O doce sabor de surpreender
Da terceira divisão para a final da Copa da Alemanha, a história do Arminia Bielefeld é daquelas que nos fazem amar as Copas
Newsletter Meiocampo #18 - 4 de março de 2025
A semana teve o Armonia Bielefeld conquistando uma vaga histórica na final da Copa da Alemanha, mesmo sendo um time de terceira divisão. Tem sido cada vez mais raro, mas quando acontece é sempre uma grande história. Na Inglaterra, se não tem briga pelo título ou contra o rebaixamento, tem por vagas europeias e trazemos um panorama de como está isso. E ainda tem um roteiro para o fim de semana e um giro do que aconteceu na semana. Aproveite! ☕
Arminia Bielefeld e o doce sabor de surpreender
Por Leandro Stein
As surpresas no futebol nem sempre são positivas. Há cerca de dois anos, o Arminia Bielefeld protagonizava uma surpresa bastante desagradável para a sua torcida: o rebaixamento para a terceira divisão do Campeonato Alemão, o segundo consecutivo, após duas temporadas recentes na elite. Algo pior quase aconteceu na temporada passada, com o time beirando o risco de queda à quarta divisão. E se hoje os Azuis lidam com suas modestas perspectivas na terceirona, na briga pelo acesso, surpreendem ainda mais ao oferecerem o maior momento de sua história: a classificação para a final da Copa da Alemanha 2024/25.
O Bayer Leverkusen era o incontornável favorito para o duelo da semifinal, por tudo o que o time de Xabi Alonso conquistou na temporada passada. Porém, a eliminação para o Bayern de Munique na Champions League e a lesão de Florian Wirtz causam um impacto tremendo no desempenho dos Aspirinas – que ainda vivem a incerteza sobre a continuidade de seu treinador para 2025/26. Brechas para que o Bielefeld aproveitasse, diante de uma campanha já retumbante na Pokal. O time da terceirona tinha eliminado outros três adversários da primeira divisão (Union Berlim, Freiburg, Werder Bremen), além de mais um que briga pelo acesso na segundona (Hannover 96).
A épica vitória de virada do Arminia Bielefeld por 2 a 1, nesta terça-feira, pode ser contada por diferentes perspectivas. Se o gol de Jonathan Tah logo cedo parecia abrir caminho a uma imaginada classificação do Leverkusen, os Azuis não deixaram de acreditar. A valentia liderada por Louis Oppie permitiu dois tentos antes do intervalo e uma virada improvável. A postura no segundo tempo também reforçou a crença na possibilidade, com mais chances para o terceiro do Bielefeld em contra-ataques.
Além do mais, o Arminia Bielefeld se valeu da resiliência diante da pressão do Leverkusen no final. O adversário capaz de tantos milagres desde a última temporada não desistiria tão fácil assim da vaga na final – e de sua última chance de título em 2025. Prevaleceu a fortaleza defensiva da equipe de Mitch Kniat, com sua cota de sorte. A cabeçada de Patrik Schick que beijou a lateral da trave e saiu era um sinal, mais do que concreto, de como o destino sorria para o time da terceira divisão.
A classificação também veio na conta da torcida. O Bielefelder Alm foi um digno caldeirão para pressionar os adversários mais cotados e empurrar o time da casa àquilo que parecia inconcebível. Um ambiente vibrante que muda a própria torcida do Arminia de patamar aos olhos do restante do país, porque ela também foi protagonista de algo grandioso. E agora poderá se deslocar em massa até o Estádio Olímpico de Berlim. Bem antes disso, já viveu um transe na comemoração com os jogadores após a façanha. As cenas da festa dimensionam bastante o peso dessa classificação para os azarões.
O adversário na decisão é o Stuttgart, que eliminou o RB Leipzig e pode coroar um trabalho excepcional feito por Sebastian Hoeness desde a temporada passada. Os suábios têm muito mais tradição e peso de camisa, assim como um time talentoso que mostra capacidade mesmo após perdas importantes de jogadores no último mercado de verão. Só não dá para os alvirrubros acreditarem que será simples. Outros quatro times da Bundesliga podem relatar os méritos desse Arminia Bielefeld.
