PSG x Inter, a final de projetos distintos
A final da Champions League oferece o grande evento do final de semana e o tema principal da Newsletter Meiocampo, que fala ainda de Libertadores, Sul-Americana e se despede de La Bruja Verón
Newsletter Meiocampo - 30 de maio de 2025
Já bateu a ansiedade pela final da Champions League por aí? Então aproveite para ler a nova edição da Newsletter Meiocampo, que fala sobre as diferenças dos projetos que almejam ser campeões na Internazionale e no Paris Saint-Germain. Aproveite também para ouvir o podcast desta sexta e, se der, assistir à decisão com a gente no sábado, no Capitolo Bar e Cozinha - saiba mais abaixo. Além da Champions, fazemos nosso tradicional giro (com muito do mercado de transferências), falamos das dificuldades dos brasileiros na Libertadores e na Sul-Americana, trazemos o roteiro do final de semana e prestamos tributo no adeus ao lendário Juan Ramón “La Bruja” Verón. Aproveite!
Sugestões, críticas, elogios, quer só mandar um abraço: contato@meiocampo.net. E para reforçar: as edições de terça-feira da newsletter e eventuais extras são exclusivas para assinantes. Às sextas-feiras, continua o conteúdo gratuito aberto ao público. E atenção: como esta edição da newsletter ficou maior do que o normal, a leitura é limitada por e-mail. O texto completo pode ser visualizado no Substack.
Veja a final da Champions com o Meiocampo em São Paulo!
No sábado, dia 31 de maio, vamos estar no Capitolo Bar e Cozinha a partir de 14h, para acompanhar a final da Champions League entre PSG e Internazionale. Teremos um pré-jogo para bater um papo, tomar uma cerveja e comer os petiscos do Capitolo. Depois, veremos o jogo com áudio da transmissão, a partir das 16h. Já o pós-jogo terá a gravação de um podcast ao vivo! Presença confirmada de Matias Pinto, Felipe Lobo, Leandro Stein e Bruno Bonsanti.
Quem colocar o nome na lista e comparecer ganha um chope grátis!
O evento será no Capitolo Bar e Cozinha: Rua Alexandre Dumas, 1129, Santo Amaro, São Paulo. Clique no link e coloque seu nome na lista: https://forms.gle/rRG4Ya3UG91Srz4h8
PSG e Inter duelam pela consagração de dois projetos opostos
Por trás do confronto, está a chance de provar que supertimes e coletivos bem montados ainda fazem a diferença na Europa
Por Felipe Lobo
A final entre Paris Saint-Germain e Inter na Champions League representa o sonho em comum. De um lado, o clube francês tenta conquistar seu primeiro título, que seria histórico para a instituição e para o projeto esportivo. Para os italianos, a taça significaria a coroação de um grande trabalho, capaz de impulsionar o futebol do país.
Os parisienses buscam conquistar a Europa pela primeira vez, em um projeto que já dura 14 anos de investimentos do Catar. Foram anos contratando superestrelas para chamar a atenção. De Ibrahimovic a Messi, passando por Neymar, a estratégia parecia mais juntar o maior número possível de astros do que formar um time competitivo.
Essa lógica mudou com Luis Enrique, que culminou nas saídas de Neymar e Messi. Mesmo perdendo Mbappé, conseguiu fazer o time evoluir em vez de regredir. O PSG já havia sido semifinalista na temporada passada, 2023/24, quando caiu para o Borussia Dortmund. Desta vez, avança novamente e chega como favorito, tanto pelo futebol apresentado quanto pelos resultados.
A transformação do PSG não passou por uma redução de gastos, já que o clube continua investindo alto. Khvicha Kvaratskhelia custou €70 milhões e foi um dos principais jogadores do Napoli, mas não tem o status de estrela como Mbappé ou como foram Neymar e Messi. Terá de provar que pode alcançar esse nível justamente no PSG, o que representa um desafio significativo.
Outros que chegaram foram João Neves (€60 milhões), Désiré Doué (€50 milhões), Willian Pacho (€40 milhões) e Matvey Safonov (€20 milhões). Todos tiveram papel relevante, até mesmo o goleiro Safonov, contratado para ser reserva de Donnarumma e que deu competitividade à posição, deixando o italiano no banco em alguns jogos nesta temporada.
Apesar de seguir gastando alto, o perfil das contratações mudou: a ideia agora é montar um elenco equilibrado, com atletas que reforcem o time em todas as posições. Nenhum desses nomes é uma estrela mundial, mas todos têm potencial. Bem diferente do que se via em anos anteriores, quando a repercussão parecia mais importante do que o desempenho em campo.
A conquista do título simbolizaria que o PSG finalmente alcançou seu objetivo fazendo o mais lógico: priorizar a construção de uma equipe equilibrada e promissora, em vez de montar uma seleção de estrelas.
Simone Inzaghi em busca da coroação definitiva
A Inter tem um dos elencos mais robustos da Europa. Não por reunir grandes estrelas, mas por contar com um time homogêneo, com um coletivo forte no time titular e reservas que mantêm um nível semelhante. Isso se deve muito ao trabalho do técnico Simone Inzaghi.
Ele assumiu a equipe em 2021, substituindo Antonio Conte, e conseguiu aprimorar o desempenho do time. Está em seu quarto ano no comando, com seis títulos conquistados: um Campeonato Italiano, duas Copas da Itália e três Supercopas. Também levou a Inter à final da Champions League em 2023, em que fez uma grande partida, mas perdeu para o Manchester City.
