
Parece que acharam um time em Paris
E não precisou de superestrelas para isso, só de um pouco de senso coletivo
Newsletteer Meiocampo #15 - 15 de março de 2025
Quem diria que o PSG conseguiria uma grande campanha tendo como qualidade o seu coletivo? Esse é um dos nossos textos desta edição. Trazemos também um pouco da história dos times nas quartas de final da Champions League. Tem ainda a derrota do futebol brasileiro com a desistência de Ronaldo da CBF.
Esperamos que aproveitem!
Finalmente o time de verdade
O PSG parece finalmente ter se achado, mas seria planejamento ou mero acaso?
Por Bruno Bonsanti
Eu achei muito engraçado quando o presidente do Paris Saint-Germain cometeu uma meio entrevista, meio manifesto em que apresentava a sua visão de “criar um time de verdade”. Era o ano 11 da administração do Catar, então havia uma pergunta óbvia: o que vocês estavam fazendo até agora?
Estavam comandando um reality show. Dos três principais clubes de-repente-fiquei-rico dos últimos 20 anos, o Paris Saint-Germain foi o que mais se viciou em estrelas.
Todo clube poderoso financeiramente não consegue resistir a elas. E com razão: trazer jogadores estabelecidos entre os melhores do mundo acelera o processo. O Chelsea foi atrás de Hernán Crespo, Verón e Claude Makélélé quando começou a ter grana, mas logo percebeu que também precisava de jogadores de outro perfil e permitiu que José Mourinho montasse um time.
O Manchester City, curiosamente, foi bastante comedido nesse sentido. E a questão não é o valor da contratação ou a qualidade do jogador. Todos esses gastaram muito dinheiro em atletas de alta qualidade, mas há uma diferença entre contratar um Kevin de Bruyne explodindo pelo Wolfsburg, ou um Didier Drogba despontando pelo Olympique de Marselha, e… bom, Lionel Messi.
O PSG havia caído nessa armadilha antes do agora infame “melhor mercado de todos os tempos”, quando trouxe Edinson Cavani, na época um dos melhores centroavantes do mundo, para jogar ao lado de Zlatan Ibrahimovic, na época um dos melhores centroavantes do mundo. Cavani precisou fazer bico de ponta direita. Não era a alocação mais eficiente de recursos.
Futebol é um esporte coletivo. Clichê, sim, uma obviedade, claro, mas demorou 11 anos para o presidente do Paris Saint-Germain perceber. Exige um equilíbrio, não apenas entre ataque e defesa, mas também de personalidades. É difícil ter coesão quando o seu vestiário está superlotado de pequenas multinacionais que já venceram tudo na carreira. A administração de vestiário fica complicada quando necessariamente um entre Mbappé, Neymar ou Messi será o terceiro melhor do time. Nem todo treinador consegue convencer uma constelação sobre os sacrifícios que são necessários pelo bem maior.
No caso do Paris Saint-Germain, no fim das contas, nenhum treinador conseguiu.
Nem mesmo quando a única estrela, ou pelo menos a principal, era Mbappé - a mais orgânica de todas que o clube teve nesse período, um garoto dos subúrbios de Paris. Ainda era difícil para Luis Enrique transmitir a sua mensagem. Ficou famoso aquele vídeo em que ele fazia aparentemente a última tentativa, evocando os sacrifícios defensivos e a liderança de Michael Jordan. O PSG até teve uma boa temporada, a sua melhor desde a do vice-campeonato europeu, mas ainda não conseguiu chegar lá.
Nem atingiu o nível que tem demonstrado agora. A classificação às quartas de final da Champions League veio pelos pênaltis, depois de 120 minutos eletrizantes com chances para os dois lados, e é tentador dizer que o PSG venceu o Liverpool nos detalhes. Não foi o que aconteceu. O PSG foi superior - até bem superior - em um confronto entre os dois melhores times da temporada europeia, ao lado do Barcelona. O Liverpool deve conquistar a Premier League. Está na final da Copa da Liga. Liderou a primeira fase da Champions. Havia perdido apenas quatro vezes. E não conseguiu acompanhar o PSG.
