Uma noite épica em Paris
Com a melhor atuação da carreira, segundo ele mesmo, Alisson impediu a vitória do PSG e deu ao Liverpool a vitória mais improvável da temporada
Newsletter Meiocampo #14 - 7 de fevereiro de 2025
Foi uma semana cheia, com mais assuntos do que cabe na newsletter. Alisson foi o destaque brasileiro da semana, e olha que muitos brasileiros brilharam. Relembramos uma boa história de Atlético de Madrid e Real Madrid na Champions League de 1958/59. Tem ainda a convocação da Seleção, com direito a pedido a Dorival. Pegue um café e desfrute!
“A melhor atuação da minha vida”
Por Bruno Bonsanti
Alisson estava fazendo o seu melhor jogo com a camisa do Liverpool. Eu tinha uma boa dose de certeza, tendo visto quase todos eles, mas depois da vitória mais improvável de uma temporada de estreia inteira bastante improvável para Arne Slot, ele foi mais longe: “Foi provavelmente a melhor atuação da minha vida”.
Alisson fez nove defesas no jogo de ida das oitavas de final da Champions League. Se eu tivesse que chutar, teria dito 30. Porque essa foi a sensação. De que ele simplesmente não parou de agarrar a bola, espalmá-la para algum lugar, interceptar cruzamentos, deixar Kvaratskhelia frustrado, ou Desiré Doué frustrado, ou todo um Paris Saint-Germain, que finalmente parece um time, coletivo, revitalizado, jovem, cheio de energia e fome. Como se cobrava há tanto tempo.
O PSG deu de fato quase 30 finalizações, 27 para ser exato. Foi uma atuação arrasadora contra um dos melhores times da temporada. Era para ter saído com uma vitória ampla, uma goleada, ou 3 a 0, no mínimo 2 a 0. Mas saiu com a derrota. Porque Alisson não apenas não deixou nada passar como ainda começou a jogada do gol de Harvey Elliott. E ele nem é conhecido pelo seu talento com os pés, como o compatriota Ederson, embora sua lista de grandes momentos pelo Liverpool conte com uma assistência para Mohamed Salah contra o Manchester United.
A passagem de Alisson em Anfield tem um pouco do dilema do ovo ou a galinha: ele chegou na hora que o time de Jürgen Klopp decolou ou a contratação de um ótimo goleiro o impulsionou a decolar? Como a sua defesa mais lembrada antes dessa semana foi para evitar uma eliminação na fase de grupos da Champions League, a segunda resposta ganha alguma força. Aquele mano a mano com Milik tinha importância na hora porque, para um clube que disputava apenas a segunda Champions em oito anos, cair na fase de grupos seria muito ruim esportivamente e abriria um rombo nos cofres.
Ganhou ainda mais nos meses seguintes porque, sem ela, o Liverpool não teria conquistado o sexto título europeu.
Aliás, ainda foram necessárias mais algumas. A reviravolta contra o Barcelona na semifinal ficou marcada pelo escanteio de Alexander-Arnold, e por ter sido uma reviravolta, mas Alisson fez defesas importantes contra Messi, Coutinho e Jordi Alba quando o placar ainda estava 1 a 0. A mesma coisa pode ser dita sobre a final: embora a lembrança seja de uma partida totalmente dominada pelo Liverpool, ele precisou trabalhar bem contra Son e Christian Eriksen quando o Tottenham pressionou no segundo tempo, antes do gol de Divock Origi.
Talvez essa partida contra o PSG também seja lembrada como um divisor de águas se o Liverpool caminhar para o título. Mas ela pode ser apreciada em si, principalmente pelo tanto que foi completa. Alisson demonstrou segurança, elasticidade, atenção para interceptar cruzamentos, explosão para sair do gol e fechar os ângulos e reflexos inacreditáveis, principalmente na defesa mais impressionante de todas.
Estava tudo pronto para que ele pulasse para sua esquerda: o pé de apoio, o peso do corpo. Mas ainda bem que ele não se antecipou. Porque por mais que Konaté tenha feito um bom trabalho para forçar a finalização naquele canto, como Kvaratskhelia é ótimo, ele conseguiu aproveitar o breve instante em que o seu marcador se esticou para tentar bloquear o chute e bateu no canto mais próximo. Alisson teve um milésimo de segundo para mudar o movimento que preparava e é apavorante que o tenha feito a tempo de chegar à bola com a força necessária para barrá-la.
