PSG x Chelsea e o trunfo do Mundial, o dinheiro
Se o chamariz da Fifa para o Mundial de Clubes foram suas polpudas premiações, a decisão entre dois notórios gastadores, impulsionados por projetos de poder com similaridades, provoca reflexões
Newsletter Meiocampo - 11 de julho de 2025
O Mundial de Clubes chega ao seu final, com a decisão entre Paris Saint-Germain e Chelsea - dois clubes endinheirados que poderão engordar mais suas contas e provocam reflexões. A Newsletter Meiocampo desta sexta-feira também fala sobre o baile do PSG sobre o Real Madrid na semifinal, sobre o “rebaixamento” do Crystal Palace à Conference League e traz seu tradicional Giro, com mercado e também as preliminares das copas europeias que começaram nesta semana.
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PSG x Chelsea e o trunfo do Mundial, o dinheiro
Por Leandro Stein
A Fifa tinha um grande trunfo para a realização do novo Mundial de Clubes: o dinheiro. Demorou para Gianni Infantino conseguir viabilizar o torneio, e o cartola dependeu diretamente de seus conluios com a Arábia Saudita, mas deu certo no fim. Os europeus, isca para a entidade tentar aumentar seu poder no âmbito dos clubes e dos direitos de transmissão, abraçaram a ideia de ganhar premiações polpudas. O sucesso do Mundial em sua primeira edição tem menos a ver com a fortuna oferecida e mais com os embates que ele permitiu, graças ao Europa versus Resto do Mundo que incendiou boa parte da competição. Todavia, o dinheiro costuma pesar em campo. E a final nos Estados Unidos serve para engordar mais os cofres de dois dos times mais ricos do planeta.
Não era uma final óbvia para o Mundial de Clubes, cabe dizer. O Paris Saint-Germain chegou como favorito, de fato, pela temporada incontestável que fez. Entretanto, existiam dúvidas do real empenho de um time que imprimiu tamanha intensidade pelo inédito título da Champions. Luis Enrique conseguiu manter o ritmo de seus comandados em busca da “unificação” dos cinturões, apesar da derrota para o Botafogo. Já o Chelsea se aproveitou dos descaminhos normais em um torneio de mata-matas. O revés diante do Flamengo, na verdade, ajudou a tirar do caminho outros ricaços, bem como os tropeços de potenciais oponentes como Bayern, Inter e Manchester City. Apesar de valorosos oponentes como Palmeiras e Fluminense, os recursos técnicos (assegurados pelo dinheiro, claro) ajudaram os Blues na reta decisiva em busca da final.
Hoje, PSG e Chelsea são projetos esportivos bastante distintos, apesar das similaridades entre os projetos de poder que os impulsionaram à elite do esporte. Os franceses demoraram para deixar de lado a fixação com superastros e finalmente desenvolvem um trabalho consistente, centrado no coletivo, que cumpriu de forma muito rápida o velho objetivo na Champions após a mudança de ares. Já os ingleses, que levaram um tempo até o topo do continente com Roman Abramovich, trocaram totalmente de filosofia a partir da vinda de Todd Boehly. Passaram a gastar uma fortuna em promessas, de forma desenfreada, e oferecem longos contratos. Assim, aguardam a formação de um esquadrão no futuro, mas com um nível de pressão imediata que é tão comum no futebol e resultados recentes que não sustentam o nível de gastos. O Mundial, se vier, abranda o clima, mas ainda não será suficiente para corroborar os investimentos feitos até o momento.
Seja quem for o campeão, o Mundial de Clubes concederá suas principais premiações a dois dos clubes que mais jorraram dinheiro nos últimos anos – apesar de outros concorrentes como o Manchester United e o Manchester City neste rótulo, dá para dizer que PSG e Chelsea foram os dois que gastaram de forma mais desmedida, até acima dos sucessos esportivos. Num futebol que amplia distâncias financeiras de forma notável sobretudo nos últimos 30 anos, o Mundial ratificou como é difícil desbancar aqueles que concentram a riqueza, por mais que seja possível competir e inclusive derrotá-los com certas condições que pendam um pouco mais aos desafiantes. Ter na final dois clubes que estão no Top 10 de receitas há mais de uma década não surpreende nada, assim como não seria com um Real Madrid ou um Bayern na decisão. No entanto, PSG e Chelsea tornam tudo mais anedótico – quiçá mais didático.