A base finalista de 2023 mudou pouco. Saíram André Onana, Marcelo Brozovic e Edin Dzeko, e entraram Yann Sommer, Henrikh Mkhitaryan e Marcus Thuram. Na prática, o time evoluiu. Mesmo enfrentando altos e baixos, demonstrou capacidade de superação e crescimento diante das adversidades.
Conquistar a Champions League, após bater na trave em 2023, seria a consagração de um dos melhores trabalhos técnicos da Europa. Se há dois anos a chegada à decisão soava como surpresa, desta vez é possível afirmar que a Inter foi uma das melhores equipes do continente — e que segue competitiva.
A vitória também mostraria que a Serie A pode não ter o mesmo poder de outrora, especialmente até os anos 1990, mas voltou a ser uma liga forte, equilibrada e com clubes de qualidade. A presença da Inter na final e o Napoli campeão italiano mostram esse novo fôlego. Outros clubes, como Juventus, Roma e Milan, também buscam retomar o protagonismo europeu.
Embora os italianos não disponham do poder financeiro da Premier League, a Serie A segue sendo uma liga de tradição e, com bons projetos, pode alcançar grandes feitos. Simone Inzaghi provou que é possível — e isso deve inspirar os rivais italianos a elevar o nível.
PSG e Inter se enfrentam neste sábado, 31 de maio, às 16h (horário de Brasília), com transmissão do SBT na TV aberta e da TNT Sports na TV por assinatura. No streaming, a partida será exibida pelo Max.
🎧PODCAST MEIOCAMPO #136
A final da Champions League acontece neste sábado entre PSG e Inter e fazemos uma prévia do jogo. Também falamos sobre o final da fase de grupo da Libertadores e da Sul-Americana. Quem foi bem e quem decepcionou? Ainda tem novidades no mercado de transferências.
Ouça também no Spotify, iTunes ou no seu tocador de preferência.
A Sul-Americana traz mais dificuldades para o Brasil do que a Libertadores
Por Leandro Stein
Muito se fala sobre o domínio econômico do Brasil nas competições continentais, e a Libertadores oferece argumentos concretos há bons anos. Basta ver a lista de campeões. Embora a fase de grupos e as próprias fases preliminares ofereçam suas cascas de banana, é apenas uma pequena parcela de brasileiros que fica pelo caminho tão cedo. Em 2025, por exemplo, apenas o Corinthians pode ser considerado um fracasso. O Bahia, apesar da eliminação no Grupo F, tinha uma das chaves mais difíceis e um gargalo mais estreito contra outro adversário do país, o Inter. Que alguns tenham avançado na segunda colocação, cumpriram a tarefa mesmo com instabilidades e um futebol abaixo da demanda. A mesma tranquilidade não se notou na Copa Sul-Americana.
O Brasil que domina a Libertadores é o mesmo que divide o protagonismo com outros vizinhos na Sul-Americana. A lista de campeões também é um indício neste caso, com somente três títulos do Brasil na Sula e os últimos três vices consecutivos. Dá para se discutir a importância que os brasileiros dão à competição secundária, num momento em que já vêm desgastados pelos estaduais, bem como aumentam o foco no Brasileirão e na Copa do Brasil. Além do mais, que o predomínio financeiro ainda exista (porque, afinal, o segundo escalão dos demais países costuma ser até mais modesto), os representantes do Brasil geralmente vêm de campanhas anteriores de medianas para ruins na Série A e passam por processos de mudanças.
Se os clubes brasileiros na Sul-Americana não trocaram de técnico já na virada do ano, após não conquistarem a vaga para a Libertadores, muito provavelmente eles o fizeram na própria temporada diante da mínima crise durante os estaduais. Os postulantes do Brasil na Sula são um reflexo da política da Conmebol em inchar seus torneios, apelando a times da metade inferior da tabela da Série A para ampliar o escopo. Mesmo que a classificação aos mata-matas continentais seja tratada como obrigação pela diferença financeira e inclusive de tradição em relação aos oponentes, não é que os brasileiros atravessem o momento mais estável.
O formulismo da Conmebol, além disso, dificulta a classificação de qualquer um na Copa Sul-Americana. Vale lembrar que já foi até pior, quando apenas o líder de cada grupo avançava, em 2021 e 2022. O cenário melhorou com a repescagem criada aos vice-líderes a partir de 2023, mas não que o atalho pareça tão atrativo, especialmente num calendário inchado por outros tantos fatores. A própria mamata aos terceiros colocados da Libertadores é algo que merecia revisão, numa repescagem que soa mais como cópia do que acontecia na Champions League do que realmente uma necessidade.
Se a Conmebol não ajuda a Sul-Americana a ser sempre valorizada como deveria, não é que os clubes brasileiros se ajudam também. Feitas todas as ponderações, a campanha do país nesta temporada do certame, no geral, é bastante fraca. Basta lembrar que, em uma das rodadas, o Brasil saiu com zero vitórias na competição. E o reflexo disso veio na tabela de classificação: o Fluminense foi o único a avançar em primeiro. Atlético Mineiro, Vasco e Grêmio jogarão os playoffs. Corinthians, Vitória e Cruzeiro estão eliminados.