É interessante pensar como tanto a história dele quanto a do Liverpool poderiam ter sido diferentes com outra sequência de acontecimentos.
Agora parece óbvio que o Liverpool não poderia continuar revezando goleiros medianos por mais uma temporada, mas foi necessária uma noite (tragicamente) histórica de Loris Karius em Kiev para que começasse a se movimentar a sério. E na verdade o gatilho só foi puxado depois de Karius falhar novamente em um amistoso de pré-temporada.
Se Karius tivesse feito uma boa partida em Kiev, o que, acredite se quiser, ele até era capaz de fazer, ou se Klopp tivesse demorado mais algumas semanas para concluir que a sua confiança havia desaparecido, talvez Alisson tivesse sido contratado por Real Madrid ou Chelsea, que estavam de olho nele na época, em vez de se tornar um forte candidato a ser o maior goleiro da história do Liverpool.
Tommy Lawrence, do primeiro grande time de Bill Shankly nos anos 1960. Ray Clemence, o paredão de Bob Paisley nos anos 1970. Talvez Bruce Grobbelaar. E Alisson. A discussão não fica mais ampla do que isso.
O engraçado é que o Liverpool contratou Giorgi Mamardashvili, do Valencia, para a próxima temporada. Talvez saiba alguma coisa que não sabemos. Alisson foi aliciado pelo futebol da Arábia Saudita ano passado e pode ter indicado ao clube que há um limite para quanto um homem pode recusar dois milhões de barris de petróleo por mês para jogar futebol. Mas ele ainda tem 32 anos, e em noites como aquela no Parque dos Príncipes, parece tão tonto falar na sua sucessão.
Podcast Meiocampo #112: Alisson frustra o PSG
Com a melhor atuação da carreira, segundo ele mesmo, Alisson impediu o que seria uma derrota certa do Liverpool diante do PSG na Champions League. Falamos sobre os outros duelos das oitavas de final, com o clássico de Madrid e vários confrontos que tiveram classificação encaminhada. Tem ainda a Libertadores, com duelos decisivos da fase preliminar, convocação da Seleção com a volta de Neymar e o triste caso de racismo contra jogadores do Palmeiras na Libertadores sub-20.
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Quando Real e Atlético fizeram jogo extra valendo final de Champions
Por Leandro Stein
O Atlético de Madrid possui uma missão hercúlea na Champions League 2024/25. E não é apenas a derrota dentro do Santiago Bernabéu que dificulta sua tarefa para a volta no Metropolitano, na próxima semana. A questão é superar o Real Madrid, não somente seu rival, mas também sua grande sombra nas competições continentais. Nas cinco ocasiões anteriores que os madrilenos se enfrentaram pela competição, todas em fases eliminatórias, os merengues sempre prevaleceram – inclusive nas marcantes finais de 2014 e 2016. Contudo, devolver um revés por 2 a 1 na ida não seria inédito aos colchoneros. Nas semifinais de 1958/59, o Atleti ficou a um jogo extra de interromper o pentacampeonato europeu do esquadrão de Alfredo Di Stéfano e Ferenc Puskás. Falhou, no entanto.
Segundo o próprio Di Stéfano, em sua biografia, aquele encontro diante do Atlético de Madrid foi um dos momentos mais delicados da hegemonia merengue nos primeiros anos de Copa dos Campeões – ao lado das quartas de final contra o Partizan em 1955/56 e da decisão contra o Milan em 1957/58. Em tempos nos quais não existiam pênaltis, Atleti e Rapid Viena foram os únicos a forçar jogos-desempate contra o poderoso Real Madrid. Porém, como bem se sabe, a dinastia blanca se reafirmou diante dos rojiblancos no duelo extra em Zaragoza.
