O moedor de jogadores
A má gestão e a cultura ruim do Manchester United levaram a contratações caras que não deram certo e arruinaram jogadores, evidenciando a necessidade de uma reconstrução cultural urgente
Newsletter Meiocampo #10 - 7 de fevereiro de 2025
Esta edição aborda a má gestão e cultura do Manchester United, que resultou em contratações caras e fracassadas e jogadores em baixa, como Marcus Rashford. Também listamos 10 clubes de futebol europeus que se destacaram no mercado de transferências de inverno, além da surpreendente boa temporada da Fiorentina. Por fim, há uma seção de notícias curtas, incluindo a aposentadoria de Marcelo e a transferência de Sergio Ramos para a Liga MX. Aproveite!
O moedor de jogadores
Por Bruno Bonsanti
Cruzei esta semana com uma lista das contratações mais caras da história do Manchester United. Também poderia ser um ranking das piores contratações de todos os tempos. A única que sem nenhuma dúvida foi bem-sucedida era a de Bruno Fernandes, e ainda assim, o cara foi expulso três vezes nesta temporada antes do Natal.
O engraçado daquela lista é que, com a exceção de Bruno, todas as contratações variam entre o desastre e o por que você gastou 70 milhões de euros num maluco que fez nove gols pela Atalanta, mas, embora realmente caras, a maioria era justificada na época.
Qualquer lista de melhores meias jovens do mundo incluiria Pogba. Provavelmente no topo. E ele estava voltando para casa. Não tem provavelmente com Casemiro: ele era o melhor volante do mundo. Acabara de ter um papel central em um dos períodos mais vitoriosos da história do clube mais vitorioso da Europa. Jadon Sancho comia a bola no Borussia Dortmund, Di María havia brilhado na final da Champions League e Harry Maguire era um zagueiro alto, forte, excelente no jogo aéreo, com experiência de Premier League e perfeitamente moldado para o futebol inglês.
Brincadeira. Maguire só não é o pior da lista porque logo acima tinha o Antony.
Então pode ser que tudo tenha sido uma ilusão, e Casemiro foi pentacampeão europeu por acidente, e Sacho na verdade pisava na bola e foi tudo uma conspiração da geração de imagens da Bundesliga, ou, o mais provável, é que o Manchester United destrói jogadores. O que nem é novidade. Falamos sempre sobre isso. O que chama um pouco de atenção é agora termos um exemplo de um processo totalmente interno, com alguém que eles não contrataram.
Sempre que Marcus Rashford colocava a bola nas redes, ele apontava para a cabeça. Durante alguns meses depois da Copa do Mundo do Catar, isso aconteceu de duas a três vezes por semana. Não é incomum quando o jogador ainda está em formação: do nada, tudo clica e eles mudam de patamar.
Parecia que isso tinha acontecido. Parecia que ele havia descoberto o segredo. O segredo que transforma ótimos jogadores em algo mais. O segredo que o transformou em um atacante que deixava os marcadores comendo poeira e ziguezagueava com propósito, que era capaz de marcar dez gols em dez rodadas da Premier League, atordoar o Barcelona no Camp Nou e liderar o Manchester United a um título.
O segredo era este: “Futebol é provavelmente 95% mentalidade. Muitos jogadores têm habilidade, mas o que os diferencia é mentalidade. Estive nos dois lados dela. Entendo a sua força e o seu valor”.
Certo. Então esse mesmo jogador que atribuiu o melhor momento da sua carreira à mentalidade acabou de ser emprestado ao Aston Villa depois de dois anos em que teve uma vida noturna tão agitada e uma diurna tão acomodada que levou o seu técnico a dizer que preferia colocar o treinador de goleiros de 63 anos em campo se ele não melhorasse a atitude.
Sem trocadilhos, como diabos isso aconteceu?
Eu não tenho a resposta. Talvez em algumas semanas saia alguma reportagem dizendo que ele teve algum problema pessoal, talvez não, ele não seria o primeiro jogador que de repente decidiu não levar mais a carreira tão a sério por qualquer motivo que seja, mas meio que não importa porque meu objetivo não é crucificá-lo e nem o isentar de responsabilidade e muito menos tentar determinar se a decisão de barrá-lo e deixá-lo sair foi exagerada ou correta.
O Manchester United nunca poderia ter permitido chegar a esse ponto. Não com um dos seus.
