobertas e digeridas aos poucos. Uma das transformações mais significativas ocorre nos mata-matas, não apenas pela adição de uma fase a mais, mas também pela chance ampliada a oito participantes. Times que em outros tempos seriam repescados à Liga Europa, mas que agora ganham uma sobrevida no palco principal. A porta se abre a camisas diferentes, a mais ligas. E o maior sucesso nesta estreia da nova fase classificatória veio para Benelux. PSV, Feyenoord e Club Brugge protagonizaram grandes histórias – aproveitando-se dos espólios italianos nos três confrontos.
O grupinho dos “superleaguers” na Europa é bastante restrito. Assim, o aumento de 16 para 24 equipes nos mata-matas significa expandir o espaço a mais clubes que, em teoria, seriam meros coadjuvantes na Champions. Sem mudanças significativas no equilíbrio entre ligas com o novo formato, a tendência é que o escopo se abra a times além dos principais campeonatos nacionais. E o que as surpresas desta Champions mostraram é que dá para competir, especialmente em 180 minutos propícios a franco atiradores.
PSV e Feyenoord possuem tradição inegável na Champions, como ex-campeões. Da mesma forma, vêm de sucessos recentes em uma liga intermediária como a Eredivisie. Contudo, ambos eram vistos como azarões diante de Juventus e Milan, ainda mais condecorados na história continental e de uma liga também mais poderosa. Mas, contra favoritos enfrentando claros problemas na temporada, a dupla neerlandesa provou como o novo formato da Champions permite surpresas. Pela primeira vez desde 2005/06, os Países Baixos colocam dois times nas oitavas de final.
O Club Brugge também possui seu peso histórico na Champions, vice-campeão há quase cinco décadas. Mais recentemente, se firmou como um time difícil de se enfrentar na fase de grupos, que até passou às oitavas de final em 2022/23 e ainda pegou semifinal de Conference em 2023/24. Contra uma Atalanta que ganhou casca nos últimos anos e até levou título continental na temporada passada, prevaleceu a postura fulminante dos belgas para retornar às oitavas apenas dois anos depois.
A fase extra dos mata-matas da Champions League significa mais times vivos na metade decisiva da competição, mas não quer dizer que todos os favoritos presentes nesta etapa inicial estejam bem. Foi a brecha que se notou nesta semana. Se pegar um Real Madrid ou um Paris Saint-Germain tão cedo se tornou um pesadelo, a maior parte dos embates se mostrou aberta – até porque a maioria dos times verdadeiramente embalados na temporada avançou direto às oitavas.
Despontaram, então, boas histórias. O PSV era quem parecia realmente com mais chances, até por ter avançado numa posição melhor que a Juventus, o que garantiu a possibilidade de decidir em Eindhoven. O jogo de volta se tornou um baile dos holandeses, em que a prorrogação até adiou uma superioridade que poderia ter se consumado com classificação logo no segundo tempo. O time de Peter Bosz, que conquistou a Eredivisie passada com muitas sobras e de novo vinha forte até a queda de produção recente na liga nacional, não teve problemas para se impor com uma Juve oscilante demais com Thiago Motta.
E a abertura a outras histórias na Champions também garante espaço a personagens distintos. Alguns até conhecidos, porém esquecidos, como Ivan Perisic. Astro de Copa do Mundo e de tantos feitos na carreira, o ponta parecia cair no ostracismo, mas transformou em seu um jogo grande de Champions. Foi um verdadeiro tormento pelo lado direito do ataque, com o primeiro gol e a jogada para o segundo. Personagem de outrora para reforçar o prestígio internacional do PSV, que não andava tanto em voga.