O Real Madrid chegou à Champions 1958/59 como tricampeão continental, bem como como campeão espanhol, e com isso puxou o Atlético de Madrid à Copa dos Campeões. Vice-campeões de La Liga em 1957/58, três pontos atrás dos rivais, os colchoneros ganharam o direito de disputar o torneio europeu pela primeira vez. O Atleti não conquistava o Campeonato Espanhol desde 1950/51, mas não demoraria a demonstrar a força daquela geração nos anos seguintes, sobretudo por sua sede de vitórias em mata-matas.
O Atlético faturou seus três primeiros títulos na Copa do Rei entre 1960 e 1965, em todos eles eliminando o Real Madrid. O troféu inédito na competição, em 1960, ocorreu numa final em pleno Bernabéu contra o recém-consagrado pentacampeão europeu. O feito se repetiria de novo na decisão de 1961, conquista que depois culminou no título da Recopa Europeia de 1961/62 para os colchoneros. Na Champions, todavia, quem mandava eram os merengues. E isso ficou sublinhado em 1958/59.
O Atlético de Madrid estreou na Copa dos Campeões com inapeláveis 13 a 1 no agregado diante do Drumcondra, da Irlanda. Desafio bem maior aconteceu nas oitavas de final, diante do CDNA Sofia (atual CSKA), da Bulgária. Com uma vitória para cada lado, foi necessário um jogo extra em Genebra, onde o Atleti prevaleceu com o triunfo por 3 a 1 na prorrogação. Vida mais tranquila teve o Real Madrid, ao fazer 2 a 0 no Besiktas dentro do Bernabéu e segurar o 1 a 1 em Istambul. Já nas quartas, o Real Madrid administrou o 0 a 0 na visita ao Wiener, na Áustria, antes de aplicar 7 a 1 em Chamartín. O Atleti passou pelo Schalke 04, com os 3 a 0 no Metropolitano ratificados pelo 1 a 1 em Gelsenkirchen.
Como o regulamento da Champions não permitia finais entre times do mesmo país, o Dérbi Madrileno ocorreu nas semifinais. E o valor do clássico se tornava ainda maior numa temporada doméstica dominada pelo Barcelona, que àquela altura já tinha garantido o título de La Liga e também comemorou a Copa do Rei nos meses seguintes. A sequência vitoriosa dos madridistas além das fronteiras estava em xeque, enquanto os colchoneros tinham potencial para quebrá-la, mesmo com uma modesta quinta colocação no Campeonato Espanhol de 1958/59.
Em tempos nos quais os craques estrangeiros brilhavam na Espanha, o Atlético tinha um campeão mundial para aplaudir. O ataque colchonero era comandado por Vavá, trazido do Vasco logo após o título na Suécia com a Seleção. O centroavante era uma clara ameaça ao Real Madrid, com o gol da vitória no clássico de La Liga dentro do Metropolitano. Também era o vice-artilheiro da Champions até aquele momento, com oito tentos, incluindo dois no jogo-desempate contra o CDNA Sofia e o do empate na visita ao Schalke 04 na Alemanha Ocidental.
Mas não que Vavá estivesse sozinho. Aquele Atlético de Madrid era forte desde o banco de reservas, comandado por Ferdinand Daucik, treinador que já tinha conquistado La Liga três vezes nos anos 1950, à frente de Athletic Bilbao e Barcelona – neste, onde dirigia o cunhado László Kubala. Já dentro de campo, sete jogadores da base titular frequentaram as convocações da seleção espanhola. O ponta Enrique Collar e o meia Joaquín Peiró eram jovens que se estabeleciam como futuras lendas no Metropolitano. Peiró futuramente se tornou campeão europeu com a Internazionale de Helenio Herrera, enquanto Collar foi capitão tanto do Atleti quanto da seleção espanhola.
E se o Atlético de Madrid impunha respeito, o Real Madrid provocava uma intimidação maior. O técnico Luis Carniglia reunia um verdadeiro esquadrão, a começar por Alfredo Di Stéfano. A Flecha Loira vinha de três temporadas maiúsculas na Champions e mantinha sua liderança intacta em 1958/59. Não à toa, conquistou a Bola de Ouro de 1959, repetindo o feito de 1957. O ganhador de 1958, aliás, era outro companheiro na linha de frente: o francês Raymond Kopa, em sua terceira e última temporada no Chamartín, a mais prolífica, antes de retornar ao Stade de Reims.
