A vitória total do Bayern, os muitos acertos de Kompany
A Newsletter Meiocampo desta sexta analisa os dois grandes jogos da rodada da Champions, PSG 1x2 Bayern de Munique e Liverpool 1x0 Real Madrid, além de trazer outros destaques, da Argentina à Romênia
Newsletter Meiocampo — 7 de novembro de 2025
O novo formato da Champions League foi concebido para oferecer jogos de peso, entre os principais clubes do continente, cada vez mais cedo. Neste sentido, a rodada desta terça foi a mais pródiga até agora, com PSG x Bayern e Liverpool x Real Madrid, dois jogos de muita repercussão e desdobramentos. A Newsletter Meiocampo chega com análises profundas sobre ambas as partidas, sobre os riscos dos italianos na competição e também sobre o épico do Independiente Rivadavia na Copa Argentina. No giro final, muito mais sobre Champions, Liga Europa, Conference, até Copa Paraguai - e os zumbidos ao redor da CBF.
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A vitória total do Bayern, os muitos acertos de Kompany
Por Leandro Stein
A Champions League ainda reserva uma grande data no fim da temporada, em jogo único e campo neutro, para dizer quem é o melhor time da Europa. Uma das maiores vantagens do novo formato do torneio, porém, está em permitir que potências de diferentes países eventualmente se desafiem para dizer quem está em melhor forma neste primeiro semestre. São times campeões nacionais, de Pote 1, candidatos à Orelhuda dentro de alguns meses. O sorteio de 2025/26 foi benevolente aos ansiosos, por oferecer o duelo entre o atual campeão continental e o adversário mais avassalador da nova temporada. E se é prudente esperar até 30 de maio para dizer qual o lugar deste Bayern de Munique na história, uma vitória memorável já foi possível em novembro, com os 2 a 1 sobre o Paris Saint-Germain.
São 16 vitórias em 16 partidas para o Bayern em 2025/26. Algumas delas, grandes o suficientes. Os bávaros venceram a Supercopa da Alemanha contra o Stuttgart. Na Bundesliga, garantiram triunfos confortáveis contra seus principais perseguidores – Leipzig, Borussia Dortmund, Eintracht Frankfurt, Bayer Leverkusen. Já na Champions, estava na conta a imposição sobre o novíssimo campeão da Copa do Mundo de Clubes, o Chelsea. O PSG, de qualquer forma, representava a maior prova de fogo, e não somente por vir de uma Tríplice Coroa. Coletivamente, também foi o melhor time do mundo em 2024/25, sem dúvidas. E com tantas individualidades potencializadas pelos mecanismos de Luis Enrique. O oponente ideal para o que Vincent Kompany produz com os alvirrubros.
Os dois primeiros passos de Kompany
Porque, embora o Bayern tenha ganhado reforços do calibre de Luis Díaz e Jonathan Tah para a nova temporada, a evolução da equipe não se limita às novas peças. Ela está muito mais relacionada às ideias postas em prática por seu treinador.
O primeiro ano de Kompany na Allianz Arena foi importante para a sua adaptação ao novo clube e também para melhorar o clima de um vestiário fraturado por gestões anteriores – seja no comando técnico, com Thomas Tüchel, seja na direção de futebol, com a dupla Oliver Kahn e Hasan Salihamidzic. Um dos elogios mais recorrentes ao ex-zagueiro, em especial de medalhões do elenco, era sobre o clima saudável que voltara a se vivenciar em Säbener Strasse.
Dentro de campo, também houveram traços positivos, e não só pela reconquista da Bundesliga após o título invicto do Bayer Leverkusen no ano anterior. Kompany conseguiu encontrar um equilíbrio importante no Bayern de Munique, que outros treinadores não acharam antes dele. Era um time menos exposto na defesa e bastante impositivo contra rivais mais frágeis – algo que tinha se perdido um pouco inclusive na Alemanha. Todavia, não foi uma temporada perfeita. Kompany nem sempre fazia as melhores escolhas nas alterações e seu time parecia encontrar dificuldades diante de adversários mais cascudos. Tanto é que só venceu um jogo dos seis contra os oponentes do G-4 da Bundesliga e caiu para o Leverkusen na Copa da Alemanha. A campanha da Champions teve altos e baixos. Um triunfo sobre um PSG em construção na fase de liga foi exatamente o que deu segurança após um início instável, enquanto a Inter se tornou algoz nas quartas de final.
Kompany não era o treinador predileto quando foi contratado pelo Bayern, que tinha outros planos e acabou recorrendo ao comandante rebaixado com o Burnley na Premier League. Foi muito mais uma aposta pela postura pública do belga, pelo futebol ofensivo apresentado no acesso na Championship e pelo potencial asseverado por ninguém menos que Pep Guardiola – consultado pelos bávaros sobre a capacidade de seu antigo capitão. O primeiro ano renovou o voto de confiança. E esta segunda temporada oferece um trabalho bem mais autoral do comandante.
O elenco do Bayern perdeu referências, em especial Thomas Müller, assim como abriu mão de jogadores que já não atendiam tanto às expectativas – como Leroy Sané, João Palhinha e Kingsley Coman. Luis Díaz e Jonathan Tah vieram com status de titulares absolutos, enquanto Tom Bischoff foi uma ótima pechincha por seu potencial. A contratação às pressas de Nicolas Jackson no fechamento da janela, todavia, sublinhava lacunas que permaneciam. Sobretudo diante de lesões importantes, como as de Jamal Musiala e Alphonso Davies. Kompany conseguiu mudar essa impressão reticente com ideias que deram muito certo.
Se até havia uma noção de que o Bayern iniciava a temporada com um 11 inicial potencialmente entre os mais fortes da Europa, isso se confirma com eloquência e mesmo surpresas positivas. O elenco como um todo se fortaleceu. Ninguém duvidava de Díaz ou Tah, mas o impacto inicial de ambos impressiona. Lennart Karl, até então visto como uma promessa para o futuro, ganha espaço como novo xodó pelos brilhantes lampejos que oferece. Aleksandar Pavlovic, apesar das dificuldades para ter sequência diante dos problemas físicos, continua em franca ascensão. O improvisado Konrad Laimer virou um dos melhores laterais do futebol alemão, dos dois lados, assim como Josip Stanisic e o curinga Tom Bischof auxiliam no setor. Até Nicolas Jackson, sob vista grossa, virou um trunfo por permitir variações ao ataque.
Jogadores que vinham em crescente desde a temporada passada atingem um patamar ainda mais alto. O que falar sobre Harry Kane, com seu jogo cada vez mais completo e onipresente em campo, mas sem perder o faro de artilheiro? Michael Olise desequilibra, com muita habilidade e também consciência na tomada de decisão. Serge Gnabry, que tinha um fardo ao suplantar Musiala, virou de novo o protagonista dos tempos de Tríplice Coroa. Joshua Kimmich também vinha de campanhas abaixo da crítica e se tornou outra vez imprescindível, tal qual seu parceiro Leon Goretzka, do qual o clube quase abriu mão. Dayot Upamecano é hoje o beque sólido pelo qual os alvirrubros pagaram caro, e que antes se mostrava tão suscetível aos erros. Até Manuel Neuer, lenda absoluta, vem numa forma excelente que os anos pareciam ter deixado para trás.
