Rodrygo e Estêvão apresentam seus argumentos para a Copa
Com grande atuação da dupla, Seleção goleia a Coreia do Sul e vê a briga por um lugar no ataque para a Copa ficar ainda mais intensa
Newsletter Meiocampo - 10 de outubro de 2025
A Seleção dá motivos para a torcida brasileira se animar, a menos de um ano da Copa do Mundo. Carlo Ancelotti consegue dar uma identidade ao time e encaixa bem as peças. Nesta sexta, a vitória sobre a Coreia do Sul impressionou, mais pelo entendimento coletivo e pela qualidade das jogadas do que só pelo placar elástico. A Newsletter Meiocampo desta sexta também se despede de Miguel Ángel Russo, destrincha a classificação da Argélia à Copa depois de 12 anos e traz muito, mas muito mais sobre a Data Fifa decisiva.
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Rodrygo e Estêvão apresentam seus argumentos para a titularidade na Copa
Com grande atuação da dupla, Seleção goleia a Coreia do Sul e vê a briga por um lugar no ataque para a Copa ficar ainda mais intensa
Por Felipe Lobo
FOTO: @rafaelribeirorio / CBF
Com a Copa do Mundo se aproximando, cada partida da Seleção Brasileira se torna uma vitrine para os jogadores buscarem seu espaço, seja na lista final ou no 11 inicial. O amistoso contra a Coreia do Sul, uma goleada por 5 a 0, foi um exemplo disso, deixando ótimas impressões. Rodrygo, em sua primeira convocação com Carlo Ancelotti, provou não apenas merecer um lugar no elenco, mas ser um forte candidato à equipe titular. Estêvão também demonstrou seu valor, cada vez mais consolidado e ganhando terreno para se firmar entre os principais nomes.
Uma vitória expressiva, especialmente com um placar elástico, sempre atrai olhares, ainda mais contra uma seleção que garantiu sua vaga na Copa do Mundo de forma invicta. A Coreia do Sul fez uma boa campanha nas Eliminatórias, embora esteja em um processo de transição sob o comando do técnico Hong Myung-bo, que assumiu em julho de 2024, e apresente uma formação distinta daquela enfrentada pelo Brasil em 2022. Os sul-coreanos vinham de uma vitória sobre os Estados Unidos e um empate com o México em seus últimos amistosos, o que torna o triunfo brasileiro ainda mais significativo.
Rodrygo, uma das novidades na lista de convocados e ausente desde a derrota por 2 a 1 para a Colômbia em março, iniciou a partida. Com a camisa 10, movimentou-se livremente entre o centro e o lado esquerdo, oferecendo constante dinamismo ao ataque canarinho através de trocas de posições. Matheus Cunha, por sua vez, foi escalado como centroavante, recompensado por seu excelente desempenho contra o Paraguai em junho, antes de uma lesão o afastar da convocação seguinte.
Estêvão manteve sua posição como titular da Seleção e, mais uma vez, teve uma atuação destacada diante da Coreia. Atuando pelo lado direito, mostrou sua criatividade, oferecendo boas opções e se mostrando uma ameaça constante. Sua capacidade foi crucial, inclusive no primeiro gol.
Aos 13 minutos, o Brasil abriu o placar em uma jogada bem trabalhada. Bruno Guimarães lançou com precisão para Estêvão, que apareceu nas costas da defesa e finalizou de pé direito, de primeira, para fazer 1 a 0. Pouco depois, aos 17 minutos, uma cobrança de falta de Estêvão pela direita encontrou Casemiro, que cabeceou para as redes, mas o lance foi invalidado por impedimento.
A posse de bola pendia ligeiramente para o lado brasileiro, que circulava a área adversária enquanto os coreanos se defendiam com uma linha de cinco compacta. O segundo gol surgiu no final do primeiro tempo. A equipe rodou a bola com paciência na entrada da área até Vinícius Júnior receber pela esquerda. Ele tocou para o meio, na direção de Rodrygo, que inteligentemente fez um corta-luz para Casemiro. O volante serviu rapidamente o próprio Rodrygo, desorganizando a marcação. Rodrygo então driblou rapidamente para o centro e finalizou, ampliando para 2 a 0.
A vitória se consolidou no início do segundo tempo, quando Estêvão aproveitou um erro na saída de bola de Kim Min-jae, roubou a posse e finalizou de pé esquerdo no canto, marcando o terceiro gol. O quarto veio em sequência: Casemiro desarmou, tocou para Vinícius Júnior, que rapidamente acionou Rodrygo. Este finalizou no canto, fazendo 4 a 0. Por fim, em um contra-ataque após escanteio, Matheus Cunha lançou Vinícius Júnior em profundidade, que avançou sozinho, aplicou uma finta e finalizou cara a cara com o goleiro para selar o 5 a 0.
Tanto Estêvão quanto Rodrygo exibiram parte de seu vasto repertório, o que os coloca em excelente posição na disputa por uma vaga no time. A concorrência é acirrada: Raphinha, por exemplo, estava ausente por lesão. Vinícius Júnior é visto como um titular. Assim, restam vagas a serem disputadas, e enquanto Matheus Cunha se consolida como uma opção valiosa, Estêvão se destaca como um nome para a formação inicial.
Uma configuração tática que começa a ganhar força é a de não utilizar um centroavante fixo, optando por três ou quatro atacantes entre Vinícius Júnior, Raphinha, Rodrygo, Estêvão e até outros nomes como Luiz Henrique e o próprio Matheus Cunha. Enquanto isso, um talento como Endrick, que não entra em campo há cinco meses, pode parecer esquecido, mas não deveria. Ele possui grande potencial e talvez fosse o caso de mantê-lo no grupo, ao menos para testes, assim como tem ocorrido com Richarlison e Igor Jesus.
