Nove histórias para ficar de olho até o fechamento da janela
Fechamento da janela de transferências, o nebuloso futuro de Rúben Amorim no Manchester United, a epopeia do Kairat da URSS à Champions: tudo isso e muito mais na Newsletter Meiocampo desta sexta!
Newsletter Meiocampo – 29 de agosto de 2025
O mercado de transferências na Europa chega aos seus últimos dias, com alguns negócios à espera da definição. O que pode acontecer até segunda-feira, no fechamento? São as histórias que contamos na Newsletter Meiocampo desta sexta-feira. Também falamos da crise do Manchester United e das perspectivas de Rúben Amorim, depois do vexame na Copa da Liga contra o Grimsby Town. Outro assunto é a epopeia do Kairat Almaty, antiga potência cazaque nos tempos soviéticos e clube que disputou as competições continentais na Ásia, antes de ter sua reconstrução recente inspirada por Vágner Love e alcançar a Champions. Por fim, um giro final recheado de copas europeias.
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Nove histórias para ficar de olho até o fechamento da janela
Por Bruno Bonsanti
Quem contratou contratou, quem não contratou tem… mais alguns dias para contratar. A janela de transferências das principais ligas do futebol europeu fecha na próxima segunda-feira. Apesar de ter sido bastante movimentada e cheia de novelas, ainda tem algumas histórias pendentes que podem ser resolvidas nos próximos dias. Como estas nove que listamos a seguir.
A saga do Newcastle (e do Liverpool) por um centroavante
Eu não sei se já houve um tuíte do Fabrizio Romano referente a um clube que foi tão comemorado por torcedores de… outro clube. Na última quinta-feira, não apenas ele quanto outros jornalistas anunciaram que o Newcastle está próximo de contratar Nick Woltemade, do Stuttgart. Foi um momento comovente. O fim de um filme da Sessão da Tarde: esse grupinho de underdogs financiado pela segunda maior reserva de petróleo do mundo finalmente conseguiu o direito de pagar € 90 milhões por 12 gols na última Bundesliga. Isso pode finalmente destravar a principal história da reta final do mercado. O Liverpool deve retornar com uma proposta por Alexander Isak. Com o tempo acabando, e finalmente um outro camisa 9 na casa, as chances de ela ser aceita são maiores. Não garantidas porque também existia um papo de que o Newcastle queria dois centroavantes: um para o lugar de Callum Wilson, que saiu para o West Ham ao fim do seu contrato, e outro para o de Isak. Então essa História Sem Fim ainda pode ter uma parte 2.
Então… Rodrygo fica?
Quando não saiu do banco contra o Barcelona no último mês de maio, Carlo Ancelotti explicou que Rodrygo havia passado por uma febre alta e “não estava bem emocionalmente”. Sem entrar em detalhes, foi um Bat-Sinal para quem gosta de especular sobre o mercado de transferências. Ele também não atuou nas últimas três rodadas de La Liga. Se poderia ser um problema específico com Ancelotti, Rodrygo disputou apenas 90 minutos combinados na Copa do Mundo de Clubes com Xabi Alonso e nenhum na estreia da temporada contra o Osasuna. No último domingo, foi titular diante do Oviedo na ponta esquerda, sua posição favorita. Dizem até que ele teve uma conversa com Alonso pedindo para jogar mais por ali. É que não é por falta de vontade: também é a posição favorita de Vinicius Jr e Kylian Mbappé. Todo esse contexto tornou quase certo que Rodrygo sairia do Real Madrid. Chegou a haver rumores fortes sobre o Liverpool, que havia acabado de vender Luis Díaz, e o Bayern que… acabou de contratar Luis Díaz? Sei lá. De qualquer maneira, é difícil concretizar uma operação do tamanho da que seria necessária para contratar Rodrygo em poucos dias até o fechamento da janela. Não necessariamente impossível.
Mais nada, Bayern?
Pelas notícias que chegam da Baviera, o destino de Rodrygo provavelmente não será o Bayern de Munique. O negócio está estranho por lá. Apesar das saídas de jogadores importantes (e caros) como Kingsley Coman, Thomas Müller e Leroy Sané, o único investimento até agora foi por Luis Díaz. Os outros reforços, Tom Bischof e Jonathan Tah, chegaram ao fim dos seus contratos. Ao mesmo tempo, possíveis alvos, como Florian Wirtz, o próprio Nick Woltemade e provavelmente Christopher Nkunku, próximo do Milan, fecharam com outros clubes. Não é comum para um clube do tamanho (e, no geral, competência) do Bayern de Munique deixar tantos negócios escaparem. Uma reportagem do veículo alemão SZ diz que há uma divergência entre o diretor esportivo Max Eberl e o conselho de supervisão: Eberl gostaria de contratar alguém, o conselho está liberando apenas operações por empréstimo. O Bayern segue ativo para ver o que dá para fazer dentro dessas amarras. Talvez consiga Nicolas Jackson, do Chelsea. O que eu não sei se seria uma boa ou má notícia.
Quem mais sai do Chelsea?
Precisa de um jogador? Liga para o Chelsea! Contratou demais nos últimos anos, continuou contratando e quer contratar mais. Alejandro Garnacho é sonho antigo, talvez Fermín López. O céu é o limite para o talão de cheques da Clearlake Capital. Então, precisa desovar o excedente e pode continuar com esse papel meio de headhunter nos últimos dias do mercado, quando quem ainda não fez a lição de casa fica sempre um pouquinho desesperado. Muita gente já saiu. O mais especulado no momento é Nicolas Jackson, pintando como uma alternativa para os ataques do Bayern e do Newcastle. Outros nomes para ficar de olho são o brasileiro Andrey Santos, o ponta Datro Fofana e o zagueiro Axel Disasi. Meu Deus do céu, o Sterling ainda é do Chelsea. Então, o Sterling também.