E, depois de uma caminhada tão longa, os Azuis poderão conquistar um prêmio que inaugurará a sala de troféus do clube. O Arminia não é uma equipe exatamente pequena, apesar dessa seca. Seu passado inclui 20 participações na Bundesliga, com o maior destaque na virada do século. Nomes como Stefan Kuntz, Patrick Owomoyela, Arne Friedrich e Ali Daei fizeram sucesso pelo clube, enquanto a passagem mais recente pela primeira divisão incluía figuras como Ritsu Doan e Stefan Ortega. Contudo, a assiduidade na elite nunca rendeu um título de primeira grandeza ao clube de Bielefeld. Suas conquistas se limitam a taças da segunda e da terceira divisão, além de competições regionais. Na Copa da Alemanha, a agremiação contabilizava no máximo três eliminações em semifinais.
A temporada guarda outro desafio ao Arminia Bielefeld: tentar voltar à segunda divisão. Neste momento, os Azuis ocupam a quarta colocação na terceirona, a um ponto da zona de playoffs e a cinco do acesso direto. A campanha pode não refletir o que acontece na Pokal, mas já é bem melhor que a da temporada passada, quando o time flertou até mesmo com a queda para a quarta divisão e só sobreviveu na reta final. Terminou num apático 14° lugar, seis pontos acima do Z-4.
Mesmo com o risco de desastre, o técnico Mitch Kniat foi bancado pela diretoria do Arminia Bielefeld para a atual temporada, assim como o elenco só recebeu cinco novas contratações. Os heróis contra o Leverkusen, no geral, são aqueles que ficaram à beira do precipício em 2023/24. E isso porque o clube ainda se despediu de Fabian Klos, recordista em jogos e gols pelos Azuis, que pendurou as chuteiras ao final da temporada passada. Nesta terça-feira, a lenda assumiu seu papel de torcedor do lado de fora, para apoiar os antigos companheiros.
E como se o direito de comemorar não fosse pleno, a final da Copa da Alemanha representa até um entrave ao calendário do Arminia Bielefeld. O clube também se classificou à decisão da Copa da Vestfália, competição importante justamente para garantir a vaga na Pokal 2025/26 – somente os quatro primeiros da terceirona possuem lugar na Copa da Alemanha da temporada seguinte. A data desta outra decisão? Justamente no final de semana da noite de gala em Berlim. Como se não bastasse, se os Azuis disputarem os playoffs de acesso, o jogo de ida seria na véspera da finalíssima. Ao menos neste caminho, o lugar na Pokal 2025/26 estaria confirmado.
Independentemente do que se decidir sobre o calendário, o Arminia Bielefeld terá sua chance inédita de atuar numa final em Berlim. O elenco jovem desfrutará de uma vitrine inigualável, enquanto, além do troféu, também poderá conseguir ao clube uma inédita classificação às competições europeias. O futebol, em tempos cada vez mais dominados pelo dinheiro, às vezes parece se esquecer de sua real capacidade de surpreender – e, assim, de alimentar sonhos. O que acontece na Pokal surpreende os próprios Azuis, à medida que também premia uma cidade inteira pela devoção e pela petulância de acreditar.
Os outros azarões da terceirona em finais da Pokal
O Arminia Bielefeld é o 16° time de fora da primeira divisão a alcançar a final da Copa da Alemanha na história. Destes, outros três disputavam a terceirona e nenhum terminou com o título. O auge desses contos de fadas aconteceu entre 1992 e 2001, quando se desenrolaram os três episódios.
O caso mais famoso é justamente o primeiro: o Hertha Berlim II, a filial de base do clube berlinense, que desafiou o ascendente Bayer Leverkusen na decisão da Pokal 1992/93. A equipe repleta de jovens eliminou Heidelberg, VfB Leipzig, Hannover 96, Nürnberg e Chemnitzer em seu caminho à final. E deu trabalho, com a vitória por 1 a 0 dos Aspirinas só definida na reta final do segundo tempo, por Ulf Kirsten. Alguns jogadores daquela equipe B do Hertha decolaram nos anos seguintes: o goleiro Christian Fiedler e o volante Andreas Schmidt passaram dos 250 jogos pelo time principal, enquanto Carsten Ramelow depois virou ídolo no próprio Leverkusen.
Em 1996/97, outro time da terceira divisão repetiu o feito de disputar a final da Pokal: o Energie Cottbus. Era um sinal da ascensão da equipe da antiga Alemanha Oriental, que conquistou dois acessos logo depois e fez sua estreia na Bundesliga em 2000/01. A façanha do Cottbus incluiu classificações diante de Stuttgarter Kickers, Wolfsburg, Duisburg, St. Pauli e Karlsruher. Já na final, o Stuttgart conquistou seu título mais recente na copa, com o triunfo por 2 a 0. Élber fez ambos os gols do plantel treinado por Joachim Löw. A estrela dos vice-campeões também estava no banco, o técnico Eduard Geyer, que fez muito sucesso no Dynamo Dresden no fim dos anos 1980 e foi o último comandante da seleção alemã-oriental, antes de conduzir o auge do Cottbus de 1995 a 2004.
