A arbitragem brasileira e o VAR: um problema de confiança
A Newsletter Meiocampo desta sexta fala sobre o interminável entrave do VAR no Brasil, as rebeliões do mercado de transferências e o escuso Eldorado da Turquia
Newsletter Meiocampo - 8 de agosto de 2025
A cada semana, as discussões sobre arbitragem no Brasil giram em círculos. A minúcia da minúcia emperra o debate, quando há decisões bem mais importantes para serem tomadas - sobre investimento, tecnologia, preparação. A Newsletter Meiocampo desta sexta-feira aponta os caminhos que a CBF deveria seguir neste âmbito, fala sobre as rebeliões de jogadores cada vez mais comuns para forçar transferências, o que explica o novo Eldorado do futebol turco (com suas relações com o governo) e muito mais no giro final. Como a edição de hoje está grande, atenção, porque o final do texto acabou cortado no limite do e-mail.
Vale lembrar: as edições de terça-feira e eventuais extras são exclusivas para assinantes. Às sextas-feiras, continua o conteúdo gratuito aberto ao público. Sugestões, críticas, elogios, quer só mandar um abraço: contato@meiocampo.net.
A arbitragem brasileira e o VAR: um problema de confiança
Por Felipe Lobo
O futebol brasileiro é um caso à parte quando falamos de arbitragem — ao menos em relação às principais ligas do mundo, que deveríamos almejar alcançar. Um dos tópicos que mais geram discussão sem necessidade são os impedimentos revisados pelo VAR, com linhas sendo traçadas a partir de imagens horrorosas e por profissionais extremamente mal treinados — o que, aliás, é uma constante quando o assunto é arbitragem no Brasil.
Casos como o do jogo entre Red Bull Bragantino e Botafogo deixam uma péssima sensação. A arbitragem anulou o gol marcado por Praxedes por impedimento. Por mais que a tecnologia tenha um nível de precisão superior ao do olho humano, temos um problema sério no Brasil, e ele é justificado: não confiamos na arbitragem. Quando a imagem é muito questionável — como foi nesse caso do gol anulado do Bragantino —, a sensação é ruim. Mesmo que a decisão tenha sido correta, como parece ter sido, a desconfiança persiste.
Aconteceu o mesmo no jogo de ida entre Corinthians e Palmeiras, na Neo Química Arena, quando um gol de Maurício foi anulado também por impedimento. As imagens não eram totalmente conclusivas, ainda que as linhas indicassem a infração. Novamente, a decisão parece ter sido correta, mas a sensação é péssima, reforçando ainda mais a desconfiança generalizada.
Não é só sobre honestidade
Em um mundo ideal, teríamos mais confiança na arbitragem. Mas o problema é que aprendemos a desconfiar ao longo dos anos. E não se trata apenas de honestidade: é, principalmente, uma questão de competência.
Embora casos de corrupção existam — como o escândalo de 2005 —, o que mais acontece é erro por despreparo. Árbitros mal preparados, mal treinados e mal orientados são o padrão no Brasil. A maior culpa nem é do árbitro em campo: é de quem comanda e estrutura a arbitragem.
Há dados que mostram que a desconfiança está muito presente nos torcedores. Segundo pesquisa da CNN Brasil/Itatiaia/Quaest, 36% dos torcedores brasileiros consideram a arbitragem positiva, enquanto 41% avaliam como regular e 36% consideram negativa. O VAR recebe uma aprovação de 83% dos torcedores.
Entre os jogadores, 79,95% reprovam a forma como a arbitragem brasileira utiliza a tecnologia, segundo o Pesquisão do UOL. Não é por acaso: há um número excessivo de erros no Brasil. Um comparativo global trazido pelo GE em 2021 mostra que o Brasil apresenta 0,49 erros por jogo corrigidos pelo VAR, contra 0,29 da Inglaterra, 0,37 da Itália, 0,38 nos Estados Unidos e 0,41 na Espanha. É mais que uma percepção: aqui a arbitragem erra mais.
Há um motivo que piora a situação da arbitragem e do VAR no Brasil: o uso de um protocolo próprio que foge ao que era para ser inicialmente. Segundo o ex-árbitro Manoel Serapião, em sua coluna na Gazeta Esportiva, há um erro na orientação de arbitragem da CBF.
O VAR foi criado para buscar os erros claros e óbvios, mas no Brasil a orientação é buscar “a melhor decisão”. Isso foge do protocolo inicial e, mais ainda, torna a arbitragem uma caçadora de minúcias, em vez de olhar para os grandes erros, que é a ideia. Esse é um ponto crucial, porque torna a arbitragem mais confusa e subjetiva.
Transparência e tecnologia: o papel do impedimento semiautomático
Como não confiamos na arbitragem, quanto mais transparentes e claras forem as decisões, melhor. Nesse sentido, o impedimento semiautomático pode ajudar muito. A tecnologia é mais rápida, mais transparente e mais clara para o torcedor — no estádio e na TV — ao mostrar se há ou não impedimento. Isso melhora o fluxo do jogo, evita paralisações desnecessariamente longas e ajuda a construir confiança, tornando tudo mais compreensível.
Não quer dizer que o impedimento semiautomático seja infalível ou resolverá todos os problemas de arbitragem, mas há dados concretos que mostram que ele causa sim uma melhora desde que foi implementado pela primeira vez, na Copa do Mundo do Catar em 2022.
Segundo dados da FIFA, o uso do impedimento semiautomático acelerou as decisões para 20 a 25 segundos, contra uma média anterior de 70 a 79 segundos. É um ganho de tempo bem significativo, ainda mais considerando que estamos falando de dados das Copas do Mundo. No Brasil, embora não haja dados oficiais sobre o tempo para a tomada desse tipo de decisão, a sensação é que demora ainda mais.
Há um custo para isso estimado em R$ 100 mil por jogo, depois de teste realizado nas finais do Campeonato Paulista de 2025. O VAR custa R$ 20 mil por jogo. Certamente não é barato, mas é um custo que a CBF deveria assumir em prol da melhora da primeira divisão.