Rashford nasceu na cidade. Chegou ao clube aos sete anos. Era para ele ser o líder da era pós-Alex Ferguson, a ligação direta com a comunidade, o pedacinho de hiperlocal na liga mais globalizada do mundo, o jogador com o qual o torcedor mais se identifica, e uma reportagem do The Athletic explorou o quanto isso pode ser um fardo pesado em Manchester. Mas a parte que mais me atraiu foram algumas declarações de dois ex-jogadores do United.
“Nós tínhamos profissionais de personalidade forte no vestiário para nos manter na linha. Jogadores como Bryan Robson e Steve Bruce. Eles estabeleciam o tom, nos diziam o que era ou não era aceitável. Eles sabiam quem era quem em Manchester, quem e que lugar evitar. Onde estão esses líderes agora? Acima deles, você tinha o técnico (Ferguson) que sabia ainda mais”.
Acima de tudo, o problema central do Manchester United parece ser que a cultura do clube, de responsabilidade e cobrança, de todo mundo trabalhando na mesma direção por um objetivo em comum, engajados e investidos em ter sucesso, parece ter morrido com a aposentadoria de Ferguson, ou foi morrendo pouco a pouco, e os donos que nunca se interessaram muito pelo rolê e as pessoas que eles contrataram para gerir o departamento de futebol, incluindo um banqueiro de investimentos (!!), nunca conseguiram reconstruí-la.
Na ausência dela, mesmo alguém com uma cabeça que parecia tão boa quanto a de Rashford corre o risco de de repente perdê-la.
Isso é sempre difícil de medir olhando de fora, mas qual outra hipótese explica 12 anos de mediocridade tendo empregado pessoas tão talentosas quanto os jogadores citados no começo do texto e tantos outros que passaram como fantasmas por Old Trafford, ou treinadores como Louis van Gaal e José Mourinho e Ralf Rangnick? Hoje em dia quem treina o Manchester United está fadado a virar motivo de piada, mas Erik ten Hag é um bom técnico. Rúben Amorim é um bom técnico. Os outros três são lendas.
Bruno Fernandes é o capitão e tem personalidade de líder. Mas não adianta. Casemiro tem personalidade de líder. Não adianta. Cristiano Ronaldo tem personalidade de líder. Nada adianta. O problema não pode ser individual. Não pode ser que o Manchester United conseguiu errar 138 contratações consecutivas desde Wilfried Zaha, a última de Ferguson, e em mais de uma década não encontrou um jogador com presença de vestiário. Ele precisa ser mais amplo.
E não quero dizer que se Ferguson tivesse atirado uma chuteira na testa de Rashford tudo estaria resolvido. Foi mais ou menos o que Rúben Amorim tentou fazer com a declaração do treinador de goleiros. Talvez tenha sido tarde demais. Talvez essa abordagem não funcione mais hoje em dia. Mourinho fala bastante sobre como está diferente e mais difícil ter a atenção dos jogadores, motivá-los e administrá-los, atrair os seus olhos da tela do smartphone.
Mas os problemas de Rashford não acontecem em um vácuo. Acontecem em um clube do qual nenhum jogador sai melhor do que quando entrou. Nunca vou me convencer que Rashford, que aos 22 anos comprou briga com o governo britânico para alimentar crianças, era um caso perdido. Que um clube de futebol funcional não teria conseguido recuperá-lo. Que a bagunça do Manchester United não contribuiu para o seu gradual processo de desencanar.
Pelo amor de Deus, esse clube conquistou uma Tríplice Coroa enquanto Beckham namorava uma Spice Girl.
Não existe uma quantidade de derrotas para o Crystal Palace ou goleadas do Brentford que se compara a perder um prata da casa que dois anos atrás parecia um dos melhores jogadores do mundo dessa maneira. Rashford foi apenas emprestado com opção de compra. Pode ser que volte. Sabe-se lá quem será o treinador do Manchester United daqui a alguns meses, mas ainda bem que a Classe de 1992 não era a Classe de 2015.
COPAS, COPAS E MAIS COPAS
A edição #105 do podcast tratou sobre Copa da Liga, Copa da Itália, Copa do Rei e Copa da Alemanha (ufa!), além de movimentações do mercado. Ouça em todas as plataformas de áudio e assista no Youtube!