Por fim, o épico mais recente de um time da terceira divisão na Copa da Alemanha tinha sido do Union Berlim, atualmente um integrante da elite. Os Eisernen tinham um título da antiga Copa da Alemanha Oriental em 1967/68, mas militavam na terceirona em 2000/01. A trajetória dos berlinenses teve classificações sobre Rot-Weiss Oberhausen, Greuther Fürth, Ulm, Bochum e Borussia Mönchengladbach. Na final, Jörg Böhme fez os dois gols do Schalke 04 na vitória por 2 a 0. Dirigido pelo búlgaro Georgi Vasilev, o Union tinha alguns destaques estrangeiros, entre eles o atacante Daniel Teixeira. O brasileiro foi decisivo para que os alvirrubros conquistassem o acesso à segundona naquela mesma temporada. Além disso, como o Schalke tinha vaga na Champions League, o Union ainda disputou a Copa da Uefa 2001/02 – eliminado pelo Litex Lovech na segunda fase.
Já entre os 12 times da segunda divisão que disputaram a final da Copa da Alemanha no passado, apenas três conseguiram ser campeões: Schwarz-Weiss Essen (1959), Kickers Offenbach (1970) e Hannover 96 (1992). Desde então, cinco times da segundona alcançaram a decisão e terminaram derrotados. O último deles foi o Kaiserslautern, na temporada passada, que encerrou um hiato de 13 anos dos azarões de fora da elite no Estádio Olímpico de Berlim e acabou batido pelo Bayer Leverkusen. O Arminia Bielefeld é a bola da vez.0
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A briga que vale na Inglaterra
Por Bruno Bonsanti
A Inglaterra tem reclamado que a temporada da Premier League está chata. A briga pelo título efetivamente acabou há algumas semanas. O Liverpool tem 12 pontos de vantagem, a oito rodadas do fim, e não passa aquela sensação de ser um time histórico, embora possa perfeitamente superar os 90 pontos, o que costumava ser especial antes do Manchester City fazê-lo quase todos os anos.
Problemas físicos e tropeços bobos impediram que o Arsenal o acompanhasse e, no outro lado da tabela, os três rebaixados parecem definidos e serão os mesmos que subiram da segunda divisão no ano passado. Não houve nem um clube que parecia seguro inesperadamente obrigado a brigar pela sua sobrevivência. Então eu entendo quem acha que foi tudo meio sem graça.
Mas eu não me lembro de uma disputa tão aberta pelas vagas em competições europeias - incluindo a Champions League. Oito pontos separam o quarto do décimo colocado e qualquer combinação de posições ainda parece possível. Estes são os candidatos.
Chelsea - 52 pontos
O Chelsea não deveria estar nesse grupo. Havia disparado tão bem que as discussões eram sobre sua candidatura ao título, não à Champions League, mas apenas cinco vitórias desde o Natal dissiparam um pouco a certeza de que havia pelo menos encontrado um caminho ao trocar Mauricio Pochettino por Enzo Maresca. O pupilo de Pep Guardiola segue os ensinamentos do mestre com um time que mantém muita posse de bola - 58%, atrás apenas do Manchester City. O problema é que, em muitos jogos, é aquela troca de passes sem muito propósito ou velocidade. Pedro Neto e Jadon Sancho são os únicos reforços do clube que não para de contratar e soltou mais € 270 milhões no último mercado que estão jogando regularmente. Imagino que futuro seja a palavra de ordem em Stamford Bridge, cujos donos não empregam nenhum jogador com mais de 27 anos, com exceção do terceiro goleiro. O Chelsea teve problemas recentes de lesão com Cole Palmer, Nicolas Jackson e Noni Madueke, os seus três principais artilheiros na Premier League. Todos retornaram na vitória por 1 a 0 sobre o Tottenham no clássico da última quinta-feira e tentarão dar aquele impulsinho final para o Chelsea não deixar essa vaga escapar.
