Temos o primeiro classificado à Copa do Mundo
Neste atual ciclo, poucas seleções apresentaram um futebol tão ofensivo e tão vistoso quanto o Japão, primeiro time garantido em campo no Mundial de 2026
Newsletter Meiocampo #16 - 21 de março de 2025
O futebol de seleções assumiu o protagonismo nessa semana, com a classificação do Japão à Copa do Mundo e outras ótimas histórias, como o gol do panamenho Cecilio Waterman contra os Estados Unidos - e a comemoração com Thierry Henry. Também falamos sobre como conquistas como a do Newcastle podem ser importantes mesmo nos torneios menos importantes e outras pílulas desta Data Fifa.
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O Japão abre alas e mira a história
O Japão manteve a sua sequência de estar sempre presente na Copa do Mundo desde 1998
Por Leandro Stein
A Copa do Mundo é pródiga em criar partidas lendárias, inclusive nas Eliminatórias. O jogo mais lembrado do Japão no caminho a um Mundial curiosamente é uma eliminação, das mais dolorosas já ocorridas. A “Agonia de Doha”, com o empate dramático por 2 a 2 contra o Iraque em 1993, barrou uma geração que eclodia com a profissionalização do futebol no país e com o surgimento da J-League. A Copa de 1994, no entanto, foi a última em que os Samurais Azuis se ausentaram. Desde então, são oito participações, já incluindo a recém-assegurada vaga para 2026.
A confirmação do Japão como primeira seleção classificada em campo para o próximo Mundial é simbólica. Não apenas pela sequência ininterrupta estabelecida pelos nipônicos desde 1998, quando fizeram sua estreia em Mundiais na França. Neste atual ciclo, raríssimas seleções ofereceram um futebol tão ofensivo e tão vistoso quanto o time de Hajime Moriyasu. Existem altas expectativas e, quem sabe, um retrato desta nova fase da Copa com 48 seleções.
O Japão foi de figurante a um interessante coadjuvante na Copa do Mundo. Jogadores talentosos sempre despontaram nos Samurais Azuis, mas não de forma consistente para impulsionar tanto a equipe em seus primeiros Mundiais. Durante as cinco primeiras campanhas, os japoneses oscilaram entre a eliminação na fase de grupos (1998, 2006, 2014) e times competitivos que deram trabalho até as oitavas de final (2002, 2010). Já nas duas últimas edições, a impressão é de que os nipônicos poderiam ter ido além, não fossem os deslizes nas oitavas contra a Bélgica em 2018 e contra a Croácia em 2022.
A atual geração do Japão amadurece a partir dessas lições mais recentes, bem como pelas portas cada vez mais abertas no futebol europeu. Há um conjunto numeroso de jogadores provados no mais alto nível e com bagagem internacional. Méritos também do projeto de futebol da federação japonesa, especialmente a partir da formação da equipe mirando os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Há uma espinha dorsal que se conhece desde então e desabrocha sobretudo no atual ciclo.
A construção da seleção atual do Japão passa indubitavelmente pelo banco de reservas, com o técnico Hajime Moriyasu. Ele mesmo é um veterano da equipe nacional, meio-campista que viveu a Agonia de Doha presencialmente, mas que também conquistou a primeira Copa da Ásia do país em 1992. Treinador vitorioso à frente do Sanfrecce Hiroshima na última década, foi uma escolha natural para o projeto olímpico e, depois da Copa de 2018, também para a seleção principal. Nem sempre suas escolhas foram unânimes, mas a capacidade na estruturação do time é notável.
O Japão forte da Copa de 2022 se firmou como um pesadelo recorrente de grandes seleções. Vítimas no Catar, Alemanha e Espanha voltaram a perder amistosos recentes, incluindo a categórica goleada sobre o Nationalelf em Wolfsburg. Turquia, Estados Unidos, Canadá, Tunísia e Peru foram outros times que sucumbiram contra os Samurais Azuis, enquanto Uruguai e Colômbia se contentaram com empates. Mais do que os triunfos, pesam ainda as goleadas e a forma como os nipônicos tratam muito bem a bola.
