Quando o mágico parece mundano
O milagre tornado comum do Palmeiras de Abel Ferreira, a resiliência defensiva do Flamengo em Avellaneda e o melhor Atlético Mineiro do ano na final da Sul-Americana
Newsletter Meiocampo - 31 de outubro de 2025
O fim de semana chega com uma edição da Newsletter Meiocampo dominada pelas decisões continentais. O Palmeiras foi o grande destaque, ao transformar um “milagre” necessário contra a LDU em uma virada que pareceu rotineira, de tão competente. O Flamengo também garantiu sua vaga na final da Libertadores, sobrevivendo ao caldeirão de Avellaneda com uma atuação defensiva resiliente. Na Sul-Americana, o Atlético Mineiro fez talvez seu melhor jogo no ano para conquistar a taça. Por fim, nosso giro fala sobre o fim da era Heineken na Champions League e a nova (e surpreendente) liga profissional da Oceania.
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Quando o mágico parece mundano
Por Bruno Bonsanti
O Palmeiras perdeu o jogo de ida da semifinal da Libertadores para a LDU por 3 a 0. Não sei se vocês ficaram sabendo. O diagnóstico mais comum é que a classificação ainda era possível, mas exigiria algo especial. Um colunista da Folha até sugeriu um nome: o Milagre do Allianz. Abel Ferreira prometeu uma noite mágica. E o maior elogio que se pode fazer ao seu trabalho, que por coincidência, na verdade, não, com certeza não foi por coincidência, completou cinco anos exatamente no dia em que ele se classificou à final pela terceira vez, é que pareceu mundano.
Não que não tenha sido especial, mágico ou milagroso. É que ele colocou o Palmeiras em tal status que com menos de dez minutos de bola rolando a reação generalizada era que algo que nunca havia acontecido antes — reverter uma desvantagem de três gols no jogo de volta das semifinais da Libertadores — era inevitável.
Menos entre os palmeirenses. O palmeirense tem método. Não se permite acreditar ou, se acredita, guarda lá no fundo e não fala em voz alta. Não adianta falar que o Palmeiras é hoje um dos dois maiores clubes do continente. Nós sabemos. Não adianta listar todos os títulos da última década. Nós sabemos. Não adianta lembrar Montevidéu. Nós nunca esquecemos.
Não é joguinho, não é estratégia para lidar com a zoação dos rivais. É autopreservação, sobrevivência, o tipo de coisa que você adquire quando cresce sabendo que a qualquer momento pode ser goleado pelo Água Santa.
A pergunta natural é o que mais Abel Ferreira precisa fazer para consertar o que foi quebrado dentro do palmeirense, para que ele possa abrir os olhos e ver o que todos os outros torcedores viram desde que a bola começou a rolar no Allianz Parque.
Que daria.
O que ele fez aqui foi de outro mundo. Nenhum treinador que não tem tamanho suficiente para não dar a mínima escalaria o time que ele escalou. Super ofensivo, sem volantes, com um garoto que só joga de vez em quando na ala direita. Um garoto que acabaria a partida como o melhor em campo.
O que motivou a observação quase instantânea de que daria é que, usando termos bem científicos, a LDU nunca viu a cor da bola. E dá para apontar para a fragilidade dos equatorianos, embora Botafogo e São Paulo gostariam muito de tê-la visto. Claro que há um abismo financeiro e técnico relevante, mas esse foi o sexto jogo da LDU contra brasileiros nesta Libertadores e a primeira vez que ele ficou escancarado.
O Palmeiras começou a partida em cima, geograficamente mesmo, com os zagueiros posicionados no campo de ataque. Mais de 70% de posse de bola em oito minutos, quatro finalizações em dez minutos, nove até a primeira entrar, aos 20, com uma cabeçada de Ramón Sosa após cruzamento de Allan. A sensação de inevitabilidade continuou, apesar de o segundo gol ter saído apenas nos acréscimos do primeiro tempo, apesar de Vitor Roque ter desperdiçado um ataque de três contra um.
A maior dificuldade de ter que vencer um jogo por 4 a 0 não é vencer um jogo por 4 a 0, mas entrar em campo sabendo que precisa vencer por 4 a 0. A ansiedade de ver o tempo passando costuma ser letal. A força mental necessária para superá-la é raramente vista, por isso tão poucas viradas como essa acontecem, além de no geral não ser fácil vencer por 4 a 0, mas na história do Palmeiras de Abel Ferreira na Libertadores, é uma quarta à noite.