Especialmente se queremos que o Campeonato Brasileiro seja mais atraente, atraia mais patrocinadores e seja um produto mais facilmente comercializável, por exemplo, aos Estados Unidos e outros países latino-americanos. Assim como acontece com a Premier League, há falhas eventuais, mas o sistema cria uma agilidade e credibilidade que melhora a percepção sobre o campeonato.
Nesse novo cenário, restariam apenas as discussões sobre os impedimentos milimétricos, pela ponta da chuteira ou por uma perna ligeiramente à frente. Tudo bem. Ao menos a discussão muda: não mais sobre se houve impedimento, mas sobre como deve ser a regra do impedimento (e já adianto: não há solução simples — não acredite em quem diga que há).
CBF promete tecnologia para 2026
A novidade deve vir em 2026, segundo o presidente da CBF, Samir Xaud. O dirigente afirmou que alguns estádios precisarão de adaptações e que há um estudo em andamento sobre isso. Mas garantiu que acredita na implementação do impedimento automático já no próximo ano. É fundamental que isso seja tratado como prioridade, para que os estudos avancem e tudo esteja pronto a tempo do próximo Brasileirão.
Xaud mencionou que há propostas de diversas empresas. Seria importante que esse processo de escolha fosse o mais público e transparente possível, para sabermos quem vai operar, quem será treinado e como será implantado.
Formação unificada e intercâmbio de conhecimento
O novo presidente da CBF reafirmou que há um esforço para melhorar a arbitragem no Brasil. Um reflexo disso foi o encontro no fim de julho, no Rio de Janeiro, com cerca de 70 profissionais — entre árbitros de campo, assistentes e operadores do VAR — para atividades práticas e teóricas. A ideia é unificar critérios e oferecer orientações de forma mais consistente.
A iniciativa é boa e, segundo a CBF, encontros como esse seguirão ocorrendo até o fim do ano. Trata-se de uma boa prática, mas é preciso ir além. Além de garantir esses treinamentos e orientações contínuas, é necessário unificar a formação dos árbitros. Hoje, essa responsabilidade recai sobre as federações estaduais, e cada escola é completamente diferente da outra. É essencial que o processo seja mais centralizado pela CBF, para que a arbitragem tenha critérios mais uniformes em âmbito nacional.
A CBF também deveria buscar intercâmbios de conhecimento com outras confederações nacionais, tanto de países vizinhos quanto de outros continentes, visando uma evolução consistente da arbitragem brasileira.
Arbitragem profissional de verdade
Entre as promessas de Samir Xaud ao assumir a CBF está a profissionalização da arbitragem. Embora os principais árbitros do país já vivam da função, uma grande parte não consegue fazê-lo, pois trata-se de uma profissão inconstante. Um erro pode significar a perda de renda por uma, duas semanas — ou mais.
Assim como a tecnologia, a profissionalização não é mágica e nem irá acabar com todos os problemas de arbitragem. Mesmo em países onde a arbitragem já é profissional, como na Inglaterra, há problemas. Apesar disso, vale a pena investir, porque os resultados desses lugares são melhores que os do Brasil.
Para isso, é preciso haver um modelo de financiamento estável para a arbitragem, um plano de carreira, governança clara e transparente com o público, garantias jurídicas e proteção sindical para os árbitros. É preciso criar uma estrutura para que os árbitros sejam profissionais dedicados em tempo integral, com uma formação constante, atualização e orientação centralizada pela CBF.
Aproveitando que a CBF está disposta a investir na implantação do impedimento semiautomático, poderia também trazer de volta a tecnologia de gol-não gol, que mostra se a bola ultrapassou ou não a linha. Embora os lances desse tipo sejam mais raros, essa ferramenta ajuda a eliminar qualquer dúvida em situações críticas.
Vale lembrar que essa tecnologia já foi usada no Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, mas a CBF, na época, optou por não mantê-la em razão do alto custo de manutenção. Vejam só: poderíamos estar há 11 anos com isso implantado. Como dizem, antes tarde do que mais tarde.
Samir Xaud prometeu bastante em relação à arbitragem. Estaremos aqui para cobrar.
O MEIOCAMPO PRECISA DE VOCÊ!
O Meiocampo é feito com cuidado, independência e paixão por futebol internacional. A cada edição, entregamos contexto, análise, opinião e boas histórias — sem correr atrás do clique fácil, sempre do jogo bem contado.
Se você já lê, curte e recomenda, considere ir um passo além:
📩 Assine gratuitamente para receber direto no seu e-mail
🤝 Compartilhe com quem também ama futebol bem tratado
💸 Apoie financeiramente, se puder — isso nos ajuda a manter e expandir o projeto
Afinal, quem gosta de futebol merece uma cobertura à altura.
🎧PODCAST MEIOCAMPO #157
Em confrontos de muito peso pela rivalidade, a Copa do Brasil definiu quem vai às quartas de final e deixou alguns pesos pesados pelo caminho. Flamengo e Palmeiras, que brigam pelo título brasileiro, ficaram de fora em duelos recheados de rivalidade, enquanto o São Paulo caiu para o Furacão, atualmente na Serie B. Ainda tem Bola de Ouro e o giro final.
Ouça também no Spotify, iTunes ou no seu tocador de preferência.
A cenoura e o porrete
Nunca pareceu tão comum jogadores atearem fogo em tudo que veem pela frente para forçar transferências - inclusive, e principalmente, na relação com o clube que os emprega
Por Bruno Bonsanti
Existem versões diferentes de qual era o acordo verbal que o presidente do Sporting, Frederico Varandas, tinha com Viktor Gyökeres. Se voltou atrás em sua palavra, estava errado. Ao mesmo tempo, foi reconfortante ver um clube importante do futebol europeu resistir à avalanche que o mercado de transferências se tornou no mundo das redes sociais.
O Sporting acabou vendendo Gyökeres para o Arsenal de qualquer maneira, mas, por um instante, foi reconfortante.