O Mundial de Clubes, sim, distribui dinheiro a mais continentes. Não deixa de serem bem-vindos os milhões recebidos pelos brasileiros, em especial pelo semifinalista Fluminense. Apesar disso, a maior fatia do bolo continua com os europeus. O Chelsea, por mais que desafie o Fair Play Financeiro com Boehly, ganhou um atalho para tentar apaziguar seus gastos excessivos, assim como o PSG tem um escopo maior para ampliar as contratações de potenciais protagonistas – algo que deu muito certo nesta temporada, em apostas mais modestas em nome do que exatamente em valor de contratação. Nos outros cantos, o Mundial pode cristalizar elites, com premiações irreais para os contextos locais.
Se há uma rotatividade baixa entre os finalistas das últimas edições da Champions Africana nos últimos anos, Al Ahly, Esperánce, Wydad Casablanca e Mamelodi Sundowns ganham novo fôlego econômico para sustentar a hegemonia. A roda da fortuna gira mais forte para o Al-Hilal, bem como para Flamengo e Palmeiras em busca de um inédito tetra brasileiro na Libertadores. Isso sem falar no cenário hegemônico do Auckland City em sua realidade semiprofissional na Nova Zelândia. Se a ampliação dos prêmios da Champions num passado não muito distante facilitou dinastias nacionais aos representantes de ligas menores que chegavam à fase de grupos (e não só a eles), o Mundial pode alcançar novas fronteiras nesse quesito.
É claro que o Mundial de Clubes teve muita coisa legal nesta primeira edição, nem quero ser o estraga prazeres. O bom início do torneio deu mais segurança à próxima edição e botou a rivalidade intercontinental, bem como a empolgação de parte das torcidas nas arquibancadas, como evidentes méritos. Só que o dinheiro também ocupa uma posição inegável como principal fator no futebol atual, e muito à frente dos demais em termos de preponderância às estruturas de poder. A final entre PSG e Chelsea é uma oportunidade muito óbvia para não pensar nos reflexos mais claros. Também para medir consequências que podem vir para o equilíbrio entre continentes e mesmo para o equilíbrio interno neles, embora a realização da competição de quatro em quatro anos dilua um pouco impacto ao longo do tempo.
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John Textor tem... razão?
Por Bruno Bonsanti
O Lyon conseguiu reverter a punição que havia recebido do órgão de fiscalização financeira do futebol francês e continuará na primeira divisão na próxima temporada, com sua folha salarial e gastos em transferências monitorados. Ótima notícia para um dos clubes mais tradicionais da França, péssima para a Uefa, sem mais motivo para postergar a decisão sobre o caso do Crystal Palace, anunciada nesta sexta-feira.
O Palace conquistou a Copa da Inglaterra e garantiu vaga na próxima edição da Liga Europa. O Lyon disputará a mesma competição continental como sexto colocado do Campeonato Francês. O problema? John Textor. As regras impedem que dois clubes joguem o mesmo torneio se uma pessoa ou uma organização tiverem “influência decisiva” sobre mais de um deles, e Textor, além do Botafogo, também é dono do Lyon e tinha participação acionária relevante no clube inglês.
A Uefa havia adiado a decisão porque, se o Lyon fosse rebaixado à segunda divisão, perderia a sua vaga na Liga Europa e ela não precisaria tomar uma atitude. Por ter terminado em uma posição superior em sua liga nacional, o Lyon leva prioridade para disputar a Liga Europa. O Crystal Palace foi rebaixado à Conference League.
A primeira vez que a Uefa teve que lidar com um problema desses foi em 2017, quando Red Bull Salzburg e RB Leipzig se classificaram para a Champions League ao mesmo tempo. Ela se satisfez rapidinho que nenhum “indivíduo” ou “entidade legal” tinha “influência decisiva” sobre mais de um dos clubes, o que coloca em questão o que diabos Jürgen Klopp faz como diretor global de futebol da Red Bull. Na época, esse cargo era ocupado por outro ex-técnico do Liverpool, Gérard Houllier.
O fenômeno da multipropriedade de clubes pegou de vez e praticamente todos os anos há casos assim. Chegou a haver três em uma mesma temporada (Milan-Toulouse, Brighton-Union Saint-Gilloise e Aston Villa-Vitória de Guimarães) e todos conseguiram disputar as competições às quais se classificaram após “mudanças significativas” para cumprir regras que “restringem substancialmente a influência e poder de decisão de investidores” sobre mais de um desses clubes.