O Palmeiras estava em outra rotação. Ganhou todas as divididas, todos os duelos. Nunca baixou de 100% de concentração. Ninguém deu um passo em falso. Falar de intensidade virou clichê no futebol de hoje em dia. Quem ganhou geralmente foi mais intenso, dizem os analistas. O Palmeiras foi mais intenso.
Abel tem total domínio sobre o elenco. Como se tivesse passado 10 mil horas o estudando, o que pode até ser factualmente correto. Tanto para saber quais botões apertar para que eles joguem com tanto foco e coração, quanto para usar os jogadores na hora certa. Como na invenção da dupla de atacantes, como na entrada de Raphael Veiga — quatro minutos entre ela e o terceiro gol —, como na escalação de Allan.
O impressionante da jogada que ele fez, aos 21 anos, aos 37 minutos de uma partida de volta de semifinal de Libertadores, com o placar do confronto empatado, é que houve mais de um momento em que errou a tal da jogada e teve que recomeçar. O cruzamento foi bloqueado. A marcação o empurrou à bandeirinha de escanteio. Até o drible que acabou levando ao pênalti não foi exatamente um drible, mas ele insistiu, insistiu e insistiu até que saísse alguma coisa.
Saiu um pênalti que eu acho que não foi muito pênalti, mas não importa. O Palmeiras faria o quarto gol. Todo mundo sabia que era inevitável.
Todo mundo menos o palmeirense.
Abel Ferreira caiu de joelhos no gramado, rosto nas mãos, claramente emocionado. Não foi um ano fácil. Mesmo o torcedor que mais o respeita (eu, por exemplo) acreditava que o ciclo estava chegando ao fim após as atuações fracas na Copa do Mundo de Clubes e a eliminação na Copa do Brasil para o Corinthians.
Como se uma lâmpada tivesse sido acesa enquanto fazia a barba, ele desenvolveu uma nova maneira de jogar, chegou à liderança do Brasileirão e a mais uma final de Libertadores. Abel falou que aquela emoção foi de alívio.
Ou de quem imaginava que não poderia fazer nada maior do que já havia feito e, de repente, percebeu que conseguia.
PODCAST MEIOCAMPO #181
Depois de classificação épica contra a LDU, Palmeiras vai decidir a Libertadores contra o Flamengo, reeditando a final de 2021. Neste programa, falamos sobre as duas classificações, como os times chegam para esta decisão. Passamos também pela definição da final da Sul-Americana, que terá o Atlético Mineiro contra o Lanús.
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O caldeirão hostil evocou a força, não o temor
Por Leandro Stein
A Copa Libertadores, tão exaltada por seus espetáculos nas arquibancadas, ofereceu em Avellaneda aquela que talvez tenha sido a sua maior apoteose. O gigantesco Cilindro se transformou num caldeirão, pulsante através de milhares de vozes, enquanto uma infinidade de sinalizadores tomava os céus para indicar uma noite histórica. Se as finais não mais permitem o direito à festa dos mandantes, em campo neutro, as semifinais se tornaram o maior palco de reforçar a alma da Libertadores. E o Racing tinha motivos para apresentar o tamanho de seu sonho, de volta a esta fase após 28 anos, sem o troféu há 58, com a necessidade de uma reviravolta. Os próprios jogadores, dos dois lados, pareciam maravilhados por serem testemunhas oculares daquele show pirotécnico no lugar mais privilegiado possível, o campo. Um ambiente que reforça a mitologia da classificação do Flamengo, em que o empate por 0 a 0 dependeu da resiliência e do espírito de um clube que cada vez melhor conhece a maneira de se portar na competição continental.
Nem mesmo os jogadores rubro-negros escondiam o deslumbramento com a celebração do futebol feita pela torcida do Racing. Isso não significou intimidação, porém. E ainda que o 0 a 0 não tenha sido confortável ao Flamengo, longe disso, com a classificação por um fio até o apito final (e agradecidos pelos econômicos acréscimos), a postura dos visitantes fez a diferença. O entendimento da temperatura do jogo e dos diferentes momentos. A resiliência para resistir à pressão incessante dos racinguistas, embora inefetiva. A concentração para segurar os rojões que não paravam de sobrevoar a área do Fla.