Por mais que Varandas tenha dito que a situação se resolveria quando a janela fechasse, com uma multa e um pedido de desculpas para o restante do elenco, chega uma hora em que, pesando a distração de ter um dos seus principais jogadores basicamente em greve e a recompensa financeira, é melhor resolver logo a situação. Pegar o dinheiro e seguir em frente.
Essa estratégia da cenoura e do porrete não é uma invenção do futebol contemporâneo. Sempre houve casos de jogadores tentando forçar transferências. No entanto, não me lembro de ser tão frequente. Nem tão metódica. E principalmente, ser recebida com tanta naturalidade.
Na atual janela, tivemos a interminável novela de Gyökeres, que chegou a se recusar a participar de treinamentos de pré-temporada. Ademola Lookman emitiu um comunicado dizendo que havia enviado um pedido formal de transferências para a Atalanta, alegando promessas quebradas. Douglas Luiz só não se reapresentou à Juventus. E agora, o técnico do Newcastle, Eddie Howe, está tão irritado com a postura de Alexander Isak que nem o convidou para o churrasco do elenco.
Esse método, e com certeza é um método, deixa os clubes vendedores em uma situação extremamente desconfortável. O Newcastle (e é só um exemplo para deixar mais claro, tá?) até estava cogitando vender Isak, mas, com razão, quer uma proposta que lhe permita trazer um substituto à altura e talvez usar o restante para investir em outra posição. Enfim, sentir menos que está tendo a carteira batida no metrô e mais como um sacrifício necessário para dar um passo à frente no projeto esportivo.
Talvez até a consiga, apesar de todo o drama, mas perdeu poder de barganha. O Liverpool, munido de notícias, entre aspas, dizendo que Isak nunca mais quer vestir a camisa do Newcastle, resistirá a aumentar a proposta. As torcidas dos dois clubes passarão semanas na expectativa, para o bem e para o mal. Os programas de televisão e sites de esporte discutirão o tema como fato consumado. É difícil negociar com plateia.
O propósito de um clube de futebol é tentar montar o melhor time possível dentro dos seus recursos. Não é prover entretenimento e conteúdo durante os meses sem jogos de futebol. E mesmo durante os meses com jogos de futebol, não é que os burburinhos cessam.
Em parte é um problema de jornalismo que eu já discuti nesse espaço algumas vezes. Os rumores de transferência se tornaram uma indústria em si que joga com a ansiedade dos torcedores para gerar engajamento, cliques e audiência em um momento de crise da imprensa tradicional. Parte importante da cobertura de muitos veículos, é só do que alguns vivem.
E parece que clubes e empresários nunca foram tão hábeis em aproveitar essa demanda para avançar os seus interesses. Sempre pioneiro em… alguma coisa, o Real Madrid de Florentino Pérez tem bombardeado a imprensa com especulações de interesse em jogadores que estão entrando no último ano dos seus contratos. Dificulta as conversas de renovação e, na maior parte dos casos, como com Kylian Mbappé e Trent Alexander-Arnold, consegue contratá-los sem precisar compensar os seus empregadores.
É notável como os rumores estão sendo publicados pelos insiders do mercado de transferências. A ordem costumava ser: primeiro (e de novo, só um exemplo), o Liverpool conversa com o Newcastle e depois acerta contrato com Isak. Não sou ingênuo de achar que nunca houve conversas prévias na história do futebol, mas agora é quase sempre o contrário: Isak já tem um acordo com o Liverpool, agora é com o Newcastle.
E tudo bem, ninguém se importa, circulando.
É um equilíbrio fino entre o direito do jogador de trabalhar onde quiser e cumprir as obrigações do contrato que assinou. Entre a ambição compreensível de dar um passo à frente na carreira e a necessidade do clube de proteger os seus interesses. Entre os sonhos profissionais e os sonhos dos torcedores que, pelo menos de vez em quando, gostariam de ter uma relação mais duradoura com os seus ídolos. Parece que a balança nunca esteve tão desequilibrada para um dos lados.
Às vezes a resolução não é boa para ninguém. O Napoli acabou conseguindo arrancar € 75 milhões do Galatasaray por Victor Osimhen. Apesar de parecer um valor alto, meramente cobre o que foi pago ao Lille, cinco anos atrás, antes de alguns ciclos de inflação. A expectativa com certeza era de mais quando o nigeriano terminou a Serie A como um dos mais letais centroavantes do mundo. Sem falar que o dinheiro chegou pelo menos um ano atrasado e será pago em duas parcelas.
E por mais que ele tenha dito que se sentiu muito conectado ao Gatalasaray durante o empréstimo da temporada passada, e que a sua filha se apaixonou pelo clube, o que é até fofo se for verdade, não era exatamente o seu plano de carreira pular do Campeonato Italiano para o Turco aos 26 anos. Ele próprio admitiu: “Não é uma decisão que eu esperava tomar tão cedo”.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na última terça, falamos sobre a magia de Marta na final da Copa America Feminina, o adeus de Son no Tottenham, os desdobramentos do patrocínio da República Democrática do Congo ao Barcelona e muito mais no giro.
O Eldorado Turco e o cenário escuso que o ronda
Por Leandro Stein
O Campeonato Turco possui um histórico de estrelas internacionais em seus principais clubes que se fortaleceu sobretudo no fim dos anos 1980. Neste século, a Süper Lig se consolidou como uma competição “pré-aposentadoria”, na qual muitos veteranos passaram a mirar no final de suas carreiras em busca de contratos vantajosos. O que se nota nas temporadas mais recentes, porém, é um perfil distinto de reforços: atletas abaixo dos 30 anos, que ainda seguem no auge e teriam mercado em ligas mais fortes. A Turquia se tornou um destino mais visado, com um cenário mais interessante, mas se valendo também das facilidades fiscais oferecidas aos atletas e de uma realidade de clientelismo político dentro de um governo autoritário.