O futuro de Ederson
Quando o Manchester City contratou James Trafford, eu imaginei que seria o início de uma transição gradual para o garoto de 22 anos assumir a titularidade de Ederson em um futuro próximo. No entanto, Trafford, uma cria das categorias de base e o melhor goleiro da última temporada da segunda divisão pelo Burnley, foi titular na primeira rodada da Premier League e depois novamente na segunda. A explicação de Pep Guardiola deixou um pouco a desejar: “Ele fez um bom primeiro jogo e eu decidi continuar”. Isso apenas aumentou as especulações de que o brasileiro está de saída do Etihad Stadium. Principalmente se o City realmente concretizar a contratação de Gianluigi Donnarumma do Paris Saint-Germain - o que acima de tudo seria uma baita de uma má notícia para Trafford. Ederson tem sido um dos melhores goleiros do mundo e inabalável nas convocações da seleção brasileira desde que deixou o Benfica. Ainda é novinho para a posição, apenas 32 anos. O Galatasaray pinta como o destino mais provável neste momento, mas… ninguém mais vai aproveitar mesmo?
A camisa 9 da Juventus
Dusan Vlahovic vive uma relação de amor e ódio com a Juventus, na qual o ódio tem vencido. Terminou a última temporada mais na reserva e passou o verão especulado em outros clubes. Até no rival Milan. No entanto, Damien Comolli, diretor-geral da Velha Senhora, afirmou após o sorteio da Champions League que é “99% provável” que ele permaneça. É uma frase um pouco estranha. De qualquer maneira, se ficar, ainda é possível que tenha uma forte concorrência ano que vem porque a Juve segue conversando com o PSG para contratar Kolo Muani, que passou seis meses relativamente bem sucedidos emprestado. E já trouxe Jonathan David, que foi titular na primeira rodada da Serie A contra o Parma. Saiu aos 35 minutos do segundo tempo. Vlahovic entrou em seu lugar e, em quatro, marcou o segundo gol da vitória por 2 a 0.
A situação de Kobbie Mainoo
Mais do que ser eliminado da Copa da Liga Inglesa pelo Grimsby Town, a maior tragédia do Manchester United está sendo a maneira como tem lidado com as suas promessas. Não deveria ter desistido de Marcus Rashford com tanta facilidade e agora parece que fará o mesmo com Kobbie Mainoo. O garoto de 20 anos ficou no banco de reservas nas duas primeiras rodadas da Premier League e, segundo Ruben Amorim, briga por posição com Bruno Fernandes. Então, vai perder. Curioso que o primeiro clube especulado seja o Real Madrid, imensamente mais bem sucedido recentemente. Como eles podem ter espaço para Mainoo, e o United não? Segundo o The Athletic (eu que não fiz essa conta), o Manchester United relacionou pelo menos um prata da casa em todos os seus jogos desde 1937 (!). Uma sequência que chegou a 4.324 jogos essa semana. Mainoo é o último já com nível de time titular que sobrou.
A reconstrução do Leverkusen
Já podemos falar que rolou uma debandada, certo? Além de Xabi Alonso, o time do Bayer Leverkusen que brilhou nas últimas duas temporadas do futebol alemão perdeu Florian Wirtz, Jeremie Frimpong, Jonathan Tah e Granit Xhaka. Entre outros. Está em um claro momento de reconstrução sob o comando de Erik ten Hag. E parece ter percebido apenas recentemente que, se jogadores saem, outros precisam chegar. Na última semana, fechou com Loïc Badé, do Sevilla, Claudio Echeverri, do Manchester City, e Lucas Vázquez, do Real Madrid. Provavelmente trará mais alguns. A ESPN holandesa publicou que realizou uma proposta pelo volante Quinten Timber, do Feyenoord. Segundo a alemã Kicker, as contratações de Ezequiel Fernández, jovem meia argentino de 23 anos do saudita Al-Qadsiah, e de Eliesse Ben Seghir, meia-atacante francês do Monaco, estão próximas de serem concluídas.
Jamie Vardy na… Cremonese??
Quando anunciou que estava de saída do Leicester, Jamie Vardy fez questão de deixar claro que, aos 38 anos, ainda acha que tem energia para um novo capítulo na sua carreira. Não estava pensando em aposentadoria. Ninguém, porém, apostou que ele acabaria na Cremonese. O negócio está em “fase final”, segundo Gianluca di Marzio, o Fabrizio Romano italiano. Treinada por Davide Nicola, um especialista em escapar de rebaixamentos, a Cremonese subiu da segunda divisão via playoffs e estreou na Serie A vencendo o Milan. Vardy liderou o acesso do Leicester em 2023/24 e, mesmo durante a queda na última temporada, marcou nove gols na Premier League. Parece um ótimo casamento, ainda que… meio estranho.
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A sentença de Amorim e o abismo sem fundo do Manchester United
Por Felipe Lobo
“Acho que os jogadores falaram alto e bom som sobre o que querem. Algo precisa mudar e não se pode mudar 22 jogadores de novo. É difícil encarar tudo. Vamos para o próximo jogo, temos tempo para decidir as coisas”. A frase de Ruben Amorim, dita após a eliminação do Manchester United para o Grimsby Town, da League Two — a quarta divisão inglesa —, na Copa da Liga, na última quarta-feira (27), é mais do que forte: é quase uma sentença. E não é exatamente uma surpresa.
Tudo naquela noite foi terrível para a equipe de Amorim. O Manchester United chegou a estar perdendo por 2 a 0 em 30 minutos, com direito a uma falha grave do goleiro André Onana. Os Red Devils ainda foram buscar o resultado e arrancaram um empate dramático no fim do jogo. Nos pênaltis, foram precisas 26 cobranças para definir o vencedor. No United, curiosamente, os únicos a desperdiçar foram justamente duas das novas contratações: Matheus Cunha e Bryan Mbeumo — que, ironicamente, havia marcado seu primeiro gol pelo clube na partida. Uma eliminação vexatória para um time três divisões abaixo.
“Gostaria de dizer coisas muito inteligentes e muito importantes. Não tenho nada a dizer. Nada. Esse também é o maior problema. Ver esses mesmos erros e não ter nada para dizer neste momento. Sinto muito mesmo pelos nossos torcedores. Algumas vezes é demais”, desabafou o técnico.