O resultado na Copa da Ásia de 2024 não foi exatamente o esperado, mas a eliminação diante de um Irã sempre competitivo é aceitável. Já nas Eliminatórias, o Japão foi capaz de encantar. É uma campanha irretocável da equipe que soma nove vitórias e só um empate, com 27 gols marcados nas sete partidas da fase principal e apenas dois sofridos. Num grupo que poderia ser bem mais duro, especialmente pela concorrência de Austrália e Arábia Saudita, os Samurais Azuis não tomam conhecimento de ninguém.
A vaga na Copa do Mundo pintou como prêmio merecido a um time que pode mais. Só olhar para a qualidade que abunda neste elenco do Japão. Zion Suzuki é um goleiro que se desenvolve após ficar marcado pela Copa da Ásia ruim. A defesa tem jogadores com boa bagagem, a exemplo de Hiroki Ito e Ko Itakura – sem deixar de mencionar Takehiro Tomiyasu, ausente nesta Data Fifa. O meio-campo possui ótima sustentação com Wataru Endo e Hidemasa Morita. Mais à frente, a quantidade de alternativas é tão grande que Moriyasu tem usado pontas nas alas, dando mais vazão à ofensividade.
Em termos de talento, Kaoru Mitoma e Takefusa Kubo são os que mais causam expectativas como lideranças técnicas desta geração. Mas tem bem mais gente. Alguns deles são essenciais em momentos recentes da seleção, como Ritsu Doan e Junya Ito. Outros que podem fazer mais pelos Samurais Azuis, a exemplo de Daichi Kamada e Kyogo Furuhashi. Isso sem prescindir de Takumi Minamino, Ayase Ueda, Daizen Maeda, Keito Nakamura e outros mais. É uma base que chegará à Copa entre 25 e 30 anos, em ótimas condições físicas e com uma maturidade valiosa, além do encaixe como conjunto.
A Copa do Mundo abriu portas a mais seleções e o processo das Eliminatórias será praticamente automático para alguns países, enquanto estreantes despontarão. O Japão, que já tinha se consolidado no Mundial de 32 equipes, deve continuar com vaga cativa entre 48 participantes – e ainda mais se a ideia de chegar a 64 times se concretizar. O destaque dos japoneses neste momento, de qualquer maneira, é devido a um futebol que não indica uma classificação apenas protocolar.
A ampliação da Copa mexe com o equilíbrio, mas também oferece uma vitrine maior. O Japão, que atormentou tantos adversários desde o Catar, vislumbra o caminho das pedras e pode se firmar como uma face importante nesta nova fase dos Mundiais. Com a atual sequência, o mínimo que se espera dos Samurais Azuis em 2026 é sua melhor campanha em Copas do Mundo. Quem sabe, para protagonizar uma história memorável ao futebol asiático e ratificar um potencial que há quase 28 anos está na elite do futebol de seleções.
Podcast Meiocampo #116: Seleção vence e não convence
O assunto principal foi a sofrida vitória do Brasil sobre a Colômbia no Mané Garrincha. Vinícius Júnior fez um gol salvador, mas que não impediu os questionamentos sobre o time de Dorival Júnior. Falamos sobre Eliminatórias e Liga das Nações em diferentes continentes, os sorteios da Libertadores e da Copa Sul-Americana e a absurda declaração do presidente da Conmebol.
Quando a Copa da Liga é muito importante
O título do Newcastle foi um grito de libertação depois de décadas condenado à mediocridade pelo seu antigo dono
Por Bruno Bonsanti
Ficou muito claro, desde os primeiros minutos em Wembley no último domingo, que havia um time disputando uma final de campeonato e outro tremendamente irritado de ter sido obrigado a sair de casa.
A Copa da Liga se tornou um corpo estranho. A Inglaterra é a única das cinco grandes ligas a ter duas copas nacionais, e sempre que há discussão sobre sobrecarga de calendário, a primeira sugestão é acabar com ela.
Não é uma ideia ruim. A Copa da Liga foi apresentada em 1961 como uma maneira de compensar a perda de bilheteria de uma reorganização que ampliaria a pirâmide profissional de 92 para 100 clubes, divididos em cinco divisões com 20 em cada. Essa reorganização nunca aconteceu, mas criaram a Copa da Liga mesmo assim, então ela sofre com uma crise de propósito desde o primeiro dia.