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Dez clubes que se destacaram no mercado de inverno
Por Leandro Stein
O mercado de transferências de inverno não é aquele em que os clubes europeus mais gastam. A janela de meio de temporada serve mais para corrigir rotas e preencher lacunas. De qualquer maneira, estas semanas foram particularmente movimentadas em diversos países – seja por clubes de peso em crise, seja pela oportunidade aberta a outros darem um salto. Somando as cinco grandes ligas europeias, o investimento em novos jogadores superou a marca de €1,1 bilhão. Na temporada passada, por exemplo, a mesma cifra mal passou dos €700 milhões. Premier League, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga incrementaram seus gastos, enquanto só La Liga reduziu o sarrafo em relação a janeiro de 2024.
Para fazer um balanço da janela, listamos abaixo dez clubes europeus que se destacaram neste mercado. A seleção foi realizada a partir do conjunto de mais de uma movimentação, e não necessariamente de contratações específicas – por isso acaba de fora o Paris Saint-Germain, por exemplo, mesmo trazendo um talento do quilate de Khvicha Kvaratskhelia. A lista, além do mais, não se restringe às cinco grandes ligas. Confira:
Aston Villa
O Aston Villa fez excelentes negócios na janela de inverno, sobretudo relativos às vendas. Por mais que Jhon Durán seja bastante promissor, convenhamos que ganhar €77 milhões pela saída do colombiano rumo ao Al-Nassr é um baita negócio - sobretudo quando se tem Ollie Watkins na mesma posição. Jaden Philogene ainda rendeu €23,7 milhões, vendido ao Ipswich, fora os €10 milhões pagos pelo Fenerbahçe por Diego Carlos, que não vingou por causa das lesões. Assim, os Villans tinham bala na agulha para reinvestir e encorparam o elenco rumo à Champions League. Donyell Malen foi a principal compra definitiva, trazido do Borussia Dortmund por €25 milhões. Também veio o promissor lateral Andrés García, do Levante, por €7 milhões. Já os empréstimos garantiram as chegadas de Marcus Rashford, Marco Asensio e Axel Disasi. Os dois primeiros podem não viver a melhor fase de suas carreiras, mas dão outra dimensão ao ataque de Unai Emery.
Manchester City
O Manchester City atuou na base do desespero na atual janela de transferências e gastou mais de €200 milhões em compras, independentemente dos temores de punições sobre o clube. São jogadores que podem auxiliar no meio da quizumba atual no Estádio Etihad, mas que não são necessariamente soluções imediatas. Projetam ao futuro, todos jovens e com potencial. Omar Marmoush é quem deve ter maior impacto imediato, até pela excelente fase no Eintracht Frankfurt. Pode se encaixar de diferentes maneiras no setor ofensivo e tenta mostrar suas credenciais nos primeiros jogos. Nico González também vem respaldado do Porto, para auxiliar com as lacunas no meio-campo dos Citizens. Já a defesa ganhou três peças sub-20 de uma só vez: Abdukodir Khusanov, Vítor Reis e Juma Bah. A ver como de fato eles se desenvolverão com Pep Guardiola. De qualquer maneira, o norte não parece ser exatamente o agora, mesmo que o elenco curto explique parte dos problemas atuais.
Milan
O Campeonato Italiano atravessou um inverno abastado. Pode não ter alcançado metade dos gastos da Premier League, mas a Serie A teve vários times que se movimentaram com astúcia neste inverno. O Milan puxa o carro, ainda que muitos dos negócios corrijam a rota de uma temporada oscilante. Santi Giménez custou €32 milhões e parece pronto a assumir o comando de ataque, o que até liberou Álvaro Morata emprestado para o Galatasaray. João Félix ganha sua enésima chance ao chegar por empréstimo e já deixou boa impressão, enquanto Warren Bondo é uma jovem aposta para o meio-campo, comprado do Monza. Ainda vieram o ponta Riccardo Sottil, da Fiorentina, e Kyle Walker, do Manchester City. Por aquilo que o lateral apresentou em sua estreia, contra a Internazionale, seu empréstimo talvez seja o melhor negócio desta janela em termos de custo-benefício. Cabe dizer que os rossoneri viram diversos jogadores tomarem outros rumos: além de Morata, também saíram figuras como Ismaël Bennacer e Davide Calabria, importantes no último Scudetto do clube.