A capacidade dos clubes turcos na contratação de medalhões, desde sempre, foi explicada pelos impostos mais baixos pagos pelos futebolistas no país. As equipes locais são mais competitivas no mercado de transferências porque podem oferecer salários mais polpudos. Enquanto os times das principais ligas da Europa pagam taxas que costumam variar de 40% a 60%, os participantes da Süper Lig desembolsam apenas 20% em impostos – e isso porque a fatia aumentou nos últimos anos, já que era de 15% até 2019.
Segundo estudo da KPMG ainda em 2017, um salário de €1 milhão na Turquia significava gastos totais de €1,2 milhões do clube, com impostos acrescidos. Na Espanha, na Alemanha e na Itália, as equipes gastariam o equivalente a €1,9 milhões, enquanto esse valor chegaria a €2,1 milhões na Inglaterra e €3,2 milhões na França, relativos também a outros direitos trabalhistas, não apenas às taxas. Atletas abaixo da primeira divisão na Turquia possuem impostos ainda menores, de 5% a 10%. E isso porque o poder público concede ainda isenções especiais àqueles que participam de competições internacionais ou mesmo que “contribuem a iniciativas esportivas das comunidades locais”. Para o restante da população, os impostos chegam até a 40%.
Assim, a Süper Lig sempre teve um trunfo para atrair estrelas em fim de carreira, como Didier Drogba ou Robin van Persie. O Campeonato Turco historicamente nunca gastou valores tão suntuosos em transferências. A isca sempre se centrou em garantir salários maiores a jogadores em fim de contrato, livres no mercado e com um maior poder de barganha no momento em que os próprios futebolistas poderiam decidir seu destino. Contudo, nos últimos anos, nota-se uma abertura maior e a redução da faixa etária desses reforços.
Parte considerável das maiores contratações da Süper Lig em temporadas recentes foi, a princípio, de jogadores emprestados. Atletas que estavam sem espaço em equipes da elite econômica europeia, e portanto tinham mais poder de barganha pela necessidade de desincharem seus elencos, ou então outros que vinham com algum tipo de litígio em seus times e forçaram a saída. Uma vez estabelecidos temporariamente na Turquia, esses jogadores passaram a desfrutar das vantagens do futebol local e a criar raízes, para assinar posteriormente contratos mais longos. A contratação de Mauro Icardi, de certa maneira, é um marco neste novo momento do Campeonato Turco. O centroavante chegou inicialmente emprestado ao Galatasaray, com um passado de entraves pessoais e sem mais espaço no Paris Saint-Germain. Estourou nos Leões, virou ídolo e ficou de vez.
O mercado de transferências da Süper Lig ainda abarca jogadores de idade mais elevada, mas gente cada vez mais jovem chega em busca de salários mais vantajosos e também se beneficia desses empréstimos iniciais. Tal mecanismo ajuda os clubes turcos, que diluem e postergam o pagamento de suas transferências. A janela para o Campeonato Turco de 2025/26 é provavelmente a mais badalada da história do país. Em diferentes circunstâncias, muita gente aproveitou a oportunidade de assinar acordos pessoais mais gordos.
A chegada de Leroy Sané ao Galatasaray é um velho exemplo de estrela que, ao final do seu contrato, conseguiu barganhar um acordo mais robusto para si – o salário na Turquia será substancialmente maior que a oferta para renovar com o Bayern. Há aqueles que aproveitaram a porta aberta ao saírem em litígio de seus clubes, inicialmente emprestados, como Jhon Durán (Fenerbahçe) e Orkun Kökçü (Besiktas), enquanto distintas perspectivas em seus times de origem também facilitaram os empréstimos de Tammy Abraham (Besiktas) e Eldur Shomurodov (Istambul Basaksehir). Alguns antes emprestados ficarão de vez, como nas compras de Milan Skriniar e Sofyan Amrabat pelo Fenerbahçe, ou de João Mario pelo Besiktas. Mas, neste tipo de caso, nenhum jogador chama mais atenção que Victor Osimhen. É mais uma história que pode estabelecer um antes e um depois à Süper Lig.
O desembarque de Osimhen no Galatasaray, durante a temporada passada, foi totalmente circunstancial. O centroavante tinha sido protagonista do Napoli no Scudetto em 2022/23, mas entrou em rota de colisão com a diretoria após um péssimo tratamento interno e até caso de racismo. Passou a buscar sua transferência e, sem clima interno, não havia outra solução para os napolitanos a não ser encontrar um novo destino. A grande questão é que andava difícil achar um clube, ao menos nas principais ligas, que pagasse a fortuna pedida pelo Napoli pela transação e o salário alto exigido por Osimhen em seu contrato pessoal. Diante das possibilidades escassas, o empréstimo ao Galatasaray virou solução. O centroavante não ficaria na Itália, ganharia bem e os celestes poderiam reaver seu prejuízo no futuro próximo, com uma venda.
Osimhen manteve seu alto nível no Galatasaray, mesmo fora de uma das principais ligas da Europa. O nigeriano ajudou os Leões a conquistarem a dobradinha nacional, com Süper Lig e Copa da Turquia. Anotou 37 gols e serviu oito assistências em 41 partidas, números assombrosos. E pareceu desfrutar do ambiente, o que facilitou sua decisão por permanecer em Istambul. Contribuiu para escolha, é claro, o salário muito acima das ofertas que tenderia a receber de clubes maiores da Europa. O acordo salarial é estimado em €15 milhões líquidos por ano, além de €1 milhão em bônus de fidelidade a cada temporada dos quatro anos de contrato que cumprir e mais €5 milhões em direitos de imagem. O que surpreende mais ainda são os €75 milhões desembolsados pelo Galatasaray para a transferência, referentes à cláusula de rescisão exigida pelo Napoli para clubes de fora da Itália.
Que existam benefícios fiscais dentro da Turquia aos clubes e aos jogadores de futebol, o salário pago pelo Galatasaray a Osimhen já se coloca bem acima dos padrões locais. Figurões contratados nos últimos anos chegaram com ganhos bem menores, entre €4 e €6 milhões anuais – entre eles Mauro Icardi, Anderson Talisca, Ciro Immobile, Rafa Silva, Sofyan Amrabat, Edin Dzeko, Dusan Tadic, Milan Skriniar e Fred. O próprio Osimhen não fugia dessa faixa, até que o interesse do futebol saudita ajudasse a inflacionar os valores na contratação em definitivo.