A grande incógnita reside na organização defensiva. Por isso, parece plausível que Lucas Paquetá, pela sua qualidade e característica de meio-campista mais avançado, que contribui para uma maior consistência da equipe, possa conquistar uma vaga no setor central, um pouco à frente de Casemiro e Bruno Guimarães. Isso deixaria apenas três posições no ataque, em um elenco recheado de opções ofensivas.
Fartura de opções e consolidações
Rodrygo e Estêvão são os grandes destaques, mas outros pontos merecem ser mencionados. Casemiro, que havia sido preterido por outros técnicos desde a Copa, reassumiu seu posto de protagonista. Aos 33 anos, sua importância é inegável para o conjunto. Isso é positivo, por um lado, pela sua grande contribuição, mas também demanda o planejamento de um substituto para o curto prazo (visando a reserva na Copa) e para o médio e longo prazo.
É no meio-campo que ainda faltam definir algumas escolhas, e para isso, Ancelotti precisará testar nomes como André e João Gomes, potenciais substitutos de Casemiro com base nas convocações anteriores. Além deles, Andreas Pereira e Gérson permanecem na lista ampliada e podem surgir como alternativas.
Douglas Santos parece ter se estabelecido na lateral esquerda. O atleta do Zenit oferece uma saída de bola segura, atuando quase como um terceiro zagueiro e liberando o avanço pelo lado direito para Vitinho, titular na partida devido às lesões de Vanderson e Wesley. Os laterais direitos parecem ter suas posições bem encaminhadas, mas Vitinho teve uma boa atuação para se manter no radar. Paulo Henrique entrou por poucos minutos, mas demonstrou potencial para ser lembrado em caso de necessidade.
A defesa é uma das maiores fontes de tranquilidade para Ancelotti. Marquinhos, mesmo lesionado, é nome certo. Gabriel Magalhães é, provavelmente, o titular, e Éder Militão retornou em boa forma, sendo outro nome garantido. Alexsandro Ribeiro surge como uma forte alternativa, e ainda há Beraldo e Fabrício Bruno como opções adicionais.
O desafio nunca foi a falta de talento. Faltava uma identidade de equipe. Sob o comando de Ancelotti, o elenco ainda não atingiu seu auge, mas claramente evolui a passos largos em direção a esse objetivo.
PODCAST MEIOCAMPO #175
O Brasil goleou a Coreia do Sul por 5 a 0 e, mais do que isso, mostrou boas opções para o setor ofensivo. Rodrygo voltou ao time com classe e Estevão está cada vez mais consolidado. Há muitas opções interessantes e falamos sobre como a equipe tem evoluído, inclusive com fartura de jogadores em algumas posições. Tem ainda mais destaques da data Fifa, com classificações para a Copa e amistosos pelo mundo.
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Miguel Ángel Russo, do começo ao fim
Por Bruno Bonsanti
Miguel Ángel Russo foi um jogador histórico do Estudiantes, promoveu clubes importantes da Argentina à primeira divisão e conquistou a Copa Libertadores com o Boca Juniors, o seu último título até ser campeão colombiano com o Millonarios, quando comoveu o mundo ao revelar o diagnóstico de um câncer de próstata que não o impediu de trabalhar. Nada parecia capaz de fazer isso. Um homem do futebol até o último suspiro, dado na terça-feira em Buenos Aires, aos 69 anos, ainda exercendo o cargo de treinador.
É um acontecimento raro. O caso mais famoso é o de Jock Stein, que faleceu de insuficiência cardíaca logo depois de um jogo das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986 no comando da seleção escocesa. A fragilidade da saúde de Russo estava evidente sempre que ele aparecia em público para treinar o Boca Juniors. A última vez que o fez foi em 21 de setembro. A causa da morte não foi confirmada. Ele havia sido internado para tratar uma infecção urinária.
Um jogador histórico do Estudiantes
Russo nasceu em Lanús, província de Buenos Aires e estreou pelo Estudiantes, em 30 de novembro de 1975. Nunca vestiu outra camisa. Fez 432 partidas e 12 gols no total. Um deles arrancou o empate por 3 a 3 com o Grêmio pela Libertadores de 1983 na Batalha de La Plata, na qual o Estudiantes foi buscar o resultado mesmo com quatro jogadores a menos e após estar perdendo por 3 a 1.
Foram 14 temporadas consecutivas na primeira divisão do futebol argentino, com os títulos do Metropolitano de 1982 e do Nacional do ano seguinte, formando um meio-campo famoso com Marcelo Trobbiani, José Daniel Ponce e Alejandro Sabella. Apesar de ter disputado as Eliminatórias para a Copa de 1986, não chegou a fazer parte do elenco que seria campeão mundial sob o comando de Carlos Bilardo, o mesmo técnico que havia promovido sua estreia no Estudiantes.
Uma frustração com a qual faria as pazes apenas quando mudou de profissão. “Bilardo me disse que quando eu me tornasse técnico, eu entenderia. E foi isso que aconteceu. Quando fui para o outro lado, muitas coisas começaram a fazer sentido”, disse.
Especialista em promoções
O seu primeiro trabalho como técnico foi no comando do Lanús. Conseguiu o acesso à primeira divisão em 1989/90 e recebeu confiança da diretoria apesar do rebaixamento na temporada seguinte. Retribuiu-a com uma segunda promoção imediata. Ficaria nesse clube até 1994, quando foi convocado para tirar o Estudiantes da Segundona. Trabalhou em parceria com Eduardo Luján Manera, o seu segundo técnico na época de jogador. “Foi um dos primeiros que consultei para virar treinador e que, junto com Bilardo, me acompanhou e me ensinou a ser o que sou”, afirmou.