Fiorentina
A Fiorentina mira a classificação para a Champions League com um elenco no qual chegaram vários destaques no início da temporada, assim como o técnico Raffaelle Palladino é novidade. Agora, a capacidade competitiva da Viola se encorpa mais com a ampla lista de contratações do inverno, que visa também a empreitada na Conference League – na qual os italianos são a principal ameaça ao favorito Chelsea. Cher Ndour é a mais cara contratação definitiva, vindo do PSG por €5 milhões. Aos 20 anos, o meio-campista já demonstrou seu potencial nas seleções italianas de base. Figurinhas da Azzurra principal também chegaram por empréstimo, em pacote que integram Michael Folorunsho, Nicolò Fagioli e especialmente Nicolò Zaniolo – ainda em busca de se reencontrar na carreira, após seis meses na Atalanta. Já a defesa contará com o experiente Pablo Marí, que agradou no Monza e criou boa relação com Palladino. Em contrapartida, muita gente saiu do Artemio Franchi, inclusive o ex-capitão Cristiano Biraghi, que perdeu espaço e foi emprestado ao Torino.
Como
O Como é uma grata surpresa desta Serie A. O time dirigido por Cesc Fàbregas apresenta um futebol bem trabalhado e corajoso, que merece a permanência na elite, apesar dos riscos seguirem evidentes. Com os donos mais ricos do Campeonato Italiano, o clube gastou mais do que qualquer concorrente da liga, com €49,2 milhões investidos em novatos - mais de 20% do montante total da competição neste inverno. O perfil geral também agrada, com muita gente abaixo dos 25 anos. É o caso do meio-campista Maxence Caqueret (Lyon) e do centroavante Anastasios Douvikas (Celta), as duas compras mais caras. Chegou gente ainda mais jovem, em especial o ponta Assane Diao, que veio do Betis já fazendo barulho. Também há uma dose de rodagem com outras peças, diante do empréstimo de Jonathan Ikoné e principalmente da contratação sem custos de Dele Alli. O inglês estava sem clube e tentará recuperar seu futebol nas paradisíacas margens do lago.
Olympique de Marseille
Se o início do trabalho de Roberto De Zerbi no Vélodrome já rendeu bons momentos, a tendência é de que melhore com as compras de inverno. O Olympique pode não ter trazido um Kvaratskhelia, mas os €26 milhões recebidos na venda de Elye Wahi foram otimamente investidos. A defesa agora possui o zagueiro Luiz Felipe, resgatado sem custos do Al-Ittihad, e o lateral Amar Dedic, promessa do Red Bull Salzburg. No meio-campo, Ismaël Bennacer quis se mudar à Marselha e o empréstimo junto ao Milan é ótimo. Já o ataque garantiu Amine Gouiri, subaproveitado no Rennes e com uma qualidade técnica inegável, que justifica os €19 milhões da compra. Soa como um planejamento já cogitando a Champions League à vista no horizonte para a próxima temporada.
Rennes
A temporada do Rennes é decepcionante, de quem tem elenco para brigar por Champions e se vê sob risco de rebaixamento. Jorge Sampaoli durou só dez partidas e Habib Beye assumiu como terceiro treinador distinto nesta campanha. Conta com muita gente nova para trabalhar, em contratações que totalizaram €74,6 milhões, abatidos parcialmente por vendas como as de Amine Gouiri e Arthur Theate. De olho no sucesso recente do Lens, os rubro-negros garantiram a qualidade do goleiro Brice Samba e do meio-campista Seko Fofana - este trazido do Al-Nassr, por €20 milhões, transação mais cara. O ataque, por sua vez, ganha duas ótimas alternativas asiáticas: o centroavante Kyogo Furuhashi, antigo xodó na legião japonesa do Celtic, e o ponta Mousa Tamari, tirado do Montpellier após ganhar os holofotes com a Jordânia. Outro selecionável, o volante Ismaël Koné, precoce no Canadá, veio por empréstimo do Olympique de Marseille. A zaga ainda terá Anthony Rouault, de 23 anos, que volta ao país de nascimento após estourar com o Stuttgart.
Eintracht Frankfurt
A Bundesliga não é a competição que mais gasta no inverno e não seria diferente dessa vez. Mais de um quarto do total investido pela liga representa a compra definitiva de Xavi Simons pelo RB Leipzig. Dos que buscaram novas peças, o Eintracht Frankfurt é de longe quem mais chama atenção, e com motivos. Dos €75 milhões ganhos pela saída de Marmoush, €42 milhões foram usados para contratar três novos jogadores. O ataque terá logo de cara dois novos nomes: Michy Batshuayi é o veterano, após sua empreitada recente na Turquia, e a aposta se concentra em Elye Wahi. O francês de 22 anos surgiu bem no Montpellier e teve bons momentos no Lens, mas sem reproduzir as marcas no Olympique de Marseille. Ainda assim, custa €26 milhões. Já a defesa ganha de vez o zagueiro Arthur Theate, comprado em definitivo após seis meses de empréstimo, cedido pelo Rennes.