Nem é elitista. Como os grandes dão pouca importância, poderia ser uma fonte de alegria para quem tem o objetivo de apenas existir no meio da tabela, mas, pela sua posição no calendário, esses clubes também tendem a poupar energia e/ou jogadores, e aí dá meio que na mesma.
As primeiras fases da Copa da Liga acompanham o começo da Premier League, na qual muitos ainda trabalham com pouca margem de erro e não querem ser arrastados a uma briga contra o rebaixamento se as coisas derem errado por algumas semanas. Então, não arriscam.
Apenas 10 finais desde 2005 tiveram não integrantes do Big Six, e Aston Villa e Newcastle repetiram a dose, então, na prática, foram oito clubes diferentes. Três acabaram sendo campeões. É alguma variedade, mas não tanto para justificá-la como um torneio que dá chances para os menos abastados.
Tudo isso para dizer que a Copa da Liga tem menos relevância pelo que ela é e mais pela história que conta. Quando alguém conquistar o maldito Quádruplo, ela terá importância por fazer parte de um feito inédito. O torcedor do Liverpool sempre lembrará o último título comemorado com Jürgen Klopp. E o do Newcastle nunca esquecerá o dia em que 56 anos de espera terminaram.
É bizarro que o Newcastle tenha embarcado em um jejum tão longo. Em campeonatos que ainda existem ele era até maior, 70 anos, porque o último título havia sido a Taça das Cidades com Feiras. Bizarro porque, por muitos anos antes de Mike Ashley condená-lo à mediocridade, o principal requisito para ser competitivo no futebol inglês era levar pessoas às arquibancadas e isso nunca foi um problema em St. James Park.
Clubes menores do que o Newcastle, talvez o mais importante do nordeste da Inglaterra, tiveram eras de ouro enquanto eles não apenas passaram em branco como ainda foram passear na segunda divisão mais de uma vez. A Premier League trouxe sucessivas batidas na trave antes de Ashley começar a sua candidatura a pior dono de todos os tempos.
Os problemas da aquisição da Arábia Saudita, um Estado autoritário com múltiplas acusações de violações de direitos humanos que usa o futebol para limpar a sua imagem, continuam presentes. Precisam ser debatidos e considerados e nunca esquecidos. Mas é difícil minimizar o sentimento de libertação que esses últimos anos representaram a uma torcida que teve integrantes que nasceram e morreram sem ver seu time ser campeão.
O curioso é que provavelmente não era assim que o torcedor imaginava que o jejum acabaria quando ouviu a notícia. As primeiras reações foram montagens de Kylian Mbappé vestindo as listras do Newcastle. Mas, meio que aos trancos e barrancos, o futebol europeu conseguiu se organizar para evitar ascensões artificiais e danosas como as de Chelsea, Manchester City e Paris Saint-Germain, com mecanismos como as regras de sustentabilidade da Premier League e até o Fair Play Financeiro, com todas as suas falhas.
Engrandece a conquista porque o Newcastle não foi campeão porque de repente trouxe um pacotão de craques. Caras como Fabian Schär, Joelinton e Jacob Murphy, titulares em Wembley, passaram pelas dores da administração anterior e continuam importantes. São fios condutores entre momentos diferentes que dão um elemento de orgânico à montagem e evolução do time.
O que fica mais acentuado quando o primeiro gol da final é marcado por Dan Burn, com todos os atributos físicos e técnicos de um tradicional zagueiro inglês e um coração que sempre bateu mais forte pelo Newcastle. Ele foi dispensado das categorias de base dos Magpies na época do Natal quando tinha 11 anos, e, apenas um parênteses, nunca dispense garotos de 11 anos na época do Natal. Espera janeiro pelo menos. Ele rodou pelas divisões da pirâmide antes de se estabelecer no Brighton, voltar para casa em 2022 e cavar o seu lugar na história com uma cabeçada das mais certeiras.