Filipe Luís tem grandes méritos desde que se tornou treinador do Flamengo, isso é indiscutível. Os resultados falam por si, ainda que não o tornem intocável e algumas de suas decisões também precisem ser colocadas em perspectiva – algo natural a um técnico em começo de carreira. No entanto, mais do que o domínio ofensivo geralmente exercido pelo Fla, o grande ponto de evolução em relação aos trabalhos anteriores do clube é a maneira como a defesa tem sido muito mais consistente. Há um equilíbrio atrás, importante para que os rubro-negros cheguem em condições de disputar as duas principais taças da temporada até o fim.
Basta lembrar a maneira como o Flamengo sofria pela exposição de sua defesa em outros momentos recentes. Os rubro-negros dependiam de um ataque voraz para compensar outros problemas. Com Filipe Luís não é assim, pelo contrário. Por vezes, é a linha de frente que parece não traduzir o domínio que os rubro-negros conseguem exercer com a bola, sem aproveitar a posse ou boas chances criadas. A defesa, na maior parte das vezes, é um ponto de confiança.
As semifinais contra o Racing corresponderam a essa leitura. A superioridade do Flamengo no Maracanã foi maior do que o 1 a 0 no placar indicou, sem conceder muitas chances claras na defesa, mas sem cravar mais gols nos clarões do ataque. E quando o time esteve no controle em Avellaneda, durante grande parte do primeiro tempo, as boas combinações do ataque não resultaram em tentos – seja nos chutes de fora de Luiz Araújo, seja nas infiltrações que pararam em grandes intervenções do goleiro Facundo Cambeses. Coube ao sistema defensivo segurar a classificação, sobretudo durante o segundo tempo.
Não foi uma atuação perfeita da defesa do Flamengo. Uma bola poderia mudar esse discurso e o Racing teve suas oportunidades. Entretanto, diante de tamanha insistência dos albicelestes, dá para dizer que a missão defensiva rubro-negra foi cumprida com enorme êxito. Só duas vezes os racinguistas tiveram reais espaços para finalizar em posições perigosas, mas Agustín Rossi apareceu bem colocado. E quando Luciano Vietto fez a torcida flamenguista prender a respiração no final, não apenas Rossi salvou, como também o desvio feito por Emerson Royal, ao bloquear parcialmente a finalização, foi essencial para evitar o empate.
O Racing merece críticas também, claro. Foi uma equipe pouco inventiva, sobre a qual se sabia muito bem o que se esperar: cruzamentos e mais cruzamentos. Alguns dos jogadores mais refinados do time só entraram no segundo tempo – Vietto, Zaracho, Martirena. Na maior parte do tempo, a missão do Flamengo era rifar a bola da área, lidando com o incômodo constante de Maravilla Martínez ao tentar abrir a mínima brecha aos companheiros na base da trombada e Marcos Rojo por vezes descambando à deslealdade quando partia à frente. Foi muito difícil os racinguistas encontrarem campo aberto nas proximidades da área do Fla – mais quando Varela deixava espaços às suas costas.
Isso não significa que a noite em Avellaneda não ofereceu desafios ao Flamengo. Especialmente depois da expulsão de Gonzalo Plata – de fato exagerada, mas com uma atitude do equatoriano que também foi desnecessária, sobretudo conhecendo o histórico de Rojo. Filipe Luís decidiu cedo aumentar o número de defensores, com a entrada de Danilo para reforçar o setor. Com 11 homens, o 5-3-2 poderia até ajudar no escape dos alas em contra-ataques. Com 10, ficou mais difícil, até porque Bruno Henrique estava sozinho para prender a bola na frente – e, neste sentido, como fez falta Pedro, até mais do que nas finalizações. Contudo, com a área melhor preenchida, o Racing encontrou ainda menos frestas e Varela se viu protegido, bem como Emerson Royal quando entrou.
Léo Pereira e Léo Ortiz viveram aquela que talvez seja a melhor noite da parceria. São dois zagueiros conhecidos pelo bom trato na saída de bola e pelos gols que anotam, mas desta vez os predicados defensivos ficaram até mais expressos e eles conseguiram neutralizar o ataque do Racing. O Flamengo também merece elogios pela forma como não cedeu tantos rebotes aos racinguistas, numa segunda bola que poderia causar estragos diante da insistência adversária. E, quando necessário, Rossi estava lá. Não é um goleiro sem defeitos, que por vezes titubeia justo nas saídas pelo alto. Desta vez, o argentino dominou o espaço aéreo e se redimiu mesmo no lance em que vacilou no segundo tempo. Foi a segurança que concedeu a classificação para o Fla.
