A melhor arma para enfrentar uma maldição
A volta de José Mourinho ao Benfica, o brilho de Marcus Rashford no Barcelona, a monumental atuação de Gustavo Gómez em Núñez: tudo isso e muito mais na Newsletter Meiocampo desta sexta
Newsletter Meiocampo – 19 de setembro de 2025
Ame-o ou odeie-o, José Mourinho é um personagem que não passa batido no futebol. Cada nova aventura do treinador merece ser observada de perto. Não será diferente no Benfica, de volta 25 anos depois de sua meteórica passagem no início da carreira e, quem sabe, pronto para romper a tão famosa maldição. A Newsletter Meiocampo desta sexta-feira também fala da atuação de gala de Marcus Rashford na Champions, da noite gigante de Gustavo Gómez pela Libertadores e dos muitos jogos nas competições continentais, da América do Sul e da Europa. Vem!
Vale lembrar: as edições de terça-feira e eventuais extras são exclusivas para assinantes. Às sextas-feiras, continua o conteúdo gratuito aberto ao público. Sugestões, críticas, elogios, quer só mandar um abraço: contato@meiocampo.net.
A melhor arma para enfrentar uma maldição
José Mourinho retorna ao primeiro clube que treinou na carreira e tem pelo menos tamanho suficiente para desafiar a maldição de Béla Guttmann
Por Bruno Bonsanti
José Mourinho divide opiniões. Alguns amam, outros odeiam. Poucos estão no meio do caminho. Duas coisas são incontestáveis. A primeira é o seu currículo. Um dos mais recheados que um técnico de futebol conseguiu construir. A segunda é sua paixão pelo esporte. Porque a menos que apareçam alguns investimentos imprudentes em pedras de alexandrita, não tem outro motivo para ele continuar pulando de clube em clube como está fazendo. Bom para nós que podemos aproveitar ótimas histórias, como a do próximo capítulo da sua carreira: o retorno ao Benfica.
Onde tudo começou
É fácil esquecer que foi lá que tudo começou. É verdade que faz tempo. Será até simbólico porque ele foi apresentado em 20 de setembro de 2000, exatamente a data em que, 25 anos depois, reestreará contra o AVS SAD no próximo sábado. E foi uma passagem relâmpago. Durou pouco mais de dois meses e um punhado de partidas.
Sem carreira relevante como jogador, Mourinho tinha o pedigree de ser auxiliar - ainda com mais frequência, tradutor - de Bobby Robson, que havia treinado Sporting e Porto em Portugal. Depois de ser bicampeão nacional com os Dragões, Robson levou Mourinho na bagagem para o Barcelona, mas acabou ficando apenas uma temporada. Quando Louis van Gaal assumiu, Mourinho precisou tomar uma decisão. Tinha proposta para ser auxiliar do Benfica ou integrar a comissão técnica do holandês.
“Quando eu falei com Van Gaal sobre voltar a Portugal para ser assistente do Benfica, ele disse: ‘Não vá. Diga ao Benfica que, se eles quiserem um treinador, você vai; se quiserem um assistente, você fica’”, contou, ao site da Uefa. Acatou o conselho e, como recompensa, ganhou confiança e autonomia para comandar treinos e até alguns amistosos. Três anos depois, após a demissão de Jupp Heynckes, o Benfica estava de fato em busca de um treinador e ligou novamente para Mourinho.
Foi uma aposta pessoal do presidente João Vale e Azevedo. O favorito para o cargo era o também português Toni, ex-jogador do clube, com duas passagens pela Luz como técnico e vice-campeão europeu em 1988. O começo foi promissor. Mourinho ganhou cinco das primeiras dez partidas, mas, durante esse período, houve eleições no Benfica. Vale e Azevedo foi derrotado por Manuel Vilarinho, que havia dito pouco tempo antes que o seu treinador favorito para comandar os Encarnados era Toni.
Uma dia depois de vencer o Sporting por 3 a 0, cheio de moral, Mourinho convocou uma reunião e exigiu uma extensão contratual. Era uma maneira de colocar um ponto final nos burburinhos - e testar a lealdade de Vilarinho. O pedido foi recusado.
“O senhor Manuel Vilarinho entrou no clube com o estigma de um treinador por trás, o que era legítimo, mas eu e Mozer (esse mesmo, auxiliar de Mourinho naquela época) consideramos que a única forma de acabar com as especulações era dizer à direção que continuaríamos apenas se renovássemos por mais uma temporada para dar continuidade ao nosso trabalho”, afirmou ao jornal Record, em 6 de dezembro de 2000, um dia depois de deixar o Benfica.
