Novo calendário do futebol brasileiro é uma evolução com passos calculados
Dizer que o novo calendário é uma revolução talvez seja um exagero, mas a proposta é uma evolução inegável. No entanto, também carrega as marcas de costuras políticas e deixa arestas a serem aparadas.
Newsletter Meiocampo - 3 de outubro de 2025
O futebol brasileiro passará por uma grande mudança com seu novo calendário, mudando rumos de clubes em diferentes divisões e nos mais variados estados. No entanto, qual o real impacto das transformações? É o que discute a Newsletter Meiocampo desta sexta-feira, com textos complementares sobre a situação de Endrick no Real Madrid e o destaque de Igor Paixão na rodada da Champions. Por fim, nosso amplo giro fala de diversas partidas pelas copas europeias e outros assuntos mais.
Vale lembrar: as edições de terça-feira e eventuais extras são exclusivas para assinantes. Às sextas-feiras, continua o conteúdo gratuito aberto ao público. Sugestões, críticas, elogios, quer só mandar um abraço: contato@meiocampo.net.
O MEIOCAMPO PRECISA DE VOCÊ!
O Meiocampo é feito com cuidado, independência e paixão por futebol internacional. A cada edição, entregamos contexto, análise, opinião e boas histórias — sem correr atrás do clique fácil, sempre do jogo bem contado.
Se você já lê, curte e recomenda, considere ir um passo além:
Assine gratuitamente para receber direto no seu e-mail
Compartilhe com quem também ama futebol bem tratado
Apoie financeiramente, se puder — isso nos ajuda a manter e expandir o projeto
Afinal, quem gosta de futebol merece uma cobertura à altura.
Novo calendário do futebol brasileiro é uma evolução com passos calculados
Por Felipe Lobo
FOTO: @rafaelribeirorio / CBF
“Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”
A frase de Lulu Santos serviu por décadas como trilha sonora não oficial para as mudanças no futebol brasileiro. Lentas, tímidas, quase imperceptíveis. Desta vez, porém, os passos foram mais largos. A CBF anunciou uma profunda reestruturação no calendário para o ciclo 2026-2029, a mais significativa desde a adoção dos pontos corridos em 2003. O diagnóstico que a motivou era claro e insustentável: um excesso de jogos para a elite, que sobrecarregava os atletas, e um deserto de oportunidades para a base da pirâmide, com a maioria dos clubes do país encerrando suas atividades em abril. Isso nunca pareceu incomodar muito a CBF, mas desta vez, sob nova gestão, a mudança veio.
Dizer que é uma revolução talvez seja um exagero, mas a proposta é uma evolução inegável. Valoriza o Campeonato Brasileiro, amplia as competições nacionais e ataca o anacronismo dos Estaduais. No entanto, como em toda grande mudança no nosso futebol, ela também carrega as marcas de suas costuras políticas e deixa arestas importantes a serem aparadas.
A esperada redução dos estaduais
“Não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais”
O ano de 2026 começará com os campeonatos estaduais em 11 de janeiro, mas eles serão mais curtos. O limite, que era de 16 datas em 2025, cai para 11, com término previsto para 8 de março. É uma redução aguardada e necessária. O passo mais importante, contudo, é outro: o Brasileirão da Série A começará simultaneamente, em 28 de janeiro. Ao colocar seu principal produto para concorrer diretamente com os torneios locais, a CBF finalmente os coloca em seu devido lugar.
A tendência é que, sem o período de exclusividade que nunca fez sentido, percam relevância naturalmente. Tudo indica que essa não será a última mudança dos estaduais. É de se esperar uma alteração ainda maior para o próximo ciclo, 2030-2034, que também marcará o início de novos contratos de TV do Campeonato Brasileiro. Com a duração aumentada e, quem sabe, com uma liga unificada, o produto tende a se valorizar ainda mais, pressionando os torneios locais.
Brasileirão de janeiro a dezembro
O calendário nacional será aberto pela Supercopa do Brasil em 24 de janeiro, mas a grande estrela, o Campeonato Brasileiro, começa logo depois, no dia 28. A antecipação é necessária para acomodar a longa parada para a Copa do Mundo, que vai de 11 de junho a 19 de julho. A competição será retomada após o Mundial e se estenderá até 2 de dezembro.
Essa duração inédita transforma o Brasileirão em uma verdadeira maratona e, finalmente, o torna a espinha dorsal da temporada. Idealmente, o período entre o fim de uma edição e o início de outra poderia ser maior para criar expectativa — na Europa, as temporadas acabam em maio e só retornam no fim de agosto. Mesmo assim, a mensagem é clara: o campeonato mais importante do país agora ocupa o ano inteiro.
É uma valorização do torneio e exigirá mais dos times em termos de planejamento para a temporada, além de tornar o produto mais atraente para quem transmite, o que também é fundamental.
Copa do Brasil: mais aberta, mas com dupla personalidade
A Copa do Brasil se estenderá de 18 de fevereiro a 6 de dezembro, fechando a temporada nacional. O número de participantes saltou de 92 para 126, um aceno às federações estaduais e uma oportunidade de receita para clubes menores, atraídos pelas altas premiações.
Outra mudança relevante é a entrada garantida dos 20 clubes da Série A diretamente na quinta fase. A medida reverte uma alteração da gestão anterior, que visava fortalecer os estaduais. Agora, elimina-se o risco de um time da primeira divisão ficar fora do torneio, o que é positivo para a competição e para a TV, além de reduzir de uma a três datas para esses clubes.
O que não é só bom: os clubes mais bem colocados poderiam entrar nessa fase, talvez os seis primeiros, mas os demais poderiam jogar fases anteriores. Ter 20 das 32 vagas da quinta fase definidas previamente parece um exagero e torna as fases anteriores um funil estreito demais.
O formato, porém, é inconsistente. As quatro primeiras fases serão em jogo único, mas da quinta fase até a semifinal, os confrontos passam a ter ida e volta, justamente quando os times da Série A entram na disputa — uma aparente proteção contra zebras. O formato deveria ser mais consistente: jogo único em todas as fases, sendo as quatro primeiras fases na casa do time de menor ranking e da quinta fase em diante com sorteio de mando. Seria mais condizente com a proposta. Ou então que fosse em ida e volta até a final, ao menos.
A final, por sua vez, passa a ser em jogo único, uma novidade que pode criar um grande evento, mas que carrega os mesmos desafios logísticos vistos na Libertadores e impede que um clube seja campeão em casa. Cria um grande evento, sem dúvida, ainda mais por ele fechar a temporada do futebol brasileiro, mas os questionamentos são válidos olhando para o exemplo sul-americano.