As estrelas da companhia agora são Ousmane Dembélé e Khvicha Kvaratskhelia, que chegou em janeiro e parece ter sido o catalizador para levar o PSG a outro patamar. Mas o primeiro encontrou a oportunidade de resgatar uma carreira maculada por problemas físicos e o segundo está apenas em sua terceira temporada sob os holofotes. Estão morrendo de fome. Suscetíveis ao sacrifício. E agora existe um equilíbrio muito mais saudável entre eles, a ala jovem do vestiário e veteranos como Marquinhos e Donnarumma.
Entre todos os méritos, o que mais ficou visível é que o PSG correu. O. Tempo. Todo. Ficou claro principalmente na prorrogação como estava com mais fôlego que o seu adversário e contrastou com a época em que o time era dividido entre sete jogadores tentando recuperar a bola e três esperando que ela fosse recuperada. O elenco parece ter comprado a ideia de Luis Enrique como nunca se viu no Parque dos Príncipes desde o começo do projeto do Catar.
Luis Enrique tem uma carreira curiosa. Não deixou saudades na Roma e havia conseguido apenas um bravo nono lugar com o Celta de Vigo antes de assumir o Barcelona. Parecia ter sido contratado mais pela sua relação com o clube catalão do que pelo que havia demonstrado como treinador. Conquistou uma Tríplice Coroa, então, ok, deu certo. Mas ainda tinha aquela dúvida se era realmente um técnico de elite ou se havia tido sucesso por estar em um ambiente específico que conhecia tão bem.
O tiebreak foi a passagem pela Espanha e talvez o presidente do PSG seja mais esperto do que parece porque aquele trabalho de Luis Enrique teve as mesmas bases. Contratado para renovar uma seleção que era repleta de estrelas - o que no futebol de seleções é meio que todo o princípio do rolê -, Luis Enrique conseguiu construir muita competitividade com um elenco mais homogêneo. A sua seleção espanhola misturava jovens e veteranos e manteve o estilo de jogo característico de troca de passes, com mais verticalidade, intensidade e pressão. Tinha um piso alto e de vez em quando atingia picos de desempenho. Não havia um protagonista claro. Brilhava pela sua força coletiva.
Não é exatamente o que ele conseguiu fazer no Paris Saint-Germain?
O meio-campo sempre foi o setor mais negligenciado pelos investimentos. Agora o PSG finalmente tem um e não foi por ter finalmente desviado recursos para ele. João Neves foi caro, mas é jovem. Está no grupo das estrelas em ascensão, não das estabelecidas. Complementa dois jogadores que já estavam lá: Vitinha e Fabián Ruiz, que Luis Enrique aprendeu a ativar em sua passagem pela seleção. Nomes mais famosos, até de maior qualidade, já passaram pelo meio-campo do PSG, mas ele raras vezes foi tão forte, completo e coeso.
Isso é sinal de um trabalho muito bem feito. Eu não sei se Luis Enrique é o melhor treinador a passar pelo Paris Saint-Germain desde Carlo Ancelotti, mas foi sem dúvida o que encontrou o ambiente mais propício para que o time fosse construído em torno das suas ideias, e não o contrário, sem precisar fazer hora extra como mediador de conflitos.
Eu só hesito em dar todos os méritos para o presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, porque aquele manifesto foi em 2022, quando ele estava prestes a trocar Mauricio Pochettino por Christophe Galtier e um ano inteiro antes das saídas de Messi e Neymar. Então meio que ainda demorou um pouco e eu tenho a sensação de que eles chegaram às atuais circunstâncias involuntariamente.
Mas chegaram. O PSG parece ter, pela primeira vez em todo esse processo, um time melhor que a soma das suas peças. E pode ou não ser campeão. Não tem fórmula para conquistar a Champions League.
Se tivesse, seria essa.
PODCAST MEIOCAMPO #114: DRAMA DE PSG E LIVERPOOL E NO CLÁSSICO DE MADRI
Uma semana cheia de Champions League, o Real Madrid outra vez fez das suas. O Atlético de Madrid até venceu o jogo, mas perdeu nos pênaltis. O PSG eliminou o Liverpool nos pênaltis, com outra grande atuação. Falamos sobre os jogos e os duelos das quartas de final. Ainda tem Libertadores, Ronaldo e a CBF e Concachampions.