Fenerbahçe
O Campeonato Turco gosta de medalhões e o inverno foi prolífico por lá. Várias figurinhas carimbadas se juntaram aos gigantes da Süper Lig. O desempenho do Fenerbahçe, aquém do esperado com José Mourinho, provocou semanas abastadas. Milan Skriniar e Diego Carlos dão muita casca para o miolo de zaga. Dois jogadores na casa dos 30 anos, que brilharam nas grandes ligas, embora com o passado recente assombrado pelas lesões. O eslovaco desembarcou por empréstimo do PSG, enquanto o brasileiro custou €10 milhões junto ao Aston Villa. Mais um do Brasil a se juntar aos Canários é Anderson Talisca, que deixou o Al-Nassr sem custos e retoma a história num país em que agradou pelo Besiktas. Por fim, o lateral Ognjen Mimovic, de 20 anos, vem como revelação do Estrela Vermelha. Ainda na Turquia, menções honrosas às adições de Galatasaray (Carlos Cuesta, Álvaro Morata, Mario Lemina, Ahmed Kutucu) e do Trabzonspor (Danylo Sikan, Oleksandr Zubkov).
Betis
O Campeonato Espanhol atravessou um inverno austero. La Liga ficou no assombroso 16° lugar entre as competições nacionais que mais gastaram nesta janela, atrás até do Campeonato Belga e da segundona da Bundesliga. A mão fechada do Real Madrid mesmo com o departamento médico cheio e os imbróglios todos do Barcelona representam bastante, em meio ao cenário impactado pelas estritas regras do Fair Play Financeiro local. Do pouco que aconteceu, o Betis merece os holofotes. Metade do dinheiro gasto pela liga inteira saiu dos cofres dos verdiblancos: €13 milhões pelo atacante Cucho Hernández, de volta à Espanha após muitos gols no Columbus Crew. Antony também veio por empréstimo, fazendo logo em sua estreia muito mais do que apresentara na temporada pelo Manchester United até então. E foi isso. Menções honrosas aos negócios de Valencia (Umar Sadiq, Max Aarons, Iván Jaime) e Villarreal (Tajon Buchanan, Juan Bernat).
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Kean, Palladino e o sonho europeu que renasce em Florença
Por Felipe Lobo
Antes do início da temporada 2024/25, poucos ousariam incluir a Fiorentina entre os candidatos a uma vaga na Champions League. Em um cenário dominado por Inter, Juventus, Milan, Atalanta, Roma e Lazio, a Viola parecia destinada a mais um ciclo de reconstrução. No entanto, o time está reescrevendo seu destino com uma campanha eletrizante, combinando ambição, gestão astuta e uma dose de magia roxa.
A contratação de Moise Kean, por €13 milhões da Juventus, surgiu como uma aposta arriscada. O atacante, que já havia passado por altos e baixos na carreira (incluindo passagens discretas por Everton e PSG), encontrou na Fiorentina o ambiente ideal para renascer. Com 15 gols em 23 rodadas, Kean não só lidera o ataque do time como está no páreo pela artilharia da Serie A, desafiando nomes como Lautaro Martínez e Romelu Lukaku. Sua combinação de força física, explosão e finalização precisa o transformou no símbolo de uma equipe que vive de eficiência e garra.
Por trás do sucesso está Raffaele Palladino, o jovem técnico de 40 anos que chegou após brilhar no Monza. Com um estilo ousado, Palladino reformulou o elenco, priorizando velocidade no contra-ataque e posse de bola inteligente. Seu sistema 4-3-3 flexível permite que jogadores como Danilo Cataldi e Yacine Adli (recuperado após anos no banco do Milan) brilhem, enquanto a defesa, liderada pelo capitão Luca Ranieri, mantém solidez – a Fiorentina tem apenas 23 gols sofridos, quarto melhor desempenho defensivo do campeonato.
A diretoria acertou em cheio nas contratações. Além de Kean, destacam-se:
David De Gea: O ex-goleiro do Manchester United, inicialmente visto como um risco, lidera a liga em defesas difíceis (87% de aproveitamento), resgatando a confiança da defesa.