A queda do Vitória é a mais dolorosa, pela maneira como aconteceu diante da falha clamorosa de Lucas Arcanjo, mas também a mais compreensível por ser um clube que ainda se reestrutura na elite nacional. As outras não se desculpam. O Cruzeiro largou mão da competição depois dos primeiros resultados ruins e o bom início no Brasileirão até desvia o foco do papelão, de quem vinha do vice-campeonato no torneio. Já o Corinthians acumulou o segundo fracasso na mesma temporada continental. Que se pese o grupo mais difícil justamente por vir do Pote 4, não se desculpa a forma como o time patinou.
Dos classificados, o Fluminense foi o único a entender a competição e a saber como dosar forças, também com a tranquilidade de quem possui uma Libertadores recente na sala de troféus. O Tricolor tornou seu grupo mais tranquilo do que o sorteio fez imaginar. Grêmio e sobretudo Vasco tiveram seus percalços, mas nada que surpreenda diante da temporada de ambos, e os gaúchos até poderiam ser líderes, não fosse o excesso de empates. Já o Atlético Mineiro fica com menos desculpas pelo nível de investimento, especialmente quando a liderança não veio por conta do empate em casa com o Cienciano nesta rodada decisiva. É pouco. Jogar os playoffs tem seu custo, principalmente pelo desgaste.
O Brasil vai para os mata-matas da Copa Sul-Americana com cinco times, máximo ao lado dos cinco da Argentina – que, em compensação, pegou quatro lideranças na fase de grupos, com Huracán, Independiente, Lanús e Godoy Cruz. Um novo torneio começa na fase decisiva e as chances dos brasileiros até aumentam com a inclusão do Bahia, talvez o mais credenciado por elenco dentre os eliminados da Libertadores. Fato é que, atualmente, a Sul-Americana traz mais dificuldades para o Brasil do que a Libertadores, onde os participantes geralmente são mais organizados e mais acostumados à pressão continental. Entre os desafios nem sempre tão explícitos da Sula, os remendos dos participantes do país e uma empolgação que demora a se efetivar, os tropeços acontecem de forma mais precoce. Aumentam a pressão de uma temporada que normalmente já vinha mambembe, mas sempre pode piorar.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para apoiadores, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. A edição extra desta quarta-feira fala sobre o Chelsea campeão da Conference e o Betis vice. Confira!
Giro
Por Bruno Bonsanti e Leandro Stein
- O Rosario Central acompanhou Ángel Di María em várias glórias de sua carreira, não só pelo coração inegavelmente auriazul, mas também impregnado na pele: há quase dez anos, o craque tatuou o escudo do clube na perna. Nunca foi segredo o desejo do ponta em voltar ao Gigante de Arroyito, onde surgiu como jogador e criou asas, algo esperado sobretudo desde sua saída da Juventus. Contudo, a violência em Rosário e a possibilidade de reeditar outro amor no Benfica adiaram o reencontro com os canallas. A prometida volta enfim se concretizou nesta semana, com juras de amor e a expectativa por aquele que, desde já, será o melhor jogador em atividade no Campeonato Argentino. Depois de tudo o que conquistou pela seleção e também na recheada carreira por clubes, Di María poderia muito bem se aposentar aos 37 anos. Havia um sonho de infância por cumprir. Vai ser muito bacana ver não só a devoção dos torcedores nas arquibancadas por seu representante em campo, bem como a maestria de Fideo nos gramados argentinos. Considerando os bons momentos que ainda teve no Benfica, sobretudo na temporada passada, a esperança se justifica. Futebol nunca faltou, nem coração.
- Todo técnico de vez em quando faz essa dança: expressa insatisfação para forçar a diretoria a investir em reforços, melhorar infraestrutura, lhe dar um aumento de salário ou uma assinatura premium da Netflix. O que torna Antonio Conte especial é que ele ama a dança. Vive pela dança. Nunca para de dançar. Dança a temporada inteira. E suas ameaças não são vazias. Se não estiver satisfeito com as concessões, pula fora. Não é à toa que nunca passou mais de três anos em um único clube. Também não é à toa que, quando deu um abraço frio em Aurelio de Laurentiis na comemoração do título, entre rumores de que estava de saída do Napoli, todo mundo acreditou que ele realmente abandonaria o clube em que havia acabado de ser campeão. Não seria bom para o Napoli, que praticamente jogou uma temporada fora para contratar Conte - e provou que estava certo em fazê-lo. Também não seria bom para Conte, que precisa (pelo menos tentar) treinar um clube sem atear fogo em tudo que passa pela sua frente. Segundo a imprensa italiana, De Laurentiis lembrou que Kevin de Bruyne está próximo de ser contratado, prometeu reinvestir todos os € 75 milhões que recebeu por Kvaratskhelia em janeiro e também o que conseguir por Osimhen, além de um aumento de salário e reformas nos campos de treinamento. Até que não ficou tão caro manter Conte porque o elenco precisa mesmo ser reforçado, campeão mais pelo excelente trabalho do seu treinador do que por qualidade bruta.