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Ronaldo, CBF e a derrota do futebol brasileiro
Federações não quiseram falar com Ronaldo porque acreditam no ótimo (risos) trabalho de Ednaldo na CBF. Quem perde é o futebol brasileiro
Por Felipe Lobo
A desistência de Ronaldo de ser candidato à presidência da CBF veio de uma forma que descreveria como decepcionado, mas não surpreso. Independente do que seria uma possível administração de Ronaldo, o episódio significa uma derrota do futebol brasileiro.
Ronaldo indicou algumas mudanças e isso parece já assustar. Nenhuma federação se dispôs a apoiá-lo. Pior ainda: 23 delas sequer quiseram conversar. As respostas foram combinadas com o próprio Ednaldo, em um ato de subserviência das federações. Aliás, quatro delas sequer responderam ao pedido de Ronaldo.
Só uma federação aceitou ouvir Ronaldo: a de São Paulo. Reinaldo Carneiro Bastos recebeu o Fenômeno, concordou com algumas insatisfações que o ex-jogador levantou e até discordâncias em relação a Ednaldo. Ainda assim, deixou claro que não apoiaria Ronaldo. Reinaldo Carneiro Bastos só aceita se opor a Ednaldo se ELE for o cabeça da chapa.
A resposta das federações mostra o buraco que estamos.
"Estamos comprometidos com a continuidade da atual gestão da CBF, comandada pelo presidente Ednaldo Rodrigues. Sua administração, de uma forma ampla e democrática, tem realizado importantes investimentos em diversas categorias do futebol brasileiro, desde as categorias de base até os campeonatos nacionais, com especial olhar e atenção a Série D, ao futebol feminino e a projetos sociais e estruturais, que visam o fortalecimento do nosso esporte", dizia a resposta ao e-mail de Ronaldo, segundo matéria de Pedro Ivo Almeida, na ESPN.
Um texto que parece vir direto daquele mundo em que a CBF é o Brasil que dá certo, que Carlos Alberto Parreira se referiu em 2014. Parece não ter muita conexão com a realidade. Essa realidade descrita pelos presidentes de federações não parece levar em conta os problemas dos seus próprios clubes.
Os clubes da Série C pedem há anos que o calendário da competição siga o padrão da Série A e B e seja em pontos corridos, com turno e returno, para que os clubes tenham mais calendário. A CBF decidiu ignorar e manteve tudo como está.
A razão é simples: economizar. A CBF banca toda a logística dos clubes das Séries C e D e ter mais rodadas e mais jogos significaria mais gasto para a entidade. Para os clubes, seria fundamental: permitiria ter mais receitas com bilheteria, com patrocínios, com transmissão de TV. Ajudaria a manter os clubes ativos por mais tempo no ano, o que ajuda com programas de sócio-torcedor e ajuda a manter a própria existência desses clubes. Mas a CBF não quer. As federações estão satisfeitas. Os clubes, aparentemente, não estão.
Aliás, os clubes precisam aqui ser responsabilizados. Em 2017, a CBF reduziu o poder dos clubes ao reduzir o peso dos seus votos. Fez isso porque a Lei do Profut exige que os clubes sejam representados na eleição das confederações dos seus esportes, como é a CBF.
Para driblar essa lei, a CBF tirou o peso dos clubes. Federações passaram a ter peso 3, clubes da Série A peso 2, clubes da Série B peso 1. Na prática, significa que as federações escolhem sozinhas o presidente da CBF. Era o que o então presidente da CBF queria.
O movimento era considerado ilegal, porque essa decisão foi tomada a portas fechadas apenas com as federações, sem os clubes. Os clubes teriam todos os motivos para não aceitarem isso, certo? Pois aceitaram. O que eles pediram foi muito pouco: apoio da CBF à liga para organizar o Campeonato Brasileiro. Pediram ainda a mudança do diretor de competições. Pouquíssimo. E sem garantia alguma, inclusive.
Os clubes foram omissos, trocaram o poder político por uma promessa vazia. E, até agora, não conseguiram formar liga alguma. Esse acordo aconteceu em 2022, depois da passagem de Rogério Caboclo pela CBF – com uma eleição considerada irregular, o que o tirou do cargo, além de escândalos que pesaram para que ele saísse.