O desafio mais qualificado possível
Com 15 vitórias consecutivas, o Bayern era um time que vinha merecendo apenas elogios. O PSG testaria essa onda positiva como um adversário com uma coleção de recursos para derrubar qualquer certeza: seus laterais ultraofensivos, seus meio-campistas dinâmicos, seus atacantes livres para incomodar por qualquer faixa. Toda a caixa de ferramentas vista na Champions passada. É certo que o carrossel de Luis Enrique não está em sua melhor rotação por conta dos problemas físicos – com Desiré Doué ausente, além de Ousmane Dembélé e Fabián Ruiz fora das condições ideais. Ainda assim, foi um time que se valeu muito da amplitude de seu elenco nos últimos meses, com direito a vitória sobre o Barcelona e um atropelo diante do Leverkusen nesta Liga dos Campeões. Além do mais, teria o calor da torcida dentro do Parc des Princes.
O Bayern de Munique venceu o PSG muito mais por seus méritos do que por quaisquer poréns do outro lado. Adaptou-se e superou os desafios totalmente distintos que se colocaram em cada metade da partida. Durante o primeiro tempo, foi uma equipe voraz e incansável que poderia ter saído com uma vantagem maior que os 2 a 0. Já na segunda etapa, apesar dos riscos de empate, suportou a incessante pressão de maneira resiliente e só permitiu um gol, no 2 a 1 final.
A melhor versão da noite, e mais próxima do que se nota na temporada, foi o Bayern do primeiro tempo. Um time que não precisa necessariamente da bola para ser destrutivo. Que tem sido bem mais direto em seu jogo. Foi o que atormentou o PSG. Os franceses não tinham respiro na construção, diante da maneira como os bávaros encaixaram a marcação individual e pressionavam desde o campo de ataque. Forçaram vários e vários erros, inclusive com os desarmes que possibilitaram os dois gols. Vitinha, o verdadeiro motor do PSG, foi travado sobretudo por Kimmich. Achraf Hakimi e Nuno Mendes também se viam sobrecarregados, sem encontrar corredores. Khvicha Kvaratskhelia e Bradley Barcola não conseguiam acelerar, enquanto Ousmane Dembélé mal tocou na bola antes de sair frustrado pelas limitações físicas.
Ao longo do primeiro tempo, o PSG teve duas oportunidades mais claras. Na primeira, garantida por uma boa inversão, o gol de Dembélé foi corretamente anulado por impedimento. Na outra, quando Barcola tinha as costas da zaga livres, viu Neuer se agigantar no mano a mano. O trabalho defensivo do Bayern foi fantástico, em especial pela agressividade. Upamecano tantas vezes aparecia mordendo no campo de ataque, quase como um volante. Tah cortou várias linhas de passe. Um equilíbrio que dependia da leitura tática dos jogadores, da atenção constante nas movimentações e nos encaixes individuais, das coberturas defensivas – feitas sobretudo por Laimer e Stanisic, mas que tantas vezes contaram até com atacantes na recomposição da linha de zaga.
A forma ofensiva como o Bayern se defendeu é que abriu o caminho ao ataque. Luis Díaz se aproveitou com seus dois gols, um deles precoce o suficiente para manter a estratégia, mas outros colegas tiveram rendimento até melhor do que o colombiano. E nem foi necessário que Kane finalizasse, mais empenhado em se movimentar e desorientar os beques do PSG, abrindo buracos nas paredes. Kimmich e Pavlovic foram ótimos para subir, aproveitando essas brechas. Olise era outra dor de cabeça. Gnabry, no entanto, merece o reconhecimento como o maestro da orquestra. Foram seus lances de efeito, toques de calcanhar, que desequilibraram. Merecia o gol, não fosse a bola caprichosa na trave.
A resiliência à prova
A expulsão de Luis Díaz, em um carrinho tão desnecessário quanto irresponsável, mudou a cara do jogo. O Bayern que atuou tão bem de maneira agressiva poderia, no segundo tempo, ser testado num jogo reativo. A forma como Kompany gere bem os vestiários ficou expressa pela saída de Gnabry, estelar, mas menos aplicado taticamente para a recomposição do time. Bischof ajudaria mais sem a bola, que ficaria nos pés do PSG.
A segunda etapa teve mais de 400 passes do PSG, 29 cruzamentos, 19 finalizações. João Neves descontou numa rara falha de marcação e poderia ter dado o empate numa cabeçada que passou raspando a trave. Neuer também trabalhou bastante, com uma série de defesas seguras, a ponto de ser eleito o melhor em campo. Mas, diante do arsenal dos parisienses, não foi o melhor que podiam oferecer. O Bayern ocupou muito bem os espaços para conceder apenas chutes de longe e desvios raros dentro de uma área congestionada. Foram só três lances em que os franceses tiveram espaço em 45 minutos de abafa. A resistência bávara também foi bem sucedida. E poderia ser mais, não fossem dois contra-ataques que Olise não concluiu da melhor forma.
A imagem da vitória aconteceu ao apito final. Os jogadores do Bayern de Munique se uniram num só bolo, para se abraçar. Kompany também foi até lá para celebrar com seus comandados. Mais do que uma vitória na Champions, foi a certeza que o trabalho vem dando resultados. Não se conquista uma vitória tão contundente ao acaso. Por mais que a certeza do sucesso na temporada dependa da manutenção dessa força por meses a fio. Os bávaros precisam de novas soluções à medida que os adversários também forem decifrando seus mecanismos.
Futebol de vanguarda
Num futebol cada vez mais pautado pela intensidade sem a bola e pela aceleração com ela, o Bayern apresentou um jogo com o mais vanguardista que se pode pedir. Teve estrutura tática, refinamento técnico, foco apurado, físico implacável. E um sistema tão funcional porque também contou com a excelência de cada indivíduo, aproveitados em suas múltiplas capacidades e nas mais variadas partes do campo.
Kompany foi um dos melhores zagueiros de sua geração e um capitão que marcou época. Mostra-se um treinador de qualidade, tanto para ganhar a confiança de seus jogadores quanto para elevá-los a novos níveis. A renovação recente de seu contrário era um reconhecimento à sua contribuição, um prêmio financeiro a quem não chegou tão cotado assim. E também a visão de que as sementes plantadas de início podem frutificar mais. Seu Bayern é um time de elite. E que terá mais um desafio interessantíssimo para mostrar sua capacidade nessa fase de liga, com exigências diferentes, na visita ao Arsenal na próxima rodada. O campeão virá em maio, mas o potencial competitivo se manifesta desde já.
PODCAST MEIOCAMPO #183
A rodada de Champions League teve uma vitória grande do Bayern contra o PSG em Paris, a vitória do Liverpool sobre o Real Madrid em Anfield e uma rodada cheia de histórias. Vem com a gente!
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O Liverpool voltou? Qual o problema do Real Madrid? - As observações de um grande jogo
Por Bruno Bonsanti
Clubes gostam de usar eufemismos quando decidem demitir um treinador. Uma estratégia de relações públicas para constranger a imprensa a não dizer de boca cheia que eles demitiram um treinador. Não pega muito bem demitir treinador. É geralmente sinal de que alguém tomou uma decisão ruim.
Então oficialmente não dá para afirmar que, desde a chegada de Bill Shankly em 1959, apenas cinco treinadores foram demitidos pelo Liverpool. Vamos colocar da seguinte maneira: desde a chegada de Bill Shankly em 1959, 66 anos atrás, cinco treinadores deixaram o Liverpool por causa de resultados ruins.
Caso você esteja curioso, a única matéria da BBC que usa a palavra “demitido”, ou “sacked”, em inglês, é a de Brendan Rodgers. Até Roy Hodgson ganhou um “acordo mútuo”, assim como Rafa Benítez. A de Gérard Houllier só diz que ele “deixará o Liverpool”, como se alguém tivesse simplesmente mudado de ideia. Outras citam o “acordo mútuo” e, às vezes, que ele foi mandado embora mesmo. Graeme Souness pediu demissão depois de ser eliminado pelo Bristol City da Copa da Inglaterra.