O setor ofensivo do Real Madrid também tinha uma grande novidade. A temporada 1958/59 é a que marca efetivamente a estreia de Ferenc Puskás pelo clube, após fugir da Hungria em meio à revolução local, no início de 1957, e ser suspenso pela Uefa durante dois anos. O Major Galopante aumentava o poderio de um setor ofensivo que também contava com o argentino Héctor Rial entre seus astros naqueles anos. Também seguia onipresente o ponta Paco Gento, grande protagonista entre os espanhóis nos seis primeiros títulos madridistas na Champions.
Mais atrás, as referências do Real Madrid eram sobretudo espanholas, como Marquitos e José María Zárraga. O que não impedia os merengues de também contarem com seus destaques internacionais. Um dos melhores zagueiros do planeta naquele período era José Santamaría, contratado do Nacional de Montevidéu dois anos antes e que se naturalizou espanhol, após disputar a Copa de 1954 com o Uruguai. No gol, Rogelio Domínguez veio como ídolo do Racing após conquistar o Campeonato Sul-Americano de 1957 com a Argentina.
Mesmo sem contar com o lesionado Kopa no jogo de ida, o Real Madrid ratificou seu favoritismo ao vencer o confronto por 2 a 1 no Santiago Bernabéu. Não seria uma partida tão simples, entretanto. O Atlético conseguiu abrir o placar diante dos torcedores blancos, com um chute potente de Chuzo aos 13 minutos, que o goleiro Domínguez ainda triscou. A resposta merengue, ao menos, foi imediata. Dois minutos depois, Rial acertou uma cabeçada rente à trave, que o goleiro Manuel Pazos tocou sem conseguir salvar.
Definitivamente não era o dia de Pazos, que esteve a ponto de defender um pênalti de Puskás aos 33 minutos. A bola caprichosa, contudo, repicou nos braços do arqueiro e definiu a virada do Real Madrid. Foi o primeiro gol do Major Galopante pelo clube em Champions. Enquanto isso, Domínguez teve muito mais sorte na meta merengue diante de Vavá. Aos 36 do primeiro tempo, o Atlético de Madrid também teve um pênalti anotado a seu favor e poderia ter empatado. No entanto, o argentino conseguiu brecar o brasileiro nos 11 metros e permitiu a festa da torcida mandante.
"O jogo, em torno do qual vinha sendo enorme a expectativa, teve grande assistência e realizou-se num clima de inexcedível excitação. As duas equipes equivaleram-se, quer no preparo físico de seus jogadores, quer na técnica empregada no gramado. Em nenhuma das etapas da peleja destacou-se um time sobre o outro, no setor atacante ou na defesa. Até o fim da partida, em meio à intensa emoção das duas torcidas, manteve-se o equilíbrio quase perfeito entre os vinte e dois homens em campo, resolvendo-se finalmente o pleito num lance de sorte, em que foi o Real o favorecido", escreveu a agência France Press, em nota da época.
O cenário aberto permitiu que o Atlético de Madrid acreditasse numa reviravolta para a segunda partida, no Metropolitano. Desta vez com a ausência de Puskás no Real Madrid, o troco colchonero veio com o placar de 1 a 0. O gol decisivo foi garantido por Collar aos 43 minutos, numa bela jogada individual para tocar na saída de Domínguez. A sorte também estava ao lado do Atleti, que segurou o resultado mesmo após o susto dado por Kopa, que estalou o travessão no final do segundo tempo. A igualdade no placar agregado forçou o jogo extra. Infelizmente para os rojiblancos, a regra dos gols fora só foi introduzida pela Uefa na década seguinte – caso já vigorasse, o gol de Chuzo no Bernabéu teria dado a vaga na final.
Comuns naquele momento da Champions, os jogos-desempate costumavam acontecer em países neutros. Não havia necessidade de sair para além das fronteiras no clássico espanhol, porém. A decisão ao redor dos madrilenos foi apenas de enviar a partida para longe da capital. La Romareda era um dos melhores estádios da Espanha, inaugurado menos de dois anos antes. Além do mais, Zaragoza seria uma cidade neutra sem as hostilidades possíveis em redutos como Barcelona e Bilbao. Seis dias depois do jogo de volta, a cidade aragonesa foi palco da partida extra.