Desde então, Ednaldo Rodrigues assumiu o cargo e vem se mantendo ali, graças a um acordo no STF, mesmo com um claro conflito de interesse em quem julgou. Os clubes, como sempre omissos e burros, nunca se opuseram a Ednaldo mesmo assim.
Em 2025, teremos um problema de calendário imenso: as duas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro batem com as datas do Intercontinental da Fifa (o antigo Mundial de Clubes anual). O torneio começa no dia 10 de dezembro e o Brasileirão vai até o dia 21 do mesmo mês. Os jogos envolvendo o campeão da Libertadores serão nas mesmas datas das rodadas 35, 36 e 37 do Brasileirão. O que a CBF irá fazer? Ela não sabe e vai discutir com os clubes, segundo Ednaldo.
É só mais uma pílula de estupidez da CBF na gestão do futebol brasileiro. Temos os estaduais, que ocupam um espaço inaceitável do calendário (e na prática já deveriam ter virado a Série E do Brasileiro sem os clubes de divisões acima); temos os problemas com a arbitragem, sem padrão, sem critério, sem treinamento adequado; temos o problema dos gramados, sempre problemáticos e sem padronização.
Enfim, temos muitos problemas graves que não são resolvidos. São constantemente jogados para baixo do tapete por dirigentes sedentos por poder na CBF – Ednaldo é só mais um deles –, por federações mais preocupadas com a mesada da CBF do que com o futebol do seu estado e por clubes omissos e burros, que se apequenam para jogar a culpa na CBF sempre que conveniente, sem, porém, querer resolver nada.
Por tudo isso, o futebol brasileiro perdeu sem ter nem possibilidade de concorrência para Ednaldo. Espero que os clubes tenham percebido a burrice que é não trabalharem juntos, formar uma liga e se tratarem como sócios, não como inimigos, e assumirem a gestão do Campeonato Brasileiro para começar a resolver esses problemas.
Vai demorar mesmo que comece agora, mas vai demorar mais ainda se não começar. Parece que finalmente os clubes entenderam que ter dois grupos, LFU e Libra, e caminham para formar uma liga. Algumas vozes mais racionais começaram a ser ouvidas para que tudo isso saia do papel. Espero que tenha chegado a hora de deixarem os conflitos entre si e passarem ao conflito que realmente importa: com a CBF.
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Um breve histórico de cada um dos quadrifinalistas europeus de 2024/25
Conheça um pouco da história dos times que chegaram às quartas de final das competições europeias
Por Leandro Stein
- Aston Villa: O Aston Villa possui um aproveitamento muito bom em competições europeias. Em 17 participações, seis vezes os Villans chegaram às quartas de final. A mais recente aconteceu na última temporada, pela Conference League. E foi nas quartas de final que os ingleses pararam sua defesa de título na Champions 1982/83. O Villa passou por Besiktas e Dinamo Bucareste, mas sucumbiu diante de uma fortíssima Juventus. Os italianos ganharam por 2 a 1 dentro do Villa Park e complementaram a classificação com os 3 a 1 em Turim. Depois da eliminação, os Villans esperaram 41 anos até o retorno à Champions nesta temporada, para de novo se colocarem entre os oito melhores.
- Paris Saint-Germain: As quartas de final marcaram um rito de passagem para o PSG durante os anos 1990, quando o clube consolidou sua relevância além das fronteiras. Foi nesta fase que os parisienses eliminaram o Real Madrid duas vezes, na Copa da Uefa 1992/93 e na Recopa 1993/94, assim como despacharam o Barcelona na Champions 1994/95 – alcançando pela primeira vez as semifinais do principal torneio continental. Todavia, as quartas de final também representaram um trauma para o início do período catariano. Foram quatro eliminações consecutivas de 2012/13 a 2015/16 – para Barcelona, Chelsea, de novo Barcelona e Manchester City. A barreira só foi quebrada em 2019/20, com a campanha inédita à final, algo repetido de novo em 2023/24.