“Ele achou por bem não aceitar o nosso pedido de renovação. Interpretamos isso como uma prova de pouca confiança e achamos por bem deixar o nosso lugar à disposição da direção, para ela optar pelo treinador que entende servir melhor os interesses do Benfica”, acrescentou.
Mourinho assumiu o União de Leiria no começo da temporada seguinte. Foi tão bem que não demorou muito para ser contratado pelo Porto e depois… bom, aí vocês já sabem.
O fim da maldição?
Não preciso explicar em que pé está a carreira de Mourinho neste momento porque ele próprio o fez em sua coletiva de apresentação. E bem ao seu jeito:
“Na cabeça de algumas pessoas, eu tenho dois currículos. Tenho um que durou um certo período e outro que é, digamos, uma fase menos feliz da minha carreira. A minha infelicidade é que nos últimos cinco anos joguei duas finais europeias. É a parte negativa da minha carreira. Na dramática fase da minha carreira, joguei duas finais europeias”.
A transição aconteceu quando deixou o Manchester United e foi para o Tottenham. Naquele momento, não parecia tanto um passo atrás (em termos de alcance, status, poder financeiro etc, etc) porque estava assumindo o atual vice-campeão europeu. No entanto, após um trabalho no máximo mediano, durante o qual o próprio Tottenham começou a se afastar do grupo de elite, o seu mercado nas grandes potências secou. Foi o começo de um circuito por clubes importantes e com torcedores apaixonados, mas em um patamar abaixo do que empregou Mourinho por quase duas décadas.
E ele tem razão. Mesmo nessa fase relativamente ruim, Mourinho foi campeão da Conference League com a Roma e a levou à final da Liga Europa - e no Tottenham, foi finalista da Copa da Liga. Resultados que nos fariam prestar atenção se fossem de um treinador jovem e promissor.
Ainda é capaz de entregar uma longa campanha em competições de mata-mata e consegue manter um bom aproveitamento em pontos corridos. E tem com o que trabalhar. Apesar da derrota para o Qarabag que precipitou a demissão de Bruno Lage, o Benfica investiu pesado no último mercado e ninguém parece em um momento super estável no Trio de Ferro de Portugal.
Mas tanto a especialidade de Mourinho quanto a principal demanda do Benfica estão na Europa. Faz 63 anos que Béla Guttmann pediu demissão por não receber o aumento salarial que queria - incrível a frequência com que isso acontece - e proclamou que o Benfica passaria 100 anos sem conquistar um título europeu.
Desde então, o Benfica disputou nove finais europeias e não venceu nenhuma. Em quantas delas teve um técnico tão especial no banco de reservas?
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Rashford encontra seu lugar no Barcelona com noite de gala na Inglaterra
Contratado sob desconfiança, Rashford usa o maior palco europeu para justificar a aposta do clube e mostrar que seu lugar pode ser entre os protagonistas do time
Por Felipe Lobo
Quando Marcus Rashford desembarcou na Catalunha, a discussão girava em torno de como o atacante poderia ser utilizado no Barcelona. Após um curto e apagado empréstimo ao Aston Villa (17 jogos, 4 gols), a carreira do jogador estava em xeque. O Manchester United, imerso em uma crise permanente, não parecia o melhor ambiente, e o próprio atleta demonstrava vontade de mudar de ares. O Barcelona aproveitou a oportunidade em um modelo de negócio vantajoso: empréstimo sem custos e com opção de compra.
O desejo de Rashford de atuar pelo Barcelona era antigo, e o clube também sinalizava interesse há tempos. No início de 2023, quando o atacante vivia sua melhor fase no Manchester United, com 30 gols na temporada 2022/23, a transferência parecia improvável. Em junho de 2025, em outra circunstância, ele foi finalmente apresentado no time azul e grená. E agora, em setembro, marcou seus primeiros e decisivos gols.
Na estreia do Barcelona na Champions League, Rashford foi o grande nome. Foi decisivo na vitória por 2 a 1 sobre o Newcastle, em St. James' Park. E o palco não poderia ser mais simbólico: a Inglaterra, onde ele já brilhou intensamente com a camisa do Manchester United.
A dúvida sobre onde Rashford jogaria tem sido respondida neste início de temporada. O atacante esteve em campo nos cinco jogos do Barcelona até aqui e, embora versátil, tem atuado predominantemente pelo lado esquerdo. É a posição onde mais se destacou na carreira e onde Hansi Flick parece entender que ele pode render mais.