O Feyenoord, por sua vez, lida com a crise de uma temporada em que perdeu seu treinador e não acertou em seu substituto. O desempenho na Eredivisie passa longe de satisfazer, o que levou à demissão de Brian Priske. A Champions, todavia, apresentou o melhor do Stadionclub. A fase de liga teve um empate apoteótico contra o Manchester City, uma vitória irrepreensível diante do Bayern de Munique. O Milan nem metia tanto medo assim e, depois da vitória em Roterdã, o empate em Milão caiu no colo dos neerlandeses. Independentemente de contarem com um técnico interino, à espera da chegada do ídolo Robin van Persie à casamata, os visitantes triunfaram.
“Caiu no colo” porque o Milan vacilou enormemente, tanto pela expulsão infantil de Theo Hernández, quanto pela maneira como o time entregou os pontos com dez homens. O Feyenoord pode não viver sua melhor fase, mas tem bons jogadores e tinha mostrado que sabe como aproveitar as frestas em outros momentos dessa Champions. Foi o que aconteceu no San Siro, num jogo difícil que ficou na mão dos holandeses. Buscaram o empate, administraram a vantagem agregada e poderiam até ter saído com a vitória no final.
Diferentemente de Juventus e Milan, que fazem uma temporada de altos e baixos, a Atalanta apresenta uma estabilidade maior – apesar de tropeços recentes. A Dea beirou até mesmo a vaga direta às oitavas, enquanto o Club Brugge passou na conta do chá. O campo, entretanto, falou outra coisa. É verdade que o pênalti muito questionável do jogo de ida condicionou a situação a favor dos belgas. Mesmo assim, a forma como construíram os 3 a 1 em Bérgamo foi inquestionável. Apresentaram-se de forma fulminante no ataque, e seguraram a bronca na defesa, com direito a pênalti defendido por Simon Mignolet.
Os méritos desse Club Brugge, de qualquer maneira, estão nos garotos. É um time muito talentoso, que se valeu bastante da qualidade de seus jovens. Chemsdine Talbi foi o principal jogador do confronto, com uma série de grandes jogadas pela ponta direita. Estava imparável em Bérgamo. Mais atrás, Ardon Jashari dominou o meio-campo e apareceu com competência no apoio. Um pouco mais velho, Ferran Jutglà foi um achado no mercado ao chegar do Barça B há três anos e, assim como nos outros sucessos continentais recentes dos belgas, cravou gol decisivo.
O atual estágio de concentração de poder no futebol europeu não permite que os sonhos de PSV, Feyenoord e Club Brugge se estendam muito além das oitavas de final, no máximo até as quartas. A diferença financeira estrangula as surpresas o quanto antes. A ampliação dos mata-matas, ao menos, concede um palco a mais para que euforias há tempos ausentes voltem a aparecer. Mesmo que talvez seja só um ponto fora da curva. Mesmo que isso incomode os “superleaguers”, e quem sabe quando pressionarão para que tal abertura deixe de existir no futuro.
A noite europeia possível
Por Bruno Bonsanti
Achei fascinante uma análise da BBC lembrando que o Celtic havia se tornado o primeiro time britânico a sofrer cinco gols no primeiro tempo de uma partida importante por competições europeias desde o galês Cwmbran Town contra o Progresul Bucareste na Recopa de 1997/98. Parecia uma daquelas estatísticas bem específicas que as transmissões de esportes americanos adoram. Serviu para reforçar o quão ruim foi a derrota para o Borussia Dortmund pela fase da liga, como se os inconvenientes de um 7 a 1 precisassem ser reforçados.
Outra foi um pouquinho mais relevante do que apenas curiosa: Brendan Rodgers havia acabado de sofrer a sua terceira derrota na Champions League sofrendo sete gols. As outras foram contra Barcelona (2016) e Paris Saint-Germain (2017). Extremamente bem-sucedido como técnico dos Bhoys, a principal crítica ao trabalho de Rodgers sempre foram seus resultados europeus, especificamente a ingenuidade com que ele encarava partidas contra adversários claramente mais fortes.