As arquibancadas estavam abarrotadas, com uma multidão de torcedores, sobretudo vindos da capital. Dentro de campo, o clássico entregou a emoção que se esperava, e que pendeu ao Real Madrid com nova vitória por 2 a 1. O primeiro gol dos merengues saiu aos 16 minutos, num passe de Mateos que Di Stéfano definiu. A resposta do Atleti surgiu imediatamente, com o empate aos 18. Peiró assinou uma jogadaça, em que roubou a bola na intermediária ofensiva e costurou os adversários. O passe saiu mascado, mas na medida para encontrar Collar dentro da área, com um chute rasteiro por baixo de Domínguez.
O problema para o Atlético era lidar com a profusão de craques a serviço do Real Madrid. A definição da vitória aconteceu ainda no primeiro tempo, aos 42. Numa de suas maiores atuações com a camisa blanca, Kopa fez a jogada pela ponta direita e deu o passe rasteiro. Puskás, de volta ao 11 inicial, mandou um chute firme de direita (a perna “ruim”) que não deu chances ao goleiro Pazos. O húngaro se confirmava como uma contratação decisiva, mesmo já veterano e com dificuldades para lidar com a balança. Tornou-se o acréscimo necessário para renovar a hegemonia merengue além das fronteiras. Foi o primeiro carrasco do Atleti em sua longa lista de dissabores na Champions.
Durante o segundo tempo, o Real Madrid continuou no domínio, inspirado por Kopa e Puskás. Contudo, os favoritos também passaram por uma provação na reta final, quando Rafael Lesmes se lesionou na defesa. Sem substituições na época, ele desceu aos vestiários e voltou a campo apenas para fazer número. Zárraga recuou e os merengues mantiveram a diferença intacta. Apesar da pressão do Atlético de Madrid, liderada por Vavá, os esforços foram em vão. Peiró teve a última grande oportunidade, a dois minutos do fim, mas perdoou diante de Domínguez.
"O Atlético jogou com muita vontade e teve jogadores em plena forma, como Rivilla e Pazos. Creio que o Real Madrid jogou em seu ritmo, como sempre joga nestes encontros decisivos. Pessoalmente, estou contente com meu trabalho, porque foi uma vez mais de sacrifício para o bem da equipe, e quero ressaltar que todos os companheiros me ajudaram muitíssimo", afirmou Di Stéfano, depois do jogo, segundo o livro 'Reyes da Europa’, de Santiago Siguero. Gento complementou: "Foi uma partida de nervos, muito emocionante, vencida merecidamente por nós, embora tivéssemos que marcar muitos gols mais. A lesão de Lesmes nos afetou".
O tetracampeonato do Real Madrid se confirmou em Stuttgart, com a vitória por 2 a 0 sobre o Stade de Reims, gols de Mateos e Di Stéfano. O Atlético de Madrid terminou aquela edição da Champions com três dos cinco maiores goleadores da competição (Vavá, Peiró e Collar), mas ainda assim insuficiente para bater de frente com os maiores rivais. Apesar das revanches marcantes ocorridas nas finais da Copa do Rei de 1960 e 1961, aquela oportunidade na Copa dos Campeões foi única, ao menos no antigo formato do torneio.
Os reencontros de Real Madrid e Atlético só voltaram a se tornar costumeiros na década passada, e de uma forma que qualquer colchonero não gosta de se lembrar: quatro eliminações em quatro temporadas consecutivas. Além dos requintes de crueldade nas finais de 2014 e 2016, os merengues também passaram nas quartas de 2015 e nas semifinais de 2017. Em dez jogos continentais entre os rivais, o Atleti só conquistou duas vitórias. Mesmo quando esteve a ponto de reverter a situação, o regulamento da época não ajudou. Ainda assim, aquele duelo de 1959 oferece um precedente para se agarrar. Se este time merengue é assombroso, aquele era ainda mais, e por muito pouco não ficou pelo caminho.