O futebol é um jogo de circunstâncias, e assim também é a maioria das análises. Um detalhe pode fazer o castelo de cartas cair e, não fosse Rossi, a leitura do jogo no Cilindro talvez fosse diferente. Todavia, falar da capacidade defensiva do Fla com Filipe Luís não se centra em 90 minutos. E, dadas as condições de pressão em Avellaneda, os rubro-negros conseguiram ter sucesso em seu maior desafio com o novo treinador. Para que outro maior venha, em Lima, na decisão.
O Flamengo disputará sua quinta final de Libertadores, a quarta nas últimas sete edições da competição. A atual campanha, ainda assim, tem um diferencial ao clube. Se os rubro-negros já tinham expurgado o mal dos vexames nas fases iniciais, que afligiu a torcida em várias ocasiões até o fim do jejum em 2019, as principais classificações em jogos de ida e volta tinham ocorrido contra adversários brasileiros. As três eliminações em 2020, 2023 e 2024 foram para Racing, Olimpia e Peñarol. Superar o caldeirão de Avellaneda, assim como ocorrera na dramática passagem de La Plata contra o Estudiantes, demonstra o caráter forjado nesta temporada.
Isso não torna o Flamengo necessariamente favorito na decisão contra o Palmeiras, que evoca outros sentimentos — do épico de seis anos atrás em Lima ao revés contra os próprios alviverdes em Montevidéu. O time de Filipe Luís, de qualquer maneira, indica virtudes para lidar com os desafios e manter a cabeça no lugar. O encantamento provocado pelo Cilindro não amedrontou, mas sim motivou para um resultado que seria inesquecível de um jeito ou de outro. Ao apito final, os rostos antes maravilhados agora estavam jubilosos por não sucumbirem ao assédio incessante dos racinguistas. A chave de uma das maiores noites do Flamengo em Libertadores, engrandecida pelo campo hostil, como tantas vezes conta a história da competição sul-americana.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na última terça, falamos sobre a conquista do primeiro título da Ponte Preta, na Série C, as lições de El Clasico entre Real Madrid e Barcelona, e a bagunça na Juventus, que resultou na demissão de Igor Tudor, e muito mais no nosso giro.
O melhor Atlético Mineiro do ano vai reencontrar um velho conhecido em finais
Por Felipe Lobo
Uma das maiores características dos grandes times é o bom desempenho nos jogos que importam. O Atlético Mineiro não vem de um bom ano, mas entregou sua melhor atuação justamente em um momento crucial. Diante do Independiente del Valle, os comandados de Jorge Sampaoli venceram por 3 a 1 com sobras e vão decidir a Sul-Americana contra o Lanús. Um adversário que remete ao passado, porque será a terceira vez que os dois clubes decidem um título.
Foi a atuação dominante que a torcida queria, com um time seguro, criativo e mortal. A formação com três zagueiros funcionou bem, o time foi ofensivo e soube decidir. Dentro de uma Arena MRV lotada e vibrante, o Atlético Mineiro soube se impor desde os minutos iniciais.
O grande nome da partida foi Dudu. O camisa 92 comandou as ações ofensivas do Galo e foi a principal referência da equipe. Antes da chegada do argentino, ele fez oito jogos (seis como titular) e não tinha nenhum gol ou assistência. Com Sampaoli, são oito jogos (apenas quatro como titular), com um gol e três assistências, incluindo os dois passes para os primeiros gols da semifinal.
Muito além dos números, o que mais chamou a atenção foi a grande atuação. O nível do jogador lembrou seus melhores momentos com a camisa do Palmeiras, onde marcou época. Dudu foi neste jogo o que os dirigentes do Galo esperavam quando o contrataram vindo do rival Cruzeiro.
As assistências de Dudu serviram a Guilherme Arana e Bernard, outros dois protagonistas. Bernard, inclusive, é uma grande história de recuperação no ano. Deixado de lado por Cuca, parecia sem espaço no elenco. Com Sampaoli, não só voltou a jogar, como passou a ser um jogador capaz de decidir jogos. Já tinha sido assim contra o Bolívar, quando o camisa 11 decidiu nos acréscimos.