Robin Gosens: Rejeitado pela Inter, o lateral alemão já contribuiu com cinco assistências, sendo chave no setor esquerdo.
Nicolò Zaniolo: A chegada do italiano por empréstimo em janeiro trouxe ainda mais profundidade ao ataque, com seu físico e versatilidade.
Com 42 pontos, a Fiorentina ocupa o 4º lugar, dividindo a zona de classificação com uma Lazio igualada em pontos. A luta promete ser acirrada, já que Atalanta (3ª) está a cinco pontos, e Napoli e Roma seguem no encalço. A possibilidade de uma 5ª vaga italiana na Champions, via coeficiente UEFA, adiciona um respiro: a Itália está em segundo lugar, atrás da Inglaterra e ligeiramente à frente da Espanha.
Além disso, os Viola carregam a ambição de conquistar a Conference League, competição na qual foram vice-campeões em 2022/23, após uma dramática derrota para o West Ham nos acréscimos. Agora, nas oitavas contra o Viktoria Plzen, o time busca transformar a decepção do passado em glória.
A última vez que a Fiorentina disputou a Champions League foi na temporada 2009/10. Desde então, o clube viveu anos de instabilidade, mas a atual gestão, comandada pelo presidente Rocco Commisso, investe em uma mistura de juventude e experiência, aliada a um scouting preciso. O estádio Artemio Franchi, com sua atmosfera fervorosa, tornou-se uma fortaleza – o time perdeu apenas uma vez em casa na liga.
A Fiorentina prova que, no futebol, o possível se constrói com planejamento, ousadia e resiliência. Enquanto Moise Kean encarna o espírito de superação, Palladino e sua equipe tecem uma narrativa que emociona a Toscana e desafia os gigantes da Itália. Seja na Serie A ou na Europa, os Viola não são mais surpresa: transformaram o roxo na cor da esperança de uma nova era.
CURTAS
- Aos 36 anos, Marcelo decidiu se aposentar do futebol. Revelado pelo Fluminense, o lateral esquerdo ganhou status de lendário pelos seus anos de Real Madrid, onde ganhou 25 títulos, sendo cinco Champions League, e foi, por muitos anos, o melhor jogador da sua posição. Sempre foi um jogador que teve problemas defensivos, mas os seus melhores técnicos sabiam aproveitar o seu melhor sem o expor. Por vezes, jogadores que cobriam largos espaços do campo, como Casemiro, ajudavam a compor defensivamente para proteger a capacidade letal de Marcelo no ataque. Na seleção brasileira, nunca conseguiu ser o mesmo, mas mesmo assim esteve em duas Copas do Mundo, em 2014 e 2018. Seu retorno ao Fluminense também foi triunfal: ajudou o time a conquistar o título mais importante da sua história, a Libertadores. Sua saída foi um capítulo menos glorioso, mas que será pouco importante quando sua carreira recheada de glórias for lembrada.
- Outro símbolo daquele Real Madrid dominante na Champions League, Sergio Ramos segue em frente aos 38 anos e, pela primeira vez, atuará fora da Europa. No caso do zagueiro, sua carreira mudou abruptamente desde que saiu do Santiago Bernabéu. Se um dia seu adeus repentino dos merengues soou como uma perda relevante, esta noção se perdeu com os problemas físicos, que resultaram em passagens opacas por PSG e Sevilla. Independentemente disso, Ramos é um dos maiores zagueiros da história e sua ida para a Liga MX é marcante para os mexicanos. Poderá se provar num ritmo menos intenso e como uma liderança no próximo Mundial de Clubes. Daquelas empreitadas que interessam muito mais pelo personagem em si do que pelo nível atual do jogador.
- Um negócio que não entrou na lista acima, mas que merece ser citado como muito interessante é o empréstimo do goleiro Matheus rumo ao Ajax. O irmão mais novo do meia Moisés despontou como grande revelação do América Mineiro e se transferiu ao Braga em 2014. Foram dez temporadas com os Minhotos, protagonizando grandes momentos e se firmando entre os melhores de sua posição no Campeonato Português. Seu talento finalmente foi reconhecido por um clube maior e a chegada a Amsterdã é promissora, sobretudo porque tem capacidade para assumir o status de titular. Aos 32 anos, segue com lenha para queimar e pode auxiliar a equipe de Francesco Farioli em sua ascensão recente na Eredivisie. Matheus pode ser o sétimo brasileiro a defender o Ajax na liga, sendo o primeiro goleiro. Outro que chegou neste fechamento de janela é o lateral Lucas Rosa, de 24 anos, que começou bem a temporada no Valladolid. Formado pelo Palmeiras, o defensor de 24 anos atuou na base da Juventus.