Não precisa de nada tão sofisticado para o Celtic dominar o futebol escocês, principalmente enquanto o Rangers entrava em falência e se reconstruía. Mas, com o estilo de imposição, posse de bola, pressão e linhas altas de Rodgers, esse domínio foi quase sem precedentes. Ele conquistou duas Tríplices Coroas nacionais consecutivas, o que nem Jock Stein havia feito, e deixou a terceira encaminhada antes de assumir o Leicester. Desde que retornou, conquistou o Campeonato Escocês e a Copa da Escócia na temporada passada e caminha para mais uma varrida completa na atual.
Não é tão simples assim passar quase todas as semanas orientando o seu time para jogar de certa maneira, com foco no calendário escocês, e de repente dizer “então, essa semana é bloco baixo, todo mundo na entrada da área, chutão para frente e vamos jogar por uma bola”. É um pouco o contrário do dilema que Diego Simeone tem no Atlético de Madrid. Além das preferências pessoais, sua abordagem funciona excepcionalmente bem em jogos grandes e se cobra que ele também encaixe outra para dominar os adversários mais fracos.
Ponderação feita, dizer que não mudaria nada depois de apanhar por 7 a 1 não era exatamente a estratégia de relações públicas que eu adotaria. Mas como ações valem mais que palavras, ficar no 0 a 0 com a Atalanta, às vezes uma das grandes potências ofensivas da Europa, na rodada seguinte, foi uma resposta melhor. O Celtic conseguiu uma ótima vitória por 3 a 1 sobre o RB Leipzig, outra contra o Young Boys e empates com Club Brugge e Dínamo Zagreb para avançar na 21ª posição.
Ninguém lhe dava chance contra o Bayern de Munique e aquela ingenuidade veio à tona quando Harry Kane ficou completamente sozinho na segunda trave em uma cobrança de escanteio no Celtic Park. A indolência bávara contribuiu e precisaria contribuir porque, em condições normais de temperatura e pressão, não apenas o Celtic como a maioria da tabela da Bundesliga só não tem como encará-los.
Mas nesse confronto Rodgers conseguiu encontrar um equilíbrio. Foi relativamente resistente, com Kasper Schmeichel fazendo apenas 12 defesas nas duas partidas. Não é tanto assim considerando que apenas o salário de Kane deve cobrir mais da metade do elenco do Celtic. E nem todas foram difíceis. Contra Superclubes, é meio que o que dá para fazer. Ainda conseguiu encaixar alguns períodos em que ameaçou bastante, principalmente no segundo tempo em Glasgow e no primeiro em Munique.
Criou chances na Allianz Arena pressionando no ataque. O gol surgiu de uma patacoada da defesa alemã, mas, quando Kim Min-Jae errou o carrinho na entrada da área, seis jogadores do Celtic já haviam ultrapassado a linha do meio-campo. A mentalidade ofensiva pareceu presente pelo menos no subconsciente dos jogadores em um confronto no qual eles sabiam que invariavelmente se veriam acuados e a absoluta feiura do gol decisivo de Alphonso Davies apenas ratificou que eles fizeram tudo que poderiam fazer.
Talvez não desse para sobreviver à prorrogação, mas foi um jeito doloroso de perder. E também uma das noites europeias que se cobrava de Brendan Rodgers. Como aquela vitória contra o Barcelona na fase de grupos de 2012 ou mesmo um empate eletrizante com o Manchester City, que já estava na conta do norte-irlandês. O triste é que, para um campeão europeu, o primeiro de todo o Reino Unido, é isso que passa por uma grande noite europeia hoje em dia.
Times italianos viveram uma semana de pesadelo na Champions
Por Felipe Lobo
Havia uma expectativa de termos um grande clássico italiano nas oitavas de final da Champions. Se Juventus e Milan se classificassem, um deles enfrentaria a Inter na próxima fase. Isso não mais vai acontecer: nenhum deles se classificou. E nem foram os únicos italianos a cair.