Tabela: Os últimos quatro jogos são brutais. Liverpool, Newcastle, Manchester United e Nottingham Forest. O alento é que alguns ou muitos deles talvez já estejam com seus objetivos assegurados. O outro confronto direto é fora de casa contra o Fulham. Não poderia ter um jogo mais fácil que o Ipswich em casa e também visitará Everton e Brentford.
Manchester City - 51 pontos
O Liverpool foi capaz de se aproximar do título com tanta facilidade porque o clube que conquistou seis das últimas sete edições da Premier League desabou. Desabou tanto que não ganha quatro jogos consecutivos desde outubro, tem apenas três vitórias nas últimas sete rodadas do Campeonato Inglês, foi goleado pelo Arsenal dois meses atrás e a sensação ainda é de que as coisas melhoraram. Ajuda poder jogar € 200 milhões em seus problemas no mercado de janeiro. Omar Marmoush deu dinamismo e fôlego a um ataque que estava excessivamente dependente de Erling Haaland e Nico González consegue ao menos cobrir algumas das tarefas de Rodri. Mas a pior temporada da carreira de Pep Guardiola continua reservando péssimas notícias, e Haaland pode ficar fora por até sete semanas - basicamente o que resta para o Manchester City somar pontos necessários para não ficar fora da Champions League pela primeira vez desde 2010/11. O veredito das 115 acusações de violações de regras financeiras também deve sair em breve, então talvez o pesadelo ainda não tenha acabado.
Tabela: Depois do dérbi no próximo domingo em Old Trafford, a tabela fica bem mais tranquila. Tem confrontos diretos com Aston Villa, Bournemouth e Fulham. Apenas o último não será no Etihad Stadium. Pegará um dos rebaixados, o Southampton, e três adversários condenados a passar as últimas semanas da temporada só pensando nas férias - Crystal Palace, Everton e Wolverhampton.
Newcastle - 50 pontos*
O Newcastle é mais um exemplo de que progresso nem sempre é linear no futebol. Especialmente quando você tem uma temporada tão atribulada quanto a passada, com vários jogadores machucados e a sua principal contratação, Sandro Tonali, suspensa por violar regras de apostas. Méritos da diretoria por não ter se assustado com o sétimo lugar. O trabalho de Eddie Howe, até mais importante do que a injeção de dinheiro saudita para levar o clube de volta à Champions League, merecia continuidade. O prêmio foi o primeiro título desde 1969 e uma nova candidatura à principal competição europeia. A sua espinha dorsal ainda conta com jogadores da era da austeridade, como Jacob Murphy, Fabian Schär e Joelinton, que forma um meio-campo de muita força física com Bruno Guimarães e Tonali, reforços da nova administração. O principal deles, porém, é Alexander Isak, um dos candidatos a ser vendido para o Newcastle ajustar as contas. Seria bom evitar fazê-lo porque, com 24 gols por todas as competições e 20 na Premier League, o sueco parece determinado a mostrar para todo mundo o quanto é bom.
Tabela: São três confrontos diretos. Dois como visitante, contra Brighton e Aston Villa, e um como mandante, contra o Chelsea. Enfrenta mais dois integrantes do Big Six, mas um deles é o Manchester United e o outro, o Arsenal, provavelmente não terá mais ambições na penúltima rodada. A sua vantagem é jogar contra dois rebaixados (Leicester e Ipswich). O jogo atrasado é no St. James Park contra o Crystal Palace e fechará a campanha contra o Everton, também em casa, na última rodada.
*Com um jogo a menos
Aston Villa - 48 pontos
Prova de que a temporada do Aston Villa não começou como se esperava foi a agressividade do mercado de inverno. Nem tanto pelo valor investido, mas pelos nomes trazidos, como Marcus Rashford e Marco Asensio. Conseguiu apenas uma vitória em oito rodadas entre outubro e novembro, o que parece ser simplesmente o que acontece com quem chega à Champions League pela primeira vez em muito tempo. Não houve ameaça ao emprego de Unai Emery, porque os caras não são loucos, e porque ele nos lembrou que é um dos técnicos mais bem sucedidos em competições europeias colocando o Villa entre os oito primeiros da fase da liga. Agora está nas quartas de final. E na semifinal da Copa da Inglaterra, com o Crystal Palace o separando da primeira decisão desde 2014/15. Asensio é o quarto artilheiro do time por todas as competições, com oito gols, mesmo tendo disputado menos de 500 minutos. A revelação, porém, é o meia-atacante Morgan Rogers. Aos 22 anos, sua experiência de Premier League não passa de 40 rodadas - 11 na temporada passada, 29 nessa. Marcou sete gols e é o terceiro em minutos pela liga, atrás do goleiro Emiliano Martínez e do meia Youri Tielemans. Houve outra oscilação de resultados em janeiro e fevereiro, e o Villa não vence três rodadas consecutivas desde setembro, mas ganhou três nas últimas quatro e tem o pedigree do seu técnico e o seu próprio como antigo campeão europeu.