A administração de Mike Ashley foi tão restritiva, tão ruim, tão desastrosa, que o Newcastle não conseguiu nem competir no patamar em que deveria, no segundo pelotão, incomodando o primeiro. A Arábia Saudita até concede uma certa vantagem financeira, mas, por enquanto, apenas o recolocou no jogo. Seus principais reforços estão em linha com o que colegas como Aston Villa, West Ham e Everton (em condições normais) poderiam contratar.
O sucesso do Newcastle nas últimas três temporadas, com uma classificação à Champions League e um título, é fruto de um bom trabalho, principalmente de Eddie Howe. Ele também não era o técnico que o torcedor imaginava que comandaria essa fase de bonança, mas continua provando que pode ser. É um mérito do projeto que ninguém tenha ficado assustado demais com os problemas da campanha anterior, quando, entre um difícil calendário europeu, muitas lesões e a suspensão de Sandro Tonali, houve um passo para trás. Apostaram na continuidade e colheram os frutos.
Conquistar a Copa da Liga não é o objetivo final do Newcastle. Ele quer ampliar o Big Six, uma denominação mais financeira do que esportiva. Para isso, precisa de sucesso contínuo e sustentável, classificações sucessivas à Champions League, e talvez até seja necessário vender uma das suas estrelas, como Alexander Isak ou Bruno Guimarães, para reinvestir. Está apenas no começo do processo, mas é maravilhoso já ter tirado o primeiro título da frente.
Quão maravilhoso? Pergunta para o Tottenham.
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Um grito que valeu bem mais que um gol
A vitória do Panamá sobre os EUA evocou um sentimento de orgulho nacional entre turbulências geopolíticas
Por Leandro Stein
O futebol possui uma capacidade ímpar de se transformar em um microcosmo da sociedade, que explicita questões e amplia a lupa sobre importantes debates. O futebol de seleções, ainda mais, tem essa força de evidenciar cenários que vão muito além do campo – em especial na geopolítica. E a vitória do Panamá sobre os Estados Unidos, nas semifinais da Liga das Nações da Concacaf, garantiu uma ebulição de sentimentos, desde o orgulho nacional a um mero sonho de infância.
O 1 a 0 panamenho na Califórnia, afinal, garantiu uma comemoração que será lembrada por décadas. Cecílio Waterman, o modesto centroavante de 33 anos do Coquimbo Unido, saiu do banco para permitir uma catarse aos 49 minutos do segundo tempo. Anotou o bonito gol que garantiu o Panamá na decisão do torneio e tirou os EUA, tricampeões nas três primeiras edições. Mas o melhor viria na celebração emocionada à beira do campo.
Waterman correu até atrás do gol, onde a equipe da CBS acompanhava a partida. Deu um efusivo abraço em Thierry Henry, comentarista da emissora, sob os gritos de “você é meu ídolo, você é meu ídolo”. A avalanche ao redor do craque francês foi seguida pelos demais jogadores do Panamá, que também abraçaram o veterano, engolido pela multidão. Entre a incredulidade de Henry e a explosão de Waterman, um sonho de menino era cumprido: fazer o gol mais importante da carreira, um dos mais importantes da história da seleção, diante de sua inspiração – e, o melhor, podendo dizer a ele.
Depois da partida, Waterman e Henry se reuniram novamente. O panamenho explicou que foi perguntado em uma entrevista na véspera do jogo sobre quem era seu ídolo e então soube que Henry estaria presente. Ficou do banco de reservas já fitando o craque, até ter o estalo de agarrá-lo justo na comemoração. Foi muito melhor que pedir uma foto ou um autógrafo. O próprio Henry não negou a emoção, de algo incrível, que nunca tinha acontecido com ele. Waterman pôde dar sua camisa autografada ao ídolo, enquanto Henry prometeu uma antiga do Arsenal em retribuição.
E tudo isso acontece num momento em que o Panamá lida com as ameaças dos Estados Unidos sobre o canal, diante das repetidas declarações de Donald Trump que aludem a uma intervenção militar. O presidente americano tem ladrado bastante nestes primeiros meses de mandato, sem necessariamente cumprir. Todavia, a história do próprio território panamenho possui seus traumas em relação às imposições americanas, e não tão longínquas assim na memória da população. Até por isso, o jogo desta quinta-feira envolveu um forte sentimento nacionalista ao redor da nação centro-americana.