Nem o gol de Claudio Spinelli para o Del Valle no segundo tempo desanimou os alvinegros. Hulk, que começou no banco, recebeu um passe longo de Junior Alonso, desviado pela defesa, e avançou livre para marcar 3 a 1 menos de 10 minutos depois dos equatorianos diminuírem.
O gol marcou o fim de um jejum incômodo de 15 jogos de Hulk sem balançar as redes. Ele tinha marcado pela última vez em 14 de agosto, contra o Godoy Cruz, também pela Sul-Americana. O Galo é o clube onde Hulk mais fez gols na carreira, além de ter sido o que mais atuou (131 gols em 279 jogos). Ele supera os 95 gols em 186 jogos pelo Porto, 94 em 179 pelo Zenit e 93 em 158 pelo Shanghai SIPG.
A vaga na final é uma boa notícia especialmente porque o ano do Galo até aqui tem sido ruim. O time é só o 13º no Campeonato Brasileiro, muito longe de qualquer disputa na parte de cima da tabela. Conquistar um título internacional inédito seria um feito de enorme peso.
Além disso, ainda tem o aspecto financeiro: a premiação da Sul-Americana é um alívio importante para o caixa do clube. São US$ 6,5 milhões para o campeão, mais de R$ 36 milhões. Em um clube que passa por uma reestruturação financeira, com cortes de custos cada vez mais necessários, esse é um ponto importante. Isso, claro, além de classificar a equipe para a próxima Libertadores, o que também garantiria outra receita fundamental.
Histórico contra o Lanús já teve pancadaria e emoção
O Lanús conquistou a vaga depois de eliminar a Universidad de Chile ao vencer por 1 a 0 (o jogo de ida tinha sido 2 a 2). O Lanús é um adversário conhecido do Atlético em termos históricos. Os dois times se enfrentaram quatro vezes e todas elas em decisões de títulos sul-americanos. E nas duas, deu Galo.
A primeira vez foi em 1997, pela Copa Conmebol, e foi a mais violenta. No estádio La Fortaleza, em Lanús, os donos da casa abriram o placar com Ariel Ibagaza, mas o Atlético Mineiro virou e goleou por 4 a 1, com gols de Bruno, Juan Serrizuela (contra), Hernani e Valdir Bigode. Só que o pior viria depois do apito final.
Depois do fim do jogo, os argentinos cercaram a delegação do time mineiro e começaram uma pancadaria generalizada. Jogadores e comissão técnica do Galo foram agredidos, e o treinador Emerson Leão precisou inclusive passar por cirurgia para colocar um enxerto no rosto.
O clima de guerra não se repetiu no Mineirão. Com o empate por 1 a 1 (gol de Jorginho para os mineiros e Marcelo Trimarchi para os argentinos), o título ficou com o clube brasileiro.
Muitos anos depois, em 2014, os dois clubes voltaram a se enfrentar pela Recopa Sul-Americana. O Galo disputava a taça após a maior conquista da sua história, a Libertadores de 2013, e o Lanús tinha conquistado justamente a Copa Sul-Americana de 2013, em uma curiosa final contra a Ponte Preta.
O retorno ao estádio de La Fortaleza foi tranquilo desta vez: vitória por 1 a 0, gol de Diego Tardelli. Só que o jogo de volta foi com emoção. Embora o Galo tenha saído na frente com Diego Tardelli, de pênalti, o Lanús complicou as coisas. Victor Ayala e Santiago Silva viraram o jogo. Maicosuel empatou, mas Lautaro Acosta fez o gol nos acréscimos que levou a partida para a prorrogação.
A taça foi decidida na prorrogação, com dois gols contra de jogadores do Lanús: um de Gustavo Gómez, hoje no Palmeiras, e outro de Victor Ayala. Mesmo que ninguém soubesse, foi a despedida de Ronaldinho do clube. Cinco dias depois da conquista do título, a saída do craque foi anunciada. Ele defenderia o Querétaro, do México.
Desta vez, a final entre os dois não será nos respectivos estádios. O duelo está marcado para Assunção e deve ser no histórico Defensores Del Chaco, casa tradicional da seleção paraguaia e maior palco de futebol do Paraguai.