Nos últimos meses da temporada passada, já havia rumores de que Ruben Amorim poderia optar por deixar o clube, que assumiu em novembro. O técnico estava frustrado com o desempenho do time e com o ambiente de trabalho no Manchester United. O próprio treinador chegou a admitir para pessoas próximas que a demissão poderia ser “libertadora”, segundo reportou o The Athletic.
O português, no entanto, recebeu o apoio da diretoria, que investiu em reforços. Chegaram Benjamin Sesko, Bryan Mbeumo e Matheus Cunha, nomes de peso para o ataque, todos custando caro — mais de 70 milhões de euros cada. O que parece ter afetado seriamente o treinador, porém, foi a forma como o time atuou. O desempenho contra o Grimsby parece ter dito mais a Amorim do que qualquer outra coisa até aqui.
A partida é o ponto mais baixo da gestão do português, e isso é significativo. Afinal, o time terminou em 15º na última temporada, a pior posição da história do clube na era Premier League.
“Nós começamos o jogo sem qualquer intensidade, sem a ideia de pressão. Estávamos completamente perdidos, é difícil de explicar. É por isso que eu acho que eles [os jogadores] falaram realmente alto. Quando você perde, mas vê alguma coisa nova, é diferente. Quando você vê algo como hoje, é difícil falar sobre isso”, disse Amorim à Sky Sports.
Nesta temporada, o treinador dobrou a aposta no seu sistema tático preferido, o 3-4-3, mas a equipe ainda não conseguiu responder bem. Faltam bons zagueiros para atuar na construção a partir de trás, faltam alas mais capazes de atacar e defender com vigor e serem parte do sistema ofensivo. Faltavam jogadores no ataque – que chegaram agora, ainda estão se adaptando – e há Bruno Fernandes, que precisa ter liberdade para atuar na sua posição preferida, como meia ofensivo central, para render o que pode, já que ele é o melhor jogador do United. Nada disso tem funcionado. E não é de agora. Só que a temporada mal começou e seria normal precisar esperar mais. O United, porém, parece viver uma crise que não tem fim e isso afeta a percepção.
É verdade que a estreia contra o Arsenal, apesar da derrota, teve pontos positivos. Contudo, o desempenho nos jogos seguintes, contra Fulham e Grimsby, foi terrível e fez as dúvidas emergirem novamente. Dúvidas que não partem apenas da direção ou da torcida — que, em sua maioria, ainda o apoia —, mas do próprio treinador, como sua fala deixa claro.
Até quarta-feira, os torcedores cantavam o nome de Amorim em todos os jogos. Contra o Grimsby, fora de casa, não o fizeram. Foi um contraste com a partida do fim de semana anterior, contra o Fulham, também fora, quando o setor visitante cantou seu nome. Isso, por si só, pode não significar muito na prática, mas é um sinal de que o apoio incondicional pode ter acabado.
Ainda assim, o apetite por demitir treinadores não é tão forte no Manchester United como em outros lugares. Embora o futebol inglês tenha se tornado mais brutal com os técnicos, o clube ainda tenta manter uma ideia de continuidade, por vezes errando por confiar demais em um comandante que já parece ter passado do ponto. Não parecia ser o caso de Ruben Amorim, ao menos visto de fora, mas suas palavras indicam o contrário.
David Moyes, Louis van Gaal, José Mourinho, Ole Gunnar Solskjaer, Ralf Rangnick, Erik ten Hag e, agora, Ruben Amorim. Todos enfrentaram problemas similares após a aposentadoria de Alex Ferguson. A percepção sobre o trabalho de cada um, inclusive, foi se modificando com o tempo: o que foi visto como um período ruim de Mourinho, hoje, parece muito melhor do que o momento atual. A sensação é que o clube foi piorando, pouco a pouco.
Não só os técnicos, mas os jogadores parecem se perder no clube. É claro que há contratações que não sobrevivem ao hype, mas outros parecem florescer em outros ambientes, como vimos recentemente com Scott McTominay e Antony. Há um problema de cultura evidente no clube, e a chegada da nova diretoria, comandada por Jim Ratcliffe, ainda não trouxe melhoras significativas. É possível argumentar que as coisas pioraram desde o início de 2024, quando assumiram o controle do futebol.
Talvez o United se aproxime de outra mudança de técnico. A essa altura, é difícil saber se ele será demitido ou se pedirá para sair. O que Amorim disse é muito forte e sugere uma divisão com os jogadores. Ao afirmar que não dá para mudar 22 atletas e que eles “falaram alto”, ele praticamente indica que sua saída é o caminho mais provável.
Como uma nota de rodapé irônica, Ole Gunnar Solskjaer foi demitido do Besiktas nesta semana, após ser eliminado para o suíço Lausanne na fase preliminar da Conference League. Seu nome certamente voltará a ser cogitado em Old Trafford, porque, em retrospectiva, seu período por lá agora parece muito melhor do que o que veio depois.
O Manchester United volta a campo no sábado, contra o Burnley, em Old Trafford. É uma grande chance de vencer pela primeira vez na temporada e tentar colocar as coisas nos trilhos. A fala de Amorim, porém, passa a sensação de que talvez a mudança seja inevitável. Com a data Fifa que virá logo depois, em um tempo maior para a diretoria e o próprio treinador refletirem, parece bastante possível que isso aconteça.
Talvez o Manchester United aperte o botão de "reset" mais uma vez, na tentativa de reencontrar o gigante que um dia foi e que hoje parece escondido em um clube medíocre.
PODCAST MEIOCAMPO #163
A Champions League definiu os confrontos da fase de liga, no segundo ano do novo formato. Depois do que vimos no primeiro ano, o sorteio ainda tem algum peso? Tem ainda sorteio da Liga Europa e da Conference, Copa da Liga com crise no Manchester United, Copa da Alemanha e pitadas de Copa do Brasil.
