Espaços, riscos e gols
Barcelona e Inter fizeram o grande jogo da temporada, cheio de nuances táticas, brilho individual e fragilidades expostas deixa tudo em aberto para o duelo decisivo em Milão
Newsletter Meiocampo - 2 de maio de 2025
De maneiras diferentes, as semifinais da Champions League não decepcionaram. O empate entre Barcelona e Internazionale foi ostensivamente um dos grandes jogos da história da competição, mas PSG x Arsenal não ficou tão atrás assim. Nesta edição, destacamos o principal responsável pela vitória dos parisienses em Londres. Também falamos sobre a provável decisão inglesa na Liga Europa, a supremacia do Chelsea na Conference League e outras competições continentais. Lionel Messi e Cristiano Ronaldo foram eliminados no mesmo dia porque… claro que foram.
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Yamal, espaços e riscos: por que Barcelona x Inter foi um jogo fascinante
Empate por 3 a 3 expôs as virtudes ofensivas, os riscos defensivos e o talento que pode decidir tudo no jogo de volta
Por Felipe Lobo
Barcelona e Internazionale fizeram um dos melhores e mais divertidos jogos da temporada na Europa, em um empate por 3 a 3 no Estádio Olímpico de Montjuic, na Catalunha. Há vários fatores para isso. Um deles é que o Barcelona é um dos melhores times do ano, com um futebol empolgante. Outro fator é Lamine Yamal, um dos jogadores mais impressionantes de se assistir. Há também a eficiência da Inter, capaz de ser extremamente perigosa quando encontra espaço.
Um dos motivos que tornam os jogos do Barcelona tão divertidos é que o time arrisca muito. Sua forma de se posicionar oferece grandes oportunidades aos adversários para aproveitarem espaços imensos nas costas da defesa. Para isso, porém, é preciso ser altamente eficiente. É aí que entra a Inter.
O time de Simone Inzaghi é um dos mais letais quando recebe a chance. Os nerazzurri são muito bons em bolas paradas e conseguem ser fatais ao atacar os espaços adversários. A equipe mostrou flexibilidade ao longo da temporada para atuar tanto com posse de bola quanto em contra-ataques, mas também repetiu um problema: a inconsistência.
A Inter é um time excelente e capaz de enfrentar qualquer um dos melhores times da Europa. O problema tem sido justamente a irregularidade, não só ao longo da temporada, como também dentro dos próprios jogos. O que vimos contra o Barcelona passou longe da melhor versão da Inter, mas teve alguns excelentes momentos — e, por um impedimento de poucos centímetros, os italianos não saíram com uma vitória da Catalunha.
O meio-campo da Inter, um de seus maiores trunfos, foi engolido pelo Barcelona. Nicolò Barella, Henrikh Mkhitaryan e Hakan Çalhanoglu não conseguiram jogar nem ditar o ritmo da partida como normalmente tentam fazer. O que funcionava no jogo da Inter era a ligação direta dos zagueiros para o ataque, como no lance do primeiro gol.
No fim, o que vimos foi uma atuação superior do Barcelona ao longo dos 90 minutos, com Yamal em grande fase — inclusive acertando uma bola na trave no segundo tempo — e com um potencial ofensivo imenso. Os problemas defensivos por vezes colocam o time em risco, mas, brigando pela Tríplice Coroa — e já com o título da Copa do Rei no bolso —, não dá pra dizer que algo está dando errado. Muito pelo contrário.
O empate por 3 a 3 torna o segundo jogo ainda mais imprevisível. O resultado foi bom para a Inter, mas está longe de ser definitivo: o time precisará vencer em casa para avançar. Novo empate levará a disputa à prorrogação e pênaltis. O Barcelona é capaz de causar muitos problemas em qualquer lugar — e Federico Dimarco certamente está preocupado em ter que marcar Yamal mais uma vez. Deve ser um jogo imperdível na próxima terça-feira.