Mas o que foge bem mais dos padrões locais são os €75 milhões da transferência. Até então, nunca um clube turco tinha gasto mais de €20 milhões numa compra. Youssef En-Nesyri (€19,5 milhões) e Gabriel Sara (€18 milhões) tinham sido as cifras mais próximas, trazidos respectivamente por Fenerbahçe e Galatasaray em 2024/25. Antes da temporada passada, o maior negócio do futebol turco ainda era a compra de Jardel pelo Galatasaray em 2000/01, por €17 milhões.
A decisão de Osimhen não deixa de ser legítima em si. Além da questão financeira, há argumentos favoráveis também do ponto de vista esportivo. Que a Süper Lig não seja tão competitiva quanto a Serie A ou a Premier League, o centroavante desfruta de um bom nível sem perder a visibilidade da Champions League e das demais copas europeias. Possui o ambiente de alguns dos melhores estádios do mundo e o fanatismo da torcida. E isso sem precisar recorrer a mercados mais isolados, como a Arábia Saudita ou o Catar. O ponto mais questionável mesmo é o financiamento dos negócios no futebol turco. Um assunto que dependerá de um olhar mais cuidadoso das autoridades de controle financeiro, sobretudo pelo contexto político no país.
Em teoria, a contratação de Osimhen pelo Galatasaray é autossustentável. O clube oferece garantias através de contratos de patrocínio. Os Leões possuem uma abrangência de mercado considerável, não apenas dentro da Turquia, mas também em economias maiores nas quais há um contingente importante de imigrantes e descendentes turcos que mantêm ligações com o clube – sobretudo na Alemanha. O Gala também conta com um estádio moderno, com médias de público acima dos 40 mil, que geram renda contínua. Além disso, o clube recentemente mudou o seu centro de treinamentos. A negociação do antigo terreno e de outros patrimônios imobiliários são fontes de renda extras. Nem sempre com transparência.
O futebol, afinal, é um dos setores da sociedade turca mais beneficiados pela rede de poder associada ao governo autoritário de Recep Tayyip Erdogan e o seu partido central, o AKP. Sobretudo nas últimas duas décadas, a aceleração da economia turca se baseou na privatização de serviços públicos, como a educação e a saúde, bem como de espaços públicos. Muitos dos beneficiários de contratos em setores como a construção civil são, também, apoiadores de Erdogan. O futebol virou um campo fértil para o clientelismo, onde as relações com os clubes garantem reputação política e outros caminhos para destinar investimentos – inclusive um com benefícios fiscais.
Segundo o artigo "Presidente dos presidentes: o capitalismo de compadrio centrado em Erdogan e a governança do futebol na Turquia", assinado por Daghan Irak e Esra Erturan-Ogüt, há diferentes tipos de relação entre o futebol e o poder na Süper Lig. O caso mais escancarado é o do Istambul Basaksehir, clube impulsionado pelo próprio AKP, sediado na base política do partido e visto como um contraponto ao trio de ferro do país. Contudo, ainda que tenha chegado ao titulo nacional, o Basaksehir não conseguiu atrair um grande número de torcedores às suas arquibancadas. Assim, o trio de ferro continua sendo importante na estrutura de clientelismo – e dependente da relação com o governo. Já em equipes espalhadas pelo interior, em especial o Trabzonspor, os patrocínios se misturam com o arraigamento do poder local.
Os principais estádios da Turquia foram construídos ao longo deste século ou passaram por reformas substanciais. Enquanto muitas das empreiteiras responsáveis estavam relacionadas ao AKP, Galatasaray e Besiktas se beneficiaram de acordos com o setor governamental de habitação. Os maiores clubes da Turquia também contraíram empréstimos junto ao Ziraat, banco público nacional, para financiar os seus investimentos. O dinheiro foi concedido apesar do histórico financeiro desfavorável das agremiações e as dívidas se arrastaram durante os últimos anos. E isso tudo num contexto de desvalorização da moeda turca em relação ao euro, o que chama mais atenção para a atuação dos times turcos no mercado de transferências.
Conforme relatórios da própria Uefa em 2024, os quatro maiores times da Turquia estavam no Top 10 de maiores desequilíbrios financeiros da Europa em 2022/23. O Besiktas ocupava a quarta colocação da lista (€151 milhões negativos). Trabzonspor (€110 milhões), Galatasaray (€109 milhões) e Fenerbahçe (€82 milhões) apareciam logo na sequência. Além disso, a Süper Lig como um todo tinha o maior valor de prejuízo acumulado entre as 54 ligas filiadas à confederação continental, com €814 milhões em perdas. O Campeonato Turco também é o quarto com maiores dívidas bancárias, superando €1 bilhão.
De acordo com a Agência Anadolu (a agência de notícias estatal), em fevereiro de 2025, o débito acumulado do trio de ferro da Turquia com os bancos locais se aproximava dos €200 milhões. Já as dívidas com outras instituições, somando também o Trabzonspor, se aproximavam de €1 bilhão – Galatasaray (€293,9 milhões), Fenerbahçe (€255,5 milhões), Besiktas (€209,3 milhões) e Trabzonspor (€184,6 milhões). Não são valores que geram banimentos relativos ao Fair Play Financeiro neste momento, mas acendem um grande sinal de alerta e provocam diversos questionamentos sobre a gestão interna.
Para compensar a balança comercial, não é que a Süper Lig faça vendas tão expressivas de jogadores para outras ligas. Em toda a história do Campeonato Turco, só oito jogadores foram vendidos por mais de €20 milhões - o recorde pertence a Ferdi Kadioglu e Sacha Boey, ambos negociados por €30 milhões. Outras fontes de renda são necessárias. E parte dos patrocínios do futebol vem de empresas pertencentes a membros do AKP. Da mesma forma, há envolvimento de companhias públicas como a Türk Telekom, ou mesmo de governos aliados, como a estatal petrolífera azeri Socar.