Tabela: Considerando que ainda está em outras duas competições, poderia ser mais fácil. Dos oito jogos que faltam, quatro são confrontos diretos - Newcastle e Fulham em casa, Manchester City e Bournemouth fora. Enfrenta os dois renegados do Big Six, Tottenham e Manchester United, e recebe o terceiro colocado Nottingham Forest na próxima rodada. A única moleza será o Southampton.
Brighton - 47 pontos
Após a saída de Roberto De Zerbi, a temporada do Brighton era uma página em branco. Precisava acertar a contratação do novo técnico, como havia feito com Graham Potter e o próprio italiano, e não seria o primeiro a se perder depois de tanto tempo superando expectativas. A aposta em Fabian Hurzëler, cuja coleção de feitos se resumia a promover o St. Pauli à Bundesliga e a idade por pouco não o permitiria ser filho de James Milner, parece reforçar a sua fama de ser o clube mais inteligente da Inglaterra. Fez de longe o maior mercado da sua história, colhendo os frutos de anos comprando barato e vendendo muito caro. Nem todos causaram impacto imediato, o Brighton adota uma abordagem de médio-longo prazo com seus reforços, mas a nova candidatura à Europa surfa em novidades como o ponta Yankuba Minteh e o meia-atacante Georginio Rutter, cuja ausência por lesão talvez até o fim da temporada pode ser um duro golpe às Gaivotas. Rutter havia disputado todas as rodadas da Premier League antes de se machucar nas quartas de final da Copa da Inglaterra, o que é particularmente impressionante porque Hurzëler ainda não repetiu a escalação em mais de uma rodada até agora. Como centroavante ou segundo atacante, João Pedro faz uma temporada melhor que seus números (oito gols em 24 jogos) indicam. A campanha demorou para engrenar, até o Brighton ganhar seis rodadas em oito a partir de 16 de janeiro. Empatou e perdeu seus últimos dois compromissos contra adversários diretos - City e Aston Villa. Uma oportunidade desperdiçada para fortalecer sua posição em busca de superar o sexto lugar como seu melhor resultado na história do Campeonato Inglês e disputar a Champions League pela primeira vez.
Tabela: Não é a mais complicada. Ainda tem um confronto direto, em casa, contra o Newcastle, e enfrenta dois adversários do Big Six. Recebe o Liverpool, provavelmente campeão há algumas semanas, na penúltima rodada, e viaja para enfrentar o Tottenham na última. Os outros adversários são Crystal Palace, Leicester, Brentford, West Ham e Wolverhampton, todos no limbo da Premier League.
Fulham - 45 pontos
Para quem virou exemplo de iô-iô e do que não fazer quando chegar à Premier League, há uma tremenda estabilidade nas margens do Rio Tâmisa nos últimos três anos. Méritos principalmente do trabalho de Marco Silva, que havia demonstrado tanto que tem capacidade de ser competitivo no Campeonato Inglês quanto de ir embora rapidinho depois de brigar com todo mundo. Já é seu trabalho mais longo desde o primeiro, no Estoril. Sempre confortavelmente no meio da tabela, sem se aproximar da briga contra o rebaixamento. Com 45 pontos, algo muito estranho tem que acontecer para o Fulham não superar a sua melhor campanha na Premier League (53 em 2008/09) e poder disputar competições europeias pela primeira vez desde 2011/12. Uma passada de olho no elenco reforça a influência de Silva porque não parece haver ninguém tão especial. Os principais destaques individuais são nomes como Alex Iwobi, Emile Smith Rowe e um semi-renascido Raúl Jiménez, figurinhas carimbadas da Premier League e rejeitadas por outros clubes. Com sete gols, o brasileiro Rodrigo Muniz é um dos três maiores artilheiros do Fulham neste Campeonato Inglês, o que sugere que a força coletiva está mais na defesa do que no ataque. O retorno iminente de Harry Wilson, fora há sete rodadas, pode dar uma forcinha à candidatura.