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A história do Kairat Almaty, o representante cazaque na URSS que leva a Champions ao Oriente
Por Leandro Stein
O Kairat Almaty protagoniza a grande história das competições europeias nesta temporada. O clube cazaque eliminou um ex-campeão continental, o Celtic, para alcançar a fase principal da Champions League pela primeira vez. Não foi uma classificação qualquer, embora só decidida nas penalidades, após 180 minutos de superioridade dos azarões. O Kairat foi melhor no 0 a 0 em Glasgow, o que se repetiu no novo empate sem gols em Almaty, apesar das ótimas chances desperdiçadas pelos alviverdes. Preponderou a competência dos anfitriões nos penais, com a vitória por 3 a 2 na marca da cal – incluindo três defesas do goleiro Temirlan Anarbekov. Nas fases anteriores, o Kairat já havia eliminado Slovan Bratislava, KuPS e Olimpija Ljubljana. Pode ter se beneficiado com o caminho mais brando na Rota dos Campeões, mas indicando boa competitividade contra adversários tradicionais.
A curiosidade mais falada sobre o Kairat está no ineditismo geográfico de sua participação: nunca um clube tão a leste do mapa-mundi havia disputado a fase principal da Champions. O Astana já tinha colocado o Cazaquistão na fase de grupos em 2016/17, mas fica localizado cerca de 200 quilômetros a oeste. Almaty está mais próxima da fronteira com o Quirguistão e inclusive com a China. A distância da cidade a Pequim é quase metade da distância a Madri – uma viagem que o Real Madrid experimentará nesta edição da Champions. Almaty se situa em uma longitude próxima à de Nova Delhi, na Índia – mais ao oriente que as capitais de Uzbequistão, Tadjiquistão, Afeganistão e Paquistão, por exemplo. Mas, indo além das curiosidades geográficas, o Kairat possui uma história respeitável dentro de campo. Foi a grande força do futebol cazaque nos tempos de União Soviética.
O Campeonato Soviético costumava se concentrar entre clubes russos e ucranianos, mas com potências locais que representavam as demais repúblicas. Funcionavam como espécies de seleções regionais, incluídas na primeira divisão. A chamada Top League teve 31 clubes da Rússia e 15 da Ucrânia em sua história. Geórgia, com cinco equipes, e Azerbaijão, com três, foram as outras repúblicas a variar um pouco mais as camisas. De resto, apenas um clube por local simbolizou na primeira divisão Armênia, Belarus, Lituânia, Letônia, Estônia, Moldova, Uzbequistão, Tadjiquistão e Cazaquistão – só o Quirguistão não teve times na elite. O representante cazaque era justamente o Kairat, com 24 aparições na primeira divisão.
Almaty, então chamada de Alma-Ata, seu nome em russo, serviu como capital da República Socialista Soviética do Cazaquistão a partir de 1929. O Dínamo Alma-Ata despontou como principal força do futebol local após a Segunda Guerra Mundial, guiado por Nikolai Starostin, fundador do Spartak Moscou e um dos grandes nomes do futebol soviético em seus primórdios. Diante do impacto do Dinamo nos anos 1950, o governo local usou o elenco do clube como base para formar uma nova equipe cazaque de projeção nacional. Também foram aproveitadas as estruturas do Lokomotiv Alma-Ata, ligado à companhia ferroviária, e de associações locais de agricultores. O Kairat Alma-Ata despontou com essa nomenclatura em 1956, para simbolizar a “força” do futebol no Cazaquistão.
O Kairat chegou à primeira divisão do Campeonato Soviético em 1960, por questões políticas: a competição foi expandida de 12 para 22 clubes, para incluir representantes de mais repúblicas espalhadas pelo território e diversificar a disputa. Os aurinegros vinham de boas campanhas na segunda divisão ao final dos anos 1950 e a força nos bastidores também preponderou. Virou um figurante da elite, com desempenhos na metade inferior da tabela, reconhecido pelo futebol defensivo que gerou o apelido de “Kairat de Concreto”. Além disso, os eventuais rebaixamentos eram respondidos com acessos imediatos dos cazaques. Podia não sonhar com os principais títulos, mas firmou-se como um clube bastante popular em diversas cidades do Cazaquistão. O apelido de “Time da Nação” reforçava esta veia.
As 24 participações do Kairat Alma-Ata no Campeonato Sovietico se concentraram de 1960 a 1988. Até o fim da década de 1970, os aurinegros tinham como ápice duas oitavas colocações na Top League. Já a melhor fase aconteceu nos anos 1980, com três campanhas consecutivas no Top 10 da liga, incluindo a sétima posição em 1986. A queda em 1988, contudo, marcou o fim da história do Kairat na elite soviética. A trajetória ainda inclui dois títulos da segunda divisão, em 1976 e 1983. Quando a URSS se desintegrou, em 1991, o Kairat aparecia como um modesto time de meio de tabela na segundona.
Rebatizada como Almaty (seu nome cazaque) após a independência, a cidade do Kairat continuou como capital nos primeiros anos de formação do Cazaquistão. Os aurinegros conquistaram a primeira edição do Campeonato Cazaque, em 1992. Contudo, sem o mesmo nível de apoio dos tempos de “Time da Nação”, a força não se sustentou no decorrer dos anos 1990. Jogadores importantes buscaram melhores oportunidades financeiras a leste, sobretudo na Rússia. O clube chegou a sofrer uma cisão, com uma versão apoiada pelo Ministério da Defesa (o Kairat-CSKA) e outra por um empresário local, o que também dividiu a torcida. Além disso, Astana se tornou a nova capital em 1997. Com a eclosão de outros clubes ao redor do território, o Kairat perdeu um tanto do apelo que o seguiu nos tempos soviéticos.
O Kairat virou um time de meio de tabela na liga local, com eventuais sucessos na Copa do Cazaquistão de sua versão bancada por empresários – e uma forte rivalidade com a filial vinculada ao exército. Os títulos na copa, aliás, permitiram que o Kairat disputasse suas primeiras competições continentais na virada do século. Mas não na Europa. A federação cazaque era filiada à AFC até 2002. Assim, como campeões da copa local, os aurinegros jogaram duas edições da Recopa Asiática. Tiveram a caminhada mais longa em 2000/01, eliminados pelos iranianos do Esteghlal nas quartas de final. Neste momento, o racha do clube também teve fim, com a reunificação de suas duas versões. Já em 2002/03, com o Cazaquistão admitido pela Uefa, o Kairat disputou pela primeira vez as preliminares da Copa da Uefa.