O significado do gol de Cecílio Waterman não está apenas em sua relação com o ídolo, mas também na afirmação da bandeira do Panamá – mesmo que seja apenas no campo de jogo, com valor simbólico. O clima na imprensa panamenha e nas manifestações de torcedores era de uma batalha vencida em prol da soberania e da identidade nacional. Um lance soltou o grito não só de gol, como também do desejo de ter seu território respeitado e de refutar as ameaças proferidas dentro de um contexto muito mais amplo de disputas geopolíticas, principalmente dos EUA com a China.
Na final contra o México, o Panamá pode conquistar o maior título de sua história. A Maré Vermelha possui duas taças em torneios regionais da América Central, mas a Liga das Nações representaria um inédito feito no contexto da Concacaf – depois de três vices na Copa Ouro, o mais recente diante dos próprios mexicanos em 2023. Por tudo aquilo que se viu na Califórnia, o time dirigido por Thomas Christiansen tem motivos para jogar além.
O Panamá ainda reafirma seu sucesso recente contra os Estados Unidos. Depois de tirar os americanos da Copa do Mundo de 2018, numa disputa paralela que permitiu a apoteose pela classificação inédita, os panamenhos vêm sendo algozes recorrentes do US Team no atual ciclo. Eliminaram os EUA na semifinal da Copa Ouro 2023, na fase de grupos da Copa América 2024 e na semifinal da Nations 2025. Quem sabe, em 2026, o Mundial na América do Norte prometa algo maior à Maré Vermelha. Cecílio Waterman permitiu que os sonhos se concretizassem e que os clamores se tornassem mais vivos.
Giro
Por Leandro Stein
- O Brasil teve uma vitória catártica contra a Colômbia nesta Data Fifa, no Estádio Mané Garrincha. O time de Dorival Júnior não ofereceu uma boa atuação, com seus espasmos reservados a um início elétrico que valeu o gol de pênalti de Raphinha e um abafa no final para que Vinícius Júnior fosse herói com seu chute de longe. Os colombianos deram muito mais trabalho, graças à sua marcação intensa sem a bola, que dificultou a construção brasileira. O resultado e a forma como veio, de qualquer maneira, servem de alívio num momento em que a comissão técnica se vê tão contestada. Vai ser difícil lidar com a visita à Argentina enfrentando tantos desfalques, entre suspensos e lesionados. A boa notícia fica para a forma como os protagonistas chamaram a responsabilidade no final e também para a entrada de Wesley, que aproveitou bem seus minutos com muita energia na lateral direita. Não se intimidou nem mesmo com a tarefa de encarar Luis Díaz e deu novo fôlego ao time.
- O Japão inaugurou a lista de classificados à Copa do Mundo na Ásia, mas mais gente pode comemorar a confirmação na AFC nesta Data Fifa – ambos no Grupo A. O Irã é outra equipe dominante no contexto continental e, de novo com uma campanha segura sob as ordens de Amir Ghalenoei, precisa apenas de um empate na próxima terça-feira em Teerã, contra o Uzbequistão. Os uzbeques, aliás, também podem ratificar a presença inédita. Para tanto, precisam ampliar a vantagem sobre Catar e Emirados Árabes Unidos, que é de seis pontos neste momento. Com um elenco de vários jovens talentos, liderado por Eldor Shomurodov, o Uzbequistão pode fazer jus a boas gerações que bateram na trave desde a independência.
- Outro classificado virá da Oceania, que agora possui uma vaga direta, com a decisão da disputa continental na próxima segunda-feira. A Nova Zelândia é a óbvia favorita e passou por Fiji sem muitos problemas, com goleada por 7 a 0 na semifinal. Chris Wood, voando no Nottingham Forest, anotou uma tripleta. O direito de desafiar os All Whites será da Nova Caledônia, que ganhou do Taiti por 3 a 0 na outra chave. Os Cagous, vale lembrar, foram responsáveis por eliminar os neozelandeses nas semifinais da Liga das Nações da Oceania de 2012 – quando alcançaram a final, mas perderam o título (e a vaga na Copa das Confederações de 2013) para os taitianos. Autor do gol que fechou aquele triunfo de 2012, Georges Gope-Fenepej continua como referência da Nova Caledônia, aos 36 anos. Nesta sexta, ele fez dois gols e deu uma assistência contra o Taiti. O atacante possui uma carreira extensa que inclui passagem por clubes tradicionais da França, como Troyes, Amiens e Le Mans. Caso seu time perca, ainda pegará uma vaga na repescagem intercontinental.