Em dois dias seguidos, três quedas pesadas para o futebol italiano na Champions League. Milan, Juventus e Atalanta foram eliminados na fase de playoffs, deixando o país apenas com a Inter ainda viva – os nerazzurri se classificaram diretamente às oitavas de final. Ainda que seja motivo para tiração de sarro dos torcedores da Inter, para o futebol italiano foi um arranhão importante no próprio ego e nas pretensões.
Primeiro o Milan caiu para o Feyenoord em casa, depois de um empate por 1 a 1. No dia seguinte, foi a vez da Juventus cair diante do PSV, em Eindhoven, por 3 a 1 na prorrogação. A Atalanta, classificada em nono, caiu para o Club Brugge, 24º, com duas derrotas, a segunda em casa, por 3 a 1.
Isso significa que as chances da Itália ficar com uma vaga extra na Champions League se tornam bem difíceis, para não dizer impossíveis. Na temporada passada, a Itália foi a liga de melhor coeficiente na temporada e garantiu a quinta vaga, aproveitada pelo Bologna. A Alemanha ficou em segunda.
Desta vez, o país está em terceiro, atrás de Inglaterra e Espanha. Os rivais têm mais times vivos na competição e vão quase certamente terminar à frente. Para mudar isso, a Inter precisará de outra campanha histórica na Champions (como foi a final em 2023), além do título de Lazio ou Roma na Liga Europa e da Fiorentina na Conference. Considerando que tanto Inglaterra quanto Espanha também têm grandes candidatos ao título, fica difícil.
Significa que a Lazio, quinta colocada atual, não teria vaga garantida. Diminui significativamente também a chance de Milan e Roma, sétimo e nono colocado respectivamente, de chegarem ao principal torneio de clubes da Europa.
O impacto mais direto é nas finanças dos eliminados. Especialmente Milan e Juventus, que precisam do dinheiro da Champions League para melhorarem suas contas. A queda precoce tira ao menos € 20 milhões em premiação dos clubes.
Isso considerando que eles parariam nas oitavas de final. Poderiam ganhar ainda mais avançando, como o Milan conseguiu em 2023 indo até a semifinal. Para a Atalanta, então, o peso é ainda maior, já que é um clube com orçamento menor.
Para esses clubes, a situação é ainda mais dolorosa porque tanto Atalanta quanto Milan estavam em posição de terminar entre os oito primeiros e ir direto às oitavas de final. Tropeços na reta final da fase de liga custaram caro, eventualmente custando a eliminação.
A eliminação do Milan inclusive deve fazer com que o clube tome atitudes mais drásticas na próxima janela de transferências. Theo Hernández, que foi expulso infantilmente, é cotado para deixar o clube. Ele tem contrato até 2026, não deve receber proposta de renovação e será colocado no mercado.
A situação do Milan não é simples: o time é sétimo colocado na Serie A e ainda precisa brigar para chegar entre os quatro primeiros e conseguir voltar à Champions. Está a cinco pontos da Juventus. A Atalanta está em terceiro, em posição um pouco melhor.
Na Serie A, a briga pelo título está restrita a Napoli e Inter a essa altura. Para Milan, Atalanta e Juventus, resta brigar por uma vaga na Champions e ao menos um desses clubes ficará fora.
As eliminações não representam necessariamente uma queda de qualidade da liga como um todo. Nos três confrontos, os italianos eram favoritos e tinham time para avançar. E é um alerta para a Inter, que tem sofrido em jogos grandes – como nos duelos contra Juventus e Milan, curiosamente.
O futebol italiano ainda terá representantes importantes nas demais competições europeias. Roma e Lazio são grandes candidatos ao título da Liga Europa. A Fiorentina também é candidata na Conference. A temporada ainda pode ser positiva para o futebol italiano.
Ainda assim, as campanhas italianas são decepcionantes na Champions até aqui. E a sensação que fica é de amargor, especialmente porque o futebol italiano não consegue o título da principal competição europeia desde 2010, quando a própria Inter levantou a taça.