Aquele foi um período de renascimento ao Kairat, que encerrou o jejum de 12 anos no Campeonato Cazaque com o título em 2004. Disputou as preliminares da Champions pela primeira vez em 2005/06, superados logo de cara pelo Artmedia Bratislava. Pouco depois, o Kairat sofreu seu maior baque com novos problemas financeiros e a queda à segundona cazaque em 2008. Apesar do retorno imediato, os aurinegros lidavam com o papel de coadjuvantes. Clubes de outras províncias ganhavam destaque, como Aktobe, Shakhter e Tobol. Isso até o Astana ascender como potência da capital, com investimentos maciços que o levaram à Champions.
Foi o Kairat quem quebrou a hegemonia do Astana. Depois de seis títulos seguidos do clube da capital, com cinco vices da velha potência de Almaty, os aurinegros foram campeões em 2020 e puseram fim também ao seu jejum de 16 anos. Um dos protagonistas daquela campanha foi brasileiro: ninguém menos que Vágner Love, autor de sete gols e sete assistências em 13 partidas, proporcionando uma sequência de vitórias decisiva. Desde então, o Astana não reinou como antes, enquanto o Campeonato Cazaque ganhou uma diversidade maior de campeões. Mesmo sem emendar uma sequência de taças, o Kairat viveu outros grandes momentos.
O Kairat teve alguns lampejos nas copas europeias durante a década passada. Conseguiu classificações sobre Estrela Vermelha, Aberdeen e AZ, mas sem alcançar as fases de grupos. No máximo, tinha caído nos playoffs da Liga Europa 2015/16 diante do Bordeaux. A história mudou depois do título nacional e da criação da Conference. Com Vágner Love ainda decisivo, o Kairat disputou o recém-inaugurado torneio continental em 2021/22. Não venceu um jogo sequer no grupo com Basel, Qarabag e Omonia Nicósia, mas ganhou casca. A reconquista do Campeonato Cazaque se deu em 2024. Foi o que abriu as portas novamente para o sucesso continental, com a façanha na atual edição da Champions.
O Kairat hoje conta com jogadores da seleção cazaque, mas também nomes tarimbados de outros países da Uefa, em especial de Belarus e Israel. Autor de três gols na campanha da Champions, o atacante Dastan Satpaev causa maiores expectativas, ao frequentar a seleção local aos 17 anos e já estar negociado com o Chelsea. Além disso, o contingente brasileiro continua marcando uma presença importante: são quatro no atual elenco, com os atacantes Edmílson e Ricardinho contribuindo ao épico na Champions. Atualmente lesionado, o veterano João Paulo também foi instrumental ao título nacional em 2024 com seus gols e pode ser visto como grande herdeiro de Vágner Love.
O sorteio da Champions 2025/26 foi generoso com o Kairat Almaty. Os cazaques receberão Real Madrid, Club Brugge, Olympiacos e Pafos em seu estádio, enquanto viajarão para enfrentar Internazionale, Arsenal, Sporting e Copenhague. Tende a ser um mero figurante, como nos tempos de Campeonato Soviético, mas ainda capaz de fazer algum barulho depois do que apresentou contra o Celtic. O futebol não é feito só de glamour, mas também de histórias. A do Kairat é riquíssima, e não vem de hoje.
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A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na última terça-feira, falamos sobre a convocação da Seleção, o gol simbólico de Di María no clássico rosarino, a aposentadoria de Dries Mertens, o ressignificado da Copa Intercontinental com os Garotos do Ninho e muito mais.
Giro
- Não é só o Kairat Almaty que pinta como novidade na Champions. O Bodo/Glimt confirmou sua classificação inédita, após os 5 a 0 na ida, apesar da derrota na volta para o Sturm Graz. Indo além das curiosidades geográficas por sua localização no Círculo Polar Ártico, é um time que chama muita atenção pela qualidade ofensiva e pelo trabalho longevo do técnico Kjetil Knutsen. Tende a ser um osso duro de roer. Já o Pafos é outro estreante, ao buscar o empate no apagar das luzes contra o Estrela Vermelha, graças ao lindo gol do brasileiro Jajá. Os 11 anos de existência dizem pouco sobre o potencial dos cipriotas, que conquistaram o inédito título nacional na temporada passada, ao passo que também alcançaram as oitavas da Conference. Há investimento russo por trás do Pafos, de propriedade do bilionário Sergey Lomakin (magnata do ramo varejista), mas com um importante sotaque lusófono no projeto esportivo. São cinco brasileiros, três portugueses, um moçambicano e um cabo-verdiano no elenco, quatro deles titulares e três saindo do banco contra o Estrela Vermelha. Ainda há nomes tarimbados no futebol europeu compondo o grupo, incluindo o ponta Mislav Orsic, o meia Ken Sema e o goleiro Jay Gorter. A comissão técnica chefiada pelo treinador Juan Carlos Carcedo mistura espanhóis, brasileiros, italianos, romenos, argentinos e profissionais de outras nacionalidades. Na Rota dos Campeões, o Qarabag também se classificou à fase de liga, apesar da tentativa de reação do Ferencváros no Azerbaijão, com uma duríssima vitória húngara por 3 a 2. Já o Copenhague passou no equilibrado confronto com o Basel, com os 2 a 0 na Dinamarca. (Leandro Stein)
- No confronto de maiores expectativas das preliminares da Champions, o Benfica provou ser mesmo um time superior ao Fenerbahçe. Depois do empate sem gols em Istambul, os encarnados venceram por 1 a 0 diante do inflamado Estádio da Luz. E não deixa de ser curioso que o herói, Kerem Aktürkoglu, anotou o gol decisivo num momento em que é fortemente especulado para se transferir ao Fener. Fez a alegria da torcida do Galatasaray, seu clube formador. Faltou poder de reação aos turcos quando mais precisavam e, em consequência, José Mourinho perdeu seu emprego – falamos mais sobre o assunto abaixo. Já no outro embate da Rota da Liga, o Club Brugge fez 9 a 1 agregados no Rangers, e os 6 a 0 na Bélgica ficaram baratos. Treinados por Nicky Hayen, os belgas impressionam pela forma como renovam suas forças, mesmo com mudanças de treinadores e vendas de talentos. Simon Mignolet e Hans Vanaken permanecem como grandes esteios da equipe, mas jovens talentos despontam, como o lateral Joaquin Seys e o ponta Christos Tzolis. (Leandro Stein)