Donnarumma e as expectativas que atrapalham a percepção de suas virtudes
Por Leandro Stein
As expectativas, tantas vezes, atrapalham a percepção do que se vive no momento. A carreira de Gianluigi Donnarumma é um exemplo disso. Não basta ser um dos melhores goleiros do mundo, talvez o melhor de sua geração. Há sempre uma vírgula diante do seu nome, um porém. Até uma má vontade, que suas atuações maiúsculas nesta Champions League ajudam a refutar.
Donnarumma convive com as expectativas desde cedo, de quem surgiu ainda adolescente como um fenômeno no gol do Milan e tomou a posição de imediato. Linearmente, o que conquistou em quase uma década como profissional faz jus ao que se esperava do prodígio: se consolidou como uma referência da posição e conquistou uma Eurocopa sendo decisivo, eleito o melhor jogador da competição. O problema de Donnarumma é não atender necessariamente à vontade dos outros.
E a régua para Donnarumma costuma ser muito alta, afinal. Um dos primeiros rótulos que recebeu foi o de “herdeiro de Buffon”. Era tão precoce como o mestre, italiano como o mestre, contemporâneo do mestre na transição da seleção. Paralelos que não tornam nada simples a imposição de se equiparar a um dos melhores goleiros da história, para alguns até mesmo o melhor. Gigio não precisa ser Gigi para escrever seu nome em um lugar privilegiado dos livros de futebol.
As expectativas e comparações provocaram cobranças sobre Donnarumma em suas escolhas. Se Buffon ficou uma vida praticamente inteira na Juventus e suportou até rebaixamento, automaticamente passaram a achar que Donnarumma deveria fazer o mesmo no Milan. A torcida rossonera ainda tem motivos para achá-lo um “traidor”, inclusive pelas idas e vindas das tratativas naquele momento, mas não é o que desqualifica seu futebol. Fez sua opção em prol do dinheiro e do glamour ao redor do Paris Saint-Germain, como tantos outros fariam no contexto do futebol atual. E os milanistas também continuaram bem, com Mike Maignan, para serem campeões. Vida que se seguiu.
Outra comparação desleal de Donnarumma com Buffon é em relação aos fundamentos. Gigi era único. Muito provavelmente o goleiro mais técnico de todos os tempos, excelente em quase todos os movimentos. Fazia seus milagres, claro, mas eram ainda mais frequentes as defesas difíceis que tornava fáceis. Gigio não é impecável assim. Seus predicados são outros, entre a envergadura e o tempo de reação que garantem partidas espetaculares, mas não todas.
Por conta de suas características, Buffon teve uma carreira muito constante. A frequência de erros era raríssima. Também era beneficiado por quase nunca estar exposto, considerando a fortaleza defensiva da maioria dos times em que jogou. Com Donnarumma, a exigência é diferente, sobretudo quando algumas de suas equipes não eram tão preocupadas assim em protegê-lo. Suas falhas acabaram gerando questionamentos sobre as expectativas tão altas quanto diversas que alimentou. Pesava quando a eliminação de um galático e desfuncional PSG na Champions entrava em sua conta.
Apesar do escrutínio, Donnarumma já vinha crescendo e ganhando confiança na meta do PSG. Na temporada passada, no início da transformação do time com Luis Enrique, Gigio teve atuação essenciais para permitir a conquista da Ligue 1. Como o resto do clube, acabava tachado pelas eliminações na Champions. E, como o resto do time nesta temporada, o goleiro nem começou bem no torneio continental - tanto que chegou a sentar no banco provisoriamente. A recuperação do coletivo é sustentada também pelas atuações espetaculares do italiano na meta parisiense.