Todos os outros saíram porque achavam que era a hora de sair, para se aposentar, para descansar, ou por outros motivos.
Esse era um contexto importante quando se discutia se o Liverpool demitiria o último técnico campeão da Premier League porque ele teve um mês de outubro meio chato. Era possível. Os tempos mudaram. Não dava para descartar que o efeito manada e a emoção das redes sociais levassem a uma decisão impulsiva, mas não seria corriqueiro. Não seria algo que o Liverpool costuma fazer.
E sim, foi pior do que um mês meio chato. Depois de toda a badalação do seu mercado, mais de € 500 milhões em reforços de elite, perdeu seis vezes em sete partidas por todas as competições e tinha Aston Villa, Real Madrid e Manchester City pela frente. Não era inconcebível chegar a nove derrotas em dez jogos e aí boa sorte para o seu histórico.
Ao contrário, o Liverpool ganhou as duas primeiras dessas partidas e, além dos resultados, voltou a parecer o time campeão da Premier League. Ganhou até o direito de não vencer no Etihad Stadium no fim de semana, o que a maioria dos adversários faz, sem que haja um terremoto.
Na última terça-feira, um gol de cabeça de Alexis Mac Allister garantiu os três pontos contra o Real Madrid em Anfield, um dos principais jogos da rodada da Champions League e especialmente simbólico porque refletiu o encontro de quase exatamente um ano atrás, quando o Liverpool passou pelos espanhóis em meio a um início fulminante de temporada. Um sinal de que talvez aquele time esteja voltando a tomar forma.
De volta aos fundamentos
A decisão mais drástica que Arne Slot tomou para tentar colocar o trem de volta aos trilhos foi escalar um time mais próximo possível ao campeão inglês contra o Aston Villa. Hugo Ekitiké foi o único reforço entre os titulares de linha, além de Giorgi Mamardashvili substituindo Alisson no gol. Jeremie Frimpong e Alexander Isak estavam fora por lesão, mas Milos Kerkez e Florian Wirtz começaram no banco de reservas.
Para encaixar Florian Wirtz como um camisa 10 com liberdade para flutuar, Slot havia modificado a formação tática. O triângulo do meio-campo, com Ryan Gravenberch na base atrás de Mac Allister e Szoboszlai, deu lugar a uma dupla de meias, um double pivot, atrás do alemão. Isso causou sérias implicações à capacidade do Liverpool de manter a posse de bola e de proteger a defesa contra transições. Qualquer time mais ou menos organizado conseguiu acionar seus atacantes em velocidade e com espaço. Aquele controle absoluto após abrir vantagem na temporada anterior havia desaparecido.
Contra o Aston Villa, o meio-campo foi escalado com Gravenberch, Szoboszlai e Mac Allister – que, para piorar, havia começado a temporada em más condições físicas. A escalação foi repetida contra o Real Madrid e novamente houve consistência. Não apenas isso, mas Szoboszlai, por exemplo, foi um dos melhores em campo. Para completar, Andrew Robertson parece ter retomado a titularidade na lateral esquerda. Mesmo que tenha caído um pouco, ainda é um jogador melhor que Kerkez, principalmente pela parte defensiva.
Diante da necessidade, Slot voltou aos fundamentos. Reconstruiu o meio-campo que havia funcionado tão bem na temporada passada e, a partir disso, todo o resto tem uma base mais sólida para funcionar um pouco melhor. Mesmo que isso signifique deixar Florian Wirtz no banco de reservas ou escalá-lo em outra posição.
Um ponta esquerda diferente
Os dois espectros dos torturadores de números estão se divertindo com Florian Wirtz. Um lado cita que ele tem apenas três assistências e nenhum gol em 15 jogos pelo Liverpool, como se fossem as únicas coisas que importam em um jogo de futebol, o outro que ele é um dos jogadores que mais cria chances para os companheiros, sem contextualizar a qualidade dessas chances.
Wirtz não é um jogador de fácil encaixe, mesmo que não estivesse tendo que passar pela adaptação física que a Premier League às vezes exige. Nenhum camisa 10 é. Eles geralmente exigem todo um sistema de compensação para que tenham liberdade de flutuar e criar sem tanta preocupação defensiva. O Liverpool não joga regularmente com um jogador desses desde que Philippe Coutinho foi apresentado no Barcelona.
Ele tem um talento fora do comum. Não é um tipo de contratação que dá para deixar passar. Isso não significa que chegaria arrebentando em todo lugar. Slot ainda precisa encontrar o equilíbrio certo para não podar o que ele pode oferecer e, ao mesmo tempo, não abrir mão da estrutura coletiva da sua equipe.
A solução contra o Real Madrid foi colocá-lo na ponta esquerda. Com outras contratações engatilhadas, o Liverpool não repôs diretamente a saída de Luis Díaz. Sabia que podia deslocar Isak ou Ekitiké se precisasse ou usar Cody Gakpo, como Slot fez (bastante) nos últimos meses. Ou ir com Wirtz.
Ele não é um ponta de explosão, arrancada e dribles em velocidade, como Díaz, Salah ou Mané, mas um armador que parte da ponta e centraliza para criar as jogadas, abrindo o corredor para a passagem do lateral ou a projeção do meia mais à esquerda. Isso pode funcionar também. Foi como Slot o escalou contra o Real Madrid e ele teve uma boa atuação.
O melhor Wirtz, porém, provavelmente aparecerá quando ele estiver no centro da construção ofensiva, mesmo que não esteja dando o passe final ou entrando na área para finalizar. Ele é o tipo de jogador que pode qualificar cada toque na bola que dá e até chegou a fazer isso em alguns momentos desde que foi contratado pelo Liverpool. Implementar esse tipo de abordagem leva mais tempo.
Que bolso pesado
Durante a pré-temporada, a impressão de quem cobria o Liverpool de perto era que Conor Bradley ganharia uma chance de ser o substituto de Trent Alexander-Arnold, apesar da contratação de Jeremie Frimpong. O holandês é, como Arnold, ultra ofensivo e falho na defesa, mas com características diferentes: não cai pelo meio para armar, não tem o mesmo passe, gosta de buscar a linha de fundo e acelerar o tempo todo.
Problemas físicos atrapalharam o seu começo de temporada, mas agora, aparentemente em forma depois de completar 90 minutos nas últimas duas partidas, o plano pode entrar em ação. Ele deu os argumentos que os céticos precisavam com mais uma atuação formidável contra o Real Madrid. Se no confronto do ano passado foi responsável por anular Kylian Mbappé, desta vez praticamente tirou Vinicius Junior do jogo.
Ele é capaz desse tipo de partida defensiva e, claro que sem o mesmo volume de Arnold e Frimpong, ainda contribui no ataque de vez em quando. Para um time em busca de equilíbrio, era a receita certa.
Qual o problema do Real Madrid?
Uma análise do Marca, o jornal mais madridista que existe, afirmou que, entre o goleiro e o centroavante, “não houve nada” no Real Madrid contra o Liverpool, uma crítica que parece um pouco rígida demais para apenas a segunda derrota de um time que ganhou todas as outras 13 partidas que disputou nesta temporada, ainda que a atuação em Anfield tenha sido realmente fraca.
O clima está um pouco estranho por lá porque realmente não parece que o time de Xabi Alonso começou tão bem quanto os resultados sugerem. Talvez porque a primeira derrota, para o Atlético de Madrid, tenha sido bastante enfática. Talvez porque, apesar da vitória no Superclássico, as outras duas derrotas também tenham vindo em jogos grandes, um problema que se estende desde o último ano de Carlo Ancelotti.