- O futebol escoês, aliás, deixa a Champions como grande decepção. Em certo momento recente, Rangers e Celtic pareciam se recuperar para desempenhos mais dignos além das fronteiras. No entanto, o início da atual temporada é de pesadelo para ambos. Pesa a falta de investimento e de projetos esportivos que sejam mais competitivos. Brendan Rodgers se desgastou bem mais rápido nesta volta ao Celtic e a eliminação para o Kairat foi um retrato da inoperância da equipe, que perdeu destaques sem reposições à altura. Já o Rangers gira em círculos depois de um início de década animador, com a reconquista do Campeonato Escocês após o renascimento desde a quarta divisão e a final da Liga Europa. Técnicos se sucedem com algum cartaz, mas sem nenhuma demonstração prática de competência. Ambos os gigantes escoceses vão jogar a Liga Europa, é verdade, mas não ter o dinheiro da Champions dificulta a recuperação. (Leandro Stein)
- A Liga Europa contou com 12 partidas decisivas nos playoffs, sem tantas reviravoltas. O único duelo que foi para a prorrogação ofereceu a classificação do Ludogorets para cima do Shkendija, com os 4 a 1 decisivos na Bulgária. Já o único time a perder a partida de ida que avançou na volta foi o PAOK, que tomou de 1 a 0 para o Rijeka na Croácia e aplicou inapeláveis 5 a 0 na Grécia. Alguns placares agregados foram bem dilatados, sobretudo os 9 a 1 do Braga diante do Lincoln Red Imps e os 6 a 0 do Midtjylland sobre o KuPS. Os 12 times eliminados na Liga Europa foram realocados para a fase de liga da Conference. Isso garante a segunda participação na história de Gibraltar e Macedônia do Norte na etapa principal das copas europeias. O Lincoln Red Imps repete seu próprio feito anterior, enquanto o Shkendija iguala o que o Vardar havia registrado primeiro aos macedônios. (Leandro Stein)
- A Conference League sempre se destaca por suas histórias alternativas. Nesta temporada, Malta terá pela primeira vez um representante na fase principal das copas europeias. Os méritos são do Hamrun Spartans, atual campeão nacional, que aproveitou o atalho na Rota dos Campeões. Os malteses já tinham tirado o Maccabi Tel-Aviv na fase anterior e se garantiram depois do triunfo diante do RFS Riga. Após o 1 a 0 em Malta, seguraram o empate por 2 a 2 na Letônia. Os clubes da ilha disputam as copas europeias desde 1961/62 e, em 203 aparições nas competições da Uefa, só agora ultrapassam a barreira inédita. O Hamrun Spartans soma 12 participações continentais, bem abaixo de representantes mais tradicionais do país como o Valletta, o Sliema Wanderers, o Hibernians, o Floriana e o Birkirkara. O clube chegou a ficar 30 anos sem ganhar o Campeonato Maltês, mas se tornou hegemônico com quatro dos últimos cinco troféus, incluindo um tricampeonato atual. (Leandro Stein)
- San Marino também tinha o sonho de colocar um time nas copas europeias pela primeira vez, mas o Virtus não cumpriu a missão na Conference. Perdeu as duas para o Breidablik, incluindo a volta em Serravalle, o que garante um representante islandês pela segunda vez na fase principal – o Breidablik já tinha conseguido isso na Conference 2023/24. Kosovo terá um time pela terceira vez, o Drita, que repete o feito registrado duas vezes pelo Ballkani. O campeão kosovar despachou o Differdange, de Luxemburgo. O Noah garante a quarta participação da Armênia, a sua segunda consecutiva, ao eliminar o Olimpija Ljubljana. Ainda rolou a supremacia do Shelbourne no confronto de Irlandas. O campeão da República da Irlanda eliminou de vez o Linfield, campeão norte-irlandes, o que já tinha acontecido nesta Champions. Foram duas vitórias dos alvirrubros nos playoffs da Conference, incluindo os 2 a 0 em Belfast. (Leandro Stein)
- A Rota da Liga da Conference teve 19 partidas decisivas nesta semana. Os representantes das grandes ligas avançaram, apesar de certo aperto. A principal reviravolta foi do Mainz 05, que perdeu a ida para o Rosenborg por 2 a 1, mas virou na Alemanha graças ao triunfo por 4 a 1. O Crystal Palace se valeu da vitória na ida em Londres, ao segurar o empate sem gols contra o Fredrikstad na volta dentro da Noruega. O Rayo Vallecano ganhou a segunda do Neman Grodno com goleada em Madri, assim como a Fiorentina bateu duas vezes o Polissya Zhytomyr, mas em Florença dependendo de três gols nos 15 minutos finais para assegurar o 3 a 2 sem riscos, após os 3 a 0 da ida. Já o Strasbourg, após o empate sem gols na França, bateu o Brondby num apertado 3 a 2 na Dinamarca. (Leandro Stein)
- Dentre outras classificações de peso, o Shakhtar Donetsk passou com emoção pelo Servette. Após o empate em campo neutro com seu mando, os ucranianos arrancaram a igualdade na Suíça e só impuseram os 2 a 1 na prorrogação. Ambos os gols foram de brasileiros, incluindo uma pintura decisiva de Kauã Elias no tempo extra. O AEK Atenas despachou o Anderlecht com a vitória por 2 a 0 na Grécia, enquanto o Legia Varsóvia foi o algoz do Hibernian com o empate por 3 a 3 só definido na prorrogação na Polônia, após um gol salvador dos anfitriões no fim do tempo regulamentar. Destaque ainda para a imposição do AZ diante do Levski Sofia, com direito a um 4 a 1 em Alkmaar. (Leandro Stein)