A contratação de Rashford se deu justamente por sua capacidade de manter o alto nível do ataque na ausência de um dos titulares. Raphinha é outro jogador polivalente, que pode atuar pelos dois lados e pelo meio. O inglês vinha cumprindo seu papel — chegou a dar uma assistência na goleada sobre o Valencia —, mas faltava o gol. Não falta mais.
O primeiro gol de Rashford contra o Newcastle veio em uma cabeçada de centroavante. O segundo, em um belo chute de fora da área, definiu o placar. Com isso, ele se tornou o primeiro inglês a marcar um gol pelo Barcelona em uma competição europeia desde Gary Lineker, na Recopa Europeia de 1989. A sensação é que a atuação na Inglaterra deu ao atacante a confiança que ele precisava.
“Estou muito animado, motivado e determinado. A qualidade que temos na equipe me empolga", disse ele à TNT Sports do Reino Unido. “É revigorante jogar com esses caras. O time é tão jovem, e eles jogam com tanta confiança e compreensão do jogo. Vocês sabem que o St. James’ Park não é um lugar fácil para vir e atuar do jeito que atuamos”, continuou o atacante.
Aos 27 anos, Rashford tem potencial para ser um jogador de elite e parecia ter desperdiçado na reta final de Manchester United. No Barcelona, precisou mostrar trabalho, ciente de que não chegava com status de titular absoluto. Mesmo assim, vem recebendo minutos importantes e provando que pode brigar por uma vaga nos jogos grandes. Mais do que isso, Rashford pode se reafirmar como peça importante no elenco da Inglaterra, ainda mais em uma temporada que culminará na Copa do Mundo de 2026.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Nesta semana, tivemos dose dupla, com as duas partes do Guia Meiocampo da Champions League. Confira a primeira parte aqui e a segunda parte aqui.
Um monumento a Gustavo Gómez no Monumental
Por Leandro Stein
A Copa Libertadores é pródiga em produzir jogos que se gravam na memória. O Palmeiras viveu uma dessas noites no Monumental de Núñez, com a vitória por 2 a 1 sobre o River Plate. Apesar dos anos abastados dos alviverdes, a imposição sobre os millonarios carrega consigo uma aura especial pela qualidade do jogo apresentado pelos visitantes, sobretudo no primeiro tempo. É uma atuação que, no mínimo, está no Top 10 do período de Abel Ferreira à frente dos palestrinos. E a noite reafirma, mais uma vez, a estatura de Gustavo Gómez dentro do clube.
Gómez tem sua importância para o Palmeiras consolidada há muito tempo. É o capitão de um dos períodos mais importantes da história do clube, o mais vitorioso internacionalmente. Mantém seu altíssimo nível com o passar dos anos, praticamente uma certeza para as repetidas glórias com Abel Ferreira. É imprescindível pela hierarquia que oferece dentro de campo e pela solidez como zagueiro. Ainda assim, é capaz de impressionar além. Foi o que ocorreu em Buenos Aires.
Gustavo Gómez viveu uma noite impecável contra o River Plate. Se o Palmeiras prensou os adversários durante o primeiro tempo, o zagueiro teve participação notável mesmo no ataque. Anotou o primeiro gol de cabeça, mandou bola na trave, ofereceu um perigo constante no jogo aéreo. Até quando subia à área adversária, não deixava de brigar para tentar recuperar a bola. Dá uma tranquilidade evidente para que os palestrinos atuem de forma tão leve nas últimas partidas, em especial com as combinações de Vítor Roque e Flaco López no ataque.
E mesmo na defesa Gustavo Gómez fez o de praxe, ao trancar o miolo da área do Palmeiras. Deu combate a todo o momento, capaz de travar algumas das infiltrações mais perigosas do River Plate. Se o time de Marcelo Gallardo está em uma versão abaixo de outros anos, não é por isso que deixou de tentar. Esbarrou na barreira paraguaia, sempre atento, independentemente do resultado encaminhado. O capitão é o termômetro que todo time precisa, e os palmeirenses sempre vão confiar.
Os números de Gómez em campo foram superlativos. Cometeu apenas uma falta, enquanto liderou o time com 24 ações defensivas – incluindo 15 bolas rifadas e cinco passes interceptados. Não perdeu uma vez sequer no jogo aéreo. E teve um lance sensacional ao bloquear a finalização de Miguel Borja no final dos acréscimos, naquele que poderia ser o último suspiro do River pelo empate. A coroação de uma exibição maiúscula do beque.