O fundador do fundo de investimentos RedBird, Gerry Cardinale, renunciou ao seu cargo no conselho do Toulouse, por exemplo. Os donos do Aston Villa reduziram sua participação acionária no Vitória de Guimarães e Tony Bloom passou a propriedade da Union Saint-Gilloise para o seu braço direito. Ano passado, o impasse foi Manchester City e Girona classificados para a Champions League. Ambos pertencem ao Grupo City, o mesmo do Bahia. No fim, a Uefa tomou decisão idêntica, novamente citando “mudanças significativas que restringem a influência e poder de decisão” e blá, blá, blá.
A tal da “influência decisiva” parece ser o principal critério e são raríssimas às vezes em que eu concordo com John Textor, ou acredito no que sai da sua boca, mas ele provavelmente fala a verdade quando alega que não tem influência decisiva no Crystal Palace. Todo mundo que acompanha futebol inglês sabe que quem manda naquele clube é Steve Parish, outro co-proprietário, e como o próprio Textor também mencionou, nunca houve intercâmbios… fáceis demais de jogadores do Botafogo ou do Lyon com o clube da Premier League.
Aliás, sabe com qual clube da Inglaterra tem rolado esse tipo de coisa? Justo o que provavelmente tomará a vaga do Palace na Liga Europa. O Lyon de repente saiu contratando jogadores do Nottingham Forest: Orel Mangala, emprestado em janeiro de 2024 e comprado meses depois, quando os franceses também trouxeram Moussa Niakhaté. E agora, se os órgãos reguladores permitirem, estão de olho em Danilo e Matt Turner. Jair e Igor Jesus, enquanto isso, saíram do Botafogo para o City Ground.
Textor já vendeu as suas ações no Palace para o dono do New York Jets, da NFL, Woody Johnson. Está apenas esperando a Premier League ratificar o acordo. Então mesmo que tivesse a tal da influência decisiva na temporada passada, com certeza não a terá enquanto os dois estiverem disputando a Liga Europa.
Por que a Uefa tomou uma decisão diferente neste caso? Apenas porque o Palace perdeu um prazo de 1º de março para apresentar provas de reestruturação proprietária? Por que ele se preocuparia com isso antes de sequer imaginar que teria um fiapo de chance de conquistar a Copa da Inglaterra? Falando nisso, por que o prazo é basicamente a dois meses das vagas europeias serem definidas?
Dado o histórico desse tipo de situação, as próprias especificidades, até onde sabemos, da administração do Crystal Palace e as medidas que foram tomadas desde o fim da última temporada (vender ações parece uma prova bastante sólida), a decisão da Uefa parece uma tremenda injustiça.
Ou, e é só uma sugestão, ela poderia adotar um critério um pouco mais específico e objetivo do que “influência decisiva”.
🎧PODCAST MEIOCAMPO #149
O PSG segue fazendo vítimas e atropelou o Real Madrid na semifinal do Mundial. O Chelsea é quem tentará parar os parisienses na final. Será que o time de Enzo Maresca consegue causar problemas para os comandados de Luis Enrique?
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NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na terça passada, falamos sobre a campanha do Fluminense no Mundial, o protagonismo de João Pedro no Chelsea e a despedida de Ivan Rakitic do futebol.
Um atropelo técnico, tático e emocional
O PSG de Luis Enrique anulou o Real Madrid em todos os níveis. Do plano de jogo à execução, passou por cima com uma superioridade assustadora
Por Felipe Lobo
Golear o Real Madrid em uma semifinal de Mundial não é algo comum — e o PSG sabia disso. Diante de uma oportunidade rara, não hesitou: aproveitou o momento e aplicou um massacre. O que se viu no MetLife Stadium, em Nova Jersey, foi um atropelo. Os parisienses passaram como um rolo compressor por cima do gigante espanhol. Os 4 a 0 saíram com naturalidade, diante de um time que foi superior em todos os aspectos.
Luis Enrique é, sem dúvida, o principal nome desse PSG. Sua equipe joga de forma organizada, envolvente e cada vez mais espetacular. Jovens como Désiré Doué ganham protagonismo, enquanto nomes como Ousmane Dembélé recuperam o brilho. Mais uma vez, Dembélé foi decisivo em um grande jogo nesta temporada.