Ou talvez porque as atuações não têm sido mesmo convincentes no geral e, mais do que com Erling Haaland e o Manchester City, e muito mais do que com Harry Kane e o Bayern de Munique, é de se imaginar o que teria acontecido nesses jogos se Kylian Mbappé não tivesse marcado em praticamente todos eles - as três exceções foram Mallorca (2 a 1), Juventus (1 a 0) e Liverpool (0 a 1).
Foi curioso que depois de uma partida tão memorável contra o Barcelona, saíram suspiros de bastidores sobre a insatisfação de alguns jogadores importantes do Real Madrid com os métodos de Xabi Alonso. Claro que havia um gancho, o chilique de Vinicius Junior, mas aquela enorme atuação coletiva era para ser a confirmação de que tudo estava correndo bem e que as outras vitórias não foram por acaso.
Segundo uma reportagem do The Athletic, a fonte do problema são as tentativas do espanhol de estruturar o dia a dia do Real Madrid: regras para o vestiário, pontualidade, sessões de vídeo coletivas e individuais, além de mais intensidade nos treinamentos e mais trabalho físico na academia. A abordagem de Carlo Ancelotti é famosa por ser mais leve nesse sentido e funcionou especialmente bem no Real Madrid, onde a gestão de vestiário costuma ser um dos principais desafios.
Não tem uma melhor que a outra. A de Ancelotti funcionou muito bem durante mais de três décadas. A de Alonso tem menos comprovação empírica porque ele ainda é um treinador em começo de carreira, mas funcionou bem no Bayer Leverkusen. Ele também não é o único técnico do mundo que cobra pontualidade. É natural que haja um pouco de atrito quando um elenco está passando de uma para a outra. No entanto, vale repetir: administrar egos de superestrela sempre é uma questão com o Real Madrid. Alonso precisará de respaldo e tato para que isso não saia do controle.
Ainda não saiu. São apenas burburinhos, por enquanto, principalmente porque, apesar de alguns problemas, o Real Madrid não está dando muita oportunidade de reverberá-los. Vale observar o quão altos eles ficarão se houver uma sequência de resultados ruins maior do que uma única partida.
A lenda de Courtois
A maior evidência de que a atuação do Real Madrid não foi à altura da ocasião é que Thibaut Courtois precisou de mais uma atuação heróica contra o Liverpool, como a da final da Liga dos Campeões em Paris, para evitar uma derrota mais ampla. Ele realizou oito defesas e pelo menos metade delas, como naquele mano a mano com Szoboszlai ou nas cabeçadas de Van Dijk e Ekitiké, seriam as melhores da carreira de um goleiro mediano. É realmente hora de começarmos a colocá-lo com mais frequência entre os maiores da história da posição. Aliás, segundo um jornalista do The Athletic, desde aquela final de 2022, 23% de todas as defesas de Courtois na Champions League foram contra o Liverpool.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na última terça, falamos sobre a convocação da Seleção, o título inédito do Coquimbo Unido no Chile e os problemas ofensivos do Tottenham, além de fazermos um amplo giro do Uruguai ao Japão.
O alerta está ligado para a Juve, mas soa mais alto no Napoli de Conte
Por Felipe Lobo
Já se passaram quatro rodadas da Champions League, e Napoli e Juventus vivem uma situação delicada. Os dois times estão mal colocados na tabela, depois de dois empates atuando em casa nesta rodada. Embora os resultados tenham sido iguais, a perspectiva das duas equipes é diferente. O que as aproxima é a preocupação com a classificação para a próxima fase.
O regulamento com a fase de liga é bem permissivo para que os times se classifiquem mesmo sem fazer muitos pontos. Vimos isso acontecer, por exemplo, com o Manchester City na temporada passada, que chegou à última rodada ainda ameaçado de não se classificar. No fim, avançou, mas tomou um susto.
A Juventus ficou no empate por 1 a 1 com o Sporting em Turim, em um jogo que deveria ter vencido. O Sporting largou na frente com um gol de Maximiliano Araujo. Apesar de ter sofrido o gol, a Velha Senhora fez um bom jogo e arrancou o empate ainda no primeiro tempo, com Khéphren Thuram passando para o meio e Dusan Vlahovic completando para o gol. A Juve criou mais chances, funcionou bem na construção de jogadas e inclusive exigiu uma defesa milagrosa do goleiro Rui Silva no fim do jogo.
E o próprio Vlahovic, autor do gol de empate, tem sido uma das boas histórias do time italiano nesta temporada. Encostado no começo da temporada e dado como transferível, o jogador conquistou seu espaço em campo, mesmo com as contratações para a sua posição — Jonathan David e Loïs Openda. É Vlahovic quem tem feito seus gols e ajudado o time. Ele tem seis gols marcados na temporada. David tem um gol, e Openda ainda não balançou as redes pela equipe de Turim.
O que também anima a Juventus é a chegada de Luciano Spalletti. O treinador estreou pelo clube na Champions, depois de ter vencido na estreia pela Serie A, contra a Cremonese, no último fim de semana. O trabalho de Igor Tudor ia mal, e Spalletti tem um bom histórico, inclusive o título com o Napoli há duas temporadas.
A tabela da Juventus na Champions League é acessível. O time enfrenta Bodo/Glimt, Pafos, Benfica e Monaco. Todos são jogos vencíveis para a Velha Senhora conquistar os pontos que precisa para se classificar. São quatro jogos até aqui, com três empates e uma derrota, o que coloca a equipe do norte italiano na 26ª posição.
Na temporada passada, a nota de corte para classificação foi 11 pontos. Com três vitórias, o time avança. Embora hoje a situação não seja boa, há uma boa perspectiva para os bianconeri.
O mesmo não pode ser dito do Napoli. Mais do que os resultados, que são até melhores que os da Juventus (com uma vitória, um empate e duas derrotas), a atuação preocupa. O empate contra o Eintracht Frankfurt, em casa, por 0 a 0, foi um dos piores jogos da rodada. Mesmo com muita posse de bola, o Napoli não sabia o que fazer e parou em uma defesa bem armada pelo Frankfurt, que sequer sofreu. Foram raras as chances de gol no jogo.
A tabela do Napoli na Champions tem Qarabag, Benfica, Copenhague e Chelsea. Embora seja acessível, há um jogo muito difícil na última rodada, ainda que em casa. Se chegar até lá precisando de pontos, pode ficar em situação difícil. E se na Juventus a chegada de Spalletti representa alguma esperança, no caso do Napoli há uma pequena ponta de preocupação: Antonio Conte é um técnico de elite, mas seu histórico na Champions League é negativo.
Conte dirigiu Napoli, Tottenham, Internazionale, Chelsea e Juventus na Champions League. Foi eliminado na fase de grupos três vezes, duas vezes nas oitavas de final e uma vez nas quartas. Sua melhor campanha é justamente a primeira, em 2012/13, ainda pela Juventus. Naquela temporada, foi o Bayern de Munique que eliminou seu time — e curiosamente, aquele Bayern acabaria campeão.
O que o Napoli tem feito em campo até aqui não empolga. A pancada que tomou do PSV, um 6 a 2 impiedoso, até pode ter sido exagerada, mas a derrota foi merecida. O time tem mostrado pouco recurso em jogos europeus e precisará mostrar mais do que isso para seguir adiante.
A situação ainda não é desesperadora, mas o sinal amarelo precisa estar ligado em Nápoles. Conte precisa encontrar soluções, especialmente porque a disputa interna, pelo título da Serie A, deve exigir muito do time, mentalmente e fisicamente. O Napoli da temporada passada precisa entrar em campo pela Champions. Até aqui, esse time comandado por Conte não parece ter vida longa na competição.