Gustavo Gómez leva sete anos de Palmeiras. E não dá para dizer que o zagueiro deu errado, ao não conquistar seu espaço no Milan, após ser levado do Lanús ainda em 2016. Ser mais um no futebol europeu parece pouco a quem é um dos maiores defensores do século no futebol da América do Sul. Provavelmente o paraguaio vingaria se tivesse outra chance no Velho Continente, por tudo aquilo que já demonstrou em grandes jogos. Mas é no Palmeiras, em especial na Libertadores, que eterniza seu nome. Nenhum defensor fez mais gols na história do torneio.
A Copa do Mundo é um reconhecimento mais do que merecido a Gómez. Aos 32 anos, foi também essencial à classificação do Paraguai e será um dos pontos fortes do time de Gustavo Alfaro no Mundial. Será a oportunidade para que outros continentes vejam o que os sul-americanos estão acostumados: é um beque com características e caráter que tanto dizem sobre o jogo dessas bandas. E isso com tantas noites de Libertadores em seu currículo.
Gómez pode ser considerado o principal jogador da Era Abel Ferreira no Palmeiras, sem muitas dúvidas quanto a isso. Também tem motivos para ser apontado como o maior atleta palestrino nesse século. Pode aparecer até na seleção ideal da história alviverde, e isso numa posição na qual tantos ídolos se consagraram, entre os melhores zagueiros palmeirenses. A reputação se constrói jogo a jogo. Em partidas como esta diante do River Plate, inesquecível pela superioridade do Palmeiras, assim como pelo capitão que dá sustentação há anos de capacidade competitiva.
PODCAST MEIOCAMPO #169
A Champions League voltou com vitória grande do Bayern de Kane sobre o Chelsea, jogaço em Turim entre Juventus e Dortmund, surpresa em Portugal, jogo eletrizante entre Liverpool e Atlético de Madrid em Anfield e as estreias de Real Madrid, Barcelona e Arsenal. Na Libertadores, o Palmeiras conquistou uma vitória gigante contra o River Plate no Monumental, enquanto São Paulo e Flamengo tiveram resultados distintos entre si. Para fechar, a notícia que abalou Portugal: José Mourinho é o novo técnico do Benfica.
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Giro
- A primeira rodada da Champions garantiu logo de cara um jogo memorável, com o Juventus 4x4 Borussia Dortmund, de grande reação da Velha Senhora nos instantes finais. Que se pesem os entraves defensivos de ambos os lados, são os ataques que permitiram o excelente segundo tempo. A Juve teve outra prova sólida do tamanho do talento de Kenan Yildiz, capaz de resolver num estalo. Mesmo assim, foi um jogo de reafirmação a Dusan Vlahovic, disposto a recuperar seu espaço. Além dos dois gols, chamou atenção como o centroavante chamou a responsabilidade para si. No tento de empate, ele foi se aventurar como ponta e descolou um cruzamento perfeito que valeu o gol de Liam Kelly. Agora sim é o craque que se esperava. Já o derretimento do Dortmund, se não é exatamente novo, não pode menosprezar a força demonstrada pelo time. Niko Kovac consegue um bom encaixe e há muita gente subindo de produção, com Karim Adeyemi brilhando na noite. Não é um elenco vasto, mas é uma base titular que começa muito bem a temporada. E, apesar dos quatro gols sofridos, Gregor Kobel fez duas defesas monumentais. (Leandro Stein)
- O Liverpool demonstra um gosto especial pela emoção neste início de temporada, e não foi diferente na estreia pela Champions. A vitória sobre o Atlético de Madrid se desenhava bem mais fácil do que o esperado, com o show inicial de Mohamed Salah. A defesa, que continua sem transmitir tanta confiança, sucumbiu diante de Marcos Llorente. Todavia, sobra poderio ofensivo aos ingleses, enquanto a fase dos espanhóis inspira pouca segurança. Virgil van Dijk apareceu desta vez, para um filme repetido nas últimas semanas, com o gol já nos acréscimos para determinar o triunfo por 3 a 2. Ainda tem muita água para rolar, mas o time de Arne Slot é fortíssimo candidato à Orelhuda. Já o Atleti lida com o momento mais difícil da Era Simeone, sem que os novos reforços deem resultados e com o treinador ainda fazendo papelão ao bater boca com a torcida adversária. (Leandro Stein)