Para Xabi Alonso, foi a primeira derrota como técnico do Real Madrid — e não foi uma queda qualquer. Seu time vinha em ascensão, mas encontrou um limite claro diante de um adversário muito mais pronto, intenso e eficaz.
Impressiona o volume ofensivo do PSG, mas o sistema defensivo também merece elogios: sofreu apenas um gol nesta Copa do Mundo de Clubes. Nos últimos oito jogos, o único tento sofrido foi de Igor Jesus, na derrota para o Botafogo. Aliás, o alvinegro carioca foi o único a vencer os franceses nesse recorte. Nos demais compromissos, o PSG venceu todos.
Santiago Bernabéu em Nova Jersey
O ambiente no MetLife Stadium era inteiramente favorável ao Real Madrid. Pedro Barino, apoiador do Meiocampo e presente nas arquibancadas, relatou que cerca de 95% das camisas nas arquibancadas eram do time espanhol. O PSG chegou até a ser vaiado durante o anúncio da escalação. Era como se os merengues estivessem no Santiago Bernabéu.
Pela primeira vez no torneio, Ousmane Dembélé foi titular, após se recuperar de lesão. Ele já havia entrado nas duas partidas anteriores, marcando o segundo gol na vitória sobre o Bayern. Outro que entrou em campo foi o brasileiro Beraldo, substituindo o suspenso Willian Pacho.
No lado madridista, o principal desfalque foi o zagueiro Dean Huijsen, expulso nas quartas contra o Borussia Dortmund. Em seu lugar, Raúl Asencio voltou ao time titular. Para completar, Trent Alexander-Arnold sentiu uma lesão no aquecimento, e Xabi Alonso improvisou: deslocou Federico Valverde para a lateral-direita e lançou Kylian Mbappé no ataque, ao lado de Vinícius Júnior e Gonzalo García — um dos destaques do time até aqui.
Um massacre já no primeiro tempo
Com apenas quatro minutos, o PSG já assustava Courtois. Aos três (sim, a cronologia inverteu), Fabián Ruiz e Nuno Mendes obrigaram o goleiro a mostrar serviço. A intensidade era evidente desde o início.
O Real Madrid cometeu o erro de dar espaço — e o PSG, implacável, aproveitou. Désiré Doué avançou pela direita e cruzou. A bola parecia tranquila para Raúl Asencio, que bobeou. Dembélé roubou, driblou Courtois e, mesmo desequilibrado após o choque com o goleiro, deixou a bola viva para Fabián Ruiz empurrar para as redes: 1 a 0.
O segundo gol veio pouco depois, num novo erro do setor defensivo madridista. Desta vez, foi Antonio Rüdiger quem falhou ao furar um passe. Dembélé, de novo ele, roubou, avançou sozinho e tocou de canhota, com categoria, no canto: 2 a 0 com menos de 10 minutos.
O Real Madrid, atordoado, buscava se encontrar em campo, mas a desorganização era evidente. O PSG, ao contrário, parecia ameaçador a cada ataque. Aos 24 minutos, Hakimi fez grande jogada pela direita e cruzou rasteiro. Ruiz dominou e finalizou com precisão, no canto: 3 a 0.
O domínio era total. O PSG controlava a posse de bola, trocava passes com fluidez e anulava as investidas do Real Madrid, que não conseguia articular jogadas.
PSG administra e crava o punhal
Na volta do intervalo, o PSG chegou a marcar mais um com Doué, após boa jogada de Dembélé, mas o lance foi anulado por impedimento. Ainda assim, o ritmo dos parisienses se manteve. O time de Luis Enrique administrava o resultado com posse de bola e organização. O Real Madrid, por sua vez, seguia sem respostas.
O golpe final veio aos 42 minutos. Em contra-ataque veloz, Bradley Barcola recebeu, driblou e tentou o passe para o meio. A bola sobrou para Gonçalo Ramos, que girou e finalizou de bico para fazer o quarto gol.
Foi uma atuação irrepreensível. O Real Madrid, que vinha mostrando evolução, foi engolido por um time muito mais maduro e letal.
Um PSG pronto para conquistar o mundo
O PSG já havia deixado recados antes: atropelou a Internazionale na final da Champions League e o Atlético de Madrid na estreia desta Copa. A derrota para o Botafogo foi um tropeço raro, mas que serviu como alerta. Desde então, emplacou vitórias convincentes — diante de Inter Miami, Bayern e agora o Real Madrid.