- O Milan vive um momento muito estranho. Olhando para seus resultados recentes, dá para considerar a última temporada apenas um acidente de percurso. Foi campeão italiano, vice duas vezes, chegou a uma semifinal de Champions League e a uma decisão de Copa Itália. Então por que nunca pareceu que estava no caminho certo? Que havia um bom projeto em andamento? Que uma hora retornaria a um patamar mais condizente com sua história? Talvez porque sua política de mercado segue mais a linha do “por que não?” do que uma estratégia coerente: quando um jogador de certo calibre fica disponível, parece que o Milan levanta os ombros, fala por que não, e traz. Cinco anos atrás, ficou próximo de entregar o seu departamento de futebol nas mãos de Ralf Rangnick, mas uma ótima arrancada após a pausa da pandemia o convenceu a manter o curso com Stefano Pioli. Não dá para dizer que foi uma decisão ruim, nem pelo que Pioli conquistou, nem pelo que Rangnick não conseguiu fazer em situação parecida no Manchester United. Mas Pioli bateu com a cabeça no teto, e Sérgio Conceição não passará de uma trívia na história rossonera. Massimiliano Allegri está de volta ao clube em que conquistou seu primeiro Scudetto, em 2011. O seu futebol nem sempre gera alegria, e a última passagem pela Juventus foi medíocre, mas ele tem o pedigree de um dos técnicos mais competitivos e eficientes da Serie A e tamanho suficiente para talvez apontar um caminho para o heptacampeão europeu.
- O Real Madrid anunciou oficialmente a contratação de Trent Alexander-Arnold, encerrando uma longa novela que todo mundo sabia como terminaria. É mais um reforço para um setor que os espanhóis negligenciaram nos últimos anos, depois do zagueiro Dean Huijsen, e dá água na boca imaginar como ele se encaixará no esquema de Xabi Alonso. Tem características diferentes em relação a Jeremie Frimpong, curiosamente, o seu substituto em Anfield. Menos explosão e profundidade, mais visão de jogo e armação. Quando sair da ala direita e levantar a cabeça, terá alvos como Vinicius Junior, Kylian Mbappé e o amigo Jude Bellingham para tentar acertar com os seus passes e lançamentos, capaz de dar dimensão totalmente diferente a um ataque que pareceu um pouco desconjuntado e excessivamente dependente do cada um por si na última temporada com Carlo Ancelotti. E talvez um esquema com três zagueiros ajude a compensar as suas deficiências defensivas.
- O Liverpool conseguiu arrancar € 10 milhões para liberar Alexander-Arnold um mês antes do fim do seu contrato porque o Real Madrid quer utilizá-lo no Mundial de Clubes a partir de 15 de junho. Foi uma negociação brilhante: esse valor cobre praticamente um terço do que pagou por Frimpong, também anunciado nesta sexta-feira. Embora um lateral direito tenha chegado no dia em que outro saiu, o Liverpool não o está tratando como um substituto direto. Quer pelo menos tentar dar chances a Conor Bradley e sabe que Frimpong pode praticar sua vocação ofensiva em mais de uma posição. Chegou até a atuar por dentro no Bayer Leverkusen. Quando estiver pela direita mesmo, uma movimentação comum será a disparada no corredor que sempre se abre quando Salah entra em diagonal para buscar a finalização ou o passe com a perna esquerda. Se as características ofensivas são diferentes, os sistemas de compensação terão que ser similares. Frimpong é um pouco melhor que Arnold na defesa. Mas não muito.
- Depois de perder Neymar, o Barcelona começou a inserir cláusulas de rescisão de € 1 bilhão nos contratos de suas principais promessas e/ou jogadores. Esse número tão alto, impossível de ser pago, é mais para ter controle, evitar que seja obrigado a vender quem não quer vender, como aconteceu com o brasileiro. Mas, olha, talvez Lamine Yamal realmente valha tudo isso. É difícil mensurar a preciosidade de um garoto de 17 anos que já tem 106 partidas como profissional e disputou muitas delas nos principais palcos do futebol, como a Eurocopa ou o mata-mata da Champions League, confortável como um adulto. Como os melhores adultos. Seus 25 gols e suas 28 assistências não chegam nem perto de traduzir o sentimento de ver Yamal partindo para a cima com a bola colada no pé, podendo encaixar qualquer drible, finalizar a qualquer momento, disparar para qualquer direção. Está garantido pelo menos até 2031, quando ainda terá apenas 23 anos, e deve receber o terceiro maior salário do Barcelona. Uma renovação rápida e sem novelas para deixar o clube sossegado antes de encarar o mercado. E segundo o Sport, não houve uma foto oficial da assinatura do contrato porque Yamal insistiu que a sua avó estivesse presente, o que é só fofo.
- Dos 16 classificados na Copa Libertadores, avançaram seis brasileiros e quatro argentinos. A Argentina, no entanto, teve mais consistência ao emplacar todos os quatro como líderes de seus grupos. Dentre os demais países, destaque aos dois classificados do Paraguai, com Libertad e Cerro Porteño. Equador, Uruguai, Colômbia e Peru avançam com um time de cada. Os peruanos, aliás, encerram um longo jejum na competição: desde 2013 nenhum representante do país aparecia sequer nas oitavas. O Universitario desbancou Independiente del Valle e Barcelona de Guayaquil para ser vice-líder de sua chave, retornando às oitavas pela primeira vez desde 2010. Vale mencionar ainda o Alianza Lima, que terminou repescado à Sul-Americana, mas eliminou o Boca Juniors nas fases preliminares e enfim volta a honrar sua tradição no torneio, após ficar 12 anos sem conseguir uma vitória sequer, de 2011 a 2023.