Com moral após três promoções, Russo teve a sua primeira experiência fora da Argentina ao assumir a Universidad de Chile. A passagem foi marcada pela semifinal da Libertadores de 1996 com o River Plate, um confronto cheio de polêmicas de arbitragem e confusões dentro e fora de campo que chegaram ao patamar de um incidente diplomático. Após o empate por 2 a 2 na ida, o River venceu por 1 a 0 no Monumental de Núñez, gol de Matías Almeyda. Foi o confronto que colocou Marcelo Salas no radar dos argentinos, que o contrariam naquele mesmo ano.
Finalmente, os títulos
O aproveitamento de quase 100% até aquele momento seria quebrado com uma série de trabalhos mais curtos, apesar de boas campanhas no Campeonato Argentino em suas duas primeiras passagens pelo Rosario Central. Seriam cinco no total. A óbvia lacuna do seu currículo era um título de primeira divisão. Tirou esse “peso” das costas ao conquistar o Clausura de 2005 com o Vélez Sarsfield. “Era um peso porque você busca ser campeão desde o primeiro dia. Luta e trabalha para sê-lo e talvez alguma vez o consiga”, comemorou. “Estou grato por poder entrar na história deste clube, que foi campeão com técnicos como Carlos Bianchi e Marcelo Bielsa”.
O título com o Vélez o colocou definitivamente no radar das potências e, em 2007, foi convidado para substituir Ricardo La Volpe no Boca Juniors, “um acontecimento muito importante na sua vida, a consequência de toda uma trajetória”, como disse na entrevista coletiva de apresentação ao lado do então presidente do clube, Mauricio Macri.
Estava certo em exaltar a relevância do momento porque foi no comando dos xeneizes que conquistou o título mais importante da sua carreira, ao conduzir um Boca Juniors com Juan Román Riquelme, Rodrigo Palacio e Martín Palermo ao título da Libertadores naquele ano, atropelando o Grêmio nas duas partidas da decisão.
Russo deixou o Boca Juniors depois da derrota para o Milan no Mundial de Clubes e começou a peregrinar por uma série de clubes argentinos, sem grandes sucessos. Pelo menos, ganharia moral com a torcida do Rosario Central em mais duas passagens, primeiro evitando o rebaixamento nas rodadas finais do Clausura em 2009 e depois adicionando mais uma promoção ao seu currículo em 2013. Também foi vice-campeão da Copa da Argentina após perder a final para o Huracán.
“Tudo se cura com amor”
Depois de um retorno rapidinho ao Vélez, Russo chegou ao Millonarios para um trabalho que teve contornos de redenção porque quebrou uma seca de cinco anos sem títulos de primeira divisão ao conquistar o Campeonato Colombiano de 2017. Durante a campanha, foi diagnosticado com câncer e, apesar de estar no meio do tratamento com quimioterapia, não deixou de comandar o seu time na final contra o Independiente Santa Fe.
Manteve a doença em segredo para não atrapalhar o trabalho. Não apenas do público. Evitava discuti-la até com os jogadores, como contou o auxiliar Hugo Gottardi, em entrevista ao jornal AS. “Ele não falava da doença com o elenco. Falava com nós que éramos mais próximos. As equipes médica e técnica estavam muito por dentro do que acontecia. Miguel soube que tinha câncer no dia do meu aniversário, em 31 de julho, e foi assim que disputou aquele campeonato. Durante todo o segundo semestre, esteve em tratamento e com o grupo”, disse.
Russo revelou a doença ao público apenas depois do fim da temporada, às vésperas da Superliga, na qual levou o segundo caneco na Colômbia. Agradeceu aos médicos e ao clube por ter ajudado a manter o segredo e cunhou uma frase marcante: “Tudo se cura com amor”.
É curioso que, em densidade, o período mais vitorioso da sua carreira foi o último. Conduziu o Boca Juniors aos títulos da Superliga e da Copa da Liga e chegou às semifinais da Libertadores em 2020. Também comandou as primeiras rodadas da Copa da Argentina de 2019/20, finalizada no ano seguinte, por causa da pandemia, sob o comando de Sebastián Battaglia. Depois, coroou a sua quinta passagem pelo Rosario Central com o título da Copa da Liga.
Meses depois de deixar o San Lorenzo, foi anunciado para começar a terceira passagem no Boca Juniors. Chegou duas semanas antes da estreia na Copa do Mundo de Clubes. A campanha começou promissora com o empate com o Benfica e fazendo o Bayern de Munique suar, mas terminou com um muito criticado empate com o Auckland City.
Os resultados estavam começando a melhorar, com seis rodadas de invencibilidade e apenas uma derrota nas primeiras nove partidas do Clausura até seu afastamento em 21 de setembro. Ainda longe do ideal, o Boca pelo menos lidera o seu grupo. Apesar da saúde debilitada e de uma visível fragilidade, Russo continuou trabalhando com o mesmo propósito dos últimos 50 anos que dedicou ao futebol.
Continuou trabalhando até o fim.
A Argélia volta à Copa pela primeira vez desde aquela incrível tarde no Beira-Rio
Por Leandro Stein
Há longínquos 12 anos, na última vez em que a Argélia havia se classificado à Copa do Mundo, um mosaico feito com pequenas tochas escreveu o nome do país nas arquibancadas em Bilda. O espetáculo de fogo parecia antever a campanha flamejante das Raposas do Deserto no Brasil. No entanto, desde aquela tarde em Porto Alegre na qual estiveram a ponto de impedir o tetracampeonato da Alemanha, os argelinos não disputam um jogo de Mundial. Uma espera que se encerrará em 2026, numa classificação que une as pontas da história de uma seleção de enorme fanatismo ao seu redor.