Tabela: Enfrentará o líder ainda precisando de pontos na próxima rodada e fará confrontos diretos contra Bournemouth, Chelsea, Aston Villa e Manchester City, com uma divisão geográfica cruel porque recebe os dois integrantes do Big Six e visita os outros dois concorrentes às vagas europeias. Pega um rebaixado, o Southampton, e completará a campanha contra Everton e Brentford, o mais forte adversário da turma do limbo. Ou seja, complicado.
Bournemouth - 44 pontos
A presença mais impressionante nessa briga é a do Bournemouth, com a quarta menor folha salarial da Premier League - e o menor estádio. A contratação de Andoni Iraola, que havia impressionado pelo Rayo Vallecano, havia sido um grande pulo do gato, tanto um sinal de ambição quanto do poderio financeiro mesmo de clubes menores da Inglaterra. Depois de um começo ruim, os primeiros sinais de que daria certo vieram no fim de 2023, quando passou sete rodadas invicto. E aí, desmoronou. Desta vez… acontece a mesma coisa. O Bournemouth ficou 11 rodadas sem perder, com sete vitórias, antes de ser derrotado pelo Liverpool no começo de fevereiro. Desde então, ganhou apenas uma vez e perdeu outras quatro. Faz parte. A pressão é a marca registrada do time de Iraola. Hoje em dia talvez ninguém pressione como ele na Inglaterra. E é difícil sustentar essa estratégia por muito tempo com, de novo, a quarta menor folha salarial da liga. A capacidade financeira do Bournemouth pode ser reforçada pelas esperadas vendas de destaques como Milos Kerkez e Ilya Zabarnyi. Ou Justin Kluivert, potencializado por Iraola depois de passar por quatro países diferentes em quatro anos. Evanilson foi um substituto à altura a Dominic Solanke, vendido ao Tottenham por muito mais do que vale. Se Iraola não superar o nono lugar com Eddie Howe em 2016/17, é porque a briga está muito forte mesmo. O recorde de pontuação certamente chegará. Que já é dele, inclusive: 48 pontos na temporada passada.
Tabela: Dos três confrontos diretos, dois são em casa, contra Fulham e Aston Villa. Visita o Manchester City, o que ainda é difícil, e enfrenta outros dois integrantes do Big Six. O Manchester United não vê a hora da temporada acabar e, no começo de maio, é provável que o Arsenal já não tenha mais pelo que brigar. Ainda terá West Ham e Crystal Palace como visitante e fechará a campanha contra o rebaixadíssimo Leicester, em casa.
PODCAST MEIOCAMPO #120: EL CLASICO NA FINAL DA COPA DO REI
A final da Copa do Rei foi definida e trará o maior clássico do país: Barcelona e Real Madrid. Os duelos contra Atlético de Madrid e Real Sociedad foram equilibrados, mas os dois gigantes irão decidir o título. Também tivemos jogos da Copa da Itália, assim como jogos da Premier League, assim como a semana de estreia da fase de grupos da Libertadores.
Curtas
- Kevin De Bruyne deixará o Manchester City ao final da temporada. O meia, de 33 anos, foi contratado do Wolfsburg em 2015 por 55 milhões de libras (74,8 milhões de libras em valores corrigidos pela inflação). Ao longo desses 10 anos, De Bruyne se tornou um dos melhores jogadores do mundo e conquistou todos os títulos possíveis, alguns deles mais de uma vez, como a Premier League (seis vezes). As lesões têm sido um problema nos últimos dois anos e seu rendimento atual não é o mesmo de antes, embora continue sendo um jogador de alto nível. O próximo destino do belga não está certo, mas apostaria que é provável que ele considere Arábia Saudita e MLS.
- A semana também marca o fim de ciclos para dois jogadores essenciais ao futebol alemão, presentes na conquista da Copa do Mundo de 2014. Thomas Müller deixará o Bayern de Munique, sem renovar seu contrato ao final da temporada. O atacante é um dos maiores símbolos dos bávaros, não apenas por suas conquistas, mas também por sua personalidade e pela forma como representava a própria torcida em campo. O rendimento mais recente, contudo, explica o adeus. Seu destino também deve ser a MLS. Já Mats Hummels anunciou a aposentadoria para o fim da temporada. O zagueiro sempre será ligado à sua trajetória no Borussia Dortmund e deixou o clube depois de uma campanha fenomenal na Champions passada. Todavia, o presente na Roma era mais duro e o beque optou por pendurar as chuteiras.