Na final, o adversário será o Chelsea, que apesar de uma temporada irregular, cresceu nas fases decisivas. Mas o favoritismo é claro: o PSG chega à final como campeão europeu e dono do futebol mais dominante da competição.
Será que os Blues de Enzo Maresca podem impedir mais uma conquista parisiense? Parece uma missão tão difícil quanto conter esse time avassalador.
AS HISTÓRIAS DO MEIOCAMPO AGORA EM VÍDEO
Já ativou as notificações no YouTube do Meiocampo? Além das transmissões ao vivo do podcast, agora temos também produções exclusivas de histórias para o canal. No último vídeo, trazemos os questionamentos feitos sobre a Copa do Mundo de Clubes. Será que fazem sentido?
Giro
- O Al Hilal fechou a contratação de Theo Hernández, até agora o nome mais importante do que parece ser mais uma leva de reforços badalados do futebol saudita. Ainda distante da primeira porque outros nomes especulados ou quase fechados são, por exemplo, Mateo Retegui, artilheiro da Atalanta, ou Moise Kean, atacante da Fiorentina. Hernández chegou a ser um dos melhores laterais esquerdos do mundo, mais ou menos na época em que ajudou o Milan a conquistar o Campeonato Italiano, e Didier Deschamps sempre foi muito cobrado para lhe dar mais oportunidades na seleção francesa. O seu rendimento não foi o mesmo nos últimos anos, talvez atrapalhado pelos problemas mais amplos do projeto esportivo do Milan, duramente criticado em sua mensagem de despedida: “A direção tomada pelo clube e algumas decisões recentes não refletem os valores ou a ambição que me trouxeram para cá”. Ele tem razão. O Milan parece um pouco perdido. Mas é bem engraçado reclamar de falta de ambição no momento em que você anuncia que, aos 27 anos, decidiu jogar na Arábia Saudita. (Bruno Bonsanti)
- A notícia parece pior do que realmente é porque não é que não tem ninguém tocando as contratações do Manchester United, mas dado o seu histórico recente no mercado, chamou a atenção que há uma busca em andamento por um chefe sênior de recrutamento no meio da janela de transferências. O cargo é para supervisionar os olheiros e trabalhará sob o diretor de recrutamento, Christopher Vivell, confirmado definitivamente em sua função em fevereiro após um período como interino. Faz parte de uma reformulação de um dos departamentos que mais o deixou na mão desde a aposentadoria de Alex Ferguson e talvez pudesse ter sido finalizada um pouquinho antes? Ainda tem quase dois meses de janela, mas os melhores negócios costumam ser feitos nas primeiras semanas. De qualquer maneira, talvez o próximo departamento na lista de reformulações pudesse ser o de Relações Públicas. (Bruno Bonsanti)
- Faz tempo que parece inevitável que algum jogo das principais ligas da Europa seja disputado em uma cidade que não está… na Europa. La Liga tentou pelo menos três vezes levar uma das suas partidas para os Estados Unidos nos últimos anos, sempre esbarrando na resistência da Federação Espanhola e do Sindicato dos Jogadores. Mas parece que, onde ela não teve sucesso, a Serie A terá. A Federação Italiana anunciou que deu um parecer positivo à solicitação para que uma rodada da próxima temporada entre Milan e Como seja disputada em Perth, na Austrália. Eu não imaginei que a primeira vez que isso acontecesse fosse em Perth, na Austrália. O jogo está marcado para o fim de semana de 7 e 8 de fevereiro, mas, na sexta-feira anterior (6), o San Siro será palco da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. Então, em vez de só inverter o mando de campo com o Como, que fica a uns 50 kms de distância, por que não viajar para o outro lado do mundo? (Bruno Bonsanti)
- O Tottenham, a gente sabe (e, sua torcida, mais que todo mundo), não é dos clubes que mais gastam em reforços. Entretanto, não tinha como tirar Mohammed Kudus do West Ham sem pagar alto. O ganês de 24 anos é o segundo reforço mais caro da história dos Spurs, pela bagatela de €63,8 milhões. O recém-chegado técnico Thomas Frank ganha um jogador versátil, dinâmico e que pode atuar de diferentes maneiras do meio para frente. Sua última temporada pelos Hammers teve um declínio, como todo o restante do time. Ainda assim, tende a causar um impacto grande no Tottenham e ser um nome para liderar o clube por anos. No papel, o elenco é interessante e tem qualidade para render de forma bem mais constante, mesmo que hoje o rótulo de “Big Six” soe demais para os Spurs. (Leandro Stein)