A noite mais épica do Independiente Rivadavia
Por Leandro Stein
Durante os últimos anos, o futebol argentino expandiu suas fronteiras. É pertinente discutir o uso político do esporte no país, tanto a nível governamental quanto para a manutenção de poder na AFA, e o consequente inchaço da liga nacional. Todavia, se há um benefício dessa mudança de eixo, é ver as grandes histórias espalhadas pelo interior e os variados clubes que atingem seu ápice. A Copa Argentina é terreno fértil a essa diversidade, em especial pelas zebras que se consagram nos últimos anos. O Independiente Rivadavia é uma delas, e desfrutou a maior glória de sua história nesta quarta-feira, com a épica vitória nos pênaltis sobre o Argentinos Juniors, após o empate por 2 a 2 na decisão disputada em Córdoba. Dá o primeiro título nacional à cidade de Mendoza e se garante na Libertadores 2026.
Mesmo se o título não viesse, o Independiente Rivadavia tinha protagonizado uma façanha marcante o suficiente na Copa Argentina. O Azul del Parque havia eliminado o Platense, o surpreendente campeão do Torneio Apertura de 2025. Mas nada comparado à imposição sobre o River Plate na semifinal, com o triunfo nos pênaltis agravando a crise pelos lados de Núñez. Uma vez na final, não havia motivos para diminuir os sonhos da Lepra. Era uma decisão acessível diante do Argentinos Juniors, embora contra um oponente inegavelmente tradicional e sedento por um título de elite que não vinha há 15 anos.
O formato da Copa Argentina enfatiza de um jeito diferente as festas nas arquibancadas. Os jogos todos realizados em campo neutro podem não ser os mais cômodos para se pegar a estrada, mas permitem tribunas divididas, como durante anos não foi permitido no Campeonato Argentino. Em Córdoba, o Estádio Monumental se ornou com as esperanças de duas torcidas. O Argentinos Juniors queria o fim da seca. O Independiente Rivadavia almejava sua noite mais inesquecível. E foi o que aconteceu, de forma eletrizante.
A superioridade do Independiente Rivadavia ficou expressa em Córdoba, mas ainda assim os mendocinos precisaram passar por enormes provações. O gol de Álex Arce, punindo uma saída de gol ruim do goleiro Sergio Romero, permitiu que o Azul del Parque administrasse a vantagem desde os nove minutos. A equipe lidou bem com a pressão do Bicho Colorado, embora as dificuldades se indicassem maiores para o segundo tempo: a Lepra foi para o intervalo com um a menos, após a expulsão de Maximiliano Amarfil.
O Independiente Rivadavia foi capaz não só de sustentar o placar, como encaixou um contra-ataque mortal para ampliar aos 17 da segunda etapa. Sebastián Villa puxou a jogada e Matías Fernández finalizou com enorme categoria, ao dar uma finta que deixou o marcador estatelado no chão, antes de chutar de bico, no contrapé de Romero. O Argentinos Juniors voltou ao jogo na sequência, ao descontar com Alan Lescano. Mesmo assim, os mendocinos resistiam. E o cenário se tornou cada vez mais duro. Aos 45, o goleiro Ezequiel Centurión se lesionou e foi substituído. Dois minutos depois, a Lepra foi reduzida a nove homens, com Alejo Osella também expulso. Nos longos acréscimos, o empate o Argentinos Juniors saiu aos 52, na insistência, com Erik Godoy.
Poderia ser o banho de água fria ao Independiente Rivadavia. Foi a deixa para a consagração de seus grandes personagens na disputa por pênaltis. O goleiro Gonzalo Marinelli entrou numa fogueira, ao substituir Centurión nos minutos finais, mas agarrou a chance. Pegou o pênalti de Tomás Molina, a quinta cobrança do Argentinos Juniors – e duas vezes. Na primeira, esperou no centro da meta, mas a arbitragem mandou voltar. Então, voou no canto e se tornou herói da final. Aos 36 anos, o veterano chegou a subir na segundona como reserva do River Plate em 2011/12 e fez parte do Tigre que desbancou o Boca Juniors na final da Copa da Superliga 2019. Vira agora uma lenda em Mendoza.
Já entre os batedores do Independiente Rivadavia, ninguém se intimidou com a figura de Sergio Romero, um goleiro que já levou a Argentina à final da Copa do Mundo por seu talento nos pênaltis. Os cinco cobradores do Azul converteram seus tiros. Inclusive o último Sebastián Villa, dono da braçadeira de capitão, que confirmou a taça. O colombiano é outro nome essencial. Antigo ídolo do Boca Juniors, o atacante caiu no ostracismo por diversos episódios de indisciplina e escândalos extracampo. Mais de uma vez Villa foi denunciado por violência de gênero e chegou a ser condenado a 25 meses de prisão, com suspensão condicional da pena por ser réu primário, mas acabou absolvido em segunda instância. Afastado pelo Boca, o ponta teve uma passagem pelo modesto Beroe Stara Zagora no Campeonato Búlgaro, antes de ser contratado pelo Azul del Parque em 2024. Consegue recuperar um pouco da visibilidade com esse título.
Já seu companheiro de ataque, Álex Arce, amplia sua importância como ídolo histórico do Independiente Rivadavia. O centroavante estourou no conto de fadas do Sportivo Ameliano, que conquistou o acesso à elite do Campeonato Paraguaio e faturou a Copa Paraguai. Chegou a Mendoza em 2023, tornando-se artilheiro da segunda divisão do Campeonato Argentino e permitindo o acesso do Azul de Parque após 41 anos. Arce se transferiu à LDU Quito em 2024, virando goleador do Campeonato Equatoriano e sendo eleito o melhor jogador na campanha do título nacional dos Blancos. Apesar do destaque na Libertadores 2025, Arce entrou em litígio sobre os termos de seu contrato e voltou a Mendoza quando isso já parecia improvável. A Lepra pagou alto para repatriar o atacante paraguaio e ele compensou com o primeiro gol da final. Pode até representar o clube na Copa do Mundo, recorrente nas convocações da seleção do Paraguai.
No banco de reservas, o técnico Alfredo Berti também ampliou sua lista de feitos com o Independiente Rivadavia. O ex-meio-campista atuou no Newell’s Old Boys de Marcelo Bielsa, vice-campeão da Libertadores em 1992, e anos depois se tornou assistente de El Loco na seleção chilena. Seu início como treinador foi em Rosário, substituto de Tata Martino no Newell’s. Desde então, rodou por clubes menores e teve seu melhor momento em Mendoza, com o acesso do Independiente Rivadavia em 2023. Saiu, mas voltou para continuar seu trabalho e liderar a conquista da Copa Argentina.
Até o retorno à elite em 2023, o Independiente Rivadavia tinha seis participações na primeira divisão do Campeonato Argentino, intermitentes entre 1968 e 1982, numa época em que os sucessos regionais levavam a uma das edições anuais da competição nacional. Desde então, o Azul del Parque variou entre a segunda e a terceira divisão, ainda que ostentasse a fama de maior campeão da Liga Mendocina de Futebol. A Copa Argentina eleva a Lepra um passo além e ainda sublinha o momento importante do futebol na cidade. O Gimnasia de Mendoza, segundo maior campeão regional e principal rival do Independiente, está de volta à elite para 2026. Reeditarão o clássico na primeira divisão, que também terá a presença de outro mendocino, o Godoy Cruz – com mais peso nacional nos últimos anos.