Relações mais amplas incluem a presença da Bein Sports, pertencente ao governo do Catar, no financiamento das transmissões esportivas, ou mesmo a realização da Supercopa da Turquia na Arábia Saudita, outro país de olho em estreitar laços através do futebol – inclusive com conversas para comprar clubes turcos. Além disso, o controle sobre os setores de apostas esportivas e vendas de ingressos no país possuem monopólios ligados ao governo autoritário de Erdogan. As apostas estão nas mãos de Yildirim Demirören, ex-presidente do Besiktas e da federação de futebol, que também é dono de um dos maiores grupos de mídia apoiadores do regime. Enquanto isso, o Passolig, sistema de venda de ingressos online, pertence à família do genro de Erdogan.
É importante dizer que, apesar da dependência dos grandes clubes em relação ao governo da Turquia, isso não impede atritos e questionamentos. O principal exemplo vem do Fenerbahçe, clube do coração de Erdogan, mas que possui idas e vindas na relação com o presidente desde a última década. O atual mandatário do Fener, Ali Koç, faz parte da família mais rica do país e chegou a apoiar os manifestantes que se contrapunham a Erdogan nos protestos da Praça Taksim em 2013. Quando Koç se elegeu presidente, Erdogan apoiava justamente seu opositor, Aziz Yildirim, que chegou a ser sentenciado por manipulação de resultados e posteriormente perdoado pelo governo. Koç costuma ser um opositor vocal à “falta de credibilidade do futebol turco”, com acusações sistemáticas sobre a corrupção no esporte local, que teria como consequência o jejum do Fener na Süper Lig há mais de uma década. Todavia, uma trégua recente permitiu o encontro entre Koç e Erdogan em abril.
Vale dizer também que, nas torcidas, a contraposição a Erdogan costuma ser muito mais presente do que na administração dos clubes. Os torcedores do trio de ferro, sobretudo do Besiktas, lideraram os protestos contra o governo em 2013 – criaram o chamado “Istambul United”. Além disso, as torcidas de Fenerbahçe e Galatasaray costumam se posicionar em prol do secularismo do estado turco e da imagem de seu fundador, Mustafa Kemal Atatürk, enquanto Erdogan e o AKP caminharam para uma presença bem maior do islamismo dentro dos gabinetes.
As arquibancadas, entretanto, foram um dos primeiros setores do futebol nos quais o governo de Erdogan passou a exercer seu controle. Desde a década passada, a Süper Lig aplica um sistema de identificação muito estrito para adquirir ingressos. O que surge como discurso “contra a violência” também soou como ferramenta para monitorar possíveis opositores, sobretudo após os protestos na Praça Taksim. A média de público nos estádios chegou a cair em decorrência do processo, apesar da recuperação nos últimos anos. Ainda assim, com um impacto na famosa atmosfera dos estádios e um silenciamento dos possíveis protestos nas tribunas.
No atual estágio de grandes transferências, o futebol não deixa de servir como uma cortina de fumaça para o governo da Turquia. Traz grandes estrelas e garante sua dose de “circo”, enquanto tenta varrer para debaixo do tapete limitações em relação à democracia no país. De uma forma ou de outra, os clubes sustentam seus gastos mesmo com as dívidas exorbitantes, respaldados por um apadrinhamento político que facilita patrocínios e empréstimos. Resta saber se essa bolha se sustentará por muito tempo e quais serão as consequências se um dia ela estourar.
Giro
- A combinação entre a gestão do Barcelona e as regras de fair play financeiro de La Liga tem gerado histórias fascinantes. A mais recente envolve o goleiro Marc-André Ter Stegen. Depois de passar quase toda a última temporada afastado por uma séria lesão no joelho, Ter Stegen teve novos problemas físicos neste verão europeu e precisou passar por uma cirurgia nas costas. O Barcelona, desesperado por qualquer brecha para registrar jogadores que não deveria conseguir registrar, pulou em cima da oportunidade de usar uma provisão no regulamento que permite substituir um jogador machucado por um saudável. Para isso acontecer, um painel independente de La Liga tem que considerar que a lesão é de longo prazo e o deixará afastado por pelo menos quatro meses. Para fazer essa análise, precisa receber os documentos médicos do jogador - que precisa dar o seu consentimento para o compartilhamento de informações pessoais. Ter Stegen se recusou a dá-lo. E mais: foi às redes sociais informar que o tempo de recuperação previsto é, imagino que por pura coincidência, de apenas três meses. O molho especial da história é que o Barcelona quer abrir espaço para registrar exatamente o jogador que espera que assuma a posição de titular definitivamente, o goleiro Joan García, contratado do Espanyol por € 25 milhões. Ou seja, quer a contribuição de Ter Stegen para promover o seu substituto e ficou irritado por não tê-la a ponto de retirar a braçadeira de capitão do alemão - que, vale lembrar, ainda tem três anos de contrato. (Bruno Bonsanti)
- Dele Alli continuará tentando retomar a sua carreira, mas não será mais pelo Como. O jogador de 29 anos deve ser liberado em breve do contrato de 18 meses que assinou em janeiro para procurar um novo clube. Segundo o The Athletic, não são verdadeiros os rumores de que pretende se aposentar. Ele tem tido dificuldades para se firmar desde que deixou o Tottenham em 2022 e ficou famosa uma entrevista para Gary Neville em que abriu o jogo sobre seus problemas com vício e saúde mental. Não teve muitas chances nem no Everton, nem no Besiktas. O Como parecia uma oportunidade interessante, uma mistura de um ambiente com menos pressão e ainda estruturado para que se recuperasse. Acabou fazendo apenas uma partida, contra o Milan, na qual foi expulso apenas 10 minutos depois de entrar em campo. (Bruno Bonsanti)