- Permanecer na Premier League logo após conquistar o acesso, às vezes, parece uma missão bem mais difícil do que almejar as copas europeias após se estabilizar na primeira divisão. O desafio para o Sunderland é significativamente maior, diante dos percalços vividos no Stadium of Light durante a última década e os abismos que se tornaram maiores. Todavia, a diretoria já fez um punhado de movimentos interessantes no mercado, ao custo de €115 milhões. O negócio mais recente foi a contratação de Simon Adingra, ponta que caiu de rendimento no Brighton, mas tem muita qualidade no mano a mano. Antes, o clube também investiu no meio-campista Habib Diarra, pilar na excelente campanha do Strasbourg na Ligue 1, bem como no ponta Chemsdine Talbi (Club Brugge) e no volante Noah Sadiki (Union St. Gilloise), dois jogadores de 20 anos entre as principais revelações do futebol belga. Reinildo Mandava veio sem custos do Atlético de Madrid, ao final de seu contrato, e Enzo Le Fée ficou em definitivo após ajudar no acesso na Championship. É cedo para apontar a permanência, considerando as distâncias não só econômicas, mas virar um “ioiô” entre primeira e segunda já seria um passo adiante. (Leandro Stein)
- Não é exagero colocar Edin Dzeko como um dos melhores centroavantes da Europa nos últimos 20 anos. O bósnio mistura faro de gol e capacidade técnica, com uma carreira que rendeu uma porção de grandes momentos desde que estourou ao lado de Grafite no Wolfsburg campeão alemão. O veterano completará 40 anos em março e, mesmo assim, permanece cobiçado. É uma boa adição para a Fiorentina, pensando naquilo que garante entre experiência e poder de fogo. Chega sem custos do Fenerbahçe, onde teve uma passagem bem digna, embora sem o título da Süper Lig, com 46 gols e 18 assistências em 99 aparições. O passado por Roma e Inter é um atestado mais que suficiente para a confiança na Serie A. (Leandro Stein)
- O Villarreal talvez não tenha sido percebido o suficiente na última temporada de La Liga, entre outros sucessos como Betis e Athletic Bilbao. Fato é que o Submarino Amarelo voltou a competir no topo da tabela, a ponto de reaparecer na Champions League, mas perdeu uma de suas principais revelações da campanha. Thierno Barry nunca passou mais de uma temporada num mesmo clube, em ascensão inegável aos 22 anos. O centroavante, trazido do Basel, teve bom rendimento no Estádio de La Cerámica e garantiu 11 gols para o time de Marcelino García Toral no Campeonato Espanhol. Chega como uma das principais faces do Everton em sua nova era após deixar Goodison Park, contratado por €30 milhões. Além da estatura que chama atenção, com 1,95m, a boa mobilidade auxilia o atacante francês. (Leandro Stein)
- O melhor de Ciro Immobile já passou, algo que se notou durante seus últimos anos na Lazio. Mas que sua última temporada no Besiktas não tenha sido um estrondo, a capacidade goleadora permanece. E pode fazer diferença para o Bologna, que garante o medalhão de 35 anos num negócio sem custos. Se a competência renovada dos rossoblù em se classificarem às copas europeias foi surpresa positiva, com vaga na Liga Europa, ter um jogador como Immobile é algo que faz a torcida bolonhesa sonhar um pouco mais. O técnico Vincenzo Italiano ganha um astro que qualifica mais os atuais campeões da Copa da Itália. A trajetória do centroavante fala por si, com tantos feitos na Serie A e na própria seleção italiana. (Leandro Stein)
- Ángel Correa passou dez anos no Atlético de Madrid. O prodígio do San Lorenzo campeão da Libertadores pode não ter se tornado um protagonista dos colchoneros, mas precisa ser lembrado com carinho. Manteve-se como uma espécie de 12° jogador nas mãos de Diego Simeone, capaz de fazer a diferença muitas vezes saindo do banco. Contribuiu para a conquista de La Liga em 2020/21 e se qualificou a ponto de compor o elenco da Argentina na Copa do Mundo de 2022. Aos 30 anos, mesmo sem virar o craque que se imaginava em Bajo Flores, parece cedo para deixar a Europa. Contudo, é preciso ressaltar como há (muito!) futebol nos outros continentes e o investimento de €8 milhões feito pelo Tigres é massivo. Angelito pode redefinir uma era em Nuevo León, algo parecido com o feito por André-Pierre Gignac nos felinos – aos 39 anos, o francês segue no elenco, mas com uma compreensível queda de rendimento nos últimos anos. (Leandro Stein)