A Copa do Mundo de 2026 será a quinta da Argélia. As Raposas do Deserto estiveram presentes em 1982 e 1986, com aquela que é considerada sua geração dourada. Um time que venceu a Alemanha Ocidental em sua estreia em Mundiais e esteve próximo de avançar à segunda fase, não fosse a infame armação dos alemães com a Áustria para se classificarem juntos no fajuto empate de Gijón. Aquela geração ainda venceu a primeira Copa Africana de Nações do país, em 1990, se reerguendo da eliminação dolorosa para o rival Egito nos duelos decisivos do qualificatório para a Copa do Mundo em 1989.
As guerras, no entanto, dividem períodos na história da seleção argelina. Se a equipe surgiu a partir da luta por independência nos anos 1950, com os heróis que excursionaram o mundo para divulgar a causa da Frente de Libertação Nacional, os conflitos internos no país romperam o período dourado décadas depois. De 1992 a 2002, a Argélia viveu uma guerra civil que causou mais de 150 mil mortes e provocou gerações perdidas também no futebol. Foram 24 anos longe da Copa do Mundo, até o retorno em 2010. Um time que lavou a alma com a revanche diante do Egito nas Eliminatórias em 2009 e que conseguiria outra dobradinha em classificações, para se gravar na memória da torcida em 2014 com a caminhada até as oitavas de final.
Estes elencos da Argélia se escoraram sobretudo nos filhos da diáspora: descendentes de argelinos que nasceram em outros países, principalmente na França, mas optaram por defender a seleção da terra de seus pais no nível principal. O que hoje é praxe em vários continentes, naquele momento, era explorado pelas Raposas do Deserto como em nenhum outro país. E se o time de 2010 encerrou a espera pela vaga na Copa, o de 2014 tinha qualidade suficiente para prosperar além.
De fato, prosperou além, mas na Copa Africana de Nações. Vários remanescentes daquele abafa no Beira-Rio estavam presentes no gramado do Estádio Internacional do Cairo, em 2019, onde a Argélia venceu Senegal e reconquistou a CAN depois de 29 anos. Sofiane Feghouli, Yacine Brahimi, Islam Slimani e Raïs M’Bolhi eram veteranos das Copas do Mundo anteriores, embora o grupo fosse liderado na braçadeira e na bola por Riyad Mahrez, então uma promessa cinco anos antes no Brasil. Aquele elenco também contava com jogadores mais jovens, nascidos e crescidos na Argélia sem os traumas da guerra. Para um campeão africano, contudo, ficar 12 anos fora da maior festa do futebol é muito.
A Argélia passou longe de se classificar para a Copa do Mundo de 2018. No apertado gargalo africano, deu azar de cair no “grupo da morte” e ficou na lanterna – atrás de Nigéria, Zâmbia e Camarões. Já no qualificatório para o Mundial de 2022, as Raposas do Deserto fizeram uma campanha irretocável na fase de grupos. O problema desta vez é que a vaga acabaria decidida num mata-mata, e o sorteio colocou Camarões no caminho. Apesar da vitória em Douala, os argelinos tomaram o troco na volta em Bilda e sucumbiram de forma inacreditável na prorrogação, com um gol no 124° minuto da partida.
A geração campeã da CAN 2019 também deu sinais de desgaste no próprio torneio continental. Foram duas campanhas patéticas em 2021 e 2023, ambas com os argelinos eliminados na fase de grupos e sem uma vitória sequer. A sequência de decepções encerrou o ciclo do técnico Djamel Belmadi, bem como marcou o adeus de vários dos veteranos da Copas de 2010 e 2014. Ao longo do ciclo, a federação argelina voltou a intensificar o trabalho de buscar potenciais estrelas em outros países – auxiliados pelo abrandamento nas regras da Fifa em relação àqueles que defenderam outras seleções adultas em alguns amistosos.
Mahrez não vive mais seu esplendor na Premier League, hoje no futebol saudita com o Al-Ahli, mas permanece como a referência da Argélia. Ao seu lado, o zagueiro Aïssa Mandi e o meio-campista Nabil Bentaleb, outrora promessas no Beira-Rio e atualmente companheiros no Lille, são aqueles que podem contar as histórias vividas no Brasil. O elenco ainda continua reunindo um bom número de campeões africanos em 2019, como o polivalente Ramy Bensebaini (Borussia Dortmund), o habilidoso Youcef Belaïli (Espérance) e o artilheiro Baghdad Bounedjah (Al-Shamal) – todos parte de uma geração que, embora tenham vivido a infância numa Argélia em guerra, tiveram a paz na adolescência para prosperar como jogadores de futebol. E há um novo grupo de talentos, que aumentou o potencial das Raposas da Argélia nesta década. Uma leva mais recente de descendentes da diáspora.
A defesa inclui Rayan Aït-Nouri, lateral que inicia sua trajetória no Manchester City e jogou nas seleções francesas de base. É o caso também do meio-campista Houssem Aouar (Al-Ittihad), antiga promessa do Lyon que defendeu o time principal dos Bleus em 2020. Tal caminho se aplica a Amine Gouiri, destaque do Olympique de Marseille cotado antes ao time principal dos franceses. Até há um sobrenome ilustre, Luca Zidane (Granada), herdeiro de Zinédine, sempre orgulhoso da origem de seu sangue. O goleiro nascido na Provença e criado em Madri sempre jogou pelas seleções francesas de base, mas aos 27 anos se tornou uma solução recente para a meta das Raposas do Deserto.