Série B: um ritmo próprio
A Série B foi uma das competições que menos mudou. A fórmula foi mantida, e o início será apenas em 21 de março, com término em 28 de novembro. O começo tardio em relação à Série A, explicado pela parada menor durante a Copa do Mundo, ainda causa estranheza. Mesmo assim, a duração total aumentou, e os times da divisão poderão se dedicar mais aos estaduais e às controversas copas regionais.
Série C: a longa espera por mais jogos
É nas divisões inferiores que a reestruturação mostra seu maior impacto. Na Série C, o pleito dos clubes por um formato de turno e returno entre os 20 participantes, como nas Séries A e B, não foi atendido. Em vez disso, a CBF optou por um aumento gradual de participantes: de 20 para 24 em 2027, e para 28 em 2028.
Até lá, a fórmula de turno único na primeira fase será mantida. A grande mudança virá em 2028, quando os 28 clubes serão divididos em dois grupos de 14, com jogos de ida e volta dentro das chaves, garantindo um mínimo de 26 partidas — um avanço em relação às 19 atuais. O mata-mata final definirá os acessos e o campeão, que também ganhará uma vaga na Copa do Brasil.
Série D: mais vagas, mas a mesma maratona curta
A Série D foi a que mais mudou, com um salto de 64 para 96 participantes a partir de 2026. A medida mais importante, atendendo a um pedido antigo, é que os 32 clubes que avançarem à terceira fase garantem vaga na edição do ano seguinte. Acaba, assim, a crueldade de times que faziam boas campanhas, mas precisavam recomeçar do zero via estadual.
Além dos 32 classificados do ano anterior, para completar os demais 64 participantes será assim:
Os quatro rebaixados da Série C do ano anterior;
Quatro representantes do primeiro estado do Ranking Nacional das Federações (RNF)
Três representantes dos estados da segunda à nona posição do RNF
Dois representantes do décimo ao vigésimo colocados do RNF
Um representante dos últimos quatro estados do RNF (atualmente, de Roraima, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Amapá), mas todos ganham uma vaga extra para compensar os clubes que subiram
A ideia de dar vagas extras aos estados pior colocados no ranking para compensar os acessos é boa e faz sentido no sentido de nacionalização da competição. Mas a parte boa acaba aí.
A fórmula de disputa continua a mesma, o que é um problema. São 16 grupos de seis clubes cada, com ida e volta dentro do grupo, totalizando 10 jogos. Os quatro primeiros avançam para a segunda fase, com 32 confrontos em mata-mata, ida e volta (com 64 clubes). Os 32 que avançarem à terceira fase garantem participação na Série D do ano seguinte.
Uma novidade está nas quartas de final. Os quatro classificados à semifinal sobem para a Série C. Os quatro eliminados disputam um playoff por duas vagas que também sobem à terceira divisão. O campeão da Série D garante vaga na Copa do Brasil.
Regionais: o avanço de uns sobre os outros
“Ainda vai levar um tempo pra fechar o que feriu por dentro”
Os regionais são uma novidade do calendário, ao menos com a criação de um torneio que ninguém pediu: a Copa Sul-Sudeste. Além dela, ainda haverá a Copa do Nordeste e a reformulada Copa Verde, que incluirá clubes do Norte e Centro-Oeste do país.
Os regionais serão disputados em 10 datas, do dia 25 de março ao dia 7 de junho. Ou seja, depois do término dos estaduais. O grande ponto é que os clubes que estiverem classificados às competições da Conmebol não irão jogar esses torneios. Em 2024, 14 clubes da Série A estiveram em competições sul-americanas. Se para a recém-criada Copa Sul-Sudeste isso é indiferente, para a Copa do Nordeste é uma ferida profunda. O torneio mais charmoso e bem-sucedido do país será esvaziado de suas principais forças.
A Copa do Nordeste se tornou uma alternativa rentável para os deficitários estaduais da região. Com tantos bloqueios para que os clubes joguem a competição, isso pode ser problemático para as equipes nordestinas.
Os estaduais, com suas 11 datas, são muito mais problemáticos para os nordestinos do que para os demais clubes, porque o regional é muito mais importante econômica e esportivamente. As reações dos clubes nordestinos já mostraram que isso terá que ser mudado com o tempo.
Com exceção da Copa do Nordeste, que acabou prejudicada, os demais regionais tendem a ser positivos para os clubes que o disputarem. É bem provável que a maioria dos maiores clubes do país não jogue a Copa Sul-Sudeste. Até porque a CBF tornou a participação no torneio opcional.
A leitura política é inevitável: o Nordestão foi enfraquecido para abrir espaço no calendário e justificar a criação de outros torneios, em um movimento que agrada a mais federações, mas sacrifica o único regional que deu certo por conta própria. Incluir essas datas nos campeonatos nacionais, em vez de criar novas copas, faria mais sentido.
Um avanço que não pode parar
As mudanças são, no geral, positivas. A CBF conseguiu reduzir o calendário para quem joga demais e, principalmente, aumentar para quem quase não joga. Contudo, ainda há um caminho a percorrer. O problema das Datas Fifa não foi resolvido — os jogos ocorrerão no dia seguinte ao período reservado às seleções, e os clubes continuarão desfalcados. O período de férias e pré-temporada, embora melhor, ainda não é o ideal.
O presidente da CBF, Samir Xaud, cumpriu a promessa de reformar o calendário. Por muito tempo, vimos o futebol no país caminhar “com passos de formiga e sem vontade”. Agora, o passo foi firme. Para citar Lulu Santos pela última vez: não vou dizer que foi ruim, também não foi tão bom assim. Mas, sem dúvida, foi um começo.
PODCAST MEIOCAMPO #173
A CBF apresentou a maior mudança no futebol brasileiro desde a introdução dos pontos corridos, com um novo calendário de 2026 a 2029. São muitas mudanças significativas, dos estaduais ao Brasileiro, passando pelas divisões inferiores. Falamos sobre as novidades, as coisas boas e as nem tão boas assim do calendário. Tem também a Champions League, com uma rodada neste meio de semana.
Ouça também no Spotify, iTunes ou no seu tocador de preferência.
O caso Endrick
Por Bruno Bonsanti
O Real Madrid estava vencendo o Kairat Almaty, do Cazaquistão, por 2 a 0, quando Xabi Alonso fez suas duas primeiras substituições. Endrick não entrou. O placar havia sido ampliado para 3 a 0 quando Alonso queimou as outras três que tinha à disposição. Endrick também não entrou.
Endrick não jogou um minuto nesta temporada. Nem contra o Kairat Almaty, do Cazaquistão.
Problemas físicos atrapalharam sua pré-temporada. Ele sofreu duas lesões na coxa que o deixaram fora da Copa do Mundo de Clubes, amistosos de preparação e das quatro primeiras rodadas da nova temporada de La Liga. E como ele presta serviços ao Real Madrid, não é que a concorrência ficou menor nesse período. Ainda assim, chama a atenção que nem em uma situação tão favorável quanto uma situação pode ser favorável no mundo do futebol profissional ele ganhe uma chance.