- O Tottenham está se preparando para o começo de uma nova era. Há expectativas sobre o que Thomas Frank, quase um milagreiro no comando do Brentford, conseguirá fazer com mais recursos. Perdeu uma de suas principais bandeiras com a saída de Son, mas tem feito contratações interessantes, como Mohammed Kudus e João Palhinha. Mas como é o Tottenham, a próxima má notícia está sempre à espreita: James Maddison sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho e ficará fora por grande parte da temporada. É mais um infortúnio a um jogador bastante talentoso e que tem tido dificuldades físicas recorrentes, embora nenhum tão grave quanto essa. A sua temporada passada foi atrapalhada por lesões no joelho e na panturrilha. Na primeira com a camisa do Tottenham, o problema foi o tornozelo. Também não inspira tanta confiança que cada vez seja um lugar diferente. Frank afirmou que o clube pode procurar uma reposição no mercado. (Bruno Bonsanti)
- Milan faz grande aposta em Ardon Jashari, meio-campista suíço que chega do Basel por € 34 milhões, mais € 3 milhões em possíveis bônus. Aos 23 anos, o meia canhoto que pode atuar tanto com função mais defensiva quanto um jogador que chega ao ataque, ao lado de outro volante. Sua chegada preenche um setor que perdeu muito com a saída do neerlandês Tijjani Reijnders, que foi para o Manchester City. Parece uma boa aposta do Milan. (Felipe Lobo)
- Os 14 gols de Giovanni Simeone em 103 partidas pelo Napoli não impressionam – e são também a prova de que os números nem sempre são primordiais para traduzir o impacto de um jogador. Enquanto permaneceu em Nápoles, Cholito foi um dos melhores atores coadjuvantes. Saiu do banco para gols importantes no Scudetto de 2022/23, protagonizou lindos momentos na Champions 2023/24 e permaneceu como um reserva querido, embora menos utilizado, no Scudetto de 2024/25. Estava claro como o fim dessa história se aproximava, até pelos reforços recentes dos napolitanos. De qualquer maneira, foi um adeus cheio de carinho ao argentino, que defenderá agora o Torino, inicialmente por empréstimo. Será seu sexto clube diferente na Itália, aos 30 anos, pronto a melhorar a marca de 73 gols em 298 aparições pela Serie A. (Leandro Stein)
- Juan Guillermo Cuadrado é outro satisfeito com sua trajetória de muitas camisas pelo futebol italiano. O colombiano possui uma história bonita da Serie A, de títulos e respeito de muitas torcidas, muito embora se distancie de seu melhor aos 37 anos. Por isso mesmo, na reta final de sua carreira, chega para ser a voz da experiência nos vestiários do recém-promovido Pisa. A bagagem do polivalente medalhão será vital, depois de tamanha ausência dos nerazzurri na elite. Também pode contribuir com sua dose de malemolência e a ética de trabalho, por mais que não desfrute da velocidade do seu auge. Será o terceiro clube em três temporadas, desde que deixou a Juventus. Não passou de um coadjuvante de luxo na Internazionale e na Atalanta, com contribuições pontuais às boas campanhas de suas equipes. Será sua sétima camisa distinta no Calcio, somando também Udinese, Lecce e Fiorentina. Aproxima-se de 400 aparições na competição, já o oitavo estrangeiro com mais partidas na história da Serie A. (Leandro Stein)
- No inchado elenco do Chelsea, Marc Guiu precisa agradecer a oportunidade que a Conference League garantiu para ser visto. O centroavante esteve em campo por apenas 70 minutos totais na última Premier League, mas foi titular em toda a fase de liga do torneio continental (até sofrer uma lesão na coxa) e anotou seis gols em sete partidas. Mesmo sem convencer a megalomaníaca direção a ser promovido na hierarquia, sobretudo após as contratações recentes para o setor, o espanhol de 19 anos terá mais espaço diante de seu empréstimo ao Sunderland. Vai ser mais um nome a se observar no mercado dos Black Cats, que levaram Granit Xhaka para ser seu termômetro no meio-campo, mas primam até mais pelas muitas promessas asseguradas – Habib Diarra, Noah Sadiki, Simon Adingra e Chemsdine Talbi compõe o grupo de potenciais titulares sub-23, todos do meio para frente. (Leandro Stein)
- Por falar em Chelsea, Kiernan Dewsbury-Hall é outro que deixa o Stamford Bridge sem a paciência necessária para exibir seu melhor. Por aquilo que fez no último acesso do Leicester, e até antes disso, o meio-campista de 26 anos seria útil em qualquer clube da Inglaterra. No Chelsea, disputou somente 13 jogos na Premier League passada. Voltar para as Raposas na Championship não era uma alternativa, mas ele continuará vestindo azul, desta vez no Everton. É um investimento razoável dos Toffees, €28,6 milhões, mas quase €7 milhões mais barato do que os londrinos pagaram há um ano. A concorrência nos Blues era mesmo pesada, embora tenha condições de ser uma liderança técnica na nova era do Everton após mudar de estádio. (Leandro Stein)
- Pesadelo da seleção alemã na última Copa do Mundo, Ritsu Doan escala degraus na Bundesliga e terá a chance de disputar a Champions League, ao assinar com o Eintracht Frankfurt. O ponta de 27 anos vinha de bons serviços prestados a PSV e Arminia Bielefeld, mas nada comparado às três boas temporadas que fez com o Freiburg. Foi um dos melhores jogadores de sua posição no último campeonato e permitiu que o clube da Floresta Negra almejasse a classificação para o principal torneio continental. A vaga não veio, mas o japonês poderá estrear na Champions por outro caminho. Os €21 milhões pagos pelo Frankfurt são massivos para os padrões do Campeonato Alemão, quarto maior negócio da história do clube. Foi esta mesma cifra que as Águias desembolsaram também por Jonathan Burkardt, destaque do Mainz 05 que se torna nova referência do ataque. Ainda assim, é um mercado bastante superavitário, após os €110 milhões recebidos com as vendas de Hugo Ekitiké e Tuta. (Leandro Stein)
