Sobre a Europa é mais gostoso
Não sei vocês, mas tenho me divertido muito com o desafio ao eurocentrismo da bola (e à prepotência decorrente) que esse Mundial de Clubes proporciona nos primeiros dias
Newsletter Meiocampo - 20 de junho de 2025
Uma das maiores graças desse novo Mundial de Clubes é sentir e formar opinião sobre uma competição totalmente singular. A gente não tem parâmetros anteriores, nestas dimensões, para comparar e, no fim, experimenta o torneio jogo a jogo. Tem sido muito legal, sobretudo quando algumas “verdades absolutas” são jogadas por terra e a Europa percebe que o resto do mundo também joga bola. Esse é o tema principal da newsletter desta sexta-feira, com muito Mundial e também mercado de transferências.
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Sobre a Europa é mais gostoso
Por Leandro Stein
Vou confessar que eu comecei esse novo Mundial de Clubes um tanto quanto cético. É tanta maracutaia da Fifa, tanto jogo num calendário já abarrotado e tanta disparidade em prol dos europeus no velho Mundial que nem a presença do meu time do coração me empolgava tanto. Quando a bola rola, porém, o que a gente mais quer ver é o circo pegar fogo. E, apesar do caráter de competição caça-níquel de Gianni Infantino, isso não atrapalha a diversão garantida nesses primeiros dias de Mundial. É uma experiência totalmente nova, com intercâmbios raros de acontecer, presença de torcidas de todo canto e, especialmente, jogos de futebol bem disputados. O que mais tem me divertido é algo bem específico, no qual me permito aqui deixar de lado o distanciamento jornalístico e falar do lado torcedor: como tem sido gostoso ver clubes brasileiros e de qualquer outro continente fazendo os europeus sambarem e tropeçarem nas próprias pernas.
Veja bem, não é nada específico contra os europeus. Eu cuspiria na testa se dissesse que não gosto do futebol praticado na Europa – muito pelo contrário, com uma carreira escrevendo sobre o que acontece do lado de lá. Não tem como negar que existem ótimas histórias e um nível de jogo mais atraente. Isso não significa que todo o resto é descartável, não, não. As boas histórias estão até no futebol de Butão ou Bermuda, basta saber escutá-las. Assim como há tantos atrativos nos demais futebóis que não são a Champions League e que não ficam só em meia dúzia de países – porque o lado europeu oriental é também escanteado. A prepotência de parte do discurso que vêm da Europa Ocidental (sem generalizar), inclusive de veículos de imprensa, é que me incomoda.
É uma arrogância que parece se esquecer que, embora a Champions ou a Premier League tenham enorme pompa, grande parte dos craques que dão qualidade aos torneios possuem origens nos mais diversos cantos: latino-americanos, caribenhos, asiáticos e africanos, bem como seus descendentes. O Museu Britânico depende dos tesouros usurpados do Egito Antigo, da Mesopotâmia, da América Pré-Colombiana e de tantos outros povos para ter seu real valor, afinal. O futebol europeu pode ter seu poderio econômico, sua capacidade de organização, sua vanguarda tática. Continua, também, e inclusive, formando grandes jogadores. Mas há qualidade para se jogar em outros continentes, há legados antigos, há paixão irrefreável. Há sobretudo criatividade, quando as condições não são as mais favoráveis e se encontram outros caminhos. Isso tudo eleva o que ocorre do lado de lá do Atlântico.
E não é que o futebol brasileiro se tornará perfeito por um punhado de jogos contra europeus que infle nosso ego, longe disso. Tem coisa muito mais legal que uma vitória isolada que fazemos por aqui, assim como outras não tão legais assim. Sabemos onde o calo aperta. Temos vivência e motivos para amar muito, tal qual a propriedade para saber onde renegar. A gente sente saudades do Brasileirão com uma semana de abstinência, mas também basta uma rodada para nos irritarmos com a arbitragem, a cartolagem, as reclamações, as encenações e outras questões quaisquer que você se lembrar, por mais que prefira esquecer. Mas não que vire tudo descartável. Da mesma forma que outros países possuem seus méritos, dentro de seus contextos. Isso o novo Mundial tem ajudado a exibir.