- Dava para esperar um pouco mais de equilíbrio no embate entre Bayern e Chelsea em Munique, mas a vitória dos bávaros foi incontestável. Não foi uma noite impecável do time de Vincent Kompany, longe disso. Mas, diante de dois times com defesas e ataques desequilibrados, os talentos do Bayern se mostraram bem mais aptos a resolver. Michael Olise oferece o suficiente para se colocar como o herdeiro mais talentoso às pontas do clube desde a aposentadoria da lendária dupla Arjen Robben e Franck Ribéry. A noite, de qualquer maneira, foi mesmo de Harry Kane. Sempre à espreita, com muita capacidade de definição. Os vacilos dados pelo sistema defensivo dos Blues são imperdoáveis, ainda mais quando se tem às costas um artilheiro tão capacitado como o inglês. É também uma afirmação do potencial do Bayern, embora contando com um elenco inferior ao de concorrentes. (Leandro Stein)
- Manchester City e Napoli tinham motivos para fazer um dos jogos mais esperados da rodada da Champions: Pep Guardiola x Antonio Conte, a volta de Kevin de Bruyne ao Estádio Etihad, a capacidade dos dois times. A expulsão de Giovanni Di Lorenzo logo no primeiro tempo condicionou o confronto e também abreviou a participação de De Bruyne a meros 26 minutos em campo, sem tempo para brilhar. A partir de então, aconteceu um amasso dos Citizens, que só não se refletiu no placar pela excelente atuação de Vanja Milinkovic-Savic na meta napolitana. Se coletivamente não é um time tão confiável, o City primou pela qualidade individual para quebrar a defesa adversária. Foi sublime o passe de Phil Foden para o primeiro gol, assim como o rabisco de Jérémy Doku no segundo. Erling Haaland abriu a contagem e chegou a 50 gols na história da competição. Superou Alfredo Di Stéfano e entrou para o seletíssimo Top 10, aos 25 anos de idade. É o único com média superior a um gol por jogo, com gás para ultrapassar algum dia o recorde de 140 tentos de Cristiano Ronaldo. (Leandro Stein)
- Outro a escalar lugares na lista histórica de artilheiros da Champions foi Kylian Mbappé, que se equiparou a Thomas Müller na sexta posição, com 57 gols. Foram dois tentos do francês no suadíssimo 2 a 1 do Real Madrid sobre o Olympique de Marseille, em que o goleiro Gerónimo Rulli pegava tudo, Dani Carvajal dificultou com uma expulsão infantil e dois penais safaram os merengues. Se não há lugar garantido para Rodrygo e Vinícius Júnior, com ambos se revezando na ponta esquerda, o posto de Mbappé é intocável. Podem faltar títulos para aclamar esse início de carreira do atacante no Bernabéu, mas não protagonismo. Ainda quase anotou um golaço de bicicleta logo de cara. As marcas de gols de Raúl e Karim Benzema na Champions já ficam em sua mira. Além disso, já são 50 gols em todas as competições pelo clube. (Leandro Stein)
- O Paris Saint-Germain estreou na Champions como um digno campeão, ao golear a Atalanta por 4 a 0. Tudo bem que a Dea passa por um momento de transição, mas o time de Luis Enrique não tem nada a ver e fez sua parte no Parc des Princes. A escalação da final contra a Inter se repetiu quase por completo, exceção feita aos lesionados de Ousmane Dembélé e Desire Doué, bem como ao negociado Gianluigi Donnarumma. E a impressão é de que o placar ficou barato, pela quantidade de chances claras que os parisienses não aproveitaram. Foi uma noite de belos gols, com a assinatura de Khvicha Kvaratskhelia e Nuno Mendes, além da grande exibição de Marquinhos, também deixando sua marca. O favoritismo em busca do bi está preservado. (Leandro Stein)
- A Internazionale ainda parece pagar por uma temporada desgastante e pela troca de técnico, na tentativa de acertar seus novos rumos. Só não dá para reclamar de Marcus Thuram, em semanas avassaladoras. Voltou de Amsterdã com os dois gols nos 2 a 0 sobre o Ajax. A maneira como o centroavante se impôs no jogo aéreo, sobretudo no primeiro gol, exaltam sua potência física. Mas ele tem outras tantas qualidades e se mostra totalmente integrado aos nerazzurri, como um verdadeiro protagonista. Na ausência do poupado Lautaro Martínez, o francês bateu no peito, com a valiosa ajuda de Hakan Çalhanoglu nas bolas paradas. É um resultado que dá um respiro à Inter, após os tropeços consecutivos na Serie A. (Leandro Stein)