Convoca o Casemiro, Dorival!
Por Felipe Lobo
Dorival Júnior fez a convocação da seleção brasileira nesta quinta-feira, dia 6, para os jogos contra a Colômbia e Argentina, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Teve a volta de Neymar e nenhuma grande surpresa ou polêmica na lista, mas um problema segue preocupante: o meio-campo. Por isso que eu peço: convoca o Casemiro, Dorival.
Eu sei que muitos irão pensar que é uma volta ao passado, é a convocação de um jogador que não vive uma grande fase e que nem é titular do Manchester United, um time que está caindo pelas tabelas na Inglaterra. Mas calma lá que isso precisa ser contextualizado.
Primeiro, o Manchester United é o clube que mais suga a alma dos seus jogadores nos últimos anos. É quase um cemitério de carreiras recentemente, com vários jogadores e até técnicos rendendo menos do que podem. Casos como o de Antony e Scott McTominay, que brilharam após deixar o clube, são demonstração disso.
Outro aspecto é que seleção brasileira não é o time da rodada. Seleção não é momento, ao contrário do que se diz. Não dá para tirar um jogador importante do time porque ele não vive uma boa fase no seu clube. O que não quer dizer nunca mudar o time também – vivemos isso recentemente e também foi problemático.
No Brasil, tudo parece ser extremo. Um jogador que fez dois ou três jogos bons já é cotado para a Seleção e um que vem mal, mas é titular do time, é pressionado a ser descartado. Aqui não se faz renovação, se faz uma troca quase completa de jogadores mais velhos pelos novos, sem uma transição. E é justamente nisso que Casemiro pode ajudar.
Além de tecnicamente ser um jogador que pode contribuir para a marcação, com características de cobrir espaços que não temos entre os atuais convocados, ele é um jogador experiente e é um líder – algo que Neymar, mesmo sendo experiente e da mesma idade de Casemiro, não tem característica de ser.
Casemiro contribui pelo que pode fazer em campo, dando equilíbrio a um time que jogará com quatro atacantes – Raphinha, Rodrygo, Vinícius Júnior e Neymar –, exerce uma liderança importante e ainda é um jogador capaz de transmitir um pouco do que sabe para os seus companheiros, como André e Bruno Guimarães.
Descartar completamente um jogador como Casemiro, sendo que não temos um substituto há anos (quem lembra da Copa 2018, quando ele ficou suspenso contra a Bélgica?) parece precipitado. Ele pode ser um jogador útil e pode ser aproveitado para melhorar o time.
Por isso, fica o apelo: Dorival, convoque o Casemiro!
Sem surpresas: Neymar de volta
Neymar é o grande nome da lista. Ele volta depois de ser ausência desde o dia 18 de outubro de 2023, quando se machucou em um jogo contra o Uruguai. Ele tinha sido recém-contratado pelo Al Hilal na época e pouco jogaria pelo clube depois disso. Foi mais de um ano de ausência até estar apto a voltar.
O retorno de Neymar ao Santos, depois do divórcio com o Al Hilal, fez com que ele voltasse a atuar com regularidade. Ainda são poucos jogos e evidentemente ele está longe de estar 100% fisicamente, mas diante da situação da Seleção nas Eliminatórias e de Dorival, pressionado por um início de trabalho ruim, deixar Neymar de fora não parecia uma opção viável para o treinador.
A rigor, nem deveria ser. Neymar estará na Copa do Mundo de 2026, a não ser que tenha um problema físico. Então, quanto antes estiver de volta para armar o time com ele, melhor. Até porque o jogador que tem atuado no seu setor é Lucas Paquetá, que está para ser julgado pelas supostas infrações de apostas na Inglaterra. A Football Association (FA) quer o banimento do jogador do West Ham.
A grande questão é como aproveitar o melhor de Neymar. Essa é uma questão ainda para ser resolvida há bastante tempo – no PSG, no Al Hilal e agora no Santos se preocupa uma resposta.
Sem centroavante por opção. Por que não Endrick?