Não é mais um único time europeu que chega a Tóquio como sacrossanto campeão continental, contra adversários de cofres bem mais vazios e uma só bala no revólver. A vantagem do novo Mundial é ver mais confrontos, mais desafios, mais misturas. Há europeus além da primeira prateleira, assim como sul-americanos, concacafenhos, asiáticos, africanos. Dá jogo. E as nuances de diferentes partidas, contra diferentes oponentes, num curto intervalo de tempo, em condições que exigem fisicamente, permitem essa bagunça gostosa que estamos vendo de primeira. Permitem que a prepotência dos europeus seja posta em xeque – e tome mates.
Eu percebi como esse Mundial embaralhou minha noção de torcida durante o Fluminense x Borussia Dortmund. Com a consciência sobre o risco de ser achincalhado, vou cometer o sacrilégio de, apaixonado rubro-negro, confessar que torci pelos tricolores – talvez não ter contato diário com eles, como alguém que vive no interior de São Paulo, ajude isso. E possivelmente esse era, em teoria, o jogo para o qual minha torcida mais penderia ao lado europeu: não só pela rivalidade com o Flu, mas também porque nutro simpatia pelos clubes alemães e pelo Dortmund em particular. Mas não. Lamentei o gol do Fluminense não ter saído. Queria que o banho de bola se convertesse numa vitória brasileira, não no acaso ajudando os europeus mais uma vez, do tipo de acharem um novo continente cheio de riquezas quando queriam só levar uns temperos.
Nem acho que vai ser assim durante o Mundial todo. É possível que nas fases mais agudas eu prefira secar os demais compatriotas, para que não tenham um desempenho melhor que o meu time e nem conquistem antes esse título inédito. Contudo, só o flerte com eles neste início de campeonato já diz demais. No velho Mundial, em suas diferentes encarnações, eu invariavelmente secava os brasileiros. Foi assim inclusive no Borussia Dortmund x Cruzeiro de 1997, o primeiro jogo internacional que assisti na minha vida e que me fez simpatizar com os aurinegros. A mudança de mentalidade agora, mais do que um mero sinal da idade, é muito mais um orgulho ferido como brasileiro – seja pelo título que não sai da Europa desde 2013, seja pelo tom de menosprezo que por vezes conferem a nós, num misto de ignorância e egocentrismo. Uma hora cansa.
Se o Palmeiras x Porto da rodada inaugural não me provocou uma reflexão como a do Flu x BVB, embora reconhecendo que a bola alviverde merecia mais entrar, o discurso de parte da imprensa portuguesa só reforçou minhas convicções sobre secar os europeus. Como se fosse demérito a superioridade palestina sem converter o gol, porque o goleiro substituto do outro lado resolveu incorporar Lev Yashin. Como se não fosse pertinente questionar o excesso de vagas a europeus que permite a este Porto, longe do melhor do clube, estar no Mundial. A alma se lavou poucos dias depois, pegando emprestada a latinidade de Telasco Segovia e Lionel Messi, na virada do Inter Miami que deixou os portistas à beira do abismo.
E nem é uma questão só latina em si, pegando também os empates de Monterrey com Internazionale e Boca Juniors com Benfica. Foi saboroso ver o Real Madrid, com toda a aura que autoproclama, suando frio para arrancar um empate contra o Al-Hilal. O time saudita pode ter também uma série de poréns em relação ao projeto do fundo soberano local. Mas desbrava seus caminhos, inclusive batendo de frente com o poderio econômico da Europa e trazendo alguns jogadores europeus importantes. Há futebol sendo bem jogado em todo o mundo, não só no “Velho Continente” – que, aliás, é menos velho que seus vizinhos. O novo Mundial traz à tona o Novo Mundo.