- Hoje, o Arsenal tem duas rotações muito fortes em seu elenco, por mais que as lesões atrapalhem bastante. Aqueles que dormem no ponto perdem a posição, e a situação de Gabriel Martinelli não anda muito favorável, com a queda clara nos últimos meses, sem cumprir seu potencial. O jogo contra o Athletic Bilbao em San Mamés, diante da atmosfera elétrica, pode ser transformador ao brasileiro, que saiu do banco para incendiar os Gunners e dar a vitória por 2 a 0. O jovem tenta recuperar terreno após a contratação de Eberechi Eze, mais credenciado para a titularidade. Precisa ser mais efetivo, como se viu em Bilbao. O banco de reservas, aliás, pesou demais a Mikel Arteta, também com o gol de Leandro Trossard para arrematar o placar. (Leandro Stein)
- A maior surpresa da rodada da Champions, sem dúvidas, foi a vitória do Qarabag sobre o Benfica no Estádio da Luz, um 2 a 0 que virou 2 a 3 – e que culminou na demissão de Bruno Lage. O detalhe é que, a partir do momento em que a maré virou para os azeris, eles sugeriram gás para mais. Criaram oportunidades mais cristalinas no ataque e tiveram até gol anulado. Não é um clube que vem tão cotado para a Champions, mas este é o típico resultado que pode fazer muita diferença em busca da classificação aos mata-matas. E num território no qual os brasileiros têm sua história, Kady Borges continua como um grande maestro. O meia formado pelo Coritiba rodou por outros clubes nos últimos anos e reforça a relação que possui no Azerbaijão como grande ídolo. (Leandro Stein)
- O sucesso do Eintracht Frankfurt nas últimas temporadas é garantido através da renovação. As Águias fazem um excelente trabalho ao trocar peças e encontrar boas soluções sem tanta badalação. A terceira colocação na última Bundesliga indicou a estabilidade do time de Dino Toppmöller, depois de já ter conquistado a Liga Europa há três anos. E a estreia retumbante na Champions, com a goleada por 5 a 1 sobre o Galatasaray, assinala como o time atual se encaixou rapidamente, entre bons reforços e jovens revelações. Muita atenção em Can Uzun, meia que começa a temporada voando, bem como na dupla de laterais formada por Nathaniel Brown e Nnamdi Collins. E se o comando do ataque perdeu jogadores importantes, como Hugo Ekitiké e Omar Marmoush, os novatos Jonathan Burkardt e Ritsu Doan dão força ao setor mudando as características. Do outro lado, o Galatasaray apanhou em noite tenebrosa de sua defesa, mas com uma escalação aquém do barulho no mercado. Victor Osimhen foi desfalque, mas não dá para creditar só a isso a frustração na Alemanha. (Leandro Stein)
- Fora das grandes ligas, a Bélgica merece créditos por sua competitividade recente na Champions. Dos cinco primeiros colocados na tabela após a primeira rodada, dois são belgas. A Union St. Gilloise fez sua estreia na fase principal do torneio com um resultado excepcional, ao bater o PSV por 3 a 1 em Eindhoven. Foi uma noite muito mais eficiente dos auriazuis, com volume ofensivo. Já o Club Brugge, que vinha de boa campanha em 2024/25 e amassou o Rangers nas preliminares, goleou também o Monaco por 4 a 1. Os veteranos Simon Mignolet e Hans Vanaken, onipresentes nos sucessos recentes da equipe, mais uma vez desequilibraram. Impressiona como os dois clubes perderam destaques, inclusive no último mercado, e mantêm a força. Sinal claro de trabalhos bem feitos muito além dos gramados. (Leandro Stein)
- Além da Union St. Gilloise, a Champions teve outras boas estreias de clubes que nunca haviam jogado a fase principal do torneio. O Bodo/Glimt fez barulho na República Tcheca, ao buscar um empate por 2 a 2 que parecia perdido diante do Slavia Praga. A qualidade coletiva dos noruegueses outra vez se evidenciou, sobretudo no lindo gol que providenciou a igualdade nos minutos finais. Méritos também do Pafos, ao segurar a pressão do Olympiacos em Pireu para empatar por 0 a 0, embora tenha tido uma expulsão logo no primeiro tempo. Já o Kairat Almaty pode ter sido goleado pelo Sporting por 4 a 1 em Lisboa, mas demorou a ceder o resultado, com direito a pênalti defendido pelo goleiro Sherkhan Kalmurza. Os leoninos, contudo, capricharam nos golaços. Destaque à categoria de Francisco Trincão nas suas finalizações, bem como à jogadaça individual do garoto Geovany Quenda – mostra enorme do talento do prodígio de 18 anos. (Leandro Stein)