- Arsenal: Ao lado do PSG, o Arsenal é um dos únicos dois quadrifinalistas da Champions 2024/25 que nunca foram campeões. E as quartas de final representam algumas das melhores oportunidades desperdiçadas pelos Gunners no passado. É bastante lembrado que os Invincibles não passaram das quartas de final da Champions 2003/04, quando o Chelsea de Claudio Ranieri frustrou os planos do timaço de Arsène Wenger. Em 2000/01, o Arsenal possuía qualidade e sucumbiu para o Valencia nas quartas. Aquela era a melhor campanha dos londrinos na Champions em quase 30 anos. Afinal, em 1971/72, o time que conquistara a dobradinha entre Campeonato Inglês e FA Cup na temporada anterior também parou nas quartas. O problema foi encarar o Ajax de Johan Cruyff rumo ao bicampeonato continental.
- Real Madrid: O Real Madrid completa 49 aparições em quartas de final das competições europeias, em 68 participações no total. Um dia as oitavas de final já representaram um pesadelo para os merengues, com as seis eliminações consecutivas nesta etapa da Champions de 2004/05 a 2009/10. Desde que a sina foi encerrada em 2010/11, os madridistas quase sempre bateram cartão entre os oito melhores do torneio: só não foram quadrifinalistas duas vezes, eliminados por Ajax em 2018/19 e Manchester City em 2019/20. E, curiosamente, não caíram nas quartas de final uma vez sequer neste intervalo. É preciso voltar para 2003/04, na surpreendente classificação do Monaco, para recordar a última vez em que ser quadrifinalista foi o limite para os maiores campeões da Europa.
- Borussia Dortmund: O aproveitamento do Borussia Dortmund em quartas de final europeias é positivo: em 16 aparições anteriores nesta fase, os aurinegros passaram às semifinais em nove ocasiões. Contra espanhóis, esse desempenho sobe para 75%. Nas últimas duas campanhas até a decisão da Champions, em 2012/13 e 2023/24, o BVB superou respectivamente o Málaga e o Atlético de Madrid. Os colchoneros também foram as vítimas nas quartas de final durante a Recopa 1965/66, quando o Dortmund se sagrou campeão europeu pela primeira vez. O único a quebrar esta escrita foi o Real Madrid, que seguiu em frente num renhido duelo em 2013/14. Foi nas quartas de final de 1997/98 que o Dortmund ainda conquistou uma classificação sobre o carrasco Bayern de Munique, embora os então campeões europeus tenham sido parados pelo Real Madrid na fase seguinte.
- Barcelona: O Barcelona totaliza 45 aparições em quartas de final europeias, em suas 67 campanhas além das fronteiras na história. Atualmente há um trauma associado a esta fase, diante da amarga lembrança dos 8 a 2 aplicados pelo Bayern de Munique na Champions 2019/20 – a última vez que o Barça atravessou a barreira das quartas foi justamente na temporada anterior, diante do Manchester United em 2018/19. Apesar disso, também foi nas quartas de final da Champions que os blaugranas deram uma de suas primeiras provas de grandeza europeia. Em sua primeira participação no torneio, em 1959/60, o time de Helenio Herrera aplicou 9 a 2 agregados sobre o Wolverhampton, potência inglesa nos anos 1950. Os 4 a 0 no Camp Nou foram seguidos pelos 5 a 2 no Molineux, com direito a quatro gols de Sándor Kocsis. A campanha foi encerrada nas semifinais, diante do Real Madrid.
- Bayern de Munique: O Bayern tem 57 participações em competições continentais. Em nada menos que 46 delas os bávaros alcançaram as quartas de final. Este foi o limite para o Bayern em sua estreia, na Taça das Cidades com Feiras de 1962/63, quando foi eliminado pelo Dinamo Zagreb. Já na segunda participação, os alemães logo abocanharam a conquista da Recopa Europeia 1966/67 – num título importantíssimo para que o clube se estabelecesse de fato como uma potência. Na Champions, o Bayern sucumbiu logo nos 16-avos de final em sua primeira aparição, eliminado em 1969/70 pelo Saint-Étienne, que na mesma temporada foi tetracampeão francês. Em compensação, depois disso, os alvirrubros foram ao menos quadrifinalistas da Champions nas 18 participações seguintes. A série só foi quebrada em 2002/03, com a queda precoce na fase de grupos.