A gama de possibilidades da Argélia se expandiu a outros países, como o volante Ramiz Zerrouki (Twente) nascido em Amsterdã e o ponta Ibrahim Maza (Bayer Leverkusen) originário de Berlim. Apesar do talento precoce, Farès Chaïbi (Eintracht Frankfurt) e Anis Hadj Moussa (Feyenoord) só defenderam a seleção argelina. É uma nova safra liderada por Mohamed Amoura, atacante do Wolfsburg que se coloca como o mais capacitado para receber o bastão de Mahrez em relação ao protagonismo na equipe.
Já no banco de reservas, a Argélia buscou uma fórmula parecida com a de 2014. Embora o país tenha vivido grande parte de seus sucessos com treinadores locais, a campanha no Brasil foi impulsionada por um bósnio radicado na Europa ocidental, Vahid Halilhodzic. É a mesma origem de Vladimir Petkovic, que assumiu a casamata em 2024, após um louvável trabalho de sete anos à frente da Suíça – com a qual disputou duas Eurocopas e fez bom papel na Copa do Mundo de 2018. Sob suas ordens, os argelinos estarão novamente em um Mundial.
Com o aumento de vagas à Copa do Mundo, a Argélia se classificou para o Mundial de 2026 sem grandes sustos, diante dos menores riscos nas Eliminatórias Africanas. As Raposas do Deserto até sofreram uma derrota para Guiné em Argel, mas os principais concorrentes da chave não fizeram uma boa campanha e os argelinos embalaram depois disso. São sete vitórias em nove rodadas, com a vaga consumada com uma rodada de antecedência. Os 3 a 0 diante da Somália em Oran tiveram gols de Amoura (dois) e Mahrez, um bom cartão de visitas sobre o melhor que o time pode oferecer neste momento.
É cedo para prever se este grupo da Argélia poderá emular o espanto causado em 1982 ou em 2014. Há talento à disposição e novos nomes prontos para eclodir, embora a oferta de destaques seja mais abundante no ataque do que na defesa, o que atrapalha o equilíbrio. Fato é que a mera presença em uma Copa do Mundo significa demais. Num país em que a trajetória da seleção se mistura com a própria construção da identidade nacional, o Mundial pode estabelecer novos marcos.
O rival Egito retorna pelos pés e pelas ordens de duas lendas
O Egito ficou menos tempo longe da Copa do Mundo, mas os oito anos até a volta confirmada para 2026 soaram como um hiato longo à geração dos Faraós. A classificação em 2022 não veio por um renhido duelo com Senegal na fase final. Desta vez, o caminho foi bem mais sereno, sem que Burkina Faso acompanhasse o ritmo dos egípcios para se colocar como uma ameaça. O Egito está invicto na campanha das Eliminatórias, com sete vitórias e dois empates. Também impressiona o desempenho defensivo, com somente dois gols sofridos. O triunfo por 3 a 0 sobre Djibouti, no campo neutro em Casablanca, foi mais que suficiente para selar a vaga com um jogo de antecipação.
Mohamed Salah fez muita diferença para os Faraós. Dos 19 gols do time, nove foram anotados pelo craque, com mais duas assistências. Tornou-se o maior artilheiro das Eliminatórias Africanas na história. É o capitão e o símbolo, com chances de causar um impacto maior do que em 2018, quando não estava 100% fisicamente no Mundial da Rússia. Salah continua bem apoiado por jogadores com rodagem na Europa, em especial Trezeguet, autor de cinco gols na campanha. De volta ao Al-Ahly, o meia garante uma dose a mais de experiência, assim como o goleiro Mohamed El Shenawy, seu companheiro de clube. Ainda assim, é um Egito relativamente renovado, com poucos remanescentes de 2018. Entre aqueles que jogarão um Mundial pela primeira vez estão Omar Marmoush (Manchester City) e Mostafa Mohamed (Nantes), outros destaques do país em atividade nas grandes ligas europeias.
Já entre os medalhões, menção especial ao técnico Hossam Hassan, uma lenda do futebol africano. O ex-atacante é o maior artilheiro da história da seleção do Egito e esteve presente em três títulos da Copa Africana de Nações – 1986, 1998 e 2006. Sua lista de façanhas ainda inclui uma miríade de taças por Al-Ahly e Zamalek, vencedor da Champions Africana por ambos os rivais, assim como de 13 troféus do Campeonato Egípcio. Seu maior momento, ainda assim, foi anotar o gol que classificou o Egito à Copa de 1990, após 56 anos longe do torneio, num tenso clássico contra a Argélia. Como técnico, embora tenha dirigido vários clubes tradicionais de seu país, Hassan nunca tinha recebido uma chance na seleção. Sua única experiência numa equipe nacional havia sido à frente da Jordânia, com a qual alcançou a repescagem nas Eliminatórias e sucumbiu diante do Uruguai pela vaga na Copa de 2014. À frente dos egípcios desde 2024, após a fraca CAN 2023 com Rui Vitória, o velho craque voltará ao Mundial após 36 anos.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na última terça, falamos sobre a decisão da Uefa em permitir jogos das ligas nacionais fora da Europa, o momento instável do Liverpool, a aguardada demissão de Ramón Menezes pela CBF e as seleções que merecem atenção na Data Fifa.