- A Copa da Liga Inglesa nutria expectativas sobre fins de jejuns. Um Liverpool avassalador não deixou o Tottenham sonhar e tomou a vaga na final. Já o Newcastle segue em frente, depois de mais um triunfo contundente sobre o Arsenal. O favoritismo fica com os Reds, mas os Magpies voltarem à decisão do torneio após dois anos é mais um sinal de como as coisas vêm sendo bem feitas em St. James’ Park. A Copa da Liga é um torneio que o Newcastle nunca venceu, enquanto a Copa da Inglaterra não pinta desde 1955. Desde os anos 1990, os alvinegros tiveram times muito qualificados, que sonharam até com o título da Premier League, mas não tocaram troféus. Uma conquista em Wembley pode ser a catarse de uma das torcidas mais apaixonadas da Inglaterra e a eternização da geração liderada por Alexander Isak.
- Esperava-se um impacto negativo maior no Bologna após as saídas de Thiago Motta e de vários destaques na temporada passada, mas a verdade é que Vincenzo Italiano conduz um excelente trabalho nos rossoblù. O time não foi bem na Champions League, mas segue na briga pelas copas europeias (na sétima colocação da Serie A) e agora volta a uma semifinal de Copa da Itália após 26 anos. A última equipe a chegar tão longe na Coppa, em 1998/99, reunia figuras como Giuseppe Signori e Kennet Andersson. O mérito da atual campanha se reforça com a classificação sobre a Atalanta em Bérgamo, o que indica as condições do Bologna em bater de frente com qualquer adversário. Curiosamente, a Juve de Motta pode estar no caminho, caso passe pelo Empoli.
- Durante o final de semana, o Bayer Leverkusen ultrapassou o Colônia na tabela histórica da Bundesliga, com mais pontos dos Aspirinas desde sua ascensão à elite do que dos tradicionais Bodes. Curiosamente, os dois rivais se cruzaram nas quartas de final da Copa da Alemanha logo depois. Enquanto briga pelo acesso de volta à primeira divisão, o Colônia sonhou eliminar o Leverkusen. Contudo, o time de Xabi Alonso mais uma vez se provou imortal e ressurgiu das cinzas com mais um gol dramático de Patrik Schick nos acréscimos, que forçou a prorrogação e permitiu que Victor Boniface decretasse a virada por 3 a 2. Apesar da passagem do Stuttgart e das chances do RB Leipzig (que ainda jogará pelas quartas), o Leverkusen pinta como favorito entre os semifinalistas. De um clube com poucas taças, Xabi Alonso introduziu um novo vício na BayArena.
- A Copa da França está sendo a mais divertida desta temporada, entre as copas nacionais europeias. Tudo bem que o PSG continua vivíssimo e é amplo favorito, mas a lista de zebras se ampliou nas oitavas de final. Quatro times das divisões de acesso avançaram. O destaque maior ficou para o Stade Briochin, da quarta divisão, que tirou o Nice com um 2 a 1 de virada construído depois dos 43 do segundo tempo e pegará o próprio PSG. Outro da quarta divisão, o tradicional Cannes teve caminho mais aberto diante do Dives-Cabourg, da quinta divisão. Já da segundona, passaram o Guingamp contra o Toulouse e o Dunkerque contra o Lille, este numa façanha. Os Dogues tomaram o empate por 1 a 1 aos 51 do segundo tempo, numa assistência decisiva do lateral Abner, ex-Coritiba. Já nos pênaltis, o Dunkerque viu os oponentes abrirem 3 a 0 e ainda buscaram a virada, ganhando por 5 a 4. A equipe ainda está na briga pelo acesso inédito à Ligue 1, na zona dos playoffs da segundona.
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O Manchester United tem muito de São Paulo Futebol Clube. Depois que Leco deu um Golpe de Estado para conseguir um terceiro mandato, algo se quebrou no Morumbi.
No Old Trafford, parece que achavam que Ferguson seria eterno.
Se ele tivesse uns anos a menos, já o teriam chamado de volta.