Giro
- Arne Slot defendeu a sua decisão de usar um time reserva e cheio de moleques contra o Crystal Palace. Com cuidado para não atribuir a má fase ao cansaço, afirmou que viu um time sofrendo fisicamente contra o Brentford, apenas alguns dias depois de visitar o Eintracht Frankfurt, e que, sempre que tentou forçar a escalação de algum jogador que estava em dúvida, ele se machucou, como Alexander Isak e Giovanni Leoni. É praxe que times grandes façam isso na Copa da Liga, mas neste momento, o Liverpool não tem estrutura para manter um nível razoável de desempenho sem os titulares. Como Slot observou, mal tem estrutura para fazer isso com os titulares: “Com eles, nós também não temos conseguido vencer o Palace”. Seis derrotas em sete jogos aumentaram a pressão em cima do holandês e o calendário não lhe dará alívio: Aston Villa (C), Real Madrid (C) e Manchester City (F) vem por aí. (Bruno Bonsanti)
- Vítor Pereira e o atacante Jorgen Strand Larsen, capitão naquela partida, foram conversar com os torcedores depois da derrota por 3 a 2 para o Burnley que deixou o Wolverhampton ainda sem vitórias no último domingo. E de certa forma, o segundo tempo na Copa da Liga pode ser encarado como uma resposta, evidência de que, apesar dos problemas, este time ainda tem força para reagir. Isso se esquecermos o primeiro, no qual o Chelsea foi avassalador e abriu 3 a 0. Todo o clima leve e descontraído do fim da temporada passada, quando Pereira emendou vitória atrás de vitória e visitou os pubs ao redor do Molineux para comemorá-las, se dissipou rapidinho. Era meio previsível: jogadores importantes como Matheus Cunha e Rayan Aït-Nouri foram vendidos, outros veteranos saíram e houve poucos investimentos. A aposta era justamente no trabalho do português. Pelo que ele já havia mostrado, não parecia uma aposta absurda. Neste momento… (Bruno Bonsanti)
- Nick Woltemade não pode fazer nada se as pessoas decidirem nunca esquecer o preço que o Newcastle pagou por ele. O que ele pode é fazer a sua parte. Com quatro gols em seis rodadas de Premier League e seis em 11 partidas por todas as competições, o começo é positivo. Marcou mais uma vez na quarta rodada da Copa da Liga contra o Tottenham, aproveitando que é mais alto do que praticamente todos os seres humanos do Planeta Terra. Antes, havia mostrado habilidade para deixar Harvey Barnes na cara do gol. Goleiro das copas, Aaron Ramsdale brilhou com seis defesas. O Newcastle ainda não engrenou na Premier League, apenas no meio da tabela, mas não será ele quem torcerá o nariz para a competição que quebrou o seu longo jejum de títulos, apesar dos dois times terem rodado o seu elenco. (Bruno Bonsanti)
- Com jogadores de 15, 17 e 18 anos no time titular, o Arsenal derrotou o Brighton por 2 a 0 para avançar às quartas de final da Copa da Liga. Ao contrário do que tem acontecido na Premier League, seu goleiro, Kepa Arrizabalaga, precisou fazer seis defesas. O Manchester City também não teve dificuldades para avançar, despachando o Swansea, por 3 a 1. Na terça-feira, os jogos foram mais apertados. O Cardiff fez os documentaristas do Wrexham guardarem as câmeras, e o Wycombe Wanderers, da terceira divisão, levou o Fulham aos pênaltis. Mas perdeu. O conto de fadas do Grimsby Town também acabou. Depois de eliminar o Manchester United e o Sheffield Wednesday (duas ligas à sua frente), o time da quarta divisão voltou a ser um time da quarta divisão e foi goleado pelo Brentford. (Bruno Bonsanti)