Donnarumma não é impecável nos fundamentos e nem infalível, mas possui qualidades primordiais a um grande goleiro. Além disso, a experiência adquirida em uma carreira iniciada tão cedo o auxilia a cada vez mais lidar com os momentos de pressão. E ele já mostrou em diversas ocasiões como pode crescer em jogos grandes, vide o que ocorreu na Euro 2020. É o que ratifica nesses mata-matas europeus. A classificação sobre o Liverpool está em sua conta. Segurou depois a pressão do Aston Villa. E a vantagem na ida sobre o Arsenal só foi possível por causa do italiano.
Elogiar um goleiro é tarefa traiçoeira. Basta um lance infeliz para fazer os críticos retornarem, especialmente quando as expectativas expõem tanto o jogador em questão. Mas, aos 26 anos, sendo justo, dá para dizer que Donnarumma é tudo aquilo que se esperava há uma década: um goleiro capaz de defesas espetaculares, que ganha partidas e tem uma trajetória em alto nível. O amadurecimento em sua posição é essencial e ele indica aprender com isso. E tem tempo para construir muito mais, com uma Champions já podendo chegar às suas mãos em breve - muito graças a ele, se vier.
🎧PODCAST MEIOCAMPO #128
Barcelona e Inter fizeram um dos melhores jogos da temporada em um empate por 3 a 3, com Yamal mais uma vez brilhando. No outro jogo, o PSG surpreendeu o Arsenal em Londres. Os dois confrontos ainda estão bastante abertos e contamos que as essas semifinais nos contam sobre os times e o que esperar para os jogos de volta. Ainda teve Messi e Cristiano Ronaldo eliminados nas competições continentais e um giro pelo mundo.
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A Newsletter Meiocampo tem duas edições fixas por semana: esta, aberta ao público às sextas-feiras, e uma exclusiva para assinantes às terças. Na última, por exemplo, demos um giro pelo que de melhor aconteceu no fim de semana, como o título do Barcelona na Copa do Rei, os méritos de Arne Slot na conquista da Premier League, o acesso do Wrexham e um Napoli cada vez mais próximo do scudetto. E nos despedimos de Jair da Costa, um dos grandes ídolos da Internazionale. De vez em quando, mandamos uns textos extras. O seu apoio nos ajuda a continuar fazendo conteúdo de qualidade e mantém o jornalismo independente vivo!
Giro
Por Bruno Bonsanti e Leandro Stein
- A Liga Europa parece ter dado o azar de duas potências (financeiras, pelo menos) inglesas terem feito uma campanha tão ruim na Premier League que não apenas lhe deram atenção como foram obrigados a priorizá-la. Porque é a única salvação. Em um San Mamés lotado e pulsante, esperava-se mais do Athletic Bilbao, que provou ser coletivamente melhor que o Manchester United em todas as semanas da temporada, menos nesta. Os bascos se impuseram na primeira meia hora e obrigaram Victor Lindelöf a cortar uma bola em cima da linha, mas ninguém esperava a aparição do ponta-direita Harry Maguire e poucos se recuperam de um pênalti e uma expulsão aos 35 minutos. Com tanta coisa em jogo, é difícil imaginar o Manchester United deixando essa vantagem escapar em Old Trafford, mesmo este Manchester United. Perceba que eu disse difícil, e não impossível.
- Mesmo limitando o universo para a atual temporada, o Tottenham teve desastres piores do que ser eliminado na semifinal da Liga Europa pelo Bodo/Glimt, o que seria uma zebra apenas pelas disparidades financeiras, não pela qualidade dos trabalhos. Mas crédito aos Spurs por um jogo tão dominante. Com 58% de posse de bola, os noruegueses conseguiram apenas três finalizações e não exigiram uma defesa do goleiro Guglielmo Vicario. Mal haviam ameaçado até o gol, com a ajuda de um desvio, que ainda os mantém vivos no confronto. O Tottenham criou perigo basicamente todas as vezes em que recuperou a bola ou saiu jogando. Com um turno de derrotas na Premier League, foi fácil tirar sarro da declaração de Ange Postecoglou dizendo que conquistou títulos na segunda temporada em todos os clubes que treinou. Quem diria, isso até pode acontecer de novo.