- Internazionale: A Inter possui um retrospecto muito bom contra alemães em quartas de final europeias. Os times campeões da Copa da Uefa em 1993/94 e em 1997/98 despacharam nesta fase, respectivamente, Borussia Dortmund e Schalke 04. Também foi nesta etapa que os interistas bateram o Bayer Leverkusen rumo ao vice da Liga Europa 2019/20. Em campanhas não tão marcantes, chegaram a eliminar ainda Colônia e Hertha Berlim. A única eliminação, entretanto, é justamente o duelo mais lembrado: o Schalke 04 impediu o sonho de mais um título continental em 2010/11, após a tríplice coroa na temporada anterior. A memória positiva que fica é que, nas oitavas daquela campanha, a Beneamata derrotou justamente o Bayern de Munique – vítima também da final em 2010.
- Bodo/Glimt: O Bodo/Glimt repete a sua melhor campanha em competições europeias, quando disputou as quartas de final da Conference League 2021/22. Pega outro romano, tentando dar um desfecho diferente à dolorosa reviravolta da Roma naquela ocasião. Se superar a Lazio desta vez, o Raio registrará a primeira semifinal da história do futebol norueguês em um torneio da Uefa. O Rosenborg parou nas quartas de final da Champions 1996/97, enquanto Brann, Lyn e Valerenga foram quadrifinalistas da extinta Recopa. Como feito inédito já registrado, o Glimt é o primeiro representante da Noruega a se colocar entre os oito melhores de um torneio continental mais de uma vez.
- Lazio: A Lazio possui um título de Recopa e um vice de Copa da Uefa nos anos 1990, mas sua presença em quartas de final europeias é relativamente escassa. Esta será a oitava aparição, em 30 temporadas em competições da Uefa. Neste século, será apenas a quarta vez que os laziali chegam tão longe, e somente uma vez conseguiram passar às semifinais – quando caíram diante do Porto de José Mourinho na Copa da Uefa 2002/03. Depois disso, as quartas de final foram o limite na Liga Europa 2012/13, contra o Fenerbahçe, e na Liga Europa 2017/18, diante do Red Bull Salzburg.
- Eintracht Frankfurt: As quartas de final podem nem significar muito ao Eintracht Frankfurt na Liga Europa, após o título em 2021/22 e ainda as semifinais em 2018/19. Nas duas ocasiões, aliás, as Águias foram capazes de eliminar camisas pesadas. A classificação diante do Benfica em 2019 representou a melhor campanha dos alemães num torneio da Uefa em 39 anos, desde o título da Copa da Uefa 1979/80. Tal parâmetro seria de novo alcançado três anos depois, com a inesquecível vitória sobre o Barcelona dentro do Camp Nou por 3 a 2, com as arquibancadas tomadas por mais de 30 mil torcedores visitantes. Foi o triunfo que embalou os alemães à nova glória.
- Tottenham: O Tottenham chegou à final da Champions League em 2018/19, mas a Liga Europa é a competição que realmente representa suas glórias continentais, ainda nos tempos de Copa da Uefa. O primeiro sucesso dos Spurs aconteceu com o título da Recopa 1963/64, mas também foram campeões da Copa da Uefa em 1971/72 e 1983/84, além de vices em 1973/74. E nestes anos de bonança, o Eintracht Frankfurt traz um bom agouro: os alemães foram eliminados pelo Tottenham nas quartas de final da Recopa 1981/82, com vitória londrina por 2 a 0 em White Hart Lane e derrota por 2 a 1 no Waldstadion. Os ingleses pararam nas semifinais, diante do Barcelona, mas naquela temporada faturaram um célebre bicampeonato da FA Cup.
- Athletic Bilbao: O Athletic é uma potência espanhola um tanto quanto adormecida, que viu sua força se diluir ao longo das décadas. Isso se nota também nas competições europeias. Em 30 participações continentais, os Leones chegaram às quartas de final em oito oportunidades. As quatro primeiras vieram em suas cinco aparições iniciais, com destaque à estreia como quadrifinalistas da Champions 1956/57, tirando o Honvéd e parando no Manchester United. As únicas decisões europeias dos bascos, todavia, vieram depois disso. Para chegar à decisão da Copa da Uefa 1976/77, tiraram o Barcelona nas quartas de final. Já na Liga Europa 2011/12, se impuseram diante do Schalke 04.