Giro
- Cabo Verde terá que esperar mais alguns dias, mas mesmo o tropeço na quarta não abalou a confiança de que a vaga inédita na Copa do Mundo virá. O time tinha um compromisso difícil na busca da classificação antecipada, ao visitar a Líbia em Trípoli. Foi um insano empate, no qual os Tubarões Azuis cometeram erros fatais e permitiram aos líbios abrirem 3 a 1, mas renasceram para buscar o 3 a 3 e ficaram a ponto da virada no fim – com gols perdidos, mas também um absurdo tento anulado pelo árbitro, que serviria para selar a vaga. Apesar disso, os cabo-verdianos estão dois pontos à frente de Camarões, que até venceu Ilhas Maurício por 2 a 0. Na rodada final, a classificação de Cabo Verde poderá se consumar em casa, diante da torcida em Praia, contra a lanterna Eswatini. Os camaroneses pegam a eliminada Angola. (Leandro Stein)
- Costa do Marfim, Senegal e Gana não confirmaram vaga na Copa do Mundo ainda, mas também vão com a situação encaminhada para a rodada final na África. Costa do Marfim manteve a vantagem de um ponto sobre Gabão no Grupo F. Os Elefantes atropelaram Seychelles por 7 a 0 e, na rodada final, só dependem de si contra o Quênia em Abidjan. Já os gaboneses sobreviveram graças a uma suadíssima virada por 4 a 3 na visita à Gâmbia, com quatro gols de Pierre-Emerick Aubameyang, e pegam Burundi no último jogo. Pelo Grupo B, Senegal está dois pontos à frente da República Democrática do Congo. Na rodada, os senegaleses fizeram 5 a 0 no Sudão do Sul, ao passo que os congoleses garantiram o 1 a 0 diante de Togo. A rodada final terá os Leões da Teranga contra Mauritânia em Diamniadio e os Leopardos contra Sudão em Kinshasa. Por fim, pelo Grupo I, Gana goleou a República Centro-Africana por 5 a 0 e ficou muito tranquila. São três pontos de vantagem para Madagascar, além de oito gols a mais no saldo. Um empate em casa dos ganeses contra Comores cumprirá a missão. (Leandro Stein)
- A emoção de verdade ficará para o Grupo C, que se embolou depois da África do Sul perder pontos pela escalação de um jogador irregular. Benin é quem parte à rodada final como zebra na liderança, em busca da classificação inédita. Nesta sexta, os Esquilos fizeram sua parte com o triunfo por 1 a 0 sobre Ruanda. A África do Sul só empatou com o vizinho Zimbábue, por 0 a 0. Já a Nigéria, tentando um milagre para sobreviver, derrotou Lesoto com sustos por 2 a 1. Benin fica com 17 pontos, contra 15 da África do Sul e 14 da Nigéria. Os sul-africanos não dependem mais só de si, mas terão um jogo mais acessível contra Ruanda em casa para voltar à Copa após 16 anos. Já Nigéria e Benin fazem o confronto direto na cidade nigeriana de Uyo, em resultado que pode levar as Super Águias ao menos à repescagem. Vale lembrar que os quatro melhores segundos colocados vão à repescagem na África, da qual sairá um time à repescagem intercontinental. Neste momento jogariam Gabão, Camarões, DR Congo e Madagascar – África do Sul e Nigéria, por exemplo, ficariam de fora na atual configuração das chaves. (Leandro Stein)
- O Haiti se posiciona para voltar à Copa do Mundo após 52 anos, na metade da fase decisiva das Eliminatórias na Concacaf. Sob uma chuva torrencial, os Grenadiers amassaram a Nicarágua com uma contundente vitória por 3 a 0 em Manágua. E assumiram a liderança do grupo no saldo de gols, auxiliados pelo empate por 0 a 0 no clássico entre Honduras e Costa Rica, disputado em San Pedro Sula. A posição dos haitianos não é por acaso, diante da notável evolução da equipe desde a última década, crescendo no contexto regional e com boas campanhas na Copa Ouro. A defesa se vale da experiência de jogadores rodados, como o goleiro Johnny Placide (do Bastia, com longa carreira no Campeonato Francês) e o zagueiro Ricardo Adé (ídolo da LDU Quito). Já a dupla de ataque formada por Duckens Nazon (Esteghlal) e Frantzdy Pierrot (AEK Atenas) está entre as mais fortes da Concacaf nos últimos anos, com dois jogadores que compõem o Top 3 de maiores artilheiros da história da equipe nacional e que rodaram por diversas ligas ao longo da carreira. (Leandro Stein)
- O aumento da Copa do Mundo para 48 seleções deve beneficiar algumas equipes europeias que não disputam o torneio desde 1998, justamente na expansão para 32 times. A Áustria esfrega as mãos em uma chave sabidamente aberta. O time de Ralf Rangnick não teve piedade de San Marino e enfiou 10 a 0, com quatro gols só de Marko Arnautovic (Estrela Vermelha). É um bom elenco, com muita gente de destaque na Bundesliga, em especial Konrad Laimer (Bayern) e Marcel Sabitzer (Dortmund) no meio-campo, além de contar com David Alaba (Real Madrid) e Kevin Danso (Tottenham) formando a dupla de zaga. Os austríacos chegaram aos 15 pontos, contra 13 da Bósnia (que tem um jogo a mais, mas só empatou com o Chipre na rodada) e apenas sete da Romênia. Com mais três partidas pela frente, é uma situação confortável. (Leandro Stein)
- A Escócia não deslanchou na tabela nesta rodada, mas está na briga após a virada fundamental por 3 a 1 sobre a Grécia no Hampden Park. Ryan Christie (Bournemouth) e Lewis Ferguson (Bologna) lideraram a reação, numa equipe titular qualificada ainda por Andy Robertson (Liverpool), John McGinn (Aston Villa) e Scott McTominay (Napoli). A Tartan Army está com os mesmos sete pontos da Dinamarca e atrás no saldo, mas o confronto direto da última rodada será em Glasgow. Os gregos, com três pontos, se complicam. Da rodada de quinta-feira, ainda vale citar a fantástica goleada das Ilhas Faroe por 4 a 0 sobre Montenegro. Os nórdicos chegaram aos nove pontos e alimentam uma pequena chance, quatro pontos atrás de Croácia e República Tcheca. Já os montenegrinos foram eliminados. O placar iguala a maior goleada dos faroeses na história da seleção e também marca sua melhor campanha em Eliminatórias para a Copa. Árni Frederiksberg, estrela do KÍ Klaksvík que disputou a Conference duas temporadas atrás, fez dois gols e deu duas assistências. (Leandro Stein)
- A Alemanha teve uma boa e uma má notícia na rodada desta sexta-feira das Eliminatórias. A boa é que a Eslováquia perdeu, o que valeu a liderança do grupo ao Nationalelf, depois da goleada por 4 a 0 sobre Luxemburgo. A ruim é que a Irlanda do Norte, algoz dos eslovacos por 2 a 0, se emparelhou na disputa e será um desafio fora de casa aos alemães no returno. Todos os três concorrentes (menos Luxemburgo) estão com seis pontos cada e o time de Julian Nagelsmann lidera pelo saldo de gols. Em teoria, era para se ver o copo meio cheio, com o caminho livre a partir de agora, mas não que as atuações alemãs contra eslovacos e norte-irlandeses tenham inspirado confiança. Outra seleção que não pode dormir no ponto em sua chave é a Bélgica, com uma rodada ruim. Os Diabos Vermelhos empataram em casa por 0 a 0 com a Macedônia do Norte, mesmo totalizando 25 finalizações. Os macedônios lideram com 12 pontos e um jogo a mais, enquanto belgas somam 11 e galeses estão com 10. Pior para a Bélgica, com a visita a Gales na próxima rodada. (Leandro Stein).