- O Chelsea enfrentou adversários de Suíça, Bélgica, Grécia, Armênia, Cazaquistão, Irlanda, Dinamarca, Polônia e Suécia na sua campanha na Conference League. Você sabe qual a contratação mais cara da história de todas essas ligas? A situação é tão precária que a resposta provavelmente é Zlato Zahovic, pelo Olympiacos, porque € 13,5 milhões em 1999 devem valer mais do que os € 25 milhões que o Molenbeek pagou por Ernest Nuamah, que também foi apenas uma manobra de John Textor para driblar os órgãos reguladores da França e reforçar o Lyon. Zahovic e o brasileiro Giovanni, que custou € 12 milhões na mesma janela, superam 99% de todos os reforços que os clubes desses países já contrataram, mesmo sem corrigir a inflação. Enfim, claro que o Chelsea vai chegar à final.
- A vida dele poderia ter sido mais difícil em outra edição ou em outro chaveamento porque mesmo quando encarou um time da Bundesliga, foi o Heidenheim, e há duas equipes de qualidade na segunda semifinal. O Betis disputa ponto a ponto a quinta vaga espanhola na Champions League com o Villarreal e, aparentemente uma excelente clínica de reabilitação, teve uma boa participação de Cédrick Bakambu no primeiro tempo e um golaço de Antony no segundo para abrir 2 a 0. Pablo Fornals não poderia ter perdido o gol que perdeu, cara a cara com De Gea, e o capitão Luca Ranieri manteve a Fiorentina viva em sua busca pela terceira final de Conference League consecutiva.
- O Kawasaki Frontale foi capaz de fazer aquilo que soava impossível: impedir uma final saudita na Champions Asiática Elite, cuja fase decisiva é disputada na própria Arábia Saudita. Os japoneses alcançaram uma heroica vitória por 3 a 2 sobre o Al-Nassr, com todas as suas estrelas, resultando na evidente frustração expressada por Cristiano Ronaldo. A noite do Frontale teve ares de épico, em especial pelo golaço de Tatsuya Ito que abriu o triunfo e pelo desarme salvador, nos acréscimos do segundo tempo, que impediu o empate de CR7. O Frontale, que conquistou quatro títulos da J-League de 2017 a 2021, não conseguia reproduzir esse sucesso na Champions. Alcança sua primeira final de forma estrondosa. Como era inescapável, vai enfrentar outro saudita na decisão, mas também não o que era favorito: o Al-Ahli bateu o Al-Hilal por 3 a 1, com direito a gol de Roberto Firmino. Os alviverdes buscam um título inédito, após os vices em 1986 e 2012.
- No mesmo dia em que Cristiano Ronaldo foi eliminado de uma semifinal continental, Lionel Messi foi eliminado de uma semifinal continental, e sinceramente, o simbolismo até cansa às vezes. O Inter Miami havia levado 2 a 0 do Vancouver Whitecaps fora de casa e até teve um começo promissor na Flórida, com Lionel Messi acionando Luis Suárez para a assistência que terminou com a finalização de Jordi Alba. Para a tristeza de David Beckham, a tentativa de conquistar a Concachampions com um time master do Barcelona parou em duas assistências e um gol de Sebastian Berhalter, talvez o nome mais reconhecido internacionalmente do Whitecaps e só porque o pai dele treinou a seleção americana. Será a terceira final de um time canadense. Montréal (2015) e Toronto (2018) foram vices. Na outra semifinal, o Cruz Azul venceu um duelo mexicano com o Tigres e, sediando a decisão, tentará igualar o recorde de sete títulos do América.
Até a semana que vem!
Muito bom o blog,com td informativo e muito bem detalhado e comentado sobre o melhor do futebol internacional!!👏👏👏❤️⚽️!!Sou totalmente nostálgico e apaixonado por futebol internacional!!