- É normal ver jogadores brasileiros menos conhecidos por aqui fazendo seus nomes na Champions League, mas esta rodada foi particularmente fértil a estes compatriotas. Gabriel Martinelli, Marquinhos e Yan Couto deixaram suas marcas, assim como os menos notáveis Robert, Edmílson e Alisson Santos. Formado pelo Cruzeiro, Robert está em sua segunda temporada no Copenhague e foi herói no empate por 2 a 2 contra o Bayer Leverkusen na Dinamarca. O ponta de 20 anos precisou de pouco mais de cinco minutos em campo para anotar o segundo gol de sua equipe. A goleada do Sporting contra o Kairat teve o dedo de Alisson Santos, ponta de 22 anos que rodou na Série C por Vitória, Náutico e Figueirense. Na temporada passada se destacou na segundona portuguesa pelo União de Leiria, para estrear na Champions de forma grandiosa. Já o gol de honra do Kairat foi do centroavante Edmílson, revelado pelo Velo Clube e que antes tinha se destacado na Eslovênia, pelo Celje. Lamento só pelo goleiro Luiz Júnior, do Villarreal, que estreou na Champions com uma falha clamorosa e facilitou a vitória do Tottenham por 1 a 0. O prata da casa do Mirassol, de 24 anos, tem capacidade para se reerguer. (Leandro Stein)
- O Flamengo não é um time tão constante, mas oferece momentos deslumbrantes, e assim foi no primeiro tempo da vitória sobre o Estudiantes – sobretudo nos 20 minutos iniciais. Os reforços de meio de temporada agregaram muito, com menção especial a Saúl Ñíguez, que recupera o futebol perdido há tempos, o que causava desconfianças em sua contratação. Varela e Plata atingem a melhor forma, enquanto Pedro retoma seus momentos mais prolíficos. É um coletivo que potencializa as individualidades e os dois gols foram pouco para a superioridade do Fla no início da partida. Até por isso, o placar de 2 a 1 nem parece tão bom, facilitado pela expulsão contestável de Plata, que empurrou os pincharratas ao ataque durante os minutos finais. A força evidente dos flamenguistas, de qualquer maneira, faz crer que o jogo em La Plata não será um problema. É um elenco muito superior, e com uma equipe que produz de forma condizente ao investimento. (Leandro Stein)
- A situação do São Paulo se tornou bem delicada na Libertadores, após a derrota por 2 a 0 para a LDU em Quito. O time de Hernán Crespo está abaixo dos demais brasileiros vivos na competição, mas poderia ser mais competitivo na ida das quartas de final. Permitiu que os Albos fossem mais contundentes no primeiro tempo e, diante das dificuldades para buscar o empate na segunda etapa, cederam o segundo gol – um custo bastante alto para recobrar o placar no Morumbis. O bom retorno de Crespo à casamata cessou e as instabilidades ficam mais evidentes, algo que quase prejudicou diante do Atlético Nacional nas oitavas de final. A Libertadores sempre será uma obsessão tricolor e um torneio de muita valia à torcida. Mas os são-paulinos teriam que correr por fora e, agora, mesmo a semifinal parece distante. (Leandro Stein)
- A arbitragem de Wilton Pereira Sampaio ficou sob os holofotes, mas o verdadeiro protagonista em Liniers foi Maravilla Martínez. O Vélez fez por merecer melhor sorte diante do Racing, prejudicado pela expulsão contestável e por um gol anulado que gerou muita discussão. Todavia, a Academia conseguiu uma valiosíssima vitória na ida graças a seu centroavante, mais e mais no rol dos principais goleadores sul-americanos da atualidade. Herói no título da Sul-Americana de 2024, Martínez também se isola na artilharia desta Libertadores, com sete gols. Ocupa um lugar especial na lista de ídolos do Racing neste século, ao lado de gente do calibre de Diego Milito e Lisandro López. Os dois antecessores, ainda que mais renomados, não causaram tanto impacto nas competições continentais. A volta da Academia às semifinais da Libertadores após 28 anos está próxima. (Leandro Stein)