- Já a França se aproximou de sua vaga na Copa do Mundo ao vencer o Azerbaijão por 3 a 0, mas vitória de ainda mais peso foram os 2 a 0 da Suíça na visita à Suécia. Os suíços tiveram o domínio mesmo fora de casa e garantiram o resultado no segundo tempo. São nove pontos em três rodadas, cinco de vantagem na liderança. Já os suecos decepcionam na lanterna, com um mísero ponto, precisando correr atrás de Kosovo e Eslovênia em busca da repescagem. Nem mesmo o badalado ataque com Viktor Gyökeres e Alexander Isak salva os escandinavos. No caso da França, também são nove pontos em três rodadas, com cinco de vantagem. Em sua chave, a luta pela repescagem teve um excelente resultado da Ucrânia, na movimentadíssima vitória por 5 a 3 na visita à Islândia. O resultado deixa os ucranianos na vice-liderança, com um ponto a mais que os islandeses, recuperando-se do tropeço anterior contra os azeris. (Leandro Stein)
- Causou controvérsia a decisão da AFC, a Confederação Asiática, em realizar os triangulares decisivos das Eliminatórias em países que estão na disputa. Em vez de jogos em campo neutro, Arábia Saudita e Catar ganharam sem méritos esportivos a possibilidade de disputar em casa as vagas no Mundial que ainda não conquistaram – uma escolha no mínimo contestável, diante dos laços mais estreitos com a Fifa pelas sedes de 2022 e 2034, respectivamente. No caso da Arábia Saudita, o ambiente auxiliou. Os Falcões Verdes derrotaram a Indonésia por 3 a 2, com o time de Hervé Renard impulsionado pelos dois gols de Firas Al-Buraikan (Al-Ahli) e pela energia do novato Saleh Abu Al-Shamat (Al-Ahli). Iraque e Indonésia se enfrentam no sábado, antes que sauditas e iraquianos definam o classificado na terça. Já o Catar perdeu ótimas chances contra Omã, agora dirigido pelo pragmático Carlos Queiroz, e não saiu do 0 a 0. O caminho fica aberto para os Emirados Árabes Unidos, que pegam os omanis no sábado e os catarianos na terça. Os emiradenses tentam voltar à Copa após 36 anos, mas uma surpresa inédita de Omã não pode ser descartada. (Leandro Stein)
- Em protesto, os jogadores de Guiné Equatorial boicotaram a federação e perderam por W.O. o compromisso diante Malauí na penúltima rodada das Eliminatórias. A disputa se deu por conta da programação da viagem ao país adversário, com a logística preparada pelo próprio governo. O voo foi marcado para pousar pouco antes da partida e os jogadores não teriam tempo de preparação, precisando sair do aeroporto direto ao estádio, já vestidos para entrar em campo. As lideranças do elenco decidiram então não fazer a viagem. Apesar das boas campanhas recentes na Copa Africana de Nações, os equato-guineenses não tinham mais chances de classificação direta ao Mundial, com a vaga assegurada pela Tunísia na chave. No entanto, ainda tinham a oportunidade de lutar pela repescagem. Anteriormente, a equipe perdeu pontos em duas vitórias sobre Namíbia e Libéria, pela alegada escalação irregular do atacante Emilio Nsue – que, depois de disputar três edições de CAN e mais de 40 jogos pela seleção, teve sua elegibilidade barrada pela Fifa em abril de 2024. Um ano depois, no último mês de março, a entidade voltou atrás da decisão e deu sinal verde para o veterano de 36 anos retornar às convocações, mesmo sem alterar a punição. (Leandro Stein)
- Por falar em bagunça da Fifa, nada mais vergonhoso do que o escândalo envolvendo a Malásia na convocação de supostos “filhos da diáspora”, que escancara a fragilidade dos mecanismos da entidade. O potencial competitivo de alguns vizinhos no sudeste asiático aumentou graças às convocações de descendentes nascidos em outros países. Indonésia e Filipinas, sobretudo, se beneficiam do processo graças à enorme diáspora de ambos. Não é muito o exemplo dos malaios, que resolveram fraudar documentos para convocar supostos descendentes. Sete jogadores se tornaram elegíveis à seleção malaia depois que os documentos de seus avós foram adulterados para constarem como de origem na Malásia. Foi o caso de espanhóis, argentinos, brasileiro e holandês – incluindo o atacante João Figueiredo (Johor Darul Ta’zim, formado pelo Atlético Mineiro) e o ponta Imanol Machuca (Vélez, emprestado pelo Fortaleza). Os atletas inclusive participaram da vitória sobre o Vietnã, nas eliminatórias da Copa da Ásia. Todos os sete futebolistas foram banidos das convocações, enquanto a Fifa aplicou uma multa de 350 mil francos suíços sobre a federação. Soa pouco pela gravidade da fraude, ainda mais com participação de órgãos do governo. É um precedente perigoso, ainda mais no continente asiático, onde as naturalizações são comuns. E indica vulnerabilidades da Fifa. (Leandro Stein)