- A lista de classificados na Copa Sul-Americana, com 24 times, está bem diversa: cinco do Brasil, cinco da Argentina, três da Colômbia, três do Equador, dois da Bolívia, dois do Chile, dois do Peru, um do Paraguai e um do Uruguai. Só a Venezuela não emplacou ninguém. O olhar especial fica para os equatorianos, que fizeram dois líderes na fase de grupos. O Mushuc Runa avançou invicto e com a melhor campanha, somando 16 pontos na chave contra Palestino, Cruzeiro e Unión de Santa Fe. É a grata surpresa da competição. Já a Universidad Católica também segue invicta, com 14 pontos e a terceira melhor campanha. O outro representante vem da Libertadores, mas merece respeito: o Independiente del Valle, dono de dois troféus na Sula. Menções honrosas ainda ao San Antonio Bulo Bulo e ao Central Córdoba, repescados após a estreia na Libertadores, e ao Cienciano, líder de seu grupo e que traz na bagagem o título conquistado em 2003.
- Fernando Muslera por muito tempo pareceu um goleiro aquém da qualidade da seleção uruguaia, mas participou de grandes histórias na Celeste. Já no Galatasaray, ninguém duvida que o veterano é uma lenda. Muslera anunciou sua despedida dos Leões nesta semana, depois de 14 temporadas em Istambul. Ao longo dessa jornada, o uruguaio auxiliou o Gala a se isolar como maior campeão turco e também a fazer grandes campanhas na Champions League. Alcançou os 550 jogos pelo clube, boa parte deles como capitão, e conquistou nada menos que 19 títulos – sendo oito da Süper Lig. Embora nunca tenha sido um goleiro infalível, longe disso, Muslera teve temporadas excelentes com o Galatasaray e até prêmio de melhor da jogador na Turquia levou. As lágrimas no adeus são condizentes a quem para sempre será adorado pelos fanáticos turcos. Aos 38 anos, Muslera não pretende se aposentar, com rumores sobre uma ida ao Peñarol.
- Carlos Vela pode não ter se transformado no craque que alguns apostavam, mas se aposenta do futebol como um dos maiores nomes do futebol mexicano neste século. O atacante confirmou o fim de sua trajetória profissional nesta semana, após já ter deixado o Los Angeles FC na virada do ano. Embora nunca tenha estourado no Arsenal, Vela se reergueu para ótimas temporadas com a camisa da Real Sociedad, pela qual disputou 250 partidas. Já a partir de 2018, o mexicano se tornou a principal face do recém-criado LAFC e estreitou os laços do clube californiano com a comunidade latino-americana. Viveu momentos espetaculares na MLS, que renderam um título do campeonato e dois de melhor campanha na temporada regular, além de um prêmio de MVP. Foi tão marcante que, de imediato, se torna embaixador do clube. Talvez sua maior lacuna tenha sido mesmo na seleção mexicana. Disputou as Copas de 2010 e 2018, mas foi ausência em 2014 e teve relações turbulentas. Os 19 gols em 72 jogos por El Tri não dimensionam a imagem internacional que teve para o futebol do país.
- Aos 38 anos, Arda Turan dá os primeiros passos como treinador e constrói uma carreira bastante promissora. O ex-meia se aposentou pelo Galatasaray em 2022 e já em 2023 assumiu o Eyüpspor, clube modesto da Turquia que nunca tinha disputado a primeira divisão. Turan não apenas liderou o acesso inédito em sua primeira temporada completa à frente da equipe, como também teve uma campanha bem digna na estreia na elite, ao alcançar a sexta colocação. O Eyüpspor pode ter caído na reta final, sem conseguir vagas europeias após flertar com a classificação durante todo o campeonato, mas saiu em alta depois de resultados acima das expectativas, ao segurar até mesmo empates contra Galatasaray e Fenerbahçe. Arda Turan, por sua vez, descolou uma oportunidade melhor para a próxima temporada. Vai treinar o Shakhtar Donetsk, que busca se recuperar após o terceiro lugar no Campeonato Ucraniano, longe de competir com o campeão invicto Dynamo Kiev. Turan terá sua primeira experiência em torneios continentais na Liga Europa.
- Os playoffs de acesso / descenso costumam pender mais para os clubes que tentam evitar a queda, não para os que buscam a promoção, mas o Metz escreveu um final diferente na França. Terceiro colocado da Ligue 2, o time conseguiu carimbar o acesso ao derrotar o Stade de Reims, antepenúltimo da Ligue 1 e que recentemente ainda disputou a final da Copa da França. Após dois empates por 1 a 1 nos 90 minutos regulamentares, o Metz conseguiu prevalecer na prorrogação em Reims, com a vitória por 3 a 1 nesta quinta-feira. Destaque para o meio-campista Gauthier Hein, que fechou a conta com um golaço por cobertura da intermediária. O Metz volta à primeira divisão após um ano. Já o Reims vinha de sete temporadas consecutivas na elite, chegando a se classificar à Liga Europa em 2020. Um possível desmanche pode garantir boas pedidas no mercado, como o goleiro Yehvann Diouf, o ponta Junya Ito e o ponta Keito Nakamura.