E a cereja do bolo fica para a vaga na Libertadores de 2026. O Independiente Rivadavia nunca participou de uma competição continental, nem mesmo da Copa Sul-Americana. Vai inaugurar um novo capítulo em sua história – assim como fizeram outros campeões recentes da Copa Argentina, como o Patronato e o Central Córdoba. Desde a última década, oito clubes argentinos fizeram suas estreias na Libertadores, já contando o Azul del Parque e também o Platense – menos apenas que os nove da Venezuela. É um reflexo do aumento de vagas no torneio e do inchaço do Campeonato Argentino, mas também de como essa descentralização mexeu com o equilíbrio histórico da liga local. Até 2002, só clubes das províncias de Buenos Aires e Santa Fe tinham representado a Argentina na Libertadores, quando o Talleres inclui Córdoba nesse mapa. Já os últimos 15 anos marcaram as estreias de Mendoza, Tucumán, Entre Ríos e Santiago del Estero. O Independiente Rivadavia é mais um mendocino a ampliar essa diversidade.
Giro
- Eu imagino que alguns de vocês queiram ler aqui um comentário sobre o papelão protagonizado por Oswaldo de Oliveira e Emerson Leão diante de Carlo Ancelotti. Quatro dias depois do ocorrido, fica até difícil de acrescentar algo a mais sobre o repúdio generalizado às falas corporativistas dos dois veteranos, com um cunho xenofóbico e também hipócrita, por não reconhecerem suas próprias trajetórias no exterior. Só alguns adendos pertinentes: não vamos dar muito palco para as posturas abjetas neste espaço, conferindo relevância a quem não é mais relevante; os dois pareceram mais interessados em gerar repercussão, numa rara oportunidade diante dos holofotes, do que em propor melhorias concretas ao aprimoramento na formação de treinadores no Brasil; muito mais valor teve o apoio silencioso de outros técnicos a Ancelotti, que recebeu ligações de figuras como Felipão e Renato Gaúcho. Tal “debate proposto” por Oswaldo e Leão só ressalta a mediocridade de ambos nos últimos anos, enquanto alguns técnicos brasileiros constroem suas reputações não apenas dentro do país, como também em portas abertas no exterior – a exemplo de Sylvinho, André Jardine ou Thiago Nunes. (Leandro Stein)
- O Manchester City tem conseguido manter um começo de temporada positivo em grande parte por causa do momento iluminado de Erling Haaland. Não é necessariamente um problema, mas, para voltar a ser o time que já foi com Pep Guardiola, precisará que outros jogadores apareçam, como Phil Foden fez na goleada sobre o Borussia Dortmund. Marcou duas vezes com a sua marca registrada, aquele chute colocado da entrada da área que já rendeu um título inglês, e criou outras jogadas perigosas. Após aquela temporada em que foi eleito o melhor jogador da Premier League, Foden caiu bastante de rendimento e perdeu espaço até na seleção inglesa, mas ainda tem 25 anos. Recuperar uma maior regularidade será essencial ao City. (Bruno Bonsanti)
- Os problemas físicos do ataque do Arsenal não são mais uma epidemia, foram promovidos ao status de maldição. Gabriel Jesus, Noni Madueke, Kai Havertz e Gabriel Martinelli já estavam fora e, no último sábado contra o Burnley, Viktor Gyökeres sofreu uma lesão muscular. Isso significa que Arteta teve que recorrer mais uma vez à versatilidade de Mikel Merino, e é incrível a frequência com que isso dá certo. O meia mais centroavante do mundo marcou duas vezes contra o Slavia Praga para manter o 100% de aproveitamento do Arsenal na Champions League. E as duas vezes como centroavante mesmo: ali na pequena área, no lugar certo para finalizar. (Bruno Bonsanti)
- Pouco a pouco, Estêvão vai cavando o seu espaço no time do Chelsea. Até me chamou mais a atenção ele reclamando de não ter recebido a bola que Alejandro Garnacho mandou às redes no segundo gol contra o Qarabag do que o seu próprio porque mostrou que ele parece mais solto, mais adaptado ao novo ambiente. Mas também teve o seu gol, recebendo pela ponta direita e cortando para dentro antes de finalizar no canto, bem ao seu estilo. Marcou pela segunda rodada consecutiva na Champions League. Ainda está precisando convencer Enzo Maresca a lhe dar mais oportunidades na Premier League. Foi titular apenas quatro vezes até agora, nenhuma nas últimas quatro rodadas. Nunca completou 90 minutos pela liga inglesa, aliás. (Bruno Bonsanti)
- Micky van de Ven pegou a bola quase em cima da linha da sua grande área defensiva e arrancou tão rápido que passou no meio de dois marcadores. Com dribles curtos, deixou mais dois comendo poeira na altura do meio-campo e continuou avançando, até chegar na entrada da grande área adversária e bater firme para ampliar a vitória do Tottenham. O que torna um dos golaços da temporada europeia é que ele é… um zagueiro. Depois da atuação fraquíssima contra o Chelsea, após a qual o próprio Van de Ven e o lateral direito Djed Spence ignoraram Thomas Frank, era importante dar uma resposta enfática. Mesmo que o Copenhague não seja uma grande potência europeia, a goleada por 4 a 0 serviu para isso, ainda mais para um time que estava sofrendo no setor ofensivo. Destaque para a ótima atuação de Xavi Simons. (Bruno Bonsanti)
- A zona de classificação da Champions abriga duas grandes surpresas, Pafos e Qarabag. A campanha dos azeris, com sete pontos, vai muito melhor do que o imaginado, embora seja um clube já tradicional nas copas europeias e que fez uma ótima fase qualificatória. A maneira como deu trabalho ao Chelsea no empate por 2 a 2, com direito a virada no placar ainda no primeiro tempo, já pinta como ponto alto da campanha. Os brasileiros Pedro Bicalho e Kady Borges são fundamentais no meio-campo. Já o Pafos, com cinco pontos, surpreende até mais. Os cipriotas ascenderam recentemente e estão em sua primeira Champions, mas conseguiram bater o Villarreal por 1 a 0. Em quatro rodadas, aliás, foram três jogos sem sofrer gols – e cinco gols tomados, mas do Bayern, algo totalmente compreensível. (Leandro Stein)
- Enquanto isso, os dois únicos clubes que ainda não pontuaram na Champions são gigantes continentais, os ex-campeões Ajax e Benfica. É verdade que a largada dos benfiquistas inclui a virada sofrida para o Qarabag em casa, mas o time pode reclamar da sorte nesta semana. Martelou e criou muitas chances contra o Bayer Leverkusen, tudo para perder por 1 a 0 com um gol no final. Dá para se recuperar, mas os encarnados dependerão de vitórias contra Real Madrid e/ou Juventus. José Mourinho terá que aprontar das suas, num início de trabalho mediano por enquanto. Já o Ajax foi massacrado pelo Galatasaray, em que os 3 a 0 ficaram baratos. A falta de rumos do clube é evidente há algumas temporadas e a quarta colocação na Eredivisie, oito pontos atrás dos líderes, corrobora. John Heitinga perdeu seu emprego como treinador. (Leandro Stein)
- Victor Osimhen, que não tinha nada a ver com a crise do Ajax, aproveitou a noite em Amsterdã para saltar à artilharia da Champions. Anotou uma tripleta, com dois gols de pênalti, mas também forçou defesas monumentais do goleiro Remko Pasveer. O nigeriano nem vem tão bem nesta edição do Campeonato Turco, mas aproveita a vitrine continental para sublinhar como valeu cada centavo pago pelo Galatasaray por seu futebol. Continua entre os melhores centroavantes do mundo, mesmo sem jogar em uma das grandes ligas. E seu nível de desempenho, que já tinha rendido vitórias contra Liverpool e Bodo/Glimt, pode classificar os Leões até no G-8. (Leandro Stein)