E o Botafogo me provocou outro grande deleite, outra contradição, outro momento de reflexão – confesso que também torci para eles, a despeito do meu coração. O atual campeão da Libertadores deu uma lição de futebol eficiente para cima do vencedor da Champions, o Paris Saint-Germain. Igor Jesus de novo botou a fantasia de herói e justificou o reconhecimento sobre a sua ascensão, ao liderar um ataque que soube como ferir um adversário tão forte. Os botafoguenses foram além também no aspecto defensivo, com o trio Allan-Gregore-Marlon Freitas trancando o meio-campo, além de Jair e Barboza mandando na zaga. O formato do novo Mundial auxiliou o Botafogo a entrar em campo sem a pressão do jogo único e com o tamanho do sonho formado na cabeça. Méritos por aproveitar.
Vai ter gaiato que restringirá a mentoria do triunfo do Botafogo a um europeu, o técnico Renato Paiva. Realmente foi excelente na montagem de seu time para o confronto e também é fato como o impacto dos treinadores europeus se nota há alguns anos no Brasil. Só que há uma mescla de soluções e capacidades que vem da mistura – da miscigenação que faz a riqueza do nosso futebol e da nossa própria sociedade. De uma miscigenação que também é intrínseca ao futebol europeu, não só de clubes, como também das seleções mais bem sucedidas nos últimos 30 anos – por mais que alguns prefiram não ver o evidente.
Também vai ter muita gente querendo reduzir o tamanho da vitória do Botafogo – que, se sublinhe, embora um resultado muito grande, não é o mais importante de um clube com um passado gigantesco. Vão dizer que o PSG não estava com o time completo, que a equipe se desconcentrou depois das goleadas recentes, que o desgaste físico da temporada europeia é maior neste momento. É o que fazem sempre, também nas outras encarnações do Mundial: tentar desqualificar. E pode até ser que parte dessas ponderações seja verdadeira, pouco importa depois de consumado o placar. Eles que mordam as costas tentando achar uma justificativa, para melhorar da próxima vez. Dentro das condições dadas, a resposta que o campo deu foi alvinegra. E isso é irrefutável.
A não ser que surja uma Superliga Mundial, com condições iguais para as “franquias” espalhadas pelo mundo, os confrontos entre equipes de continentes distintos sempre vão ter suas disparidades. É reflexo da diversidade de realidades. E se os europeus costumam ter o benefício econômico a seu favor, de reunir os melhores jogadores além dos seus limites territoriais, desta vez o novo Mundial de Clubes dá outras condições favoráveis aos demais. Inclusive, a de elevar a pressão sobre a própria Europa. O cenário atual deixa a cobrança do favoritismo sobre eles. O “resto do mundo” está confortável no papel de penetra no clube dos ricaços, mais interessados na premiação prometida pela Fifa.
É óbvio também que os tropeços dos europeus neste início da competição não tiram o favoritismo deles para as fases finais. Quando o calo apertar nos mata-matas, é possível que a capacidade técnica deles fale mais alto – com uma contribuição inestimável dos nossos jogadores multinacionais. O importante do Mundial até agora é ver como dá pé, para qualquer um. Esse torneio pode ser fundamental para bagunçar o eurocentrismo e ter um olhar mais amplo no que se faz nos outros continentes. Sabemos que somos um celeiro de talentos, que proporcionamos uma atmosfera vibrante, que sentimos o futebol de maneira diferente. Mais gostoso quando isso proporciona vitórias inenarráveis. E não é que estamos nos sentindo tanto porque derrubamos europeus, longe de atribuir valor só a isso. O sabor está em proclamar a grandeza que sempre tivemos, mas que tantos não veem – em partes, inclusive nós mesmos.
*PS: Esse texto foi escrito e publicado antes de Flamengo x Chelsea. Não sei se todos os torcedores de outros clubes (sobretudo palmeirenses, tricolores e botafoguenses) vão tornar a recíproca verdadeira e torcer pelo meu time – a gente sabe, como rubro-negros, o que a gente provoca. Mas vou ressaltar que eu torcerei com um pouco mais de gosto além do normal, pela chance de tirar um europeu (e inglês!) do seu pedestal.