- A lista de campeões nas copas nacionais engrossou um pouco mais nos últimos dias. O Häcken acumula sucessos na Copa da Suécia e faturou seu quarto título, todos erguidos desde 2016 – ainda possui uma taça do Campeonato Sueco em 2022. Os aurinegros não se intimidaram diante do poderoso Malmö na final, com vitória por 4 a 2 nos pênaltis após o empate por 0 a 0 com bola rolando. Veterano da seleção albanesa e de longa passagem pela Serie A, o goleiro Etrit Berisha foi o herói: pegou dois penais e converteu um. Na Copa da Croácia, o Rijeka consumou a dobradinha nacional, ao vencer o torneio pela sexta vez, a primeira desde 2020. A decisão aconteceu contra o azarão Slaven Belupo, derrotado no segundo jogo da final por 1 a 0. A história diferente aconteceu na Copa de Montenegro: o Decic, que havia sido campeão inédito da liga em 2024, agora faturou seu primeiro título na copa. A equipe vinha de dois vices anteriores e não titubeou diante do Mornar, curiosamente também o vice da liga em 2024 e sem títulos nacionais desde a independência do país. Por fim, fica a menção à dobradinha do Differdange em Luxemburgo, agora com 20 títulos da copa. A final contra o Dudelange terminou em 2 a 2, com vitória por 5 a 4 nos pênaltis. O veteraníssimo goleiro Felipe (ex-Vitória, Corinthians, Flamengo e tantos outros) foi titular no gol, acompanhado pelos brasileiros Leandro Borges, Gustavo Simões e Rychelmy.
AS HISTÓRIAS DO MEIOCAMPO AGORA EM VÍDEO
Já ativou as notificações no YouTube do Meiocampo? Além das transmissões ao vivo do podcast, agora temos também produções exclusivas de histórias para o canal. Entre elas, os 20 anos da mítica conquista do Liverpool em Istambul. Assista!
Roteiro do fim de semana
Por Felipe Lobo
Final da Champions League: PSG x Inter
Sábado, 16h - SBT, TNT, Max
A final da Champions League coloca frente a frente os projetos de PSG e Inter, em um título que significará muito ao futuro do campeão.
Repescagem do Mundial de Clubes: Los Angeles x América-MEX
Sábado, 23h30 - DAZN, Cazé TV, Sportv, Globoplay
Com a exclusão do León do Mundial de Clubes por ser do mesmo dono do Pachuca, a Fifa promove o duelo entre Los Angeles FC e América pela última vaga no torneio. O jogo será na casa do LAFC, o que já confere uma vantagem ao time americano.
Copa dos Campeões da Concacaf: Cruz Azul x Vancouver Whitecaps
Domingo, 22h00 - ESPN, Disney+
A final da famosa Concachampions trará os mexicanos do Cruz Azul e os canadenses do Vancouver Whitecaps na final. Os mexicanos tentam o sétimo título da competição, enquanto o Whitecaps busca a sua primeira taça. É mais uma vez o duelo Liga MX x MLS, ainda com ampla vantagem dos mexicanos no histórico.
Campeonato Argentino: Huracán x Platense
Domingo, 17h00 - ESPN, Disney+
A surpreendente final do Campeonato Argentino terá o tradicional Huracán e o ascendente Platense, que derrubou pelo caminho os gigantes Racing, River Plate e San Lorenzo. Enquanto o Platense tenta o seu primeiro título, o Huracán busca o seu sexto, sendo o último em 1973.
O adeus a Juan Ramón Verón, o fator decisivo à glória do Estudiantes
Por Leandro Stein
Quando se pensa no maior ídolo da história do Estudiantes, o sobrenome Verón costuma provocar certo consenso. Mas que haja debate sobre o nome do meio, entre pai e filho, o mais velho tende a prevalecer. Juan Sebastián herdou não apenas o apelido de “La Brujita” como também a grandeza que Juan Ramón já tinha oferecido aos pincharratas. A conquista da Libertadores pelo filho aproveitou o caminho aberto pelo tri do pai, símbolo do talento num time citado muito mais pelo pragmatismo e pelas artimanhas. O maior feitiço de La Bruja foi esse: transformou La Plata em capital da bola e permitiu que o Estudiantes, mais do que temido, fosse respeitado em todo o mundo. A herança de Juan Ramón Verón, falecido aos 81 anos, está expressa no peso que a camisa alvirrubra ganhou graças aos seus gols e dribles.
O apelido de La Bruja corresponde à silhueta de Juan Ramón Verón ainda na adolescência, com seu nariz pontiagudo e os cabelos desgrenhados. Soou pejorativo de início, mas depois pareceu profetizar o que o ponta apresentava em campo: era um jogador capaz de utilizar a magia da bola a seu favor. As arrancadas e dribles em velocidade eram as principais características do atacante, que dava a dose de arte para o Estudiantes aguerrido de seus tempos. Era o desafogo de talento, o craque expresso daquele esquadrão muito mais tático. E tinha estrela. Não foram poucos os gols decisivos anotados por La Bruja, inclusive golaços.
Como bem descreveu o escritor Roberto Fontanarrosa: "Onde estava ele, parecia terminar a tática e começar a imaginação ou o acaso. [...] Verón despertava de repente para definir uma partida impossível. Com uma arrancada elétrica e um drible raro e ziguezagueante, podia, como os personagens de desenhos animados, esticar a mão e trazer de fora do quadro uma jogada espetacular e definidora. Mas não para converter o quarto gol de uma goleada fácil ou para executar um drible diante de marcadores sem vontade, fé e até ânsia de viver, mas para fazer o gol da vitória ou empatar o jogo que parecia inalcançável".
Todos os momentos importantes do Estudiantes na construção de sua lenda nos anos 1960 e 1970 tiveram a participação ativa de Verón. A começar pelo título do Metropolitano de 1967, o primeiro troféu dos pincharratas na era profissional do Campeonato Argentino, que quebrava um jejum de 54 anos do clube – e também a hegemonia dos chamados “grandes” desde a década de 1930. La Bruja anotou um célebre gol de peixinho na semifinal contra o Platense, uma épica virada por 4 a 3 na Bombonera. E não deixaria de assinalar o seu também na decisão, 3 a 0 sobre o Racing, que naquele mesmo ano conquistou a Libertadores e o mundo. O Estudiantes sucederia os racinguistas nos tronos.