Mesmo que a Inter tenha um bom time, o rendimento das últimas semanas não dá a perspectiva que a equipe pode repetir o que fez em 2010. Ainda que a Champions não permita esse tipo de análise tão previamente, já que o mata-mata ainda oferece surpresas.
Esta semana ficará marcada para o futebol italiano como as oitavas de final da Libertadores 2011 ficou para os brasileiros, quando quatro times do país caíram nas oitavas de final em uma mesma noite. Servirá como alerta para todos levarem a fase de liga mais a sério na próxima temporada e evitem essa traiçoeira fase de playoffs.
PODCAST MEIOCAMPO: SORTEIO DAS OITAVAS DA CHAMPIONS
Foram definidos os confrontos das oitavas de final da Champions League, com clássico espanhol, duelo de peso entre alemães e bons jogos. Falamos dos duelos dos playoffs, das classificações e de quem ficou pelo caminho. Tem também Liga Europa e Conference League, que também tiveram seus sorteios.
Giro
- Assim ficou o sorteio das oitavas da Champions League:
- República Tcheca, Noruega, Romênia, Turquia, Polônia, Eslovênia, Grécia, Bósnia, Chipre e Dinamarca. Se os classificados para as oitavas de final da Champions integram ligas além das favoritas, tal presença é ainda mais forte na Liga Europa e na Conference. Ao todo, 12 países diferentes terão seus representantes nas oitavas da Liga Europa. Já na Conference, são 15 ligas distintas nas oitavas – a Polônia é a única a se repetir.
- Os Países Baixos, curiosamente, também foram os maiores vencedores desta fase da Liga Europa. O Ajax passou num apertado duelo contra a Union St. Gilloise, enquanto o AZ desbancou o favorito Galatasaray. O Twente foi o único eliminado, mas vendendo caro a eliminação num maluco duelo contra o Bodo/Glimt, cheio de gols nos acréscimos e vencido pelos noruegueses durante a prorrogação. São dois representantes neerlandeses nas oitavas, igualados aos times de Espanha, Itália e Inglaterra.
- As chances de histórias um pouco mais alternativas na Liga Europa seguem vivas. Destaque ao FCSB, antigo Steaua Bucareste, que passou pelo PAOK e volta às oitavas continentais após 12 anos. O Fenerbahçe é outro que merece atenção, atropelando o Anderlecht e com experiência o suficiente para sonhar com uma campanha histórica – ainda mais com José Mourinho na casamata. O supracitado Bodo/Glimt é mais um que deve ser observado de perto, até pelo histórico positivo em suas últimas empreitadas continentais.
- A Conference League teve três edições alternativas e isso aumenta exponencialmente com o novo formato das competições europeias. Basta vez o rol de classificados para as oitavas: os poloneses do Jagiellonia, os eslovenos do Celje, os bósnios do Borac Banja Luka, os cipriotas do Pafos. Tal lista ainda poderia ter os islandeses do Víkingur, mas o Panathinaikos conseguiu a virada em Atenas e persegue a taça que o rival Olympiacos faturou na temporada passada. Destaque ainda ao Copenhague, que conseguiu reverter a derrota na Dinamarca e eliminou o Heidenheim na visita à Alemanha.
- O Tottenham decidiu que não quer mais ser chamado assim. Em um comunicado, pede que a imprensa chame de Tottenham Hotspur ou apenas de Spurs. A justificativa é que Tottenham é o nome do bairro e o clube quer se diferenciar. Suspeito que isso não fará tanto efeito.
- A empresa dona do San Francisco 49rs está perto de comprar o Rangers. A 49ers Enterprises, que já é controladora do Leeds, na Inglaterra, que ampliar a sua influência esportiva e está disposta a assumir uma parcela das ações que daria controle sobre o clube escocês. O Leeds faz ótima campanha na segunda divisão inglesa e está prestes a subir de volta à Premier League.
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