🎧PODCAST MEIOCAMPO #143
A Copa do Mundo de Clubes traz jogos empolgantes, com times sul-americanos fazendo bom papel. Até o Inter Miami de Messi fez bonito e colocou outro europeu a perigo. Falamos sobre a semana de jogos, o panorama de Europa vs. Resto do Mundo, por que os jogos têm sido interrompidos nos Estados Unidos e mais.
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A boa semana dos Sul-Americanos no Mundial - até agora
Por Felipe Lobo
Boca Juniors 2x2 Benfica
Hard Rock Stadium, em Miami
Público: 55.574
Foi a primeira vez que um time sul-americano abriu dois gols de diferença em um time europeu desde o próprio Boca Juniors, em 2000, contra o Real Madrid. Os argentinos venceram aquele jogo por 2 a 1 e se sagraram campeões do mundo. Desta vez, o Boca surpreendeu, mas acabou sofrendo o empate no segundo tempo. Mesmo assim, com apoio massivo nas arquibancadas, deixou uma boa impressão.
Flamengo 2x0 Esperance
Lincoln Financial Field, na Filadélfia
Público: 25.797
A estreia do Flamengo foi com tranquilidade, ainda que o time tenha corrido alguns riscos desnecessários no segundo tempo, quando o jogo ainda estava 1 a 0. No fim, o placar de 2 a 0 dá uma sensação de conforto até maior do que foi mesmo, mas a equipe mereceu o resultado e conseguiu administrar o físico, o que pode ser importante ao longo do campeonato.
Fluminense 0x0 Dortmund
MetLife Stadium, em East Rutherford (Nova Jersey)
Público: 34.736
Um dos jogos mais interessantes desta primeira fase não teve gols, mas vimos um duelo em que o Fluminense AMASSOU o Dortmund. Não é força de expressão. Os brasileiros foram muito melhores em campo, criaram chances e poderiam – e deveriam – ter vencido. Não venceram, o que é perigoso, mas a impressão deixada foi excelente.
River Plate 3x1 Urawa Reds
Lumen Field, em Seattle
Público: 11.974
O River Plate fez uma estreia segura, diferente do que vimos quando o time foi jogar o Mundial de Clubes em 2018 – e acabou eliminado pelo Al Ain, ainda na semifinal. Desta vez, a equipe de Marcelo Gallardo conseguiu se impor, abriu 2 a 0, viu o Urawa crescer no jogo ao diminuir o placar e até ameaçar o empate, mas conseguiu fazer mais um e fechar a conta.
Palmeiras 2x0 Al Ahly
MetLife Stadium, em East Rutherford (Nova Jersey)
Público: 35.179
Depois da boa estreia contra o Porto, mas que acabou sem gols, desta vez o Palmeiras conseguiu uma vitória importante e merecida. O jogo foi apertado, até mais difícil que o embate contra o Porto, mas o Palmeiras conseguiu o primeiro gol (contra, de Abou Ali) e matou a partida em um bom contra-ataque pouco depois de abrir o placar. Vai para o último jogo contra o Inter Miami em boa situação.
PSG 0x1 Botafogo
Rose Bowl Stadium, em Pasadena (Los Angeles)
Público: 53.699
Todo mundo esperava que o PSG dominasse o jogo e vencesse, mas o que vimos em campo foi diferente. Depois de um bom início do PSG, o Botafogo foi quem marcou, em uma bela jogada de Savarino e Igor Jesus, que finalizou, com desvio, e guardou. Mas não pense que o Botafogo só se defendeu depois disso. A defesa foi impecável, com Alexander Barboza e Jair, além de uma atuação enorme de Gregore, Marlon Freitas e Allan no meio-campo. O Botafogo foi perigoso, finalizou mais vezes no alvo que o PSG (4x2) e poderia ter feito até mais. Luis Enrique, técnico do PSG, reconheceu que o Botafogo foi o time que melhor se defendeu contra eles ao longo da temporada e não ficou só na defesa, saiu para o jogo. Um épico, com o detalhe de ser no Rose Bowl, estádio da glória do Brasil na Copa do Mundo de 1994.