- Depois de 30 anos de patrocínio, a Heineken deve ser trocada pela InBev, dona de marcas como Budweiser, Corona e Stella Artois, como a cerveja oficial da Champions League. É o fim de uma era. Não sou especialista, mas deve ser um dos maiores cases de sucesso de associação de marca da história da publicidade. Todo mundo que cresceu acompanhando a competição europeia sabia que a Heineken a patrocinava e tem o seu comercial favorito. Então, o que motivou a Uefa a fazer essa mudança? Bom… uma nota, Pablo: segundo o The Athletic, a InBev teria oferecido € 200 milhões anuais por um contrato de seis anos que começaria em 2027, quando acaba o atual acordo de € 120 milhões por ano da Heineken. Um aumento de 66%. A parceria começou em 1994, com anúncios da Amstel durante partidas da Champions League. A cervejinha verde, carro-chefe da empresa holandesa, assumiu esse posto em 2005. O mais provável é que a próxima seja a Budweiser. A agência Relevent Sports, a mesma que tentou levar Villarreal x Barcelona para Miami, assumiu os direitos comerciais das competições europeias no último mês de março para o ciclo 2027-2033 e parece estar trabalhando bastante. A imprensa especializada já havia noticiado uma alteração no formato das licitações de direitos de transmissão para permitir que partidas sejam transmitidas globalmente por um mesmo veículo e a ideia de ter um jogo isolado de abertura da Champions League, na casa do atual campeão, na terça-feira da primeira semana. E agora, tchau Heineken. (Bruno Bonsanti)
- A Ligue 1 completou 10 rodadas nesse meio de semana e continua oferecendo uma das temporadas mais disputadas da Europa, com direito a jogos eletrizantes. O Paris Saint-Germain é líder, é verdade, mas longe do nível de domínio de outros anos. Apenas dois pontos separam o PSG do sexto colocado e são só quatro de vantagem em relação ao oitavo colocado – só aí vai quase metade da tabela. Os tropeços do time de Luis Enrique são mais frequentes, algo até natural pela sobrecarga da temporada passada e pelo excesso de lesões. Os parisienses empataram três dos últimos quatro jogos, inclusive o último, por 1 a 1 contra o Lorient. O vice-líder é o Monaco, com 20 pontos, um a menos, mesmo depois de trocar de treinador. Sébastien Pocognoli dá um novo gás aos alvirrubros, que fizeram o jogo mais eletrizante da rodada, um 5 a 3 sobre o Nantes. Mas não foram só eles. O Olympique de Marseille, terceiro colocado, suou muito nos 2 a 2 contra o Angers. Do terceiro ao sexto, todos somam 19 pontos. O Strasbourg fez 3 a 0 sobre o Auxerre, mesmo placar que o Lyon aplicava sobre o Paris FC, até ceder um incrível empate por 3 a 3 na capital. Já o Lens, que poderia ser líder, cedeu a primeira vitória do lanterna Metz, por 2 a 0. Ainda teve um importante Nice 2x0 Lille, com ambos emparelhados em sétimo e oitavo na classificação, somando 17 pontos. Se continuar nessa toada, será uma temporada inesquecível. (Leandro Stein)
- A segunda fase da Copa da Alemanha, equivalente aos 16-avos de final, careceu de grandes surpresas neste meio de semana. Todos os classificados estão na primeira ou na segunda divisão. O resultado mais notável foi do Borussia Dortmund, que tinha um duelo difícil contra o Eintracht Frankfurt no Deutsche Bank Park e, depois do empate por 1 a 1, avançou nos pênaltis. Já o Bayern de Munique até saiu atrás no placar contra o Colônia, mas não precisou de muito para golear por 4 a 1, com mais dois gols de Harry Kane. Dois times da primeira divisão caíram diante de adversários da segundona, curiosamente os dois rebaixados da elite na temporada passada: o Holstein Kiel fez 1 a 0 no Wolfsburg e o Bochum bateu o Augsburg também por 1 a 0. Já a sensação da última edição, o finalista Arminia Bielefeld, se despediu ao vender caro os 2 a 1 para o Union Berlim na prorrogação. O atual campeão Stuttgart anotou 2 a 0 no Mainz 05. O Bayer Leverkusen só passou pelo Paderborn por 4 a 2 na prorrogação, numa virada selada com dois gols nos acréscimos do segundo tempo extra, enquanto o St. Pauli teve o mérito de tirar o Hoffenheim nos pênaltis, após empate por 2 a 2, arrancado pelos Piratas também nos acréscimos da prorrogação. (Leandro Stein)