- A Liga das Nações às vezes parece um estorvo no calendário da Uefa, mas a ideia de adicionar quartas de final à elite gerou uma coleção de jogaços. O Croácia 2x0 França pareceu tratado com a seriedade de uma revanche para alguns remanescentes da final da Copa do Mundo de 2018. Luka Modric deu bronca até no companheiro Kylian Mbappé, ao fazer um desarme vital dentro da área. De qualquer maneira, quem brilhou em Split foi Ivan Perisic. Aos 36 anos, vindo de grandes atuações com o PSV pela Champions League, o atacante fez um gol e deu uma assistência. É um jogador grande o suficiente para olharmos com carinho para a sua carreira por clubes, embora diluída por diferentes camisas. Todavia, pela seleção, é facilmente um dos maiores da história da Croácia. E sem se prender às amarras do tempo ou da idade.
- Já a Alemanha largou de maneira excelente, com a vitória por 2 a 1 sobre a eterna algoz Itália, e graças a dois protagonistas inusitados no San Siro. Tim Kleindienst ocupa a lacuna do centroavante grandalhão do Nationalelf, na vaga que ultimamente era preenchida por Niclas Füllkrug. Sua temporada com o Borussia Mönchengladbach é excelente, assim como as diferentes passagens pelo Heidenheim. De qualquer maneira, não deixa de ter ares de contos de fadas a trajetória do artilheiro que tinha seus maiores sucessos na segunda divisão, até realmente emplacar na Bundesliga mais recentemente. Aos 29 anos, mudou a história do jogo, assim como Oliver Baumann, o goleiro de 34 anos que tantas vezes esquentou o banco da Mannschaft. Marcado por algumas falhas na carreira, apesar de grandes momentos no Hoffenheim, o veterano assumiu a meta sob desconfianças. Porém, ao menos desta vez, ninguém sentiu falta do lesionado Marc-André ter Stegen ou de Manuel Neuer, que se aposentou da seleção.
- Só para não deixar passar batido, o óbvio do óbvio: foi inadmissível a declaração de Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, sobre uma eventual ausência dos clubes brasileiros na Libertadores. Já tinha sido muito vazio seu discurso horas antes, durante o sorteio da competição, em que fez demagogia sobre os episódios racistas e “chamou as autoridades para conversar”, indicando um problema mais amplo da sociedade (que, de fato, é), mas lavando as mãos sobre a responsabilidade da Conmebol. Então, a comparação do Brasil com a macaca Chita soou como uma ironia baratíssima, e não convence totalmente a falta de intenção, diante do sorriso repugnante do dirigente. O primeiro passo ao combate do racismo nas competições sul-americanas, neste momento, é que as autoridades reconheçam sua gravidade e sua profundidade. A maioria delas não parece disposta a isso, com falsos paralelos e incapacidade de se solidarizar, a começar pelo próprio presidente.
- A Data Fifa pausou os principais campeonatos da Europa, mas os primeiros campeões de 2024/25 já foram coroados nas ligas nacionais. O Campeonato Galês foi o primeiro a ser definido, mais uma vez faturado pelo The New Saints. A competição conta com um hexagonal final, no qual o TNS obteve uma vantagem de 14 pontos. É o quarto troféu consecutivo da equipe, campeã em 17 das últimas 26 edições do torneio, desde sua primeira conquista em 1999/00. Já na Irlanda do Norte, o Linfield renovou sua hegemonia. A vantagem na liderança é de 19 pontos. Os Blues são os maiores campeões nacionais da Europa, com 57 taças, mas vinham de um pequeno jejum de três anos.
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