AS HISTÓRIAS DO MEIOCAMPO AGORA EM VÍDEO
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Giro
Por Bruno Bonsanti
- Internazionale 1x1 Monterrey - O problema não é dos outros continentes se os europeus estão cansados pelo fim da temporada ou sofrendo com o verão dos Estados Unidos, essas são as condições em que a Copa do Mundo de Clubes será disputada, mas se tem um time que pode alegar que está cansado é a Internazionale, que tentou conquistar todos os títulos, ficou sem nenhum e não conseguiu nem correr o bastante para não levar 5 a 0 em uma final de Champions League. A média de idade dos titulares na estreia foi até menor que a do Monterrey (29,5 x 30,4), jogada para baixo pela escalação de Sebastiano Esposito, 22. O ataque já estava desfalcado porque Mehdi Taremi não conseguiu sair do Irã e ficou ainda mais com a lesão de Marcus Thuram, que entrou no segundo tempo e deve ser desfalque pelo menos para a segunda rodada. O Monterrey aproveitou, com o milésimo gol decisivo de Sergio Ramos, uma bola na trave e duas chances na reta final que poderiam ter lhe dado a vitória. A Inter também criou, Lautaro Martínez perdeu uma oportunidade clara na marca do pênalti, mas não foi uma atuação promissora em um grupo que pode ser complicado. Depois do Urawa Red Diamonds, o River Plate não deve apresentar menos dificuldades que os mexicanos.
- Real Madrid 1x1 Al Hilal - O Real Madrid de Xabi Alonso não foi muito diferente do Real Madrid de Carlo Ancelotti. Como prometido, o esquema com três zagueiros do Bayer Leverkusen foi abandonado e o ataque teve Gonzalo García, prata da casa que marcou 25 gols em 36 rodadas pelo Castilla na terceira divisão, no lugar de Kylian Mbappé, internado com um caso agudo de gastroenterite. Os problemas também foram similares: dificuldade para controlar o jogo e para marcar a transição. A linha defensiva, bastante desfalcada, segue uma grande preocupação, apesar da estreia dos novos reforços Dean Huijsen e Trent Alexander-Arnold, que teve pesadelos com o excelente Salem Al-Dawsari. O Al-Hilal, com um time quase completo de jogadores que passaram anos no segundo escalão europeu, alguns no primeiro, deixou o gramado lamentando o empate, o que parece bem significativo.
- Como foca em contratar jogadores mais veteranos ao fim dos seus contratos, o Real Madrid pode continuar investindo em revelações sul-americanas. A mais recente é o meia-atacante argentino Franco Mastantuono, participando da Copa do Mundo de Clubes pelo River Plate antes de se apresentar aos merengues. Canhoto, habilidoso, com boa finalização e capaz de arrancar com a bola dominada (eu sei, eu sei, lembra), estreou aos 16 anos no time principal do River e foi quarto colocado do Mundial Sub-17 com a Argentina. Foi promovido ao sub-20 por Javier Mascherano e até fez sua primeira partida pela seleção adulta, contra o Chile, no começo do mês. Marcou sete gols e deu quatro assistências em 20 partidas por todas as competições em 2025 e teve personalidade suficiente para marcar de falta no Superclássico contra o Boca Juniors.
- Juventus 5x0 Al Ain - O Al Ain não foi um dos clubes de outros continentes que complicaram a vida dos europeus, e depois de ver o jogo, eu nem sei como poderia ter feito isso, mas você já deu uma olhada na temporada da Juventus? Jogo fácil não passou de um arranjo semântico. Então, chamou a atenção a autoridade com que marcou cinco vezes, quatro no segundo tempo, a maior goleada da Copa do Mundo de Clubes contra times não-amadores. A espinha dorsal jovem que a Velha Senhora espera que se desenvolva (rápido) apareceu bem, com duas assistências de Khéphren Thuram e do lateral direito Alberto Costa, dois gols de Francisco Conceição e outro de Kenan Yildiz. Para Kolo Muani, que teve sua alma roubada por extraterrestres que trabalham em um parque de diversões espacial, qualquer gol pode ser uma injeção de confiança. E ele fez dois.