O impacto de Juan Ramón Verón dentro de campo permitiu ao Estudiantes ser campeão da América pela primeira vez – e pela segunda, pela terceira. Na campanha do inédito título de 1968, o ponta esquerda apresentou seu melhor futebol. Dos nove gols que anotou, sete vieram nas fases decisivas. Primeiro garantiu a classificação na segunda fase, um triangular que definia os semifinalistas, ao derrubar o forte time do Universitario. Nas semifinais propriamente ditas, o Estudiantes se impôs novamente contra o Racing e eliminou os então campeões. Depois do triunfo racinguista por 2 a 0 na ida, os pincharratas ganharam a volta por 3 a 0, sendo dois gols de Verón. Haveria ainda uma terceira partida, com empate por 1 a 1, que ratificou a classificação dos platenses por terem o melhor saldo de gols. Quem balançou as redes? La Bruja, com uma bicicleta magnífica que virou até canto da torcida.
Já na decisão, contra o Palmeiras, Juan Ramón Verón se confirmou como o diferencial daquele Estudiantes. Seu gol no primeiro jogo, em La Plata, está entre os mais bonitos da história da Libertadores. La Bruja arrancou do meio-campo para driblar quatro jogadores alviverdes e tocar na saída do goleiro Valdir Joaquim de Moraes. Uma pintura essencial, pois iniciou a virada no triunfo pincharrata por 2 a 1. Dentro do Pacaembu, o Palmeiras venceu por 3 a 1, embora Verón tenha de novo deixado sua marca. Já na partida extra dentro do Centenario, coube ao camisa 11 ratificar o título, com o segundo tento nos 2 a 0 dos argentinos. Outra maravilha, partindo em velocidade sem que ninguém o parasse.
O Estudiantes campeão da América virou campeão do Mundo, ao derrotar o Manchester United em famosos e controversos duelos na Copa Intercontinental. Se a história daquelas partidas gira ao redor dos embates, também teve a classe de Juan Ramón Verón. Depois da vitória por 1 a 0 na Argentina, o empate por 1 a 1 garantiu a volta olímpica dentro de Old Trafford. O gol do título foi anotado por Verón, de cabeça. Mostrava como, além de carregar a bola e desnortear os marcadores, também tinha um senso de oportunismo privilegiado. E aura, para preponderar em tantos momentos importantes dos pincharratas.
O ano de 1968 foi o mais especial na carreira de Verón, mas não foi o único em que o atacante colecionou troféus. O Estudiantes conquistou o bi da Libertadores em 1969, com La Bruja se destacando pelo papel de garçom. Marcou gol e deu assistência nas semifinais contra a Universidad Católica, assim como permitiu que Marcos Conigliaro ratificasse o triunfo na decisão contra o Nacional de Montevidéu. Já o tri em 1970 teve Verón indo às redes nas semifinais contra o River Plate, embora não tenha resolvido a decisão contra o Peñarol. A glória só não se repetiu nos Intercontinentais de 1969 e 1970, ainda que La Bruja tenha deixado sua marca contra o Feyenoord nesta última. Já a hegemonia na Libertadores se encerrou em 1971, quando Verón fez o gol da classificação no triangular semifinal, mas o Nacional conteve o craque adversário na revanche da decisão.
O protagonismo de Juan Ramón Verón no Estudiantes teve uma figura paterna, o técnico Osvaldo Zubeldía. Foi ele quem botou o jovem debaixo de suas asas, desde sua ascensão nas categorias de base na primeira metade dos anos 1960. Contar com essa referência era importante a La Bruja, que atravessou uma infância delicada e se agarrou ao futebol. Quando tinha 11 anos, o garoto perdeu sua mãe, vítima de uma pneumonia. Cresceu também sem a presença do pai, que trabalhava em outra cidade e via ocasionalmente a cada dois ou três meses. O Estudiantes virou sua casa a partir do momento em que, jogando futebol na rua, foi descoberto por Juan Delgado, ex-atleta pincharrata que levou sete meninos para testes. La Bruja ficou e iniciou sua trajetória com os alvirrubros.
Nem mesmo a resistência do pai quanto ao futuro no futebol afastou Juan Ramón do Estudiantes. O garoto chegou a conciliar o trabalho num frigorífico enquanto despontava rumo à equipe profissional dos pincharratas. As perspectivas em La Plata eram bem distintas naquele início dos anos 1960, com um time acostumado a brigar contra o rebaixamento no Campeonato Argentino. La Bruja ajudou a alimentar os sonhos ainda na base, quando ficava claro o surgimento de uma geração especial de pratas da casa. Até que tudo se transformasse em pouco tempo, com intervenção de Zubeldía, o treinador que formou um time competitivo e deu liberdade para Verón desequilibrar.