- Se o Arsenal já teve uma postura bastante questionável ao manter Thomas Partey no elenco sem ressalvas, enquanto o meio-campista era investigado por estupro, mais absurda ainda é a decisão do Villarreal em contratá-lo. O meio-campista está em liberdade após pagar fiança, com cinco acusações de violação sexual e uma de agressão sexual, contra três mulheres. O Submarino Amarelo justifica o acerto pela “presunção de inocência” sobre o ganês, o que deve prevalecer em sua vida social, mas não numa plataforma tão visível como o esporte. Parte da torcida se manifestou contra o acerto, embora o clube não pareça interessado em deixar passar a “oportunidade de mercado”. Não é a primeira vez e nem será a última que o futebol menospreza a seriedade de denúncias de violência contra a mulher, inclusive estupros. Não há a mínima consciência sobre a maneira como o esporte deveria dar exemplo e de como esses repetidos espaços a quem enfrenta acusações tão graves só minimiza os crimes – e parece garantir a permissividade para que personagens ligados ao futebol os cometam com inacreditável frequência. Que Partey deva mesmo ter presunção à inocência, ele não poderia receber neste momento o palco que o Villarreal (em La Liga e na Champions) o garante. Deveria responder conforme a lei, mas não desfrutando de um senso de normalidade em uma profissão que o torna pessoa pública. Ser futebolista profissional, afinal, confere muitos privilégios que, em certos casos, atenuam e os safam das condenações. (Leandro Stein)
- O genocídio efetuado pelo governo de Israel na Faixa de Gaza ceifa as vidas de palestinos das mais diferentes idades e origens, inclusive jogadores de futebol. Segundo a federação palestina, 321 pessoas ligadas à modalidade foram assassinadas durante os sucessivos ataques do exército israelense. A vítima mais recente foi Suleiman al-Obeid, de 41 anos, um dos jogadores mais talentosos já revelados pela nação. O atacante fez carreira na liga da Faixa de Gaza e disputou 19 partidas pela seleção da Palestina, com dois gols anotados, de 2007 a 2013. O ex-atleta, que deixou esposa e cinco filhos, foi morto durante um ataque aéreo israelense enquanto aguardava ajuda humanitária. Enquanto são submetidos a condições subumanas sem comida e mantimentos básicos, milhares de palestinos ainda estão sujeitos à morte em busca da sobrevivência. O “Pelé Palestino” ganha mais visibilidade que muitos compatriotas, mas nada que seja suficiente para sensibilizar as organizações internacionais e outros estados para frear as atrocidades realizadas pelo governo de Israel. Na Champions, o Fenerbahçe realizou um protesto antes da partida contra o Feyenoord. Seus jogadores usaram camisas pedindo “o fim dos crimes contra a humanidade”. (Leandro Stein)
- A terceira fase qualificatória da Champions League ofereceu uma série de partidas interessantes nesta semana, sobretudo na Rota da Liga. Foram quatro vitórias notáveis, para garantir boas vantagens logo nas partidas de ida. O Benfica conseguiu o resultado mais expressivo, aproveitando de seus reforços para derrotar o Nice por 2 a 0 na Allianz Rivera. Também como visitante, o Club Brugge superou o Red Bull Salzburg por 1 a 0, com grande atuação de Simon Mignolet na Áustria. O Feyenoord contou com o apoio da torcida no De Kuip para bater o Fenerbahçe por 2 a 1, graças a um gol de Anis Hadj Moussa aos 46 do segundo tempo. Já o Rangers encaminhou sua vida ao anotar 3 a 0 sobre o Viktoria Plzen em Ibrox, com dois tentos de Djeidi Gassama. (Leandro Stein)
- Na Rota dos Campeões, só um mandante venceu. O Kairat Almaty contou com um gol de pênalti do garoto Dastan Satpayev, de 16 anos, para anotar 1 a 0 sobre o Slovan Bratislava no apagar das luzes. Copenhague x Malmö e Ludogorets x Ferencváros acabaram 0 a 0. O Estrela Vermelha teve o melhor resultado como visitante, nos 3 a 1 sobre o Lech Poznan, comandados pelos dois gols de Rade Krunic. O Pafos fez 1 a 0 sobre o Dinamo Kiev na Polônia, mesmo placar do Qarabag na visita ao Shkëndija na Macedônia do Norte. (Leandro Stein)
- O principal jogo da terceira rodada qualificatória da Liga Europa não teve gols, com o 0 a 0 entre Panathinaikos e Shakhtar Donetsk na Grécia. Já a principal vitória da Rota da Liga ficou para os 4 a 1 do AEK Larnaca sobre o Legia Varsóvia. Midtjylland, Braga, Utrecht e Brann também venceram. A Rota dos Campeões teve um notável triunfo do Shelbourne, da Irlanda, por 2 a 1 na visita ao Rijeka, na Croácia. KuPS, Maccabi Tel Aviv e FCSB também ganharam, com ainda empates paralelos do gibraltarino Lincoln Red Imps (contra o armênio Noah) e do islandês Breidablik (contra o bósnio Zrinjski Mostar), que se candidatam a zebras de países alternativos. (Leandro Stein)
- A Conference oferece 30 confrontos nesta terceira fase qualificatória. Milsami Orhei, Levadia Tallinn e Víkingur (das Ilhas Faroe) saíram em vantagem na Rota dos Campeões, com destaque às chances dos faroeses mais uma vez. Na Rota da Liga, times tradicionais como Sparta Praga, AZ, Hajduk Split, Anderlecht, AIK, Universitatea Craiova, Levski Sofia e Besiktas largaram em vantagem. Um triunfo notável foi conquistado pelo Hibernian, ao fazer 2 a 0 no Partizan dentro da Sérvia. O Banik Ostrava protagonizou o jogo mais intenso, com os 4 a 3 diante do Austria Viena na República Tcheca. Já o Celje surpreendeu, com os 5 a 0 para cima do Lugano na Suíça. Outra zebra ocorreu na Islândia, com o triunfo do anfitrião Víkingur por 3 a 0 diante do Brondby. (Leandro Stein)