- Já algumas ligas se deram mal nas preliminares da Conference. Portugal se despediu do torneio com a queda do Santa Clara, eliminado pelo Shamrock Rovers. Os irlandeses venceram em Açores e seguraram o empate em Dublin. Já a Turquia passou vergonha, com a queda de duas potenciais forças no torneio. O Besiktas não resistiu ao Lausanne-Sport em Istambul, com a derrota por 1 a 0, após o empate na Suíça. O Istambul Basaksehir havia perdido a ida em casa para a Universitatea Craiova e tomou de 3 a 1 na volta dentro da Romênia. (Leandro Stein)
- A Conference terá dez estreantes em fases principais de competições europeias: Crystal Palace, Rayo Vallecano, KuPS, Drita, Sigma Olomouc, Samsunspor, Shkendija, Universitatea Craiova, Hamrun Spartans e Shelbourne. Vale a ponderação, no entanto, que no antigo formato dos torneios da Uefa (sem fases de grupos), a Universitatea Craiova foi semifinalista da Copa da Uefa em 1982/83, o Sigma Olomouc foi quadrifinalista da mesma competição em 1991/92 e o Rayo Vallecano também foi quadrifinalista em 2000/01. Já a Liga Europa tem dois estreantes em fases principais: o Go Ahead Eagles e o Nottingham Forest – este, bicampeão da Champions no antigo formato. (Leandro Stein)
- A Copa da Alemanha ofereceu uma primeira fase razoavelmente difícil aos times da Bundesliga, embora só o Werder Bremen tenha sido eliminado. Nesta semana, Stuttgart e Bayern de Munique sofreram um bocado para concluírem suas classificações no complemento da rodada. O Stuttgart suou no 4 a 4 contra o Eintracht Braunschweig e só avançou nos pênaltis. Atualmente na segundona, o Braunschweig abriu o placar, cedeu a virada e virou novamente a cinco minutos do fim. Só um gol de Nick Woltemade aos 44 do segundo tempo forçou a prorrogação e, apesar da terceira virada da noite conseguida pelo Stuttgart, os anfitriões provocaram mais um empate no tempo extra. Foram necessários 20 pênaltis para o triunfo dos suábios por 8 a 7 na marca da cal. Já o Bayern abriu dois gols de vantagem sobre o Wehen Wiesbaden e teve um lapso ao ceder o empate para o adversário da terceirona durante o segundo tempo. Harry Kane até perdeu pênalti na reta final, mas arrancou o triunfo por 3 a 2 aos 49 minutos. Vale sublinhar como as duas bases titulares estiveram em campo, algo comum na Pokal. (Leandro Stein)
- A classificação do Grimsby Town para cima do Manchester United, lógico, é a grande história da Copa da Liga Inglesa até o momento. Um clube que já disputou 12 temporadas na primeira divisão do Campeonato Inglês (a última delas em 1948) e revelou Bill Shankly como seu treinador merece aplausos, além do feito particular contra os Red Devils. Os Mariners, de qualquer maneira, não foram os únicos representantes da quarta divisão a avançar para a terceira fase. O Cambridge United conseguiu o mesmo, ao tirar o Charlton, atualmente na segundona. Já da terceira divisão avançaram dez equipes: Doncaster Rovers, Barnsley, Port Vale, Lincoln City, Bradford City, Huddersfield Town, Wigan, Reading, Wycombe e Cardiff City. O grande feito foi do Huddersfield, único a bater um oponente da Premier League, ao vencer o Sunderland nos pênaltis. Curiosamente, só passaram cinco times da Championship, a segunda divisão. Um deles é o recém-promovido Wrexham, que protagonizou outro milagre ao buscar a virada fora de casa por 3 a 2 contra o Preston North End, com o gol decisivo de Kieffer Moore aos 47 do segundo tempo. (Leandro Stein)
- Diante de mudanças tão drásticas neste mercado, o Bayer Leverkusen precisa de novas lideranças nos vestiários, e a contratação de Lucas Vázquez ocupa essa lacuna. O espanhol estava sem clube desde sua saída do Real Madrid, ao final do contrato, e a mudança para a BayArena parece excelente, aos 34 anos. Não é um jogador que faça brilhar os olhos e pode até ser que não emplaque totalmente como titular no Leverkusen, utilizado conforme as demandas do time graças à sua polivalência. Todavia, num elenco que investiu bastante em jovens e que perdeu veteranos essenciais (em especial Granit Xhaka), ter a vivência de Vázquez pode ser valioso em meio à reformulação. Até porque os relatos de insatisfação com Erik ten Hag já começam a surgir e a presença de um jogador que maneje bem os vestiários tende a ser essencial para o treinador. (Leandro Stein)
- O Tottenham teve uma pré-temporada positiva no geral. Foi triste se despedir de Son, mas todos concordaram que era o momento certo. Parece ter cravado a contratação do novo técnico, trouxe Mohammed Kudus e João Palhinha, dois reforços que precisava, encarou o PSG, venceu as duas primeiras rodadas, e… havia levado alguns chapéus. Morgan Gibbs-White renovou com o Nottingham Forest após ter sua cláusula de rescisão acionada pelos Spurs e Eberechi Eze preferiu o Arsenal. Estava claro o interesse por mais um meia-atacante, principalmente após a séria lesão de James Maddison e, desta vez, foi ele quem conseguiu atravessar uma negociação. Xavi Simons, um dos últimos jovens destaques que sobraram no RB Leipzig, estava na mira no Chelsea há algumas semanas. Os Spurs apareceram com uma proposta de € 60 milhões e conseguiram fechar o negócio rapidamente. Simons foi anunciado nesta sexta-feira. É um excelente reforço. O valor nem é alto no atual mercado por um jovem promissor de 22 anos, que já teve duas temporadas produtivas de Bundesliga e uma ainda melhor na Eredivisie. Há certa discussão sobre qual seria sua melhor posição, pelos lados ou com camisa 10, mas, nas mãos de um treinador maleável como Thomas Frank, isso pode ser um trunfo. (Bruno Bonsanti)