- O grande nome da Copa Sul-Americana até o momento é Dayro Moreno. O atacante completou 40 anos nesta semana e comemorou com dois gols no dia seguinte, conduzindo o triunfo do Once Caldas por 2 a 0 sobre o Independiente del Valle no Equador. Convocado à seleção, o maior artilheiro da história do Campeonato Colombiano vive sua melhor campanha num torneio continental – o que não é pouco, para quem surgiu como uma jovem promessa no time campeão da Libertadores de 2004. São dez gols no torneio, maltratando o IDV prejudicado por uma expulsão precoce. Um cartão vermelho também atrapalhou o Alianza Lima, que só empatou por 0 a 0 contra a Universidad de Chile, no Peru. Já aos brasileiros, resta mostrar a força como mandantes. Num jogo sem tanta ação na Argentina, o Fluminense cedeu a derrota por 1 a 0 para o Lanús nos minutos finais. Já o Atlético Mineiro podia se considerar sortudo ao abrir dois gols de vantagem sobre o Bolívar em La Paz, mas o fôlego boliviano imperou para o empate por 2 a 2, mesmo com uma expulsão. Hulk, ainda teve a chance de garantir um resultado melhor com seu gol perdido. Apesar dos tropeços, a classificação permanece palpável tanto para Galo quanto para Flu. (Leandro Stein)
- A novela sobre o futuro de San Siro pode estar no fim com a aprovação da venda do terreno para Milan e Inter. A prefeitura de Milão deu um passo decisivo para comprar o terreno onde fica San Siro e, assim, construir um novo estádio no local. A aprovação foi dada na quarta-feira (17) e o valor a ser pago será de € 200 milhões. Há uma corrida contra o tempo: no dia 10 de novembro, o segundo andar de San Siro completará 70 anos da sua construção, o que o transforma em monumento de importância histórica e deixa a sua demolição muito mais complicada. A ideia é começar as obras antes de 10 de novembro e terminar até 2031, data limite para que a cidade seja sede da Eurocopa 2032. O novo estádio deve ser construído onde é atualmente o estacionamento de San Siro e deve ter a demolição de ao menos parte do atual estádio. (Felipe Lobo)
- A carreira de Renato Augusto não é tão linear, mas consegue transmitir o tamanho de seu talento. Tem uma Copa do Mundo no currículo e não é exagero colocá-lo entre os jogadores mais técnicos que já vestiram a camisa do Corinthians, além de carregar o carinho dos tempos em que surgiu como promessa no Flamengo e de quando viveu bons momentos no Bayer Leverkusen. As lesões não permitiram tudo o que poderia ser, entre a falta de sequência na Europa e ausência nos momentos cruciais no Mundial de 2018, mesmo dando um sopro de vida contra a Bélgica. Por isso, talvez a percepção sobre sua história seja acompanhada por um grande "e se…", pensando também no tempo em que optou por fazer seu pé de meia na China. Parecia ser um jogador de outra era do futebol, mais cadenciado, que prevaleceu por sua categoria muito acima da média. De qualquer maneira, não é pouco ter sido um dos atletas mais exuberantes a se exibir nos gramados do país na última década. Aposenta-se como um extraclasse. (Leandro Stein)
- Outro jogador notável a anunciar sua aposentadoria nos últimos dias foi Samuel Umtiti, e cedo demais, aos 31 anos. Por clubes, o francês foi menos do que poderia. É um ídolo do Lyon e teve seus momentos no Barcelona, mas as questões físicas aceleraram seu adeus, com a volta modesta ao Lecce e a despedida mais recente no Lille. A seleção francesa é que o transforma num gigante, pelo desempenho espetacular na Copa do Mundo de 2018. O beque nem atuou tanto assim pelos Bleus, com 31 aparições, ganhando a posição durante a Euro 2016. A Rússia é seu ápice, quando justamente se sacrificou diante das lesões e teve atuações gigantescas, especialmente ao marcar o gol contra a Bélgica que valeu a classificação para a final. O peso de ser campeão do mundo nunca ninguém vai tirar. A dupla com Raphaël Varane, por sete jogos, se provou lendária o suficiente. (Leandro Stein)
- ‘Você paga pra jogar a Série D’: por que os clubes emergentes criticam o calendário, em matéria da Sport Insider em parceria com o Estadão. A matéria explora o paradoxo do calendário no Brasil: enquanto os clubes mais ricos reclamam de um calendário inchado, clubes emergentes sofrem com a falta de calendário. E é um pouco de Meiocampo no Sport Insider, porque foi feita por este que vos escreve (Felipe Lobo)