- Manchester City 2x0 Wydad Casablanca - O Manchester City não teve nenhum comprometimento com o entretenimento: marcou dois gols e administrou o segundo tempo da sua estreia contra o Wydad Casablanca. Foi, apesar de alguns sustos, uma atuação controlada e segura que não quer dizer muita coisa ainda, mas Pep Guardiola promoveu várias novidades depois de já ter aproveitado a janela de transferências extraordinária para a disputa da Copa do Mundo de Clubes. Escalou um time bastante leve, com Savinho, Jérémy Doku, Phil Foden e a novidade Rayan Cherki, todos à frente do também recém-contratado Tijjani Reijnders e com Omar Marmoush no comando de ataque. Erling Haaland entrou aos 15 minutos do segundo tempo e a melhor notícia para os ingleses foi a presença de Rodri, que rompeu os ligamentos cruzados do joelho em setembro e havia disputado apenas alguns minutos contra o Bournemouth desde então. Fez meia-hora contra o Wydad Casablanca.
- Inter Miami 2x1 Porto - Antes do Botafogo repetir o feito, a primeira vitória de um time de outro continente sobre um Europeu desde 2012 nas competições da Fifa foi o Inter Miami, de Lionel Messi. O Porto mostrou ainda mais problemas do que diante do Palmeiras, mas conseguiu sair na frente em um pênalti dado graças ao VAR, até ser pressionado e tomar a virada. O gol de Lionel Messi, de falta, acaba sendo simbólico. A equipe da Flórida, que é a pior entre as três da MLS no torneio, fez as vezes de carrasco. Tenho certeza que Gianni Infantino sorriu de orelha a orelha com o gol e a possibilidade de Messi estar nas oitavas de final. (Felipe Lobo)
- É mais inteligente investir € 35 milhões em Mathys Tel, um garoto de 20 anos que ainda pode melhorar, do que quase o dobro em Dominic Solanke, que provavelmente sempre será apenas o que já é: um bom centroavante, nada mais do que isso. O Tottenham teve Tel emprestado pelo Bayern de Munique nos últimos seis meses. Ele foi titular na maioria das rodadas da Premier League em que poderia ser, embora não tenha saído do banco na final da Liga Europa. Marcou três gols em 20 partidas no total, mas tem bastante potencial. É um prodígio do futebol francês que se tornou o jogador mais jovem a defender o Rennes (agosto de 2021 contra o Brest) e a marcar pelo Bayern (agosto de 2022 contra o Viktoria Colônia, pela Copa da Alemanha). Também liderou a seleção sub-17 ao título da Eurocopa da categoria em 2022. Chegou a ter oportunidades com Thomas Tuchel, e até marcou três vezes nas cinco primeiras rodadas da Bundesliga 2023/24, mas perdeu espaço com Vincent Kompany e agora espera crescer com Thomas Frank: “Eu acho que ele é um jogador muito talentoso que pode jogar em todas as quatro posições do ataque. Ele é um artilheiro que podemos desenvolver ainda mais para que seja mais consistente no geral, mas também mais consistente para aparecer nas posições certas dentro da área”, disse o novo técnico dos Spurs.