- As eliminações nas copas europeias provocaram duas demissões de peso nos clubes turcos, em especial a queda de José Mourinho no Fenerbahçe. A passagem do português por Istambul parecia oferecer um casamento interessante, diante do fanatismo da torcida local e da postura enérgica do veterano. Contudo, foi uma versão até mais belicosa de Mou que o costume. As brigas e reclamações ganharam mais os noticiários do que o bom futebol. O Fener até caiu um pouco em nível competitivo, quando esperava desbancar o Galatasaray no topo do país e encerrar o jejum de mais de dez anos sem o troféu da liga nacional. Mourinho reclamou da diretoria, de jogadores, da arbitragem, do comando da federação, da imprensa, da liga e de quem mais cruzasse seu caminho. Sem o dinheiro da Champions, os Canários definiram que era seu momento de pegar o boné. O português se despede do clube com 67% de aproveitamento dos pontos disputados, em 62 partidas no comando, mas só ganhou dois dos primeiros seis compromissos realizados em 2025/26. No Besiktas, a demissão de Ole Gunnar Solskjaer reflete um clube que vinha em crise desde antes da chegada do norueguês. Não que seu retrospecto recente ajude, com as eliminações nas preliminares da Liga Europa e da Conference nesta temporada. Durou apenas 29 partidas à frente das Águias. (Leandro Stein)
- Enquanto os maiores rivais demitem seus treinadores, o Galatasaray fechou outro reforço de enorme valia para o Campeonato Turco. Wilfried Singo custou menos da metade do valor pago em Victor Osimhen e, ainda assim, pulverizaria o antigo recorde de compra mais cara da história da Süper Lig. O zagueiro custou €30,8 milhões junto ao Monaco, quase três vezes mais do que os monegascos pagaram para tirá-lo do Torino há duas temporadas. Aos 24 anos, o marfinense vinha como um dos melhores defensores da Ligue 1 e pode gerar uma revenda futura aos Leões. Independentemente disso, parece um investimento para o presente do clube e mais um sinal da ambição, o que abarca também a presença na fase de liga da Champions. O Galatasaray já gastou €120 milhões no atual mercado, e isso porque Leroy Sané veio sem custos de transação, ao final de seu contrato com o Bayern. (Leandro Stein)
- A final da Champions League será mais cedo em 2026, informou a Uefa. O jogo será disputado em Budapeste, na Hungria, e em vez das 21h no horário local, será às 18h (13h no horário de Brasília). A ideia da Uefa é incentivar mais a viagem de torcedores, facilitando a saída do estádio em um horário melhor, e também permitir que os vencedores possam comemorar na própria cidade, o que é bom para a economia local - e se torna um incentivo para que as localidades recebam a decisão, no fim. Acaba ajudando em mercados asiáticos e até os Estados Unidos também, com o jogo acontecendo às 9h da manhã em Los Angeles e às 12h em Nova York. Na China, o jogo será meia-noite, enquanto na Índia entrará no horário nobre, às 21h30. (Felipe Lobo)
- Messi mais uma vez conduziu o Inter Miami à final da Leagues Cup, competição que reúne os times da MLS e da Liga MX. Em 2023, quando chegou ao clube, ele conduziu a equipe ao título logo nos seus primeiros jogos nos Estados Unidos. A edição atual da competição foi reduzida em função da Copa do Mundo de Clubes. Depois de vencer Atlas, Necaxa, e Tigres na primeira fase, o time da Flórida eliminou o próprio Tigres, e contou com uma grande atuação de Messi na semifinal contra o Orlando City para vencer por 3 a 1. O argentino tentará o segundo título seguido da competição pelo clube, mas os Sounders chegam fortes: venceram TODOS os jogos até aqui na competição. (Felipe Lobo)
- A Serie A italiana quer levar um jogo da temporada regular para a Austrália. Sim, isso mesmo. A liga argumenta que o duelo entre Milan e Como poderia ser disputado em Perth e seria uma forma de divulgar e internacionalizar a marca. É bom lembrar que a Serie A queria também levar um jogo da temporada regular para os Estados Unidos, mas não conseguiu (por enquanto). Há muita resistência dentro da Europa (e na Uefa) para permitir que esse tipo de coisa aconteça, mas parece cada vez mais inevitável (The Athletic). (Felipe Lobo)
- Ouvimos muito falar sobre regulação financeira nas principais ligas do mundo, mas definitivamente não esperávamos ouvir na Arábia Saudita. A liga saudita criou o Comitê de Supervisão Financeira para manter a competição “financeiramente estável”. O controle era antes feito pelo governo diretamente, mas foi passado para a SPL (Sandi Pro League, a liga saudita), o que é só colocar uma camada a mais, porque o governo também controla a entidade. É bem possível que os dias de gastança sem limites, salários absurdamente altos estejam no fim. A iniciativa começou nesta temporada, então veremos como isso vai se concretizar, já que não há informações específicas sobre como esse controle financeiro será feito e nem como será medida a sustentabilidade dos clubes. Mas é um alerta que a festa pode estar no fim (Reuters). (Felipe Lobo)
- O Campeonato Brasileiro será transmitido em diversos países do exterior, inclusive na Inglaterra. A 1190 Sports, responsável pela venda dos direitos do Brasileirão no exterior, fechou 11 contratos com operadoras da Europa, América Latina e Ásia. Apenas os jogos do Flamengo não estão incluídos, porque o clube rubro-negro optou por não participar da venda, articulada em conjunto pela Libra e LFU. É mais um sinal que as duas entidades estão trabalhando juntas. O contrato vale até 2027 e garante o Brasileirão na Inglaterra e Irlanda (dois jogos por rodada na Premier Sports), Portugal (Canal 11, quatro jogos/rodada em 2025), Espanha (Movistar, quatro jogos/rodada), Alemanha, Áustria e Suíça (Sportdigital, três jogos/rodada), entre outros territórios europeus (Turquia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia do Norte, Ucrânia, Montenegro, Sérvia, Kosovo, Eslovênia e Rússia), asiáticos (Israel) e na América Latina (Chile, Peru e Equador). É um ótimo sinal tanto da união entre Libra e LFU quanto do processo de internacionalização do campeonato. Como diz o ditado, antes tarde do que nunca (Estadão). (Felipe Lobo)