- Os jogadores entraram no debate sobre os jogos marcados pelas ligas espanhola e italiana para o exterior. Frenkie de Jong, do Barcelona, que enfrentará o Villarreal em Miami, não gostou da ideia, citando a isonomia da competição e a viagem desnecessária, dois pontos bastante válidos. Adrien Rabiot, antecipando uma longa viagem à Austrália para encarar o Como, foi menos sofisticado: “É completamente maluco”. A opinião do francês incomodou o CEO da Serie A, Luigi De Siervo, que usou o mesmo argumento que todos os dirigentes usam para justificar ideias ruins: é necessário para pagar o salário dos jogadores. Maurizio Sarri, técnico da Lazio, rebateu: “Se Rabiot não entrar em campo a cada três dias, a Serie A não recebe nenhum dinheiro”. Acende um cigarro, Sarri. Você merece. (Bruno Bonsanti)
- O Inter Miami precisará encontrar outros amigos de Messi para que ele tenha companhia ano que vem (caso ele renove contrato) porque Jordi Alba e Sergio Busquets decidiram que encerrarão as suas carreiras ao fim da atual edição da Major League Soccer. Duas figuras lendárias do Barcelona, cada um teve o seu impacto de maneiras diferentes. Lateral super ofensivo, Alba se destacou pelo entendimento quase sobrenatural com Messi. Uma das jogadas mais mortais do futebol foi a sua projeção para receber a inversão e devolver na medida para o companheiro mandar para dentro. Já Busquets redefiniu grande parte da profissão de volante. Um craque fantasma que se especializou em escapar da pressão com técnica, inteligência e movimentação. E às vezes, apenas posicionando o corpo para dominar a bola na direção certa. O Inter Miami ainda tem duas rodadas da temporada regular da MLS, mas, em terceiro lugar, já está classificado aos playoffs. (Bruno Bonsanti)
- A gente fala do Brasil, mas a rotatividade de treinadores na Arábia Saudita também é de primeira linha. Sérgio Conceição será o quarto do Al-Ittihad em pouco mais de três anos, após Nuno Espírito Santo, Marcelo Gallardo e Laurent Blanc. A sua carreira na Europa foi bruscamente interrompida pela breve e medíocre passagem de seis meses pelo Milan. Até o excelente trabalho pelo Porto passar a ser mais proeminente na cabeça das pessoas, faz aquele pit stop no Oriente Médio para garantir a mensalidade da faculdade do tataraneto. O Al-Ittihad é o clube que emprega N’Golo Kanté, Karim Benzema e Fabinho e, para quem se perdeu, os principais adversários de Conceição serão Jorge Jesus (Al-Nassr), Simone Inzaghi (Al-Hilal) e Matthias Jaissle (Al-Ahli), ex-comandante do Red Bull Salzburg.
- Eu estava lendo um resumo do discurso de Gianni Infantino, presidente da Fifa, à assembleia geral dos Clubes Europeus de Futebol (antiga Associação dos Clubes Europeus, ou ECA) que foi me assustando mais a cada parágrafo. Ele começa pedindo “mente aberta” para considerar a realização da Copa do Mundo em meses não convencionais, como precisará acontecer mais uma vez em 2034, na Arábia Saudita. Até citou que os meses em que “dá para jogar em qualquer lugar” são outubro e março. Depois, a reportagem do Guardian confirma que a Fifa está pensando em expandir a Copa do Mundo de Clubes para 48 times a partir da próxima edição, em 2029, talvez com preliminares para reduzir o número final para 32. Ou seja, só serviria para colocar mais datas mesmo. É uma compulsão. Espanha e Marrocos são favoritos para recebê-la, mas não é descartado um “retorno rápido” aos Estados Unidos. A China também está interessada. Outra mudança em consideração é realizá-la a cada dois anos. O Catar seria um forte candidato em 2031 porque Infantino não consegue passar muito tempo sem colocar uma grande competição no Oriente Médio. Eu gostaria de saber por quê. Tenho certeza que a resposta seria interessante. (Bruno Bonsanti)
- Rúben Amorim tem três anos para se provar no Manchester United, segundo Jim Ratcliffe, acionista que controla o futebol. É muito mais tempo do que a maioria dos torcedores imaginava, já que o treinador português ainda não conseguiu emplacar no clube, com apenas 19 vitórias em 50 jogos disputados desde novembro de 2024, quando foi contratado. “Ruben precisa demonstrar que é um grande técnico nos próximos três anos”, disse Ratcliffe. O empresário, dono da INEOS, acredita que o sucesso em campo virá com o clube sendo gerido como uma empresa fora de campo. Ou seja, com a sua experiência de gestão. No último balanço, o United apresentou recorde de receitas, mas pelo sexto ano seguido teve prejuízo financeiro. “O Manchester United se tornará o clube de futebol mais lucrativo do mundo, na minha opinião, e disso surgirá, espero, um futebol de alto nível, sustentável e de longo prazo”. Então tá, né. (Felipe Lobo)