- Os campeões do mundo pela Argentina, aliás, começam a voltar para casa. Se a apresentação de Ángel Di María pelo Rosario Central foi vivida com a emoção à flor da pele, o desembarque de Leandro Paredes no Boca Juniors impressionou pelo fanatismo. E tal devoção pelo meio-campista nem é tanto por aquilo que ele pode render em campo, claramente degraus abaixo de Fideo numa hierarquia de talentos da Albiceleste. A questão é que Paredes é muito Boca, sem esconder o tamanho de sua paixão enquanto fazia carreira na Europa. Cria da base, chegou a ser visto como um sucessor de Juan Román Riquelme e, se nem de perto se aproximou disso, até mudando de posição, criou uma relação forte com o antigo ídolo. Tem a Bombonera tatuada no peito e é famosa a história de que forçou a expulsão nos tempos de Zenit para ver a final da Libertadores contra o River Plate em 2018 – embora tenha jurado na época ter recebido a liberação do clube de antemão. Fato é que vê-lo nas arquibancadas foi uma constante desde sua saída, em 2014. Ainda que faltem motivos para os xeneizes acreditarem numa reviravolta nestes anos difíceis, um dos mais carnais torcedores foi convocado para voltar a campo. (Leandro Stein)
- De participante costumeiro das copas europeias, o Vitesse se tornou uma bomba-relógio no Campeonato Holandês. O rebaixamento sofrido na temporada retrasada simboliza a péssima gestão dos aurinegros nos últimos anos e a equipe sequer brigou pelo acesso na segundona em 2024/25 – conquistou 44 pontos em campo, mas sofreu tantas sanções por irregularidades que terminou o torneio com míseros cinco pontos. Não existe necessariamente descenso na segunda divisão do país, por conta do status profissional dos clubes, mas é exatamente a licença do Vitesse que está em xeque neste momento. Nesta semana, a federação local retirou a permissão para que os aurinegros disputem os torneios profissionais do país – ou seja, as duas primeiras divisões. Nem é algo inédito, já ocorrido há duas temporadas. Na ocasião, a diretoria recorreu e venceu. Contudo, o momento indica uma reconstrução cada vez mais difícil. (Leandro Stein)
- Já nos Estados Unidos, o New York Cosmos ressuscitou em sua terceira encarnação. O lendário clube estrelado por Pelé foi a principal marca da extinta NASL, de 1970 a 1985. Mais recentemente, o time retornou às atividades em 2010 e houve até um flerte com a MLS, mas ficou apenas em ligas menores, fechando as portas de novo em 2020. Cinco anos depois, o Cosmos foi confirmado como uma franquia de expansão na USL, segundo campeonato mais importante do futebol nos EUA – mas sem sistema de acesso à MLS. Os direitos sobre o nome e os símbolos dos nova-iorquinos pertencem a Rocco Comisso, dono da Fiorentina e que retorna como acionista minoritário nessa nova empreitada. Apesar da realidade modesta, há uma aura ao redor do Cosmos que permanece e, na última década, se viu um impacto razoável – estrelas como Raúl, Marcos Senna e Juan Arango jogaram pela equipe, embora a média de público não tenha ido muito além dos 5 mil torcedores por jogo. (Leandro Stein)
- A temporada 2024/25 nem acabou para alguns clubes, com a decisão do Mundial de Clubes, mas o pontapé inicial para a Champions League 2025/26 aconteceu nesta semana. Foram 14 partidas ao redor da Europa entre terça e quarta-feira. O resultado mais expressivo foi conquistado pelo Lincoln Red Imps, em visita ao Vikíngur, nas Ilhas Faroe. O campeão de Gibraltar anotou um valioso 3 a 2 fora de casa. Dominante em seu país, o Lincoln já venceu o Celtic nas preliminares da Champions 2016/17 (eliminado na volta) e alcançou a fase de grupos na Conference 2021/22. Menção honrosa ainda ao Drita, de Kosovo, que fez 1 a 0 no Differdange – o campeão luxemburguês tem entre seus destaques o goleiro Felipe, AQUELE MESMO, ex-Corinthians, Flamengo, Vitória e afins. (Leandro Stein)