A lista de Dorival não tem um camisa 9. Depois de apostar em Igor Jesus na última Data Fifa, sem sucesso – mesmo que o jogador do Botafogo até tenha feito um gol –, Dorival parece ter abandonado a ideia. Deve jogar sem um centroavante.
O jogador mais próximo dessa posição é João Pedro, do Brighton. Ele veste a camisa 9 no clube inglês, mas é um atacante de movimentação, que não fica fixo dentro da área.
Há um nome que poderia estar presente: Endrick. Mesmo não sendo um centroavante clássico, de porte físico e que faz o pivô, é um camisa 9 móvel, habilidoso, forte, rápido e talentoso.
Alguém talvez levante a mão para dizer que ele não é titular no Real Madrid. Isso é irrelevante. Como já dito antes, a Seleção não é e nem deve ser a seleção da rodada. É preciso olhar para o momento, mas é preciso olhar para o talento e tentar aproveitar o que há de melhor neles. Endrick se encaixaria nisso. Ele pode ser muito útil pensando na Copa do Mundo.
Se imagina que Dorival espere por Pedro, centroavante do Flamengo, com quem teve muito sucesso quando trabalhou no clube rubro-negro. Seu retorno irá nos mostrar se ele acredita que Pedro é quem pode ser o titular por ali. O que, aliás, criará um outro problema: quem é que vai sair do ataque? E mais: será que ele é melhor do que Endrick para esse time?
Real Madrid pode ser referência para colocar talentos juntos
Alguns jogadores vivem grande fase no ataque. Raphinha, Rodrygo e Vinícius Júnior são destaques no seu time e é difícil imaginar que não sejam titulares – e precisam ser mesmo. Neymar é o craque do time, então é muito provável que ele também jogue. Para que os quatro estejam em campo, será preciso adaptações.
O Real Madrid talvez seja uma boa referência. O time também tem um quarteto ofensivo com Jude Bellingham, Rodrygo, Vinícius Júnior e Mbappé. Sem a bola, Rodrygo fecha pela direita, Bellingham pela esquerda. Mbappé e Vinícius Júnior ficam mais à frente, em um 4-4-2.
O Brasil pode emular essa ideia. Rodrygo pode fechar pela direita, Raphinha pela esquerda, com Vinícius Júnior e Neymar à frente deles. Assim como no Real Madrid, não há um camisa 9 e o time se movimenta muito.
O Brasil não tem um Federico Valverde, quase onipresente no campo seja na lateral, seja no meio. Os jogadores terão que emular o que fazem Aurelién Tchouaméni e Eduardo Camavinga, que fazem um ótimo trabalho na marcação e cobrindo espaços. Assim como Valverde, quando atuar pelo centro do campo. André, Bruno Guimarães e Gérson precisam ser capazes de fazer algo similar para equilibrar o time.
Quando o Brasil joga?
O Brasil está em quinto lugar nas Eliminatórias, com 18 pontos. Está atrás da líder Argentina (25 pontos), Uruguai (20), Equador (19) e Colômbia (19). Na última rodada, em novembro, o Brasil venceu o Peru por 4 a 0 e empatou com o Uruguai por 1 a 1.
A seleção brasileira fará dois jogos da data Fifa. No dia 20 de março, quinta-feira, 21h45, enfrenta a Colômbia no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Depois, no dia 25, terça-feira, às 21h, enfrenta a Argentina no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires.
Veja a lista de convocados da Seleção:
Goleiros: Alisson (Liverpool), Bento (Al-Nassr), Ederson (Manchester City)
Defensores: Danilo (Flamengo), Gabriel Magalhães (Arsenal), Guilherme Arana (Atlético Mineiro), Leo Ortiz (Flamengo), Marquinhos (PSG), Murillo (Nottingham Forest), Vanderson (Monaco), Wesley (Flamengo)
Meio-campistas: André (Wolverhampton), Bruno Guimarães (Newcastle), Gerson (Flamengo), Joelinton (Newcastle), Matheus Cunha (Wolverhampton), Neymar (Santos)
Atacantes: Estevão (Palmeiras), João Pedro (Brighton), Raphinha (Barcelona), Rodrygo (Real Madrid), Savinho (Manchester City), Vinícius Júnior (Real Madrid)
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