- O presidente da CBF tem quatro nomes na lista de possíveis técnicos da seleção brasileira. Os nomes foram revelados por André Rizek, no Redação Sportv, e são esperados: Jorge Jesus, que é o favorito por já ter trabalho no Brasil e pela facilidade em contratar; Abel Ferreira, técnico do Palmeiras e com um histórico incrível de títulos; Carlo Ancelotti, o sonho impossível de Ednaldo, e que tem contrato com o Real Madrid até junho de 2026; e um nome que ainda não tinha aparecido: José Mourinho, atualmente no Fenerbahçe. O contrato de Mourinho vai até junho de 2026 e ele tem um astronômico salário de 10,5 milhões de euros por ano, o que a CBF não chegará nem perto de pagar. Mas se o Special One quiser, e a CBF também, seria algo que certamente traria muitas manchetes.
- A vitória mais marcante na rodada de abertura da fase de grupos da Copa Libertadores foi conquistada pelo San Antonio Bulo Bulo. Os alvicelestes vivem uma escalada meteórica desde seu inédito acesso à primeira divisão do Campeonato Boliviano. Conquistaram o Torneio Apertura logo na estreia na elite, em 2024, e agora disputam pela primeira vez uma competição continental. No duelo inaugural, receberam em Cochabamba um gigante como o Olimpia. Pois o Matagigantes não se intimidou e honrou o apelido, com a vitória por 3 a 2 arrancada no último lance – um pênalti cobrado por Julio Herrera aos 56 do segundo tempo. O detalhe é que o San Antonio teve uma preparação turbulenta nas últimas semanas, por conta das chuvas na região de Entre Ríos. A equipe vinha treinando num campo de futebol society. No mesmo grupo, em duelo entre ex-campeões da Libertadores, o Vélez também derrotou o Peñarol por 2 a 1 com um gol nos últimos instantes: Álvaro Montoro foi o herói do Fortín, que se recupera na temporada desde a chegada do técnico Guillermo Schelotto.
- O Racing reforçou suas credenciais como principal ameaça aos brasileiros na Libertadores. Que o Fortaleza atravesse um momento turbulento, nada tira os méritos da Academia na contundente vitória por 3 a 0 em pleno Castelão. Dá para dizer que o resultado ficou até barato pelo amasso que aconteceu no segundo tempo, com 17 finalizações dos argentinos. Os racinguistas não contam com a badalação do River Plate, com jogadores de seleção e um treinador respaldado como Marcelo Gallardo. Contudo, o trabalho atual de Gustavo Costas é indiscutivelmente melhor, com uma equipe fatal. E há talentos, tanto pelos mais tarimbados quanto por aqueles que ganham fama desde a conquista da última Copa Sul-Americana. É preciso respeitar o elenco de Maravilla Martínez, Luciano Vietto, Gastón Martirena, Gabriel Arias, Matías Zaracho e companhia. O Leão do Pici é apenas mais um brasileiro vitimado por este Racing. E a torcida albiceleste ainda pôde comemorar a estreia do rival Independiente na Copa Sul-Americana, levando de 2 a 0 no Nacional de Potosí na visita à Bolívia.
- Outra grande história nas finais das copas nacionais se escreve na França. O Paris Saint-Germain é o favoritíssimo ao título, mesmo dependendo da virada para eliminar o Dunkerque, seu desafiante da segunda divisão nas semifinais. Já na outra chave, passou o tradicionalíssimo Stade de Reims, que interrompeu o conto de fadas do Cannes – o time que revelou Zinédine Zidane e Patrick Vieira, mas atualmente disputa a quarta divisão. Nem é uma temporada tão boa do Reims, que luta contra o rebaixamento na Ligue 1, após ter beliscado vaga na Liga Europa há cinco anos. Os alvirrubros voltam à final da Copa da França pela primeira vez desde 1977. São dois títulos no torneio, o último em 1958, com o time estrelado por Just Fontaine que foi base da seleção francesa na Copa do Mundo. Atualmente o Reims é dirigido por um treinador de origem africana: Samba Diawara, nascido em Paris, mas que defendeu a seleção do Mali nos tempos de jogador.