- O Barcelona não vem sendo o clube mais ponderado para contratar nos últimos tempos, e não é que isso vai mudar agora. O departamento de goleiros dos blaugranas conta possivelmente com quatro opções: o desaposentado Wojciech Szczesny, o insatisfeito Marc-André ter Stegen, o modesto Iñaki Peña e o recém-trazido Joan García. Pode parecer demais, especialmente se Ter Stegen aparar as arestas e retornar como o goleiraço que sempre foi, e se Szczesny também confirmar a renovação por mais um ano, mas essa era uma oportunidade com García realmente muito boa para Joan Laporta desperdiçar. Joan García nem é tão jovem, aos 24 anos, mas viveu sua ascensão meteórica na última temporada como o melhor goleiro de La Liga, responsável direto por evitar o rebaixamento do Espanyol. Estava ali do lado, tinha uma multa rescisória relativamente baixa (€25 milhões) e não escondia o desejo de atuar pelo clube do coração. Restou ao Espanyol se resignar com a traição e com o costumeiro papel menor no coração dos catalães. García saiu como herói, carregado nos braços pela torcida blanquiazul no jogo da salvação, mas não como ídolo. (Leandro Stein)
- Em meio à Copa do Mundo de Clubes, os Estados Unidos também recebem a Copa Ouro, e México e Estados Unidos já estão classificados. O México venceu República Dominicana e Suriname, assim como a Costa Rica, e ambos já estão no mata-mata. Farão o confronto pela liderança do grupo na rodada final, no domingo. O Canadá só jogou uma vez e venceu Honduras. É um candidato ao título, especialmente porque americanos e mexicanos não estão com todas suas estrelas. Os Estados Unidos também já se garantiram na próxima fase. Os americanos venceram Trinidad e Tobago na primeira rodada e Arábia Saudita (sim, os sauditas disputam a Copa Ouro como convidados). Os EUA voltam a campo no domingo, contra o Haiti. A competição é importante para Canadá, México e Estados Unidos se prepararem para a Copa do Mundo de 2026, da qual serão sedes. (Felipe Lobo)
- O Torneio Apertura do Campeonato Colombiano definiu sua final: Independiente Medellín e Independiente Santa Fe disputarão o título, em partidas marcadas para os dias 24 (Bogotá) e 29 (Medellín). O DIM teve mais tranquilidade no seu quadrangular semifinal, o Grupo A, com vantagem de cinco pontos sobre o América de Cali – a classificação veio por antecipação. Já o Santa Fe viu concorrência maior no Grupo B, mas ainda assim se impôs na corrida com os rivais Millonarios e Atlético Nacional, ao fechar a chave três pontos à frente. Na rodada decisiva, os Cardenales preponderaram com o triunfo por 2 a 1 construído logo cedo no clássico capitalino contra o Millonarios, em que nem o gol tardio de Radamel Falcao García salvou os alviazuis - depois do jogo, El Tigre fez duras críticas à arbitragem, e com razão, especialmente diante de um impedimento muito duvidoso não anotado no primeiro tento da noite, de Hugo Rodallega. Curiosamente, os dois finalistas não são campeões desde 2016, quando o DIM faturou o Apertura e o Santa Fe celebrou o Finalización. Cada um foi três vezes vice-campeão desde então. Em 2014, na única decisão da liga entre eles, o clube de Bogotá se deu melhor. (Leandro Stein)
- Duas sugestões finais: uma é a página do amigo Emmanuel do Valle, “Azarões Eternos”, que resgata sua antiga coluna com textos novos. O mais recente é sobre o Montpellier de 1988 a 1991, um time estrelado que reuniu craques como Carlos Valderrama, Roger Milla, Júlio César (o zagueiro), Laurent Blanc e Eric Cantona. Outra dica é o podcast ConteCast, do projeto Conte Verde, conduzido pelo amigo Gabriel Sawaf, que fala tudo sobre o futebol de seleções. Nesta semana, eu (Leandro Stein) participei de uma das edições, fazendo o balanço da Data Fifa na Ásia.
Até semana que vem! (ou antes disso)
Enquanto flamenguista e amante do futebol me identifiquei muito com o texto inicial do Leandro! Acho difícil a recíproca dos outros torcedores brasileiros ter sido verdadeira ontem, mas ainda estou em êxtase com a vitória sobre o Chelsea! Botar os ingleses na roda, uma tradição decolonial resgatada com extremo sucesso ontem!