- Rangers: Nos últimos 30 anos, o Rangers três vezes atingiu as quartas de final em competições europeias, contando esta. Nas duas anteriores, conseguiu ir muito além e disputou duas decisões – apesar das derrotas para o Zenit na Copa da Uefa 2007/08 e para o Eintracht Frankfurt na Liga Europa 2021/22. Sporting e Braga foram os eliminados pelos Teddy Bears em ambas as ocasiões. Antes disso, foram dez quartas de final entre 1960 e 1988, com cinco classificações – que garantiram um título da Recopa e dois vices no mesmo torneio, além de uma semifinal na Champions e uma na Copa da Uefa.
- Lyon: Chegar às quartas de final da Champions já foi um hábito ao Lyon durante seu período mais glorioso. Foram três aparições consecutivas de 2003/04 a 2005/06, com quedas diante de Porto, PSV e Milan. Depois disso, os Gones ainda ultrapassaram esta fase com os times semifinalistas de 2009/10 e 2019/20. Os franceses ainda foram quadrifinalistas da Liga Europa / Copa da Uefa quatro vezes. E, numa história menos lembrada, nos anos 1960, o Lyon conseguiu duas campanhas até pelo menos as quartas da antiga Recopa Europeia – com direito a uma classificação sobre o Hamburgo em 1963/64, antes da queda para o Sporting nas semifinais.
- Manchester United: O Manchester United completa 30 aparições em quartas de final europeias nesta temporada, e teve um desempenho marcante em suas primeiras empreitadas continentais. Foram sete campanhas como quadrifinalista nas primeiras sete participações além das fronteiras – incluindo ainda cinco semifinais e o título da Champions em 1967/68. Chegar tão longe se tornou mais raro a partir de então, até o início dos sucessos com Sir Alex Ferguson nos anos 1990. Entretanto, na baixa recente, quartas de final aos Red Devils viraram sinônimo de Liga Europa. Nas últimas seis vezes que o United chegou a esta etapa de um torneio continental, cinco foram no certame secundário – com exceção à Champions 2018/19.
- Jagiellonia Bialystok: Clube de ascensão recente, o Jagiellonia fez sua estreia nos torneios da Uefa em 2010/11. Desde então, são seis participações, e a atual Conference marca o melhor desempenho da história dos aurirrubros. Com tal feito, o Jagiellonia se transforma no nono clube polonês distinto a ser quadrifinalista nas copas europeias. Górnik Zabrze, Lech Poznan, Legia Varsóvia, Ruch Chorzow, Slask Wroclaw, Stal Mielec, Widzew Lodz e Wisla Cracóvia foram os outros, com as campanhas concentradas no período de bonança da Polônia entre os anos 1970 e 1980. Só três deles, contudo, deram um passo além e disputaram também as semifinais continentais.
- Betis: O Betis possui uma tradição inegável e uma torcida fanática, mas sua história continental é assombrada pelos troféus do rival Sevilla. A Conference se torna uma chance de se redimir, dado o ótimo desempenho do time de Manuel Pellegrini. Esta é apenas a terceira vez que os verdiblancos se tornam quadrifinalistas continentais, e nunca conseguiram ultrapassar tal barreira. As ocasiões anteriores foram no século passado. Na Recopa 1977/78, depois de despacharem Milan e Lokomotive Leipzig, os beticos pararam no Dinamo Moscou. Já em 1997/98, o limite da Recopa foi o Chelsea. Depois de 27 anos, o horizonte reaparece.
- Celje: O Celje é um pioneiro para o futebol da Eslovênia. Nunca um time do país havia disputado mata-matas continentais e, não contente, a equipe já se impõe logo nas quartas de final. Nas cinco aparições europeias anteriores, o Celje nem tinha jogado fase de grupos. Dá para discutir se o currículo do Maribor é mais imponente, duas vezes nos grupos da Champions e outras três na Liga Europa. Fato é que a Conference se tornou uma porta aberta a essas nações menores. Não à toa, os também eslovenos Mura e Olimpija Ljubljana (este, a grande força da república nos tempos iugoslavos) puderam fazer suas estreias em fases de grupos europeias desde a criação da nova competição da Uefa.