- Há um argentino entre os melhores goleiros da temporada europeia, e ele não é Dibu Martínez, mas sim Gerónimo Rulli. O arqueiro do Olympique de Marseille vive a melhor fase da carreira e tem feito atuações espetaculares, inclusive na Champions – onde talvez seja o melhor da posição nesta fase de liga até o momento. Os marselheses perderam para a Atalanta no Vélodrome, mas Rulli pegou até pênalti no primeiro tempo. Só não teve o que fazer diante do míssil de Lazar Samardzic nos minutos finais, que definiu a vitória da Dea por 1 a 0. Aliás, se alguém tinha dúvidas de como a personalidade explosiva de Ivan Juric traria problemas em Bérgamo, isso se viu à beira do campo, com a discussão entre o treinador e o substituído Ademola Lookman – que, afinal, também não faz questão de esconder suas insatisfações no clube. (Leandro Stein)
- Ver o Club Brugge na zona de classificação da Champions nem é mais uma surpresa, diante das seguidas boas campanhas continentais, assim como não é surpreendente o sofrimento do Barcelona com sua linha alta. Os belgas sempre estiveram à frente do placar no empate por 3 a 3 e pareceram mais próximos da vitória, inclusive com um pênalti revisado pelo VAR no final. Lamine Yamal pode ter ido ao resgate do Barça, mas o craque da noite foi o português Carlos Forbs. Anotou dois gols, deu uma assistência e até poderia ter feito mais um, num lance em que mandou por cima. O ponta de 21 anos foi determinante em outros momentos da campanha, inclusive na fase qualificatória. É mais uma prova do bom trabalho de formação do Manchester City, mesmo sem ficar no clube em seu processo de transição. Como prêmio, foi convocado pela primeira vez à seleção de Portugal, apesar da concorrência no setor. (Leandro Stein)
- Você já assistiu ao gol de Dan Burn no Newcastle 2x0 Athletic Bilbao? Se não fez isso ainda, faça. Os golaços de cabeça não são tão frequentes, mas, quando acontecem, conseguem ser surreais. É o caso da pintura do beque inglês, que conseguiu colocar uma inacreditável curva na bola pela mera forma como meteu a testa nela. Saiu totalmente do alcance de Unai Simón e morreu rente à trave. Joelinton foi outro nome da noite, em um dos seus jogos mais ofensivos desde que virou meio-campista. Fez um gol, teve outro anulado, perdeu chance clara. O Newcastle é o sexto colocado, com nove pontos, e só perdeu para o Barcelona. É uma participação bastante madura dos alvinegros, que tende a render vaga no G-8. (Leandro Stein)
- O duelo no St. James’ Park, aliás, valeu a melhor história extracampo da rodada: o reencontro das torcidas de Newcastle e Athletic Bilbao. Há uma identificação genuína entre bascos e geordies – seja pelo orgulho regional, pelas características que os diferenciam de seus compatriotas, pela influência da indústria nos cotidianos locais. Além do mais, o Athletic possui laços históricos com a Inglaterra, de seus fundadores a treinadores marcantes. Em 1994/95, quando os dois times se enfrentaram pela Copa da Uefa, alguns episódios de hospitalidade ficaram na memória. Na ida, em St. James’ Park, um torcedor do Athletic que perdeu seu voo de volta foi acolhido por uma família de Newcastle. Já no reencontro em San Mamés, os bascos retribuíram a gentileza, pagando cervejas aos visitantes. Ao final do jogo, até invadiram o campo após o apito final, só para aplaudir o setor visitante, numa cena impensável no futebol. Os Leones se classificaram, com a vitória por 1 a 0, depois da derrota por 3 a 2 fora. Desde então, a presença dos torcedores do clube basco nos jogos dos geordies se tornou comum, e vice-versa. Não é raro ver cachecóis e outros artigos dos Leones em meio aos Magpies – mesmo sendo as mesmas cores do rival Sunderland. Três décadas depois daquele encontro lendário, a relação de admiração mútua se notou nesta semana. Torcedores dos dois times confraternizaram antes da partida. Já depois, os geordies fizeram uma guarda de honra para aplaudir a saída dos 2 mil bascos – elogiados como “a melhor torcida visitante já vista no estádio”, apesar da derrota por 2 a 0. (Leandro Stein)
- A lesão de Achraf Hakimi no Parc des Princes é lamentável não apenas pela forma como aconteceu, diante da entrada violenta e imprudente de Luis Díaz, mas também pelas consequências àquele que poderia (e ainda pode) ser um dos momentos mais reluzentes da carreira do lateral. Hakimi é o capitão da seleção de Marrocos e a principal referência técnica do time de Walid Regragui, já com um lugar histórico entre os grandes craques dos Leões do Atlas. A Copa Africana de Nações começará em 21 de dezembro, no próprio Marrocos, e os anfitriões são os grandes favoritos para encerrar um jejum no torneio que completará 50 anos, com o único troféu em 1976. Hakimi sofreu uma lesão séria no tornozelo e deverá ficar pelo menos seis semanas em recuperação. Dá tempo de disputar ao menos a fase final do torneio, mas dependerá de um sacrifício que soa como desnecessário, quando a entrada de Díaz não tinha razão. (Leandro Stein)
- O Midtjylland não é um desconhecido no continente faz tempo, mas a liderança isolada na Liga Europa, como único time com 100% de aproveitamento, não deixa de superar as expectativas. Os dinamarqueses derrotaram Sturm Graz, Nottingham Forest, Maccabi Tel Aviv e agora Celtic – aproveitando-se da crise dos escoceses, mas também emplacando três gols no primeiro tempo e só tomando o desconto de 3 a 1 no final. É um time menos influenciado por brasileiros do que em outros tempos, com Júnior Brumado saindo do banco. Mas tem muita gente interessante para se observar, em especial o atacante Franculino Djú, de bons momentos nos torneios da Uefa. A liderança, aliás, teve ajuda essencial do Genk. Os belgas venceram o Braga em Portugal, num 4 a 3 eletrizante. (Leandro Stein)
- A principal vitória da Liga Europa na rodada quebrou os 100% de aproveitamento de outro time, o Lyon, e garantiu novo show de Antony pelo Betis. Depois de uma atuação de gala contra o Mallorca em La Liga, o brasileiro conduziu os 2 a 0 diante dos franceses no Benito Villamarín, com direito a um belíssimo gol por cobertura. Sua fase é sensacional e coloca os verdiblancos mais uma vez como fortes candidatos em um torneio continental. Os beticos estão invictos, com oito pontos, incluindo empates diante de Nottingham Forest e Genk. Apesar da derrota, os Gones continuam à frente na tabela, com nove pontos. (Leandro Stein)
- Foi uma rodada da Liga Europa com bons resultados aos times das grandes ligas, em especial os alemães. O Freiburg é o vice-líder, com dez pontos. Visitou o Nice na França e construiu a virada por 3 a 1 ainda no primeiro tempo. O Stuttgart dependeu de gols nos minutos finais, mas ganhou do Feyenoord por 2 a 0 na Alemanha. O Celta teve um dos resultados mais imponentes, com os 3 a 0 sobre o Dinamo Zagreb arrancados rapidamente na visita à Croácia. Já a Roma precisava se recuperar das duas derrotas anteriores e ganhou do Rangers por 2 a 0 em Ibrox, ampliando a crise dos Teddy Bears. A grande decepção continua sendo o Nottingham Forest, no limite da zona de classificação. Apesar do empate fora de casa contra o Sturm Graz não ser de todo ruim, Morgan Gibbs-White perdeu um pênalti que poderia ter mudado o 0 a 0. (Leandro Stein)