- Ainda falta o jogo de volta, mas dá para dizer também que o Bologna disputará a final da Copa da Itália – seja contra Inter ou Milan. Os rossoblù emplacaram uma vitória por 3 a 0 na ida contra o Empoli e, pela capacidade dos times, uma virada se torna impensável. Se tudo sair nos conformes, os bolonheses voltarão à decisão da Coppa pela primeira vez em 51 anos. O clube terminou com o troféu em 1970 e 1974, mas o primeiro destes foi definido num quadrangular decisivo. Na única final, de fato, Giacomo Bulgarelli e Giuseppe Savoldi eram as estrelas, num grupo que também tinha Roberto Vieri, pai de Christian Vieri.
- O Galatasaray prevalece sobre o Fenerbahçe nas últimas temporadas, e não foi diferente no quente duelo das quartas de final da Copa da Turquia. Dentro do Sükrü Saraçoglu, os Leões foram capazes de calar a torcida dos Canários e ganharam por 2 a 1. Victor Osimhen anotou os dois gols do Gala e comemorou no final de maneira trepidante, dando mortais no gramado, enquanto os companheiros eram protegidos pela polícia – depois de muitas confusões entre as equipes. Já José Mourinho perdeu a compostura mais uma vez, com um apertão no nariz (!) de seu colega Okan Buruk, treinador dos rivais. O Galatasaray pegará nas semifinais o Konyaspor, enquanto do outro lado o Göztepe surpreendeu o Besiktas e agora encarará o Trabzonspor.
- Indo para outros rincões da Europa, a Copa da Áustria terá uma final alternativa. O Wolfsberg eliminou o LASK Linz, enquanto o Hartberg surpreendeu o Austria Viena. Será um campeão inédito, com os dois fazendo a primeira aparição em uma decisão da competição. Na Copa da Croácia, o Slaven Belupo tentará o troféu inédito contra o Rijeka, que não é campeão do torneio desde 2020. Já na Copa da Grécia, o OFI Creta buscará a zebra contra o Olympiacos, para encerrar uma seca desde seu único troféu em 1987.
Roteiro do fim de semana
Por Felipe Lobo
Campeonato Francês: PSG x Angers
Sábado, 12h00 - CazéTV
O PSG pode ser campeão francês com uma vitória. O Angers ainda tenta escapar do rebaixamento, enquanto os parisienses fazem uma temporada de sonho: têm 21 pontos de vantagem sobre o Monaco a sete rodadas do fim. Ousmane Dembélé, acredite, é o artilheiro da Ligue 1 com 21 gols, seguido por Mason Greenwood (aquele, ex-Manchester United, com 15.
Campeonato Italiano: Milan x Fiorentina
Sábado, 15h45 - ESPN, Disney+
Duelo de camisas pesadas e com os dois times próximos na tabela. A Fiorentina é a 8a, enquanto o Milan é o 9o. Moise Kean, da Fiorentina, vive grande temporada, com 16 gols e em busca da artilharia da Serie A, que no momento é de Mateo Retegui, com 22. Já o Milan tenta acabar com a instabilidade e retomar o caminho das vitórias. Ambos sonham com vaga europeia.
Campeonato Espanhol: Barcelona x Betis
Sábado, 16h00 - Disney+
Um duelo dos mais interessantes no estádio Olímpico de Montjuic. O líder Barcelona está invicto há 19 jogos e tem nove vitórias consecutivas apenas em La Liga. O Betis está em sexto lugar e vem embalado: são seis vitórias consecutivas em La Liga. Raphinha e Lamine Yamal são as estrelas do lado do Barcelona, enquanto Isco é o grande nome do Betis, assim como Antony, emprestado pelo Manchester United.
Campeonato Inglês: Manchester United x Manchester City
Domingo, 12h30 - Disney+
Um clássico que traz dois times que não vivem uma grande temporada, mas o Manchester United tem parâmetros certamente bem piores do que o rival da cidade quando se trata de não fazer uma grande temporada. O time está em 13o. na tabela e sem perspectiva de vaga europeia. O City está em quinto e luta por uma vaga na próxima Champions. O time de Guardiola tem que se virar sem Haaland, enquanto a equipe de Rúben Amorim confia em Bruno Fernandes para salvar a pátria em Old Trafford.
Campeonato Italiano: Roma x Juventus
Domingo, 15h45 - ESPN, Disney+
Um grande duelo que vale muito para os dois times. A Roma de Claudio Ranieri vem de sete vitórias seguidas e alcançou a sexta posição na tabela. Sonha com uma vaga na Champions ou ao menos uma na Liga Europa. A Juventus é a quinta, três pontos à frente da Roma, e recentemente demitiu Thiago Motta para ter Igor Tudor no comando do time até o fim da temporada.
Até a semana que vem!