- A Copa do Rei se tornou uma das copas nacionais mais democráticas da Europa, desde que mudou seu regulamento e passou a levar os times de La Liga a diminutos estádios da Espanha. Isso não evita, porém, goleadas enormes. Nesta segunda fase, estrearam quase todos os times da primeira divisão, exceto aqueles que disputarão a próxima Supercopa – Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid e Athletic Bilbao. Boa parte dos demais fez estrago. A maior sapatada foi de um time conhecido por seu defensivismo, o Getafe, que ganhou do Inter de Valdemoro (sexta divisão) por inimagináveis 11 a 0. Teve também Getxo 0x7 Alavés (sexta divisão), Atlético Palma del Río 1x7 Betis (sexta divisão), Ciudad de Lucena 0x6 Villarreal (quinta divisão), Yuncos 1x6 Rayo Vallecano (sexta divisão), Maracena 0x5 Valencia (sexta divisão) e Sant Jordi 0x5 Osasuna (sexta divisão). Levante, Elche, Sevilla, Espanyol, Celta e Real Sociedad foram mais comedidos, mas também passaram. Já o Girona dependeu da prorrogação para eliminar o Constància, da quinta divisão, ressaltando como a temporada anda difícil para os alvirrubros. (Leandro Stein)
- Só um time da primeira divisão foi eliminado da Copa do Rei: o Real Oviedo, que demitiu seu treinador há poucas semanas ao dizer que tinha o “objetivo de chegar às copas europeias” e agora dá vexame. Os asturianos perderam na prorrogação para o Ourense, por 4 a 2, após cederem o empate aos 49 do segundo tempo. Embora seja um clube tradicional da Galícia, o Ourense atualmente é o lanterna de seu grupo na terceira divisão. Ao todo, 14 times de divisões inferiores eliminaram oponentes acima na pirâmide do futebol espanhol. Os maiores feitos foram dos dois sobreviventes da quinta divisão, que tiraram adversários da segundona. O Portugalete ganhou do Valladolid por 1 a 0, enquanto o Cieza fez 1 a 0 para cima do Córdoba. Foram 11 classificados da quarta divisão, alguns deles tradicionais, como o Numancia e o refundado Extremadura. Já o único time da terceirona a despachar um oponente de níveis acima foi exatamente o Ourense. (Leandro Stein)
- A Copa do Mundo de 2034 traz como selo a extravagância da Arábia Saudita, mas um de seus estádios consegue soar até surreal: será construído a 350 metros de altura, no topo de um arranha-céu. O estádio estará sediado em Neom, a cidade futurista construída no deserto que recebe massivos investimentos do governo e pretende ser a força motriz da economia local em sua perspectiva de diversificação. A arena terá capacidade para 46 mil espectadores e receberá jogos até as quartas de final, prevista também para se tornar a casa da seleção da Arábia Saudita após o torneio. Nesta semana, o estádio foi revelado pelos organizadores do Mundial, para ser um dos 15 palcos do torneio. Os sauditas pretendem construir 11 novas praças esportivas para a Copa, com outras quatro arenas passando por reformas. (Leandro Stein)
- A Oceania contará com um torneio de futebol próximo do idealizado de uma Superliga continental. A chamada OFC Pro League foi lançada oficialmente pela Confederação de Futebol da Oceania (OFC) nesta semana e será o primeiro campeonato profissional da confederação. O torneio terá seu pontapé inicial em 2026, com oito clubes, e incluirá a Austrália – por mais que hoje a federação local pertença à AFC e tenha sua própria liga nacional profissional, a A-League. A nova competição indicará os classificados da Oceania para a Copa do Mundo de Clubes, disputada a cada quatro anos. Dos oito participantes, quatro são clubes novos: Solomon Kings (Ilhas Salomão), Tahiti United (Taiti), Bula FC (Fiji) e Vanuatu United (Vanuatu). As surpresas ficam para aqueles que já existiam. Presente no Mundial de Clubes de 2000, o South Melbourne representará a Austrália. O Hekari será o participante de Papua Nova-Guiné. Já a Nova Zelândia terá o Auckland FC (que desde a última temporada integra a A-League) e o South Island United (o renomeado Christchurch United, tradicional clube amador local). Não há o dominante Auckland City, onipresente nos Mundiais, e nem o Wellington Phoenix, o mais antigo neozelandês com status profissional, presente na A-League, que acionou a justiça após ter seu pleito para se tornar uma franquia da Pro League negado pela OFC. A nova competição ainda ocupa meio calendário, de janeiro a maio, e terá tanto fase de classificação quanto mata-matas. (Leandro Stein)
Até a semana que vem!