- O Aston Villa fez sua parte com a vitória por 2 a 0 sobre o Maccabi Tel Aviv, um jogo que repercutiu muito mais pelos desdobramentos extracampo. Os torcedores do clube israelense foram impedidos de comparecer ao Villa Park por conta dos riscos de violência, relacionados ao comportamento dos ultras e também às manifestações contra as torcidas de Israel pelo genocídio realizado por seu governo na Palestina. Isso não impediu, porém, que as ruas de Birmingham se tornassem cenário de embates. Protestos pró-Palestina e pró-Israel aconteceram em Aston, com os grupos se cruzando e se enfrentando. Pelo menos 11 pessoas foram detidas pela polícia – a maioria por ofensas raciais. (Leandro Stein)
- O Rayo Vallecano trata de tornar sua volta aos torneios europeus inesquecível, e a virada por 3 a 2 sobre o Lech Poznan será recordada por muito tempo em Vallecas. Os poloneses fecharam o primeiro tempo com dois gols de vantagem, antes que os rayistas renascessem com seus três gols na segunda etapa – graças aos ídolos Isi Palazón, Jorge de Frutos e Álvaro García. O técnico Iñigo Pérez fez quatro substituições de uma só vez, um minuto antes do primeiro gol, aos dez da etapa final. O empate se deu aos 38 e a vitória se confirmou aos 49. Foi uma partida tensa também nos arredores do estádio desde a véspera, com embates entre as torcidas, por suas orientações políticas diametralmente opostas. O triunfo deixa os madrilenos no G-8, invictos, com sete pontos. (Leandro Stein)
- Chegada a metade da fase de liga da Conference, três times mantêm os 100% de aproveitamento, com nove pontos: Samsunspor, Celje e Mainz 05. Os turcos fazem uma campanha impecável em sua estreia continental, com direito a triunfos sobre Legia Varsóvia e Dynamo Kiev. Já os eslovenos reforçam a boa impressão deixada em campanhas recentes, ganhando nesta quinta do Legia, de virada. O Mainz, ainda assim, conseguiu o principal resultado da rodada ao vencer a Fiorentina por 2 a 1. São dois times que ocupam a zona de rebaixamento em suas ligas nacionais, mas com qualidade para ir longe na Conference. A virada sobre a Viola na Alemanha foi com emoção, graças a um gol de Lee Jae-song aos 50 do segundo tempo, no último minuto dos acréscimos. (Leandro Stein)
- Em semana de Champions League, o futebol europeu se despediu de um dos treinadores responsáveis por uma das grandes façanhas do torneio: o romeno Emerich Jenei, falecido aos 88 anos. É o maior comandante da história do Steaua Bucareste, dono de cinco títulos do Campeonato Romeno entre os anos 1970 e 1990, além de ter chegado ao seu ápice com a conquista da Copa dos Campeões em 1985/86. Jenei moldou um time tão talentoso quanto dominante, capaz de conquistar o título europeu em plena Espanha diante do Barcelona. Como defensor, o romeno também esteve entre os grandes ídolos do Steaua na década de 1960. Defendeu a seleção nos Jogos Olímpicos Tóquio 1964, embora sua maior contribuição à equipe nacional também tenha sido como técnico. Levou o time à Copa de 1990, o primeiro Mundial do país em 20 anos, que construiu bases para o sucesso realizado em 1994 sob as ordens de Anghel Iordanescu. Reassumiu brevemente uma década depois, no ocaso da geração dourada durante a Euro 2000. (Leandro Stein)
- Daniele de Rossi iniciou sua carreira como treinador em casa, mas numa baita fogueira, diante da maneira como a diretoria da Roma usou o antigo ídolo como escudo às suas crises internas. De Rossi trouxe boas exibições em campo que José Mourinho não conseguia mais e teve um início promissor na casamata, com a recuperação na Serie A e uma honrosa caminhada às semifinais da Liga Europa. Porém, bastou o início ruim de uma nova temporada para ele ser demitido. Aos 42 anos, o ex-volante terá uma nova vivência como técnico no Campeonato Italiano – em seu terceiro clube, após comandar a Spal brevemente na Serie B antes da Roma. O Genoa mandou Patrick Vieira embora e começa a temporada lutando contra o rebaixamento, mas indica ter qualidade para permanecer na primeira divisão. Longe de um ambiente em que provoca tantos amores, De Rossi poderá demonstrar de maneira mais clara suas aptidões para o cargo – o que os meses romanistas pareceram indicar. (Leandro Stein)
- O River Plate vive sua maior crise desde a passagem pela segunda divisão e, mesmo assim, deu um voto de confiança a Marcelo Gallardo. O treinador renovou seu contrato até o final de 2026, a despeito do péssimo trabalho que faz neste retorno ao clube. A decisão respeita a história que Muñeco construiu em Núñez, algo maior que a má fase. Também indica como ele segue com moral junto à nova direção do River, que manteve a situação no poder após o processo eleitoral. Mas não deixa de ser uma temeridade, pela dificuldade que Gallardo indica para encontrar soluções e se desapegar de jogadores que deram certo no passado, mas não correspondem mais da mesma maneira. O Superclássico contra o Boca Juniors no final de semana indicará quão acertada foi a aposta. (Leandro Stein)
- Era de se esperar que a sanha punitivista dos dirigentes sobre as festas das torcidas gerasse uma dura pena ao Racing pelo histórico recebimento contra o Flamengo na semifinal da Copa Libertadores. Porém, antes mesmo de a Conmebol se pronunciar, os organismos públicos da Argentina puniram de forma severa os racinguistas. A Aprevide (Agência de Prevenção à Violência no Esporte) determinou que os próximos três jogos do clube acontecerão com portões fechados e os três seguintes não poderão contar com instrumentos musicais, bandeiras ou qualquer outro elemento que exija autorização prévia. O detalhe é que, como é uma sanção local, será aplicada nos jogos do próprio Torneio Clausura do Campeonato Argentino. A Academia vai recorrer, mas terá que cumprir ao menos o primeiro jogo de suspensão por falta de tempo ao recurso. (Leandro Stein)
- A Copa Paraguai terá uma decisão pra lá de alternativa, com o duelo entre 2 de Mayo e General Caballero. São dois times da primeira divisão, mas com pouca tradição. Fundado em 1935, o 2 de Mayo possui seis temporadas na elite. Sua estreia ocorreu em 2006, com o acesso mais recente celebrado em 2023. Já o General Caballero estreou na primeira divisão somente em 2022, com quatro participações desde então. Um detalhe interessante é que, em um futebol tão centralizado na capital como o paraguaio, ambos representam o interior – próximos da fronteira com o Brasil. O 2 de Mayo é de Pedro Juan Caballero, cidade vizinha de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Já Doctor Juan León Mallorquín, a cidade do General Caballero, fica a 70 km de Ciudad del Este, esta na tríplice fronteira com Foz do Iguaçu. No caminho à final, ambos tiraram oponentes de peso. O 2 de Mayo despachou o Guaraní na semifinal, enquanto o General Caballero vinha de superar Cerro Porteño e Nacional. Contudo, por já estar rebaixado nos promédios do Campeonato Paraguaio, o General Caballero não poderá disputar as competições internacionais. O 2 de Mayo, que fez sua estreia na Copa Sul-Americana de 2025, disputará pela primeira vez a Libertadores, mesmo se for vice. Realizada desde 2018, será a primeira vez que a Copa Paraguai terá um campeão do interior. (Leandro Stein)