A lista de ídolos do Estudiantes naqueles tempos reúne diversos jogadores ainda hoje cultuados em La Plata: Carlos Bilardo, Carlos Pachamé, Oscar Malbernat. Mas, enquanto os demais se encarregavam do suor e do trabalho extremamente tático, La Bruja tinha passe livre para seus voos rasantes. Atormentava quem aparecesse no mano a mano, fosse um marcador, ou dois, ou três, ou quatro… "Quem me encontrou o lugar em campo foi Osvaldo, que me deu liberdade para jogar da metade para cima. Dividia o ataque com Ribaudo e Conigliaro, que eram 9 em seus times. Eles ocupavam os espaços, enquanto eu me movia por onde quisesse", detalhou Verón, à revista El Gráfico, em 2017.
A dedicação de Juan Ramón Verón ao Estudiantes era tamanha que o atacante sequer criou caso quando, na crise econômica vivida pelo clube após o fim das glórias, a diretoria teve que vender seu craque para fazer caixa. La Bruja voou até Atenas, onde o Panathinaikos fez a melhor oferta. Juntou-se ao time vice-campeão da Europa e foi treinado por Ferenc Puskás, ganhando o Campeonato Grego com seus gols decisivos. Voltou a La Plata somente em 1975, convidado pelo agora técnico Carlos Bilardo, quando a esposa já estava grávida de Juan Sebastián. De novo fez a diferença, num time que terminou vice-campeão argentino.
O momento mais célebre desta segunda passagem ocorreu no próprio nascimento do filho. La Brujita veio ao mundo num dia de clássico contra o Gimnasia de La Plata, no qual o pai cravou um dos gols. "Estávamos concentrados para jogar contra o Gimnasia e minha mulher ligou por telefone à meia-noite do sábado, já estava por ter a criança. Havia só um telefone, o doutor Marelli atendeu e avisou Bilardo, que pediu que não me acordassem. No outro dia me avisaram que meu filho nasceu, que poderia vê-lo. Fui ao hospital, estava tudo bem, voltei e à tarde jogamos: empatamos por 3 a 3 e fiz o segundo", contou à El Gráfico.
Juan Sebastián teve a quem puxar. "Sebastián foi um doente pela bola desde que nasceu. Com dois anos eu o deixava chutando ao lado do gol nos treinamentos e ficava assim a manhã inteira: dá-lhe que dá-lhe com a bolinha. E nos jogos também ficava sentado na bola ao lado do gol. Uma vez o árbitro o tirou, meio de brincadeira, meio sério, porque não poderia estar ali", recordou Juan Ramón. La Brujita já acompanhou La Bruja em sua próxima incursão internacional, pelo Junior de Barranquilla. Foi outro clube alvirrubro que o camisa 11 ajudou a se confirmar como um grande.
O primeiro título do Junior no Campeonato Colombiano teve Juan Ramón Verón não somente em campo, como também na casamata. O veterano conciliou o posto de ponta com o de treinador, ao substituir José Varacka no cargo durante a campanha de 1977. Curiosamente, prevaleceu para ser campeão num hexagonal final em que tinha a concorrência dos velhos companheiros Bilardo (Deportivo Cali) e Zubeldía (Atlético Nacional). La Bruja permitiu que o ambiente fervilhante nas arquibancadas em Barranquilla pela primeira vez se consumasse num verdadeiro carnaval sem data para acabar.
Na Colômbia, Juan Ramón Verón também vestiu as cores do Cúcuta Deportivo e retornou a La Plata para sua terceira passagem pelo Estudiantes, em curta estadia durante a temporada 1980. La Bruja também atuou pelo Argentino de Quilmes, antes de estender sua trajetória em campo no futebol amador de La Plata. Só parou por conta de uma lesão, embora pretendesse seguir jogando além dos 40 anos. Já na década de 1990, teria uma nova vida no Estudiantes, agora como treinador das categorias de base. Ficou pouco tempo, mas suficiente para comandar o próprio Juan Sebastián. Também dirigiu a seleção da Guatemala, em breve aventura, antes de perceber que a vida de técnico não era para si.
Juan Ramón Verón manteve sua chama viva como figura onipresente no Estudiantes, servindo a partir de 2000 como um embaixador do clube. O nome soava forte sobretudo quando o filho voltou para ser campeão da Libertadores em 2009 e honrar a vocação da família. La Brujita enveredou também como presidente ao pendurar as chuteiras. E, apesar disso, a importância da velha Bruja conseguia ser maior que a do seu sucessor em La Plata. A herança enorme era consequência da grandeza do pai.
Diferentemente de Juan Sebastián, Juan Ramón não teve renome jogando nos grandes centros da Europa e nem mesmo envergou a camisa da seleção argentina por tanto tempo. A Albiceleste é a grande lacuna em sua carreira, não por talento, mas por entraves além das quatro linhas. A saída turbulenta de Zubeldía da seleção fechou as portas para os jogadores do Estudiantes num primeiro momento. Já em seu auge, foi o próprio camisa 11 que preferiu renunciar à equipe nacional, diante da bagunça na AFA que deixaria logo depois os argentinos de fora da Copa do Mundo de 1970. Após a mudança para a Grécia, o ponta saiu do radar das convocações. Quatro partidas pela Argentina, sem um gol sequer, é pouquíssimo para uma lenda como ele.
O futebol, ainda bem, oferece outros caminhos para os craques se tornarem eternos. O Estudiantes sempre falará da habilidade de Juan Ramón. A Libertadores também reverenciará o homem que definiu o sucesso de um tricampeão. E seu filho ainda garantiu que a genética seja citada todas as vezes que se discuta seu talento: antes de La Brujita, veio La Bruja, o fator decisivo de um dos times mais temidos e mais vitoriosos que a América já viu.