- Fiorentina: A Conference League se tornou um terreno fértil para a Fiorentina, primeira potência da competição. A Viola alcança as quartas de final pela terceira vez em quatro edições, e tentará um desfecho menos amargo que os vices consecutivos de 2023 e 2024. Em toda a sua história anterior, a equipe italiana possui 11 aparições em quartas de final europeias, com uma taxa de sucesso impactante: são 10 classificações, que levaram ao título da Recopa 1960/61 – além dos vices também na Champions 1956/57, na Recopa 1961/62 e na Copa da Uefa 1989/90. A única eliminação da Fiorentina em quartas de final aconteceu em 1969/70, na Champions, diante do lendário Celtic de Jock Stein.
- Legia Varsóvia: Como dito, o Legia Varsóvia é um dos nove poloneses que alcançaram quartas de final continentais em sua história. Também é, com sobras, o mais bem-sucedido neste sentido. O clube se torna quadrifinalista pela sétima vez, todas as outras no século passado. O maior destaque fica para a Champions 1969/70, quando tirou Saint-Étienne e Galatasaray, antes da queda para o futuro campeão Feyenoord nas semifinais. Já na Recopa 1990/91, depois de derrubar a Sampdoria, o Manchester United frustrou os planos na semifinal. A última jornada tão longa ocorreu na Champions 1995/96, quando o Legia superou Blackburn, Spartak Moscou e Rosenborg na fase de grupos, mas não resistiu ao Panathinaikos nas quartas. Neste século, o único polonês quadrifinalista tinha sido o Lech Poznan, na Conference 2022/23. Claramente o torneio oferece oportunidades.
- Chelsea: O Chelsea é o time ainda vivo na Conference com mais sucessos continentais, totalizando 21 campanhas até as quartas de final. E tal imponência vem desde antes dos tempos endinheirados de Roman Abramovich. Foram sete empreitadas como quadrifinalista até a venda do clube em 2003. Tal histórico contempla os dois títulos na Recopa, contra o Real Madrid em 1970/71 e contra o Stuttgart em 1997/98. Nas 20 ocasiões anteriores, foram só cinco quedas nas quartas de final. Tal aproveitamento dos Blues até piorou nos últimos anos, com as eliminações para o Real Madrid nas Champions 2021/22 e 2022/23.
- Djurgardens: O Djurgardens estabelece a maior quebra de jejum destas quartas de final europeias: foram 69 anos sem chegar tão longe em um torneio continental. A última vez que os suecos foram quadrifinalistas ocorreu exatamente na primeira edição da Champions, em 1955/56. Eliminaram o Gwardia Varsóvia, antes da derrota para o Hibernian. Desde então, foram 20 campanhas sem a mesma duração. Também fazia tempo que um representante da Suécia não era quadrifinalista, desde o AIK na Recopa 1996/97. Ao todo, o país já teve seis clubes distintos em quartas de final da Uefa – contando também IFK Göteborg, Malmö FF, IFK Malmö e Atvidabergs. Somente os dois primeiros têm semifinais na história.
- Rapid Viena: O Rapid Viena é um clube de história riquíssima, algo que se reflete nas competições europeias. Os alviverdes totalizam nove quartas de final continentais, mas as oito anteriores no século passado. Não iam tão longe desde a Recopa 1995/96, quando um forte time terminou com o vice, diante do PSG. O Rapid ainda tem um vice na Recopa 1984/85, superado pelo Everton, e as semifinais da Champions 1960/61, eliminado pelo Benfica. Oito clubes austríacos já foram semifinalistas em torneios da Uefa: Admira Wacker, Austria Viena, Casino/Red Bull Salzburg, Tirol Innsbruck, Sturm Graz, Wacker Innsbruck e Wiener Sportklub, além do Rapid. Neste século, no entanto, só havia acontecido duas vezes – com o Austria Viena na Copa da Uefa 2004/05 e com o Salzburg na Liga Europa 2017/18.
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Que edição maravilhosa. Análises de qualidade, curiosidades e muito repertório.