Isso é um problema. Queremos que Endrick jogue todas as semanas, não apenas porque nascemos no mesmo país, mas também porque a seleção brasileira precisa de um centroavante como o que ele pode se tornar. Então é natural que, em toda partida do Real Madrid, haja um acompanhamento e uma cobrança. Cadê o Endrick? Coloca o Endrick!
Mas esse problema é nosso. Não necessariamente do Real Madrid, ou do Xabi Alonso.
Congelar Endrick pode ser um erro a médio ou longo prazo, mas, neste momento, Alonso parece entender que há outras prioridades. E podemos discordar, mas não é um absurdo. Primeiro porque Endrick briga diretamente por posição com Kylian Mbappé, um fominha que disputa todas as partidas e raramente é substituído. Quando o é, ou quando Alonso opta por uma alteração tática, os minutos estão indo para Gonzalo García, que foi bem no Mundial e é dois anos mais velho.
O surgimento de García é o mais relevante por ser da posição natural de Endrick, mas mesmo se ele precisasse se contentar com as pontas, Arda Güler está em um excelente começo de temporada, Brahim Díaz é um jogador mais estabelecido e Franco Mastantuono chegou chegando, apesar de ser mais jovem. Rodrygo, que literalmente já decidiu título de Champions League, também está com problemas para encontrar espaço no momento.
Enquanto esses jogadores chegavam ou impressionavam Alonso nos treinos ou mesmo em partidas oficiais, Endrick estava machucado. E ele não carregava muito crédito da temporada anterior porque também não teve tantas oportunidades quanto se esperava com Carlo Ancelotti. Disputou apenas 847 minutos e foi titular oito vezes. Sem uma sequência, é até injusto avaliar seu desempenho, mas não é que estava pedindo passagem, apesar de alguns gols decisivos na Copa do Rei.
Tenho certeza que ninguém duvida do quanto é talentoso. Se encontrarmos Xabi Alonso depois de algumas taças de vinho, ele provavelmente concordará que Endrick é melhor que Gonzalo García. Mas como ele não trabalha para a seleção brasileira, nem para Endrick, desenvolvê-lo não é sua principal preocupação. É ganhar jogos pelo Real Madrid. Principalmente em um começo de trabalho. Principalmente em um começo de carreira. Seu cálculo é que, no momento, outros jogadores contribuem mais para essa causa.
O caso de Estêvão é parecido, mas menos drástico. Porque pelo menos ele está jogando. Participou de todas as partidas da temporada, exceto contra o Brentford, porque estava doente. A concorrência não é menor no Chelsea, famoso pelo excesso de contratações desde que foi comprado pelo consórcio americano. De qualquer maneira, é outra revelação que saiu do Brasil como um craque, entre os melhores jogadores em atividade por aqui, tendo que se contentar com um papel secundário - ou pior.
Não acho que isso seja um atestado de qualidade do futebol brasileiro ou de implicância europeia com as promessas brasileiras. São garotos muito jovens que ainda precisam se desenvolver fisicamente e estão se adaptando a uma sobrecarga de novidades: estilo da liga, cultura, companheiros de vários países, a cidade em que passaram a morar, etc, etc.
Mas precisam jogar mais. Tanto Endrick quanto Estêvão quanto o próximo. Os clubes mais ricos do mundo não vão parar de contratar adolescentes sul-americanos. É só um ótimo negócio: fica muito mais barato arriscar no atacado enquanto eles são jovens do que esperar que se desenvolvam.
A questão é que, para o Real Madrid, se Endrick não der certo, é quebra. Para o futebol brasileiro, é meio que um desastre - ou, pelo menos, um grande pecado.
Defender um clube tão badalado quanto o Real Madrid é atraente, principalmente para um adolescente, e as incertezas da carreira, a iminência de uma lesão que pode mudar tudo, apenas os empurram ainda mais a aceitar a primeira grande proposta que aparecer. Mas é importante ter um pouco de perspectiva e confiança no próprio taco. Talvez seja melhor esperar um pouco e sair do Brasil aos 21 anos, quando todos os aspectos do jogador e da pessoa estão mais maduros, ou fazer um pit stop em um clube europeu menor, mas que lhe garanta tempo em campo.
Vinicius Jr também teve que esperar quando chegou ao Real Madrid e deu certo para ele. Deu certo para outros. Ainda pode dar para Endrick e Estêvão. Mas a receita atual não parece ser a melhor.
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA NEWSLETTER…
A Newsletter Meiocampo conta com duas edições fixas semanais: às terças, exclusiva para assinantes, e às sextas, gratuita para o público em geral. Ocasionalmente, nossos assinantes também ganharão textos extras. Na última terça, prestamos tributo ao Amigão Paulo Soares, além de falarmos sobre o Dérbi de Madri e trazermos os destaques da Conference League num mini-guia.
Igor Paixão: a beleza de suas escolhas
Por Leandro Stein
Defender um clube tradicional, conquistar títulos importantes, virar ídolo de uma grande torcida. Diante da evolução na carreira, dar um passo à frente e vestir uma camisa ainda mais pesada, numa liga de maior projeção. Então, numa rodada de grandes atuações individuais na Champions League, ter cacife para se reivindicar como a melhor – e logo na noite em que fez os primeiros gols pelo novo time. O roteiro é de sonho para qualquer jogador, mas não precisa ser necessariamente óbvio nas escolhas de carreira. Com um caminho próprio, Igor Paixão escreve uma história autoral em alto nível no futebol europeu, de xodó do Feyenoord a grande contratação do Olympique de Marseille.
A concentração de dinheiro restringe destinos aos jogadores brasileiros na Europa. O grande sonho é defender o todo-poderoso de uma liga rica: um Big Six da Inglaterra, Barcelona ou Real Madrid, quem sabe Bayern de Munique ou Paris Saint-Germain. Até o trio de ferro da Itália cai em desprestígio. Antes disso, o trampolim mais comum vem sendo as equipes menores da Premier League, de qualquer patamar da tabela, desde que tenham muita grana e deem visibilidade. Uma trajetória que, nos últimos anos, virou base para qualquer grande promessa surgida no Brasil.
Os mais badalados dão um salto direto às potências, o que nem sempre é garantia de emplacarem – vide o que diz o texto acima, sobre Endrick e Estevão. Aqueles que não chegam a tanto buscam um estágio bem sucedido num Wolverhampton ou Nottingham Forest da vida. Como se o futebol não tivesse outras histórias, outros ambientes, outras vivências. Outras maneiras de se engrandecer. Por isso mesmo, é tão bacana notar o impacto de Igor Paixão em sua empreitada.
Quando estourou pelo Coritiba, no acesso conquistado na Série B em 2021, Igor Paixão não era incensado o suficiente para mirar um Chelsea ou um Real Madrid. A porta que se abriu no ano seguinte foi a da Eredivisie, em um país que outrora alavancou lendas do futebol brasileiro. Os Romários e Ronaldos atuais não escolhem mais o futebol holandês, até pelas disparidades escancaradas a partir da Lei Bosman. O patamar do ponta amapaense naturalmente era mais baixo. Mas o Feyenoord não deixou de ser uma escolha interessante para se desenvolver, enquanto também lançava seu nome com uma camisa tradicional.
Igor Paixão ficou três temporadas no Estádio De Kuip. Fez o suficiente para ganhar a gratidão eterna da torcida. No primeiro ano, embora cavando sua vaga como titular na reta final do campeonato, fez a diferença para o título da Eredivisie. O segundo ano serviu para sua confirmação como estrela, ao marcar o gol que valeu a conquista da Copa da Holanda. Já no terceiro ano, mesmo sem novos troféus, Igor teve seus números mais avassaladores na liga nacional e despontou na Champions, com influência clara na caminhada até as oitavas de final. Roterdã estava a seus pés.
A esta altura, a maioria dos jogadores brasileiros daria o passo em busca da Premier League. Igor Paixão tinha essa possibilidade, diante do interesse do recém-promovido Leeds United. Muito melhor foi sua decisão de seguir ao Olympique de Marseille, um clube inegavelmente maior e de mais projeção em seu país. A evolução estava clara, ao sair da Eredivisie para a Ligue 1. E isso sem abdicar de um ambiente caloroso nas arquibancadas, até mais, ao trocar o De Kuip pelo Vélodrome. Isso sem perder o espaço conquistado na Champions.
Durante suas duas primeiras temporadas no Feyenoord, Igor Paixão teve a sorte de ser pupilo de Arne Slot. Pôde receber lições de um dos melhores treinadores da Europa, prestes a dar o salto em sua carreira. Em Marselha, o brasileiro também tem um mestre tão bom quanto. Roberto De Zerbi poderá valorizar o jogo ofensivo do ponta, assim como agregar conceitos relativos ao trabalho coletivo. Aos 25 anos, nota-se uma promessa consolidada, com cada vez mais recursos.
O Olympique de Marseille confiou em Igor Paixão. Num mercado bastante movimentado do clube, o brasileiro foi a contratação mais cara, por €30 milhões – mais que o sêxtuplo dos €4,5 milhões pagos pelo Feyenoord ao Coritiba três anos antes. Acima disso, Igor se tornou o segundo reforço mais caro da história dos marselheses. Elevou o nível na ponta, após a venda de Luis Henrique à Internazionale por €23 milhões. Uma decisão da diretoria que começa a se pagar em campo.
Por conta de uma lesão muscular, Igor Paixão se ausentou nos primeiros jogos do Olympique na Ligue 1, mas aos poucos ganha espaço como titular. Diante do Real Madrid, na estreia da Champions, saiu do banco no segundo tempo. Seu primeiro jogo no 11 inicial pela competição foi nesta semana, dentro do Vélodrome. Quis o destino que diante do Ajax, um velho conhecido recorrentemente maltratado na Eredivisie. Igor fez de novo. Marcou dois gols, dando doses de sua velocidade e da qualidade no chute de fora da área. Também serviu um lindo passe para Pierre-Emerick Aubameyang fechar o placar em 4 a 0. Ofereceu motivos para sair de campo ovacionado, mesmo só inaugurando sua contagem com a camisa alviceleste. “Só“, mas com dois gols e uma assistência.
Igor Paixão tem talento para brigar por uma vaga na Copa do Mundo, embora ocupe uma das posições mais concorridas da Seleção. Não é exagero dizer que já merecia um teste bem antes, com sua única convocação limitada a um amistoso com o time olímpico em 2023. O ponta esquerda não possui o glamour da Premier League a seu favor, mas rendeu sob os olhares de duas das torcidas mais fervorosas da Europa. E quando os holofotes da Champions se concentraram nele, o amapaense não titubeou.
Tende a ser tarde para o Mundial. Mas, aos 25 anos, ter esse cartaz em Feyenoord e Olympique já mostra como as escolhas de Igor Paixão se pagaram. Era o tipo de carreira que, se fosse um jogador com nível de Seleção, eu gostaria de ter – mais do que brigar pelo meio de tabela na Premier League ou por um título de Copa da Liga. A idolatria de uma torcida de massa soa mais bonita.
GUIA MEIOCAMPO DA CHAMPIONS LEAGUE
Saudades dos grandes guias de competições? A Newsletter Meiocampo ofereceu uma edição especial com o Guia da Champions League 2025/26, publicado em duas partes. Confira a primeira parte aqui e a segunda parte aqui.
GUIA MEIOCAMPO DA LIGA EUROPA
A Newsletter Meiocampo também publicou uma edição especial com o Guia da Liga Europa 2025/26. Confira aqui.
Giro
- Eu não sei se tem alguma tendência que una todos eles, exceto, talvez, o quanto eles são bons em futebol, mas os começos de temporada de Kylian Mbappé, Harry Kane e Erling Haaland são para os livros de história. Mbappé marcou três vezes contra o Kairat e chegou a 13 gols em nove partidas pelo Real Madrid. Está meio que carregando o time nas costas enquanto Xabi Alonso ainda ajusta os ponteiros. Haaland faz papel parecido para Guardiola, com 11 gols em oito jogos. Fez dois contra o Monaco, mas o Manchester City não conseguiu segurar a vitória. Também é um trabalho em andamento. Talvez pelo fato de o Bayern estar em um estágio mais avançado as estatísticas de Harry Kane sejam ainda melhores. O maluco já marcou 17 (!) vezes e ainda estamos no começo de outubro. (Bruno Bonsanti)
- O Galatasaray foi um dos protagonistas da janela de transferências, o que deixou todo mundo bastante confuso quando levou 5 a 1 do Eintracht Frankfurt na primeira rodada da Liga dos Campeões. Na última terça-feira, porém, conseguiu uma vitória grande o suficiente para justificar a badalação. Nem tanto pelo resultado, ou pela maneira como o construiu, com um gol de pênalti de Victor Osimhen, mas porque impôs ao campeão inglês sua pior partida na temporada até agora. E não foi um acaso. O Galatasaray conseguiu ser ainda melhor no segundo tempo, quando Arne Slot tirou Mohamed Salah, Alexander Isak e Alexis Mac Allister do banco de reservas, do que no primeiro. Além do gol, Osimhen causou problemas constantes à meta defendida por Alisson, substituído no começo da etapa final por lesão. Foi um lembrete, no maior dos palcos, de que ainda é um dos melhores centroavantes do mundo. (Bruno Bonsanti)
- PSG e Barcelona fizeram um duelo muito esperado, mas também muito desfalcado, pela Champions League. Catalães e parisienses tiveram muitos problemas físicos no elenco, mas os franceses conseguiram vencer, mesmo sem ter seus três jogadores de frente – Khvicha Kvaratskhelia, Desiré Doué e o Bola de Ouro Ousmane Dembélé. O trio de frente teve Ibrahim Mbaye, Senny Mayulu e Bradley Barcola. Embora saindo atrás no placar após o gol de Ferran Torres, os comandados de Luis Enrique fizeram um grande jogo para virar para 2 a 1, com gol de Senny Mayulu, ainda no primeiro tempo, e do reserva Gonçalo Ramos, já aos 90 minutos. Os dois times tiveram muitas chances, mas o PSG mostrou ser uma equipe mais pronta, mesmo com desfalques, e o resultado pode ser importante na classificação. O time francês sofreu para se classificar na temporada passada, então ter mais tranquilidade este ano parece um objetivo mais plausível. (Felipe Lobo)
- Martin Odegaard tem sofrido com lesões, mas, quando está em campo, possui condições de ser um diferencial para o Arsenal. Foi assim na vitória sobre o Olympiacos por 2 a 0, com sua participação direta nos dois gols. Foi dele o passe para Viktor Gyokeres finalizar e a bola sobrar para Gabriel Martinelli marcar o primeiro e, no segundo, deu a assistência para Bukayo Saka fazer o gol. E não foi mais porque seus companheiros perderam chances, como o próprio atacante sueco e Leandro Trossard. O próprio Odegaard perdeu uma boa chance. Quando o norueguês está em um dia como esse, o Arsenal ganha um maestro do mais alto nível. Um camisa 10 que veste a 8. (Felipe Lobo)
- Julián Álvarez assumiu o protagonismo do Atlético de Madrid e tem sido o ponto de virada de um time que parece, enfim, ter achado um caminho. O atacante brilhou mais uma vez na goleada dos colchoneros sobre o Eintracht Frankfurt por 5 a 1 no Metropolitano, com direito a duas assistências e gol de pênalti com uma perigosa cavadinha. Álvarez é letal em todas as áreas do campo, caindo pelos lados ou pelo centro. É a referência do time tanto do ponto de vista tático, como principal atacante, como também do ponto de vista técnico, como o jogador que pode decidir. Antoine Griezmann segue como um craque, mas é um veterano. Cabe a Álvarez ser o protagonista da orquestra de Diego Simeone, que tem vários bons coadjuvantes, como Giuliano Simeone e, no jogo contra os alemães, também Giacomo Raspadori, contratação desta temporada. (Felipe Lobo)
- Rodrygo começou no banco no jogo do Real Madrid, mas conseguiu aproveitar bem o seu tempo em campo. O atacante entrou aos 25 minutos da etapa final do duelo contra o Kairat e participou diretamente de dois gols do time, o terceiro de Kylian Mbappé e deu a assistência para o gol de Eduardo Camavinga. Foram poucos minutos, mas suficientes para mostrar que atuando ali na ponta esquerda ele pode ser muito perigoso. O brasileiro entrou no lugar de Franco Mastantuono, que tem ganhado espaço com Xabi Alonso. Depois de já ter começado bem a estreia contra o Olympique de Marseille na Champions, Rodrygo indica que pode complicar a vida de Vinícius Júnior, que atua naquela faixa de campo e não tem sido tão regular quanto em outros tempos. (Felipe Lobo)
- Sair do Manchester United já costuma ser um bom primeiro passo para reencontrar a felicidade de viver. Sair do Manchester United e começar a receber passes de Kevin de Bruyne é ainda melhor. Principalmente quando o belga consegue encaixar jogadas à moda antiga, como a arrancada em contra-ataque antes da assistência precisa para Rasmus Hojlund abrir o placar contra o Sporting. O cruzamento para o segundo gol não foi menos perfeito. Ainda com 22 anos, Hojlund está aproveitando a ausência de Romelu Lukaku, e a parceria com De Bruyne, para ganhar moral com Antonio Conte e reconstruir a sua reputação. Enquanto isso, o Napoli conseguiu se recuperar da derrota para o Manchester City e somou seus primeiros pontos na Liga dos Campeões. (Bruno Bonsanti)
- Nick Woltemade foi caro mesmo. O Newcastle pagou € 75 milhões por um atacante de 23 anos que tinha apenas uma boa temporada de Bundesliga no currículo. Mas Karl-Heinz Rummenigge também não precisava chamá-lo de idiota - entre aspas, para amenizar. O que ele estava querendo dizer é que chegou uma hora que o Bayern decidiu encerrar as negociações com o Stuttgart porque as exigências estavam ficando grandes demais. Como o Newcastle estava desesperado por um centroavante, e prestes a receber quase o dobro daquele valor por Alexander Isak, a resposta inglesa foi diferente. Enfim, circunstâncias. De qualquer maneira, o melhor palco para rebater as críticas é sempre o campo, e Woltemade começou bem, com três gols em seis partidas. É uma ameaça pelo alto, mas, contra a Union Saint-Gilloise, foi esperto por baixo para desviar de letra a batida de Tonali. (Bruno Bonsanti)
- Alguns jogadores se transformam com a camisa de um só clube, e este parece ser o caso de Jens Petter Hauge no Bodo/Glimt. O ponta ainda é jovem, aos 25 anos, mas não emplacou em suas passagens por Milan, Eintracht Frankfurt e Gent. Bastou voltar para o Círculo Polar Ártico e se tornou de novo um monstro, como bem viu o Tottenham nesta rodada da Champions. Hauge fez miséria contra os Spurs. Anotou dois gols, em ambos dando cortes secos em Pedro Porro, o segundo particularmente humilhante. Das 18 finalizações de seu time, cinco vieram em seus arremates e outras cinco surgiram a partir de seus passes. Driblou com qualidade, passou com precisão, marcou com empenho. Noite de gala na Noruega, que só não foi premiada com a vitória por um desafortunado gol contra, que concedeu o empate por 2 a 2 aos londrinos no fim. Uma pena ao craque da noite. (Leandro Stein)
- Apesar das declarações deploráveis da direção do Bayern sobre a contratação de Nicolas Jackson, o atacante prova seu valor em Munique. Oferece alternativas interessantes ao ataque de Vincent Kompany e ganha sequência. É uma reinvenção do jovem, depois de meses massacrado no Chelsea. Jackson se beneficia do ambiente mais estável e, principalmente, dos companheiros que impulsionam seu futebol. Fica mais fácil de brilhar quando um Harry Kane se encarrega de ditar as goleadas e ainda oferece passes açucarados, ou quando um Michael Olise enfileira adversários com seus dribles antes de rolar a bola para você definir. Nos 5 a 1 contra o Pafos, o senegalês saiu de campo com gol e assistência. Mais importante, com a confiança dos companheiros e a serenidade de amadurecer seu jogo. (Leandro Stein)
- A estreia do Borussia Dortmund em casa na Champions ofereceu um dos ambiente mais legais da rodada, e não apenas por conta da Muralha Amarela. A torcida do Athletic Bilbao teve presença massiva no Signal Iduna Park e fez uma festa bonita, apesar da goleada sofrida por seu time. Os 4 a 1 assinalados pelo BVB reiteram a maturidade do time de Niko Kovac e a fluidez do jogo, em especial pelos lados do campo. Apesar de certos momentos de dificuldade, quando houve risco de ceder o empate, a qualidade ofensiva aurinegra apareceu. No entanto, é também um momento muito frágil do Athletic. As expectativas de uma grande temporada, mantendo o tom da última, não se cumprem. As vitórias nas três primeiras rodadas de La Liga foram carregadas por Nico Williams, que se lesionou durante a Data Fifa. Desde então, os Leones não venceram mais, com seis partidas em jejum e tropeços contra rivais inclusive mais frágeis. Ainda que as derrotas na Champions, para Arsenal e Dortmund, sejam compreensíveis, as dificuldades de competir mais geram claras preocupações. (Leandro Stein)
- A lista de times com 100% de aproveitamento na Champions inclui Bayern, Real Madrid, PSG, Inter, Arsenal e… o intruso Qarabag. Os azeris continuam no pelotão inicial do torneio, com a segunda vitória consecutiva. Se a espetacular virada sobre o Benfica na Luz soa como milagre, nesta rodada a equipe cumpriu com a obrigação em Baku, ao bater o Copenhague por 2 a 0. Foi um primeiro tempo dominado pelo Qarabag, em que o gol solitário ficou barato, e uma pressão imensa dos dinamarqueses na segunda etapa, com a tranquilidade só garantida no final pelo tento do substituto Emmanuel Addai. O sucesso inicial dos azeris tem assinatura brasileira. O meio-campo funciona a partir das grandes atuações do volante Pedro Bicalho, cria do Palmeiras. Ao seu lado, o cérebro do clube em diferentes empreitadas europeias é o rodado Kady Borges, formado pelo Coritiba. Quem também aparece bem na lateral direita é Matheus Silva, ex-Bahia. (Leandro Stein)
- É um pouco cedo para a torcida do Nottingham Forest cantar que Ange Postecoglou será demitido pela manhã, o jeito que os ingleses mais usam para expressar insatisfação com o comando técnico, mas você já deu uma olhada nos resultados? Postecoglou ainda não venceu após seis partidas e acabou de perder para o Midtjylland, da Dinamarca, no retorno das competições europeias ao City Ground. E o próprio não se ajuda. Depois de perder para o Arsenal em sua estreia, perguntaram quanto tempo demoraria para o time ter a sua cara e ele respondeu: quarta-feira. Aquela quarta-feira chegou, e o Forest foi eliminado da Copa da Liga pelo Swansea. O problema é o mesmo dos tempos de Tottenham. A defesa simplesmente não funciona - ou não existe. O Midtjylland marcou em duas jogadas de bola parada e em um contra-ataque que estava em três contra um na altura do meio-campo. Não era melhor ter tirado alguns meses de férias? (Bruno Bonsanti)
- Tem coisas que só acontecem com a Roma. Inclusive, conseguir perder três vezes o mesmo pênalti. Desde que Gian Piero Gasperini chegou à capital, a Loba tem conquistado bons resultados, mas não com atuações condizentes. Isso quase aconteceu de novo na Liga Europa em um jogo no qual o Lille era melhor e mais eficiente no Estádio Olímpico, mas os giallorossi ganharam um penal aos 35 do segundo tempo. Artem Dovbyk bateu, o goleiro Berke Özer defendeu e o juiz mandou voltar. Dovbyk cobrou de novo, Özer se adiantou mais para espalmar no mesmo canto e de novo a irregularidade foi marcada. Matías Soulé assumiu a cobrança e bateu no outro canto, de novo barrado por Özer, enfim herói em definitivo. Além do arqueiro, os Dogues também contaram com grande atuação de Hakon Haraldsson, atacante de 22 anos que anotou o gol do triunfo por 1 a 0 e infernizou o lado esquerdo da defesa. O Lille chega aos seis pontos neste início da Liga Europa, em boa largada dos franceses. O Lyon também está com 100% de aproveitamento ao vencer o Red Bull Salzburg por 2 a 0. (Leandro Stein)
- O Aston Villa também chegou aos seis pontos na Liga Europa, mas não pode reclamar da sorte. O Feyenoord foi superior no Estádio De Kuip, sobretudo no primeiro tempo. Teve um gol discutivelmente anulado pela arbitragem, além de muitas oportunidades perdoadas por seu ataque. Nas poucas estocadas que deram, os Villans construíram o placar de 2 a 0, com gols de Emiliano Buendía e John McGinn. O time de Unai Emery vai dando sinais de vida na temporada, mas sem muita certeza de que poderá repetir o bom desempenho da temporada passada. Ao menos, no cenário aberto da Liga Europa, consta entre os favoritos. (Leandro Stein)
- O Porto reúne muitos jovens em seu elenco para essa temporada, e a vitória sobre o Estrela Vermelha deu uma prova de caráter no Estádio do Dragão. Foi uma partida muito difícil, em que os portistas abriram o placar e sofreram o empate no primeiro tempo. O triunfo por 2 a 1 se consumou apenas aos 44 do segundo tempo, com um tento que provocou uma comemoração efusiva dos lusitanos. E os garotos fizeram a diferença. O primeiro gol foi de William Gomes, de pênalti, após o brasileiro já ter sido decisivo na primeira rodada. A celebração definitiva veio com o talentoso Rodrigo Mora, ao receber passe açucarado de Pepê em contra-ataque. O time de Francesco Farioli tem motivos para acreditar numa grande campanha. (Leandro Stein)
- Portugal também emplacou dois times com 100% de aproveitamento na Liga Europa, com a segunda vitória do Braga. O problema é que o resultado excepcional dos Arsenalistas em Glasgow, ao derrotar o Celtic por 2 a 0, tem um grande asterisco da arbitragem. É inacreditável o gol anulado de Kelechi Iheanacho, por um toque de mão que só o VAR viu, mas não existiu. Seria o tento de empate dos alviverdes, mas que abriu o caminho aos alvirrubros ampliarem depois. Ricardo Horta abriu a contagem com um tirambaço do meio da rua, no qual Kasper Schmeichel poderia ter feito melhor. No final, Gabriel Martínez puniu o cochilo da zaga. Foi uma péssima quinta-feira de uma temporada muito ruim da Escócia nas copas europeias, com três derrotas em três partidas. O Rangers perdeu a segunda na Liga Europa, assim como o Aberdeen sucumbiu em sua estreia na Conference. (Leandro Stein)
- Vai ser curioso se o Fenerbahçe fizer uma grande campanha na Liga Europa embalada por Kerem Aktürkoglu. Talento não falta ao ponta, como bem visto nos 2 a 1 sobre o Nice, em que teve uma atuação de gala em Istambul e anotou os dois gols dos Canários. A grande questão é a trajetória do turco, antes ídolo do Galatasaray. Aktürkoglu começou a temporada no Benfica, onde teve boa passagem, e virou pedido de contratação de José Mourinho. Antes que o negócio se concretizasse, enfrentou o Fener nos playoffs da Champions e anotou o gol que eliminou a equipe, bem como acelerou a demissão de José Mourinho. A transferência saiu e o atacante foi jogar no clube que relegou à Liga Europa. Enquanto isso, o treinador conseguiu seu salto para a Champions, na casamata do Benfica. As chances de uma campanha longa do Fenerbahçe são maiores, especialmente a partir da chegada de Ederson ao gol. (Leandro Stein)
- O Go Ahead Eagles é uma das grandes novidades da Liga Europa nesta temporada. Os atuais campeões da Copa da Holanda disputam pela primeira vez a fase principal de uma competição da Uefa. E a primeira vitória certamente nunca será esquecida pelos torcedores que fizeram a viagem até Atenas, para o jogo diante do Panathinaikos. As Águias ganharam por 2 a 1, e de virada. O Pana saiu em vantagem já no início do segundo tempo, num escanteio cobrado por Tetê, que Karol Swiderski desviou para as redes. Milan Smit transformou o cenário para os visitantes, com dois gols após os 30 da etapa final. É um resultado notável, pela tradição dos gregos e também pelos muitos medalhões no elenco adversário. O Go Ahead Eagles não fez loucuras no mercado, mas mostra como está pronto para competir nos diferentes rincões do continente. (Leandro Stein)
- A decisão da Uefa de rebaixar o Crystal Palace à Conference League foi injusta, mas pode ter sido injusta também para os concorrentes que agora terão que lidar com um dos melhores times do momento. Os londrinos de Oliver Glasner acabaram de derrotar o campeão inglês e estão invictos na temporada. A última derrota foi em 16 de abril, contra o Newcastle. Além do acesso aos cofres da Premier League, é um time extremamente bem treinado. A projeção dos alas, como a de Daniel Muñoz no primeiro gol da vitória fora de casa sobre o Dynamo Kiev, acontece o tempo inteiro. Muitas vezes, os dois juntos. E se perdeu a sua principal fonte de criatividade quando Eberechi Eze foi vendido ao Arsenal, Yeremi Pino está começando a aparecer. Deu as duas assistências no começo da caminhada de um provável candidato ao título. (Bruno Bonsanti)
- O favoritismo das grandes ligas se confirmou na rodada da Conference. Além do Crystal Palace, que tinha o jogo mais difícil, todos os outros representantes das principais federações europeias ganharam. O resultado mais difícil certamente foi do Strasbourg, pressionado pelo Slovan Bratislava na Eslováquia, mas ainda assim capaz de trazer de volta o triunfo por 2 a 1. O Mainz 05 também venceu fora de casa, no Chipre, graças a um pênalti convertido por Nadiem Amiri na reta final para anotar 1 a 0 no Omonia Nicósia. O Rayo Vallecano estreou diante da torcida e garantiu uma noite serena, com os 2 a 0 sobre o Shkëndija, no qual os macedônios finalizaram uma mísera vez em 90 minutos. Na Itália, a Fiorentina venceu o Sigma Olomouc por 2 a 0, com a cereja do bolo já nos acréscimos, graças ao lindo tento de Cher Ndour. (Leandro Stein)
- Além dos representantes das grandes ligas, um candidato claro às fases mais agudas da Conference é o Shakhtar Donetsk. O time dirigido por Arda Turan caiu da Liga Europa nos pênaltis, diante do Panathinaikos, mas tem feito boas apresentações na temporada continental. Foi o que se notou na Escócia, com os 3 a 2 sobre o Aberdeen, mais uma vez temperado pela profusão de talento brasileiro que chegou ao clube nos últimos anos. O ponta Lucas Ferreira e o lateral Pedro Henrique anotaram os gols que pavimentaram o resultado para os ucranianos. Marlon Gomes deu ambas as assistências. O time titular ainda contou com o lateral Vinícius Tobias, o ponta Pedrinho e o centroavante Kauã Elias, enquanto Isaque e Luca Meirelles saíram do banco. Muitos desses jovens podem se projetar rumo a ligas maiores em breve. (Leandro Stein)
- A primeira rodada da Conference também providenciou boas surpresas. O Samsunspor não tem tanta fama ao representar a Turquia, na estreia do clube em torneios continentais, mas conseguiu logo de cara fazer 1 a 0 sobre o Legia Varsóvia na Polônia. Foi a única derrota dos poloneses, que ganharam seus jogos com Lech Poznan, Raków Czestochowa e Jagiellonia Bialystok. O Chipre vem de bons desempenhos, mas ainda assim chamam atenção os 4 a 0 emplacados pelo AEK Larnaca diante do AZ, facilitados por uma expulsão dos holandeses logo aos dois minutos de partida. E na Eslovênia, o Celje, quadrifinalista da última edição, indicou que pode repetir o feito. Já começou com os 3 a 1 para cima do AEK Atenas, outra equipe com elenco bom o suficiente para almejar um desempenho de relevo. (Leandro Stein)
- As seleções das comunidades autônomas da Espanha têm permissão para disputar um amistoso por ano, e em 2025 a bandeira da Palestina irá tremular tanto no País Basco quanto na Catalunha. As duas equipes regionais anunciaram partidas em novembro contra a seleção palestina. Os bascos foram os primeiros a confirmar o encontro, num local cheio de significado: o Museu da Paz de Guernica, cidade assolada pelos bombardeios franquistas na década de 1930 e eternizada no famoso quadro de Pablo Picasso. O jogo ocorrerá em 15 de novembro, no Estádio de San Mamés. Três dias depois, o encontro com os catalães será no Estádio Olímpico de Montjuïc. Durante as últimas semanas, os espanhóis têm sido bastante vocais, inclusive em eventos esportivos, no apoio ao povo palestino e contra o genocídio promovido por Israel. Os amistosos dão mais visibilidade à causa, em meio à pressão pela exclusão dos clubes e seleções israelenses nos torneios continentais. Nesta rodada da Champions, novas manifestações ocorreram durante a vitória do Galatasaray sobre o Liverpool, enquanto o Athletic Bilbao publicou um manifesto pelo fim do genocídio. Refugiados palestinos participarão de uma ação antes da partida contra o Mallorca, nesta rodada de La Liga. (Leandro Stein)
- Marrocos é palco de protestos massivos de sua população jovem por conta da Copa do Mundo de 2030, e os principais jogadores da seleção se posicionaram a favor dos manifestantes. Desde o último sábado, grandes mobilizações acontecem nas principais cidades marroquinas. O coletivo anônimo GenZ 212 organizou o movimento a partir de fóruns online, para que a camada mais jovem da população demonstrasse sua insatisfação com os enormes gastos do governo na construção de estádios, enquanto os serviços públicos deixam a desejar, sobretudo nas áreas de educação e saúde. Mais de 400 pessoas foram detidas desde o início dos protestos, enquanto a escalada da violência provocou ao menos três mortes. Em suas redes sociais, referências da seleção semifinalista na Copa do Mundo de 2022 publicaram imagens da repressão policial e clamando pelos direitos do povo. A lista de jogadores inclui Bono, Sofyan Amrabat, Nayef Aguerd, Azzedine Ounahi, Hakim Ziyech e Bilal El Khannouss. “Juntos, com respeito e unidade, por um Marrocos melhor”, escreveu Amrabat. Na última Data Fifa, os Leões do Atlas inauguraram o Estádio Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat, para quase 70 mil torcedores. Será um dos palcos principais do Mundial de 2030, mas antes disso receberá, a partir de dezembro, a Copa Africana de Nações de 2025 – outra grande plataforma aos manifestantes. (Leandro Stein)
- A América do Norte celebrou dois campeões de copas nacionais nesta semana. Nos Estados Unidos, o Nashville SC conquistou seu primeiro título de elite, na tradicional US Open Cup. Os Coiotes derrotaram o Austin FC por 2 a 1, no Texas, para celebrar o feito inédito. O capitão e artilheiro Hany Mukhtar, grande símbolo da franquia desde sua criação, anotou o primeiro gol. O título garante a equipe do Tennessee na próxima edição da Concachampions. Quem também se classificou foi o Vancouver Whitecaps, vencedor do Campeonato Canadense – que, neste caso, é uma copa nacional. A equipe da MLS disputou a final contra o vizinho Vancouver FC, da Canadian Premier League, a liga profissional do país. Os Whitecaps venceram a decisão por 4 a 2, com direito a um gol de pênalti anotado pelo novo astro Thomas Müller. Dono da braçadeira de capitão, o alemão também recebeu o troféu. (Leandro Stein)
- A seleção brasileira se apequenou no cenário do Mundial Sub-20 há algum tempo. Desde o celebrado título de 2011, com a geração liderada por Neymar, o Brasil só disputou três dos últimos seis Mundiais. Quando esteve presente, foi vice-campeão em 2015 e quadrifinalista em 2023. Já nesta edição, o time campeão sul-americano corre sérios riscos de sucumbir na fase de grupos. Os brasileiros sofreram no empate por 2 a 2 com o México e perderam para Marrocos por 2 a 1. A situação será resolvida no sábado, num jogo decisivo contra a Espanha, em que a vitória no confronto direto ao menos tende a valer uma vaga entre os melhores terceiros colocados. É pouco, mas não surpreende diante do descaso da CBF com as categorias de base e da insistência em Ramón Menezes como treinador. Vários nomes importantes da geração também não estão presentes no torneio realizado no Chile, em especial os que jogam na Europa. (Leandro Stein)
- O destaque da convocação de Carlo Ancelotti é o retorno de Rodrygo. O atacante ficou fora das últimas chamadas do técnico e tem sofrido para ganhar minutos. Mesmo assim, é um jogador importante e está de volta. Alisson, machucado, ficou fora e Hugo Souza será testado como titular. Douglas Santos agradou e continua na lista. Sem Marquinhos, machucado, será a chance de Militão retornar ao time e disputar posição. Estão machucados ainda Alexsandro Ribeiro e Andrey Santos. O ataque teve o desfalque de João Pedro, machucado, e conta com o retorno de Igor Jesus. A lista dos convocados:
Goleiros: Bento (Al-Nassr), Ederson (Fenerbahçe) e Hugo Souza (Corinthians);
Defensores: Caio Henrique (Monaco), Carlos Augusto (Internazionale) Douglas Santos (Zenit), Militão (Real Madrid), Fabricio Bruno (Cruzeiro), Gabriel Magalhães (Arsenal), Beraldo (PSG), Vitinho (Botafogo) e Wesley (Roma);
Meio-campistas: André (Wolverhampton), Bruno Guimarães (Newcastle), Casemiro (Manchester United), João Gomes (Wolverhampton), Joelinton (Newcastle) e Paquetá (West Ham);
Atacantes: Estevão (Chelsea), Martinelli (Arsenal), Igor Jesus (Nottingham Forest), Luiz Henrique (Zenit), Matheus Cunha (Manchester United), Richarlison (Tottenham), Rodrygo (Real Madrid) e Vinícius Júnior (Real Madrid).
Os jogos amistosos serão nos dias 10 de outubro contra a Coreia do Sul (8h de Brasília) e contra o Japão no dia 14 (7h30), dois bons adversários. (Felipe Lobo)
- A venda do terreno onde está San Siro foi aprovada, depois de um longo período. Faltava o aval do conselho da prefeitura e a votação foi apertada: 24 a favor e 20 contra. Isso abre espaço para a construção de um novo estádio no local onde é o estacionamento. Quando o novo estádio estiver pronto, o atual San Siro será parcialmente demolido. Apenas 10% da atual estrutura será mantida. A mudança se tornou inevitável: a Uefa avaliou que San Siro não tem condições de receber a Eurocopa, competição que a Itália sediará em 2032 junto com a Turquia. Milan e Inter já sabiam que precisavam de um novo estádio. Com a prefeitura relutante em demolir o San Siro atual, os clubes fizeram a proposta da compra do terreno. Foi um processo burocrático e polêmico, mas avançou. Milan e Inter anunciaram que a empresa Foster + Partners e a MANICA serão responsáveis pelo projeto. É a mesma empresa que faz um projeto para o novo estádio do Manchester United, outro muito afetado pela estrutura antiga. San Siro é casa do Milan desde 1926 e divide com a Inter desde 1947. A casa será palco de uma última grande competição: a abertura da Olimpíada de Inverno, em 2026, que será em Milão e Cortina. As obras do novo estádio estão previstas para serem concluídas em 2031, a tempo de ser sede da Euro 2032. (Felipe Lobo)
- A Copa Intercontinental, o Mundial de Clubes anual, será novamente no Catar, segundo anunciado nesta semana. O jogo envolvendo o clube sul-americano será no dia 10 de dezembro, o chamado Derby das Américas contra o campeão da Concacaf, o Cruz Azul. O vencedor enfrenta o Pyramids, do Egito, no dia 13. O torneio se encerra no dia 17 de dezembro, com o Paris Saint-Germain enfrentando quem superar tudo isso. (Felipe Lobo)