- E se a tensão entre República da Irlanda e Irlanda do Norte não chega aos níveis de décadas atrás, a rivalidade em campo permitiu um jogo interessante na Champions. Atual campeão irlandês, o Shelbourne levou 3,6 mil torcedores às arquibancadas em Dublin e derrotou por 1 a 0 o Linfield – clube europeu com mais títulos nacionais, somando 57 taças no Campeonato Norte-Irlandês, e que historicamente tem sua torcida ligada ao sectarismo anticatólico em seu país, com episódios de violência no passado. Há inclusive uma briga campal famosa dos torcedores do Linfield em duelo contra o irlandês Dundalk, na Champions 1979/80, durante o sangrento período das chamadas "Troubles" na ilha. Com policiamento reforçado e um contexto menos pesado, o jogo desta semana viu provocações, mas não incidentes. Resta saber como será o clima para a volta em Belfast, com os anfitriões do Linfield inflamados em busca da virada. O Shelborne ficou 19 anos sem jogar as copas europeias até seu retorno em 2024/25, mas eliminou em 2005/06 outro norte-irlandês, o Glentoran, maior rival do Linfield na capital. Na temporada passada, o Shamrock Rovers derrotou o Larne por 4 a 1 na fase de liga da Conference, no primeiro duelo entre Irlanda e Irlanda do Norte na etapa principal de uma copa europeia. (Leandro Stein)
- Já a Conference League começou com seu nível de alternatividade no talo. A quinta-feira foi de vitórias históricas para países pouco expressivos no cenário continental. San Marino viveu sua glória através do Tre Fiori. Desde que os clubes do microestado passaram a figurar nas competições da Uefa, em 2000/01, apenas cinco vitórias tinham sido conquistadas até a temporada passada. A sexta veio nesta quinta-feira, com o triunfo por 1 a 0 sobre o Pyunik Yerevan – dono de 16 títulos no Campeonato Armênio, o mais recente em 2023/24. O Tre Fiori é o responsável por metade dessas vitórias europeias dos samarineses, tornando-se antes o primeiro a vencer fora de casa e o primeiro a passar de fase, ao despachar o luxemburguês Fola Esch na Conference 2022/23. Na temporada passada, o La Fiorita também havia avançado na Conference, ao superar nos pênaltis o Isloch Minsk Raion, de Belarus. Resta saber se o Tre Fiori aguentará o tranco no jogo de volta dentro da Armênia. (Leandro Stein)
- Também nesta quinta, o FC Santa Coloma protagonizou aquela que pode ser considerada a maior vitória de um clube de Andorra nas copas europeias. Não é que os Azuis só derrotaram o Borac Banja Luka, time que chegou às oitavas da Conference na temporada passada: eles golearam por 4 a 1, e dentro da Bósnia-Herzegovina. Os andorranos abriram três gols de vantagem no primeiro tempo e se aproximaram da classificação à próxima fase da Conference. Não foram os únicos representantes de Andorra a vencer. O Atlètic d’Escaldes tinha um jogo mais acessível contra o Dudelange e, dentro de casa, bateu os luxemburgueses por 2 a 0. Andorra soma 20 vitórias de seus clubes na história das copas europeias. O FC Santa Coloma já chegou na terceira fase qualificatória da Conference em 2023/24 e soma oito desses triunfos. Outros sete vieram com o Inter Club d’Escaldes, que chegou a anotar 5 a 1 sobre o Velez Mostar na temporada passada – clube mais importante na história do futebol bósnio, mas de sucessos mais escassos que o Borac Banja Luka em anos recentes. (Leandro Stein)
- Mais um destaque na Conference, esse com um pouco menos de surpresa, vai para as Ilhas Faroe. Os faroeses conquistaram duas vitórias na rodada desta quinta-feira. Uma delas, esperada, veio com o KI Klaksvík, que jogou até a fase de grupos da Conference há duas temporadas, feito inédito para sua nação. Os alviazuis visitaram a Finlândia e anotaram 2 a 1 para cima do SJK. Muito mais surpreendente foi o triunfo do NSÍ Runavík, dentro de casa, mas contra um clube finlandês muito mais tradicional: golearam o HJK Helsinque por 4 a 0. O HJK vem de quatro temporadas consecutivas na fase de grupos / liga das copas europeias, três na Conference e uma na Liga Europa. Não